A alma de todo o apostolado
Um dos livros primordiais para quem deseja se instruir sobre como fazer bem ao próximo, especialmente aqueles que se dedicam à evangelização, é “A alma de todo o apostolado”.
De autoria do abade trapista, D. Jean-Baptiste Chautard (1858-1935), esta obra foi escrita durante uma viagem ao Brasil e tornou-se uma das mais importantes da espiritualidade católica. Para se medir seu alcance, bastará dizer que se tornou livro de cabeceira de São Pio X, sendo por ele calorosamente recomendado.
Mas, qual é a grande tese do livro?
Assim nos explica Mons. João S. Clá Dias, EP:
“[…] todo apostolado depende da vida interior, que é a alma, a substância e a causa da eficácia na ação”. Como consequência desta verdade tem-se “o quanto o apóstolo tem a obrigação de rezar, pois é só através da oração, acima de qualquer atividade, que ele alcançará a união com Deus, produzirá bons resultados e terá forças para praticar a virtude com heroísmo, sem a menor sombra de concessão às más inclinações deixadas pelo pecado original”. ¹
Este ensinamento do filho de São Bernardo, D. Chautard, é por demais precioso. Quantos esforços, quantos empreendimentos visando a conversão das pessoas distantes da Fé ou buscando o fervor dos fiéis e, no entanto, depara-se com a decepção: os frutos são pecos.
E qual é a razão? Será que em algumas vezes não faltará algo da parte do apóstolo? Vejamos o que diz Abade de Sept-Fons:
“Meus esforços por si nada são, absolutamente nada. Sine me nihil potestis facere (Jo 15, 5) [Sem mim nada podeis fazer]. Eles não serão úteis nem abençoados por Deus, a não ser que eu os una constantemente à ação vivificante de Jesus mediante uma verdadeira vida interior. Então se tornarão onipotentes: Omnia possum in eo qui me confortat (Fl 4, 13) [Tudo posso naquele que me conforta].” ²
E nos coloca a questão: “Se tivessem [os esforços] sua origem numa capacidade orgulhosa, na confiança nos meus talentos, no desejo de bons êxitos, seriam rejeitados por Deus, porquanto não seria acaso sacrílega loucura da minha parte querer roubar a Deus, atribuindo a mim mesmo algo de sua glória?”
E sintetiza com clareza, à maneira francesa, seu pensamento: “[…] essa convicção será minha força. E como ela me fará sentir a necessidade da oração para obter essa humildade, tesouro para minha alma, segurança do auxílio de Deus e penhor de bom êxito para minhas obras!”. ²
Aqui está o segredo, a alma de todo o apostolado: vida interior, oração e humildade, união com Nosso Senhor. E, conforme o exemplo de D. Chautard, impregnado de uma sólida e verdadeira devoção Àquela que é a Rainha dos Apóstolos, Nossa Senhora. É Ela que nos obtém de seu Filho Jesus, as melhores e abundantes graças de uma vida interior séria, despretensiosa e fecunda.
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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. O Dom da Sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Correa de Oliveira – Juventude: A sabedoria posta à prova. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2016, p. 283
² Dom Chautard, Jean-Baptiste. L’âme de tout apostolat. 15.ed. Paris-Lyon: Tequi; Vitte, 11939, p.21.
A alma de todo o apostolado. Tradução: Antônio Carlos de Azevedo. Revisão: Felipe Barandiarán. Livraria Civilização Editora, Porto. 2001