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Domingo de Ramos: O que tem a ver comigo?

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Existe um defeito que diminui a eficácia das meditações que fazemos. Este defeito consiste em meditar os fatos da vida de Nosso Senhor e não aplicá-los ao que sucede em nós ou em torno de nós.

Assim, por exemplo, a nós espanta a versatilidade e ingratidão dos judeus que assistiram a entrada de Jesus em Jerusalém. Nós os censuramos porque proclamaram com a mais solene recepção o reconhecimento da honra que se deveria ter ao Divino Salvador e, pouco depois, O crucificaram com um ódio tal que a muitos chega a parecer inexplicável.

Essa ingratidão, essa versatilidade para mudanças de opinião e atitudes não existiram apenas nos homens dos tempos de Nosso Senhor! A atitude das pessoas contemporâneas de Jesus, festejando sua entrada em Jerusalém e depois abandonando-O à mercê de seus algozes, assemelha-se a muitas atitudes que tomamos.

Muitas vezes louvamos a Cristo e nos enchemos de boas intenções para seguir os seus ensinamentos, porém, ao primeiro obstáculo, nos deixamos levar pelo desânimo, ou pelo egoísmo, ou pela falta de solidariedade e, mais uma vez, por esse desamor, alimentamos o sofrimento de Jesus.

Ainda hoje, no coração de quantos fiéis, tem Nosso Senhor que suportar essas alternativas, essas mudanças que balançam entre adorações e vitupérios, entre virtude e pecado? E estas atitudes contraditórias e defectivas não se passam apenas no interior de alma de cada homem, de modo discreto, no fundo das consciências: Em quantos países essas alternações se passam e Nosso Senhor tem sido sucessivamente glorificado e ultrajado, em curtos intervalos espaços de tempo?

Uma perda de tempo: não reparar as ofensas a Nosso Senhor

É pura perda de tempo nos horrorizarmos exclusivamente com a perfídia, fraude e traição daqueles que estavam presente na entrada de Jesus em Jerusalém.

Para nossa salvação será útil refletirmos também em nossas fraudes e defeitos. Com os olhos postos na bondade de Deus, poderemos conseguir a emenda e o perdão para nossas próprias perfídias. Existe uma grande analogia entre a atitude daqueles que crucificaram o Redentor e nossa situação quando caímos em pecado mortal.

Não é verdade que, muitas vezes, depois de termos glorificado a Nosso Senhor ardentemente, caímos em pecado e O crucificamos em nosso coração? O pecado é um ultraje feito a Deus. Quem peca expulsa Deus de seu coração, rompe as relações filiais entre criatura e Criador, repudia Sua graça.

E é certo que Nosso Senhor é muito ultrajado em nossos dias. Não pelo brilho de nossas virtudes, mas pela sinceridade de nossa humildade nós poderemos ter atitudes daquelas almas que reparam, junto ao trono de Deus, os ultrajes que a cada hora são praticados contra Ele. As lições do Domingo de Ramos nos convidam a isso. (JG)

Fonte: www.arautos.com.br/especial/25374/Domingo-de-Ramos

Entrada truinfante

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A Campanha da Fraternidade 2012 e o Bom Samaritano

Campanha da fraternidade

Fraternidade e Saúde Pública

O cartaz da CF 2012

O cartaz atualiza o encontro do Bom Samaritano com o doente que necessita de cuidado (Lc 10,29-37).

A mão do profissional da saúde, segurando as mãos da pessoa doente, afasta a cultura da morte e visibiliza a acolhida entre irmãos (o próximo). A Igreja como mãe, em sua samaritanidade, aproxima-se e cuida dos doentes, dos fracos, dos feridos, de todos que se encontram à margem do caminho.

A alegria do encontro retratado no cartaz recorda aos profissionais da saúde que foram escolhidos para atualizarem a atitude do Bom Samaritano em relação aos enfermos. Mobiliza os gestores do sistema de saúde a se empenharem para possibilitar atendimento digno e saúde para todos.

Que a saúde se difunda sobre a terra.

A Misericórdia do samaritano

(Extraído da Revista Arautos do Evangelho, Jul/2007, n. 67, p. 10 à 17)

33 Um samaritano, …, Aproximou- se dele, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o a uma estalagem e cuidou dele. 35 No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao estalajadeiro e disse-lhe: “Cuida dele; quanto gastares a mais, eu to pagarei quando voltar”.

