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XXII Domingo Tempo Comum

Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.

Ao criar os homens com instinto de sociabilidade, desejava Deus que eles se apoiassem mutuamente na prática do bem, tornando o convívio social uma contínua fonte de afervoramento espiritual. Assim, numa sociedade toda voltada para a prática da virtude, os inferiores admirariam e venerariam os superiores e estes lhes retribuiríam com afeto e ternura. Reinaria entre todos a união, a harmonia e a paz.

Ora, o pecado original introduziu no homem uma virulenta tendência à soberba, a qual está na raiz de todos os pecados. Quando esta inclinação não é combatida, o relacionamento entre os homens decai ao nível de uma feira de vaidades e de egoísmos, verdadeira cascata de desprezos, como o que vemos retratada no banquete descrito no Evangelho.

Para bem entendermos em que consiste a prática da virtude da humildade, aqui recomendada por Nosso Senhor, são necessários alguns esclarecimentos, pois não é raro encontrar pessoas que, em nome de uma despretensão mal entendida, tornam-se medíocres, não fazendo render os talentos recebidos de Deus.

A humildade consiste em “andar em verdade”, escreveu Santa Teresa de Jesus. Ora, “andamos em verdade” quando nos submetemos a Deus em espírito de religião, somos-Lhe gratos, reconhecendo nossa total dependência do Criador e compreendendo que tudo quanto temos de bom foi nos dado por Ele. Pois se de um lado, infelizmente, há em nós defeitos culposos ou meras limitações da natureza, de outro lado, por certo a Divina Providência a ninguém deixou desprovido de qualidades e dons, ora maiores, ora menores.

A propósito, ensina-nos São Tomás não haver oposição entre a humildade e a magnanimidade: “A humildade reprime o apetite, para que ele não busque grandezas além da reta razão, ao passo que a magnanimidade o estimula para o que é grande, segundo a reta razão. Fica clara, portanto, que a magnanimidade não se opõe à humildade, ao contrário, ambas coincidem em que agem segundo a reta razão”. São virtudes complementares.

Não caiamos, portanto, em uma forma sutil de orgulho que se traduz em apresentar-se como o último dos homens, um ser incapaz de realizar algo de valor… São Tomás afirma que isso constitui falsa humildade, cognominada por Santo Agostinho de “grande soberba”, porque na verdade, com esse tipo de fingimento, a pessoa pretende obter uma glória superior. Além disso, é também ingratidão em relação aos dons recebidos de Deus. Pelo contrário, aceitemos com mansidão e ânimo aquilo que realmente somos, analisemo-nos com toda objetividade e não nos revoltemos perante eventuais adversidades ou mesmo injustiças, mas saibamos utilizá-las como meio de reparar nossas próprias faltas.

Entretanto, um modo muito eficaz e pouco ensinado de combater o amor próprio consiste em admirar aquilo por onde os outros são superiores a nós, reconhecendo nessas qualidades reflexos das perfeições divinas. Sendo todo homem superior aos demais em determinado ângulo, único e personalíssimo, procurar admirar essas qualidades dos outros é um dos melhores e mais eficientes meios de combater o amor desregrado a si mesmo e à vanglória.

Quem assim agir, praticará de maneira excelente a virtude da humildade e, ao mesmo tempo, o Primeiro Mandamento da Lei de Deus, pois o amor a todas as superioridades está no cerne da prática da virtude da caridade. Por isso, quem quiser ser manso de coração, admire as qualidades dos outros; quem quiser ser desapegado, admire a generosidade dos outros; quem quiser ser santo, admire a virtude dos outros. Enfim, admiremos tudo quanto é admirável nos outros e teremos já a recompensa da paz de alma nesta terra, e a bem-aventurança eterna no Céu. Admiração, eis a grande lição deste evangelho!

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