Embora não o tenham afirmado os Evangelistas, é de senso comum, e os bons autores são concordes a esse respeito, que Jesus apareceu em primeiro lugar a sua Mãe, logo após a Ressurreição. Na seqüência, apareceu a santa Maria Madalena (Mc 16,9; Jo.11-17) e, depois, a outras santas mulheres. (Mt 28, 9-10).
Fra angelico - san Marco Museum - firenze, Italy
Então, Jesus apareceu a Maria, sua Mãe, logo após sair do sepulcro. Em segundo lugar, a Madalena (Jo.20,16), com enorme ternura, chamando-a pelo nome. E, em terceiro lugar, apareceu as outras mulheres, também com muita bondade, deixando que d’Ele se aproximassem e até osculassem os seus pés (Mt.28,9-10 ).
Por que motivo teria escolhido as mulheres para Se manifestar, antes dos próprios Apóstolos ?
Parece incompreensível a atitude de Nosso Senhor, encarregando às mulheres de transmitir a Boa Nova aos próprios Apóstolos, a fim de que estes a anunciem pelo mundo; tratando-se do mais importante de todos os milagres, o fundamento de nossa fé, a Ressurreição do Senhor!
E, por cúmulo, eles nem sequer chegam a lhes dar crédito…”não quiseram acreditar.! (Mc.16, 11) 1 – O fervor é um tesouro!
A esta altura nos perguntamos por que essa diferença de atitude, para com elas, de um lado, e para com os Apóstolos, de outro. O trato do Senhor para com os Apóstolos é bem descrito por São Marcos: “Finalmente apareceu aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a sua incredulidade e dureza de coração, por não terem dado crédito aos que o viram ressuscitado” (Mc.16,14). Suas primeiras palavras, portanto, segundo o evangelista, é de censura para com eles. Que diferença! Por quê ?
Não teria entendido nada dessa sublime lição quem afirmasse que Jesus quis dar preeminência à mulher sobre o homem. Não é este o caso. Na verdade, tais episódios deixam transparecer claramente a essência do Evangelho, que Nosso Senhor havia resumido nos seguintes termos: “Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também deveis amar-vos uns aos outros”(Jo.13,34).É no perfeito amor a Deus e ao próximo que está a síntese do Evangelho.
Era tão grande o amor que aquelas mulheres tinham por Jesus que até seu instinto de conservação havia se definhado, pois corriam risco ir. Carregavam imperfeições, mas o amor pelo Senhor era puro. E quando esse amor é assim depurado, Cristo mesmo toma sobre si a tarefa de aperfeiçoar as ações que a natureza humana decaída venha a realizar.
Com essa afirmação, não é nossa intenção fazer o elogio da imprudência enquanto tal, mas ressaltar como as atitudes irrefletidas das santas mulheres do Evangelho eram compensadas pelo puro amor de Deus – a caridade.
É oportuno lembrar que também o coração do jovem costuma mover-se pelo amor, sobretudo quando arrebatado pelo fervor primaveril. Tal como as santas mulheres, muitas vezes não se guia pela prudência, nem pela razão, mas sim pela audácia. Se se trata de um amor desinteressado e puro, Deus o premeia.
Essa chama é um tesouro, que precisa ser tratada com carinho. (1)
2 – A felicidade está em buscar Jesus
No primeiro dia da semana foi Maria Madalena ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro. Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro e com outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram¨ (Jo 20, 1-2).
“Logo no primeiro momento que ela pode, porque estava proibido segundo a lei de Moisés, dar mais de duzentos passos no sábado. Ela estava aflita esperando que o sábado passasse para poder ir ao túmulo onde estava o corpo de Jesus. Ela O amava tanto que queria vê-LO ainda que morto e estava disposta a enfrentar a madrugada, pois, está dito no Evangelho – de manhã cedo – quando ainda estava escuro. Ela partiu e não esperou a clarear do dia. Assim devemos ser nós. Quantas vezes temos uma moção interior da graça para procurar Nosso Senhor no Tabernáculo, para entrar em uma igreja, rezar um pouco, parar por um momento nossas atividades e nos dirigir a Deus e nos vem ao pensamento: Não, neste momento não estou sentindo nada, não me sinto propenso. . .
Era escuro, madrugada, era arriscado uma dama naquela circunstância sair pelas ruas, tudo indicava que não era prudente ir ao sepulcro naquela hora. Contudo, ela o faz, e faz porque está tomada de entusiasmo, de ardor, está tomada de devoção. Exemplo para nós. . .
¨Viu a pedra tirada do sepulcro¨ ; ela se deu conta que ali havia se passado algo, a pedra foi parar longe, o próprio trilho em que corria a pedra foi arrancado. Ela o que fez? Terá voltado para casa?
Quantas vezes encontramos pela nossa vida fatos sobrenaturais impressionantes e ao invés de pararmos para os considerar e nos colocar imediatamente em oração, não fazemos como Santa Maria Madalena que correu, ela podia ter caminhado pelas ruas, não, ela correu.
Depois dela ter visto o milagre, senso de hierarquia, foi avisar ao Chefe da Igreja, o Papa. ¨Foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava¨ . Ela escolheu bem as duas pessoas: Um era o Chefe o outro o mais amado; um era o que mais amava o outro era o mais amado.
¨…e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram¨.
É bem a situação de quem não tinha ouvido dizer que Nosso Senhor ressuscitaria ao terceiro dia. Se ela soubesse da ressurreição ela certamente acreditaria, mas a ela não foi dada esta notícia, porque Deus queria esta atitude de alma e conseqüentemente os méritos, o mérito de estar aflita, procurando com sofreguidão, com emoção.
Assim devemos ser nós, e por isso voltarmos sempre a Nossa Senhora e pedirmos a Ela este estado de espírito:
Oração: Oh Mãe! Vós quando soubestes da atitude de Santa Maria Madalena, ficastes alegre, porque era bem o que passava em Vosso coração, Vós queríeis encontrar o Vosso Divino Filho o quanto antes, e se Vós não Vos movestes da vossa casa foi porque o próprio Jesus Vos apareceu em primeiro lugar, as primícias da ressurreição vos foram oferecidas pelo Vosso próprio Filho.
Minha Mãe, vendo eu este exemplo de Santa Maria Madalena, nós Vos pedimos: Dai-nos a graça de sempre procurar Jesus ainda que eu esteja na aridez, porque o símbolo da morte está exatamente na aridez, naquela hora em que não sentimos nada no coração, ainda assim saiamos às pressas e com toda a ênfase a procura de Jesus.
Fonte: Meditação do Mons. João Clá Dias – Catedral Metropolitana da Sé de São Paulo – 3 de julho de 2004 (sem revisão do autor)
Curtir isso:
Curtir Carregando...