A parábola do Bom Samaritano constitui um exemplo efetivo e afetivo de amor a Deus, sem o qual não existe Religião, e de amor ao próximo. sem o qual não há amor a Deus

Bem diferente foi a reação do samaritano. Sem levar em conta o ódio racial que violentamente os separava, apesar de se tratar de um inimigo seu, sua religiosa incompatibilidade se transformou, no mesmo instante, em comiseração. O Evangelho recolhe os maravilhosos detalhes da divina parábola elaborada por Jesus para o doutor da Lei: o samaritano se manifesta um herói da caridade desde o de

scer de sua montaria, aplicando in loco todos os cuidados cabíveis naqueles tempos, conduzindo a vítima a uma pousada, até o contrair uma dívida com o estalajadeiro, a fim de que este dispensasse todos os cuidados ao pobre judeu. Percebe-se, pelo contrato proposto e aceito, ser ele um mercador de confiança e muito estimado pelo dono da estalagem.

Assim se explica essa belíssima parábola composta pelo Divino Mestre, que foge um tanto da morfologia das outras, nas quais o simbolismo se espraia por todos os substantivos e adjetivos. Ela constitui um exemplo efetivo e afetivo de amor a Deus, sem o qual não existe Religião, e de amor ao próximo, sem o qual não há amor a Deus.

Quem diz amar a Deus, mas não ama seu próximo, além de mentir, desobedece à Lei divina e se esquece de seu Preciosíssimo Sangue derramado no Calvário.

Esse amor deve ser universal e não podemos nos apoiar em pretextos, aparentemente legítimos, para não praticá- lo, como o fizeram o sacerdote e o levita da parábola. Eles certamente estavam encarregados de missões boas e delas retornavam para suas casas, entretanto, procederam mal com o necessitado.Não poucos autores aplicam a parábola ao próprio Jesus Cristo, com muita piedade. Não será de mau gosto fazermos uma aplicação a nós, perguntando- nos quais têm sido, em geral, nossas atitudes e reações face aos necessitados de qualquer espécie.

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"Cinzas" e "pó"

O início da Quaresma é marcado pela quarta-feira de cinzas. A partir de então, começaremos a ouvir falar de “cinzas” e “pó” várias vezes durante esses quarenta dias que deveriam ser de recolhimento, reflexão e penitência.

Não é de agora que, em certas situações, estes dois termos são lembrados nos meios religiosos, mesmo antes do cristianismo. O costume de se usar vestes penitenciais e de cobrir a cabeça com cinzas, exprimindo dor, luto e em sinal de penitência, já era comum na antiguidade.

Vamos conferir nas Sagradas Escrituras algumas citações. Depois, quando recebermos as cinzas na quarta-feira, lembremos que assim agindo estaremos nos ligando a um costume milenar, uma tradição encampada pela Igreja e que expressa uma verdade que muitas vezes teimamos em tentar esquecer: “Tu es pó e em pó te hás de tornar”. Pois, “Deus formou o homem com o pó da terra” (Gn 2, 7).Cinzas e pó

– Abraão confessa a Deus sua consciência de ser limitado e frágil: “Apesar de eu ser apenas pó e cinza, atrevo-me, Senhor, a convosco falar” (Gn 18, 27). E isso se prolonga por toda a história de Israel;

– Assim diz o Salmo 17: “pó e cinza são todos os homens” (Sl 17, 32);

– O salmo 104 ensina: “Todos morrem e voltam ao pó” (Sl 104, 29)

– E no livro do Eclesiastes lemos: “…todos caminham na mesma direção e meta: todos saíram do pó e todos voltarão ao pó” (Ecl 3, 20);

– Implorando os israelitas o auxílio Divino contra Holofernes, puseram “cinza sobre a cabeça” (Jdt 4, 16).

– E ainda encontramos no livro de Jó: “arrependo-me no pó e na cinza.” (Jó 42, 6).

– Nosso Senhor Jesus Cristo, referindo-se às cidades de Corazin e Betsaida, fez alusão a esse costume do mundo oriental: “Se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram, há muito tempo se teriam convertido, vestindo-se de cilícios e cobrindo-se de pó” (Mt 11, 21).

Por Emílio Portugal Coutinho

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Arcebispo de Maringá completou 59 anos de vida, no domingo, em Roma

Maringá ( Gaudium Press) No domingo, dia 19 de fevereiro, o arcebispo de Maringá (PR), dom Anuar Battisti, completou 59 anos de vida. Este ano, a data será comemorada de forma especial, visto que o arcebispo está em Roma, onde participou das celebrações do Consistório Ordinário Público para a criação de 22 novos cardeais na Basílica de São Pedro. Entre os cardeais que foram criados está o terceiro Arcebispo de Maringá, Dom João Braz de Aviz, atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, amigo de dom Auar.

