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Minha Mãe, minha confiança!

No local escolhido para fazer as imagens, Alphaville (São Paulo), três aquecedores mantinham a temperatura ambiente entre 28 e 30 graus e um aparelho reproduzia o som de batimentos cardíacos…”.

Assim a revista Veja São Paulo1 relata a preparação do ambiente para que um bebê de apenas 12 dias de idade faça, não um delicado exame ultrassonográfico, como alguém, de maneira apressada e angustiante poderia pensar, mas, um ensaio fotográfico! que irá registrar os primeiros dias de vida do pequeno Danilo. Informa ainda a matéria que “outras famílias paulistanas vêm investindo em produções semelhantes”; enfim, a reportagem dá conta de todo um arsenal à disposição dos pais – para que a vida de seus filhos seja, desde cedo, fartamente documentada para a posteridade. Muito longe vão os tempos em que os pobres pais podiam apenas dispor de uma ou outra foto de seus filhos; por exemplo, a famosa foto escolar do 4º ano primário.

É claro que toda essa facilidade tecnológica – e até um certo modismo – podem levar pais (e avós!) a darem importância demasiada a fatores não essenciais, negligenciando a atenção psicológica e, principalmente religiosa que seus filhos merecem. Há pais, por exemplo, que por questões meramente materiais, adiam por vários meses a cerimônia de batismo dos filhos, privando-os de se tornarem o quanto antes “criaturas novas, filhos adotivos de Deus, participantes da natureza divina, membros de Cristo e co-herdeiros com Ele, templos do Espírito Santo2. E esse atraso injustificável se pauta no desejo (legítimo, mas dispensável) de querer tornar ainda mais grandiosa uma cerimônia que de si já é extraordinária; assim a festa, a contratação dos fotógrafos, as roupas, etc. passam a ocupar o primeiro lugar, numa lamentável inversão de valores.

Mas, voltemos ao pequeno Danilo, já fotografado em tantos detalhes na tenra idade de doze dias: É inteiramente possível imaginar quanta alegria proporcionará a seus pais e aos que estiverem ao seu redor durante os seus primeiros anos de vida. De fato é irresistível a felicidade de conviver com uma criança inocente. Quem não se encanta aos vê-las dando os primeiros passos, pronunciando as primeiras palavras? Por exemplo, a Beata Zélia Guérin, num arroubo de contentamento pela doçura de sua filhinha, a então pequenina Santa Teresinha do Menino Jesus, assim se expressa: “Há alguma coisa de tão celestial em seu olhar que ficamos encantados!…”3 É esta a vitalidade da inocência infantil.

Por outro lado é também digno de nota – e explicável apenas sob a perspectiva da inocência – a confiança sem restrições ou limites que os pequenos depositam em seus pais. Traz-nos uma sensação de paz e é nos aprazível ver uma criança pequena tomando as mãos de sua mãe para atravessar uma rua ou andar pela calçada de uma cidade às vezes freneticamente tomada por movimentos de carros, pedestres e todo tipo de perigo… Facilmente vemos a total despreocupação e a elegante indiferença dessa criança em relação ao ambiente que a rodeia: Estando entrelaçada às mãos da mãe (ou do pai, da avó…), ela se deixa conduzir com total naturalidade, navegando tranquila em seu mundo de inocência e candura.

Em outro ambiente e em um tempo muito diferente do nosso, a própria Santa Teresinha, com a santidade de quem conservou por toda a vida as graças primaveris do Batismo, relembra, docemente, os pequenos passeios que quando criança, fazia com seu querido pai, o seu “Rei”: “Todas as tardes ia dar pequenos passeios com papai; fazíamos juntos uma visita ao Santíssimo, visitando cada dia uma nova igreja”4.

Vendo essas cenas que mesclam confiança e inocência, não há um adulto sequer que não se comova e não se deixe envolver por uma atmosfera de pleno encantamento. Um verdadeiro descanso nas agitações cotidianas.

Certamente, assim também deve ser a nossa confiança na intercessão e no cuidado que tem por nós Maria Santíssima.

Sem as vantagens indescritíveis da inocência infantil, tendo já há muito abandonado ou perdido, nas palavras do poeta, as “asas brancas, asas que um anjo me deu”5 e já não podendo voar ao céu, estamos nós continuamente envoltos em desafios e dificuldades, perante angústias e problemas de todo o tipo que nos parecem intransponíveis. Nessas ocasiões, infelizmente, buscamos resolver as coisas a partir de nossa própria capacidade e nos esquecemos de estender a nossa mão e procurar o auxílio da Mãe de Misericórdia, da Consoladora dos Aflitos que, como nas Bodas de Caná está atenta, vigilante e pronta para nos atender em tudo o que precisarmos. Se não somos mais crianças inocentes, devemos ser adultos de fé.

Terminamos esta reflexão tomando as belas palavras de Santo Afonso de Ligório, em seu majestoso livro Glórias de Maria;6 por meio delas, dirigimos a nossa Mãe Santíssima uma oração pedindo que a nossa confiança em sua misericórdia para conosco seja sempre renovada:

   …………….É terníssimo o amor que ela consagra a todos os homens, mesmo os mais infelizes pecadores, quando lhe conservam algum afeto ou devoção. (…) Na qualidade de amantíssima advogada nossa, oferece a Deus as preces de seus servos; pois, como o Filho intercede por nós junto ao Pai, assim ela intercede por nós junto ao Filho. Não se cansa de tratar com o Pai e com o Filho o sério assunto da nossa salvação. Singular refúgio dos perdidos, esperança dos miseráveis e advogada de todos os pecadores que a ela recorrem”.

Por Prof. João Celso – Arautos Maringá

1 Revista Veja São Paulo. 17 de outubro de 2012, p. 49
2 Catecismo da Igreja Católica. P. 351.
3 Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Obras Completas. Ed. Loyola, 1997, p. 90.
4. Idem. p. 94
5 Almeida Garret (1854) . As minhas asas.
6 S. Afonso de Ligório. Glórias de Maria. Aparecida-SP: Ed. Santuário, 3. Ed. p. 160

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