De acordo com o Departamento das Celebrações Litúrgicas, que anunciou o programa do Consistório no Vaticano, do dia 18 de Fevereiro, às 10h30, na Basílica de São Pedro, o Papa Bento XVI presidiu o Consistório Ordinário Público para a criação de vinte e dois novos cardeais, com a imposição do barrete, a entrega do anel e a atribuição do Título ou Diaconia.

Dom Anuar Battisti

Nasceu em Alto Honorato, município de Lajeado – RS, aos 19 de fevereiro de 1953. É o terceiro de oito filhos de Aniceto Battisti e Edorilda Knipof dos Santos, casal de profunda vida cristã. Tem uma irmã, Lourdes, religiosa da Congregação de São Carlos, e um irmão, José, sacerdote da Sociedade do Apostolado Católico (padres palotinos).

Cursou Filosofa em Curitiba, nos anos de 1974 a 1976, residindo no Seminário Rainha dos Apóstolos, no bairro Seminário. Em 1977 e 1978 cursou Teologia no Studium Theologicum. De outubro de 1978 a março de 1979, participou da escola sacerdotal do Movimento Focolare, em Frascati, na Itália.

Completou sua formação teológica nos anos de 1979 e 1980, na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Foi ordenado sacerdote, do clero diocesano de Toledo, no dia 8 de dezembro de 1980, pela imposição das mãos de dom Geraldo Majella Agnelo.

Em 15 de abril de 1998, por escolha do Papa João Paulo II, foi nomeado bispo diocesano de Toledo, sendo empossado no mesmo dia da ordenação episcopal, a 20 de junho daquele ano.

No dia 29 de setembro de 2004, foi nomeado para a sede arquiepiscopal de Maringá. Tomou posse como arcebispo, em missa solene, na Catedral de Maringá, em 24 de novembro. Dom Anuar é o quarto Arcebispo de Maringá.

Dom Anuar Battisti cumprimentando Bento XVI

Dom Anuar Battisti cumprimentando Bento XVI

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O Advento – Exortação à Vigilância

Comentário ao Evangelho — I domingo do Advento


O Advento

Monsenhor João CláNa abertura do ano litúrgico, Jesus nos exorta a estarmos sempre vigilantes, pois a hora do Juízo chegará de repente, quando menos esperarmos. Um dos pontos para os quais devemos voltar nossa vigilância, segundo o alerta de vários Papas, é a ação dos meios de comunicação social, que muitas vezes invadem nossas almas e nossos lares propagando mensagens e influências contrárias à fé e à moral.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias

“Evangelho”

Exortação à Vigilância

33 Estai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o momento. 34 Será como um homem que, empreendendo uma viagem, deixou a sua casa, delegou a autoridade aos seus servos, indicando a cada um a sua tarefa, e ordenou ao porteiro que estivesse vigilante. 35 Vigiai, pois, visto que não sabeis quando virá o senhor da casa, se de tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; 36 para que, vindo de repente, não vos encontre a dormir. 37 O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai! (Mc 13, 33-37).

I – As duas vindas de Nosso Senhor

O círculo e o losango são as mais perfeitas figuras geométricas segundo o conceito de São Tomás de Aquino, pois representam o movimento do efeito que retorna à sua causa. Cristo é a mais alta realização dessa simbologia porque, além de ser o princípio de todo o criado, é também o fim último. Daí encontrarmos, tanto no término do ano litúrgico, como em sua abertura, os Evangelhos que transcrevem as revelações de Jesus sobre sua última vinda.

___A penitência, na expectativa do Natal

A Igreja não elaborou suas cerimônias através de um planejamento prévio. Organismo sobrenatural como é, nascido do sagrado costado do Redentor e vivificado pelo sopro do Espírito Santo, possui uma vitalidade própria com a qual se desenvolve, cresce e se torna bela, de maneira orgânica. Assim foi-se constituindo o ano litúrgico ao longo dos tempos, em suas mais diversas partes. Em concreto, o Advento surgiu entre os séculos IV e V como uma preparação para o Natal, sintetizando a grande espera dos bons judeus pelo aparecimento do Messias.

À expectativa de um grande acontecimento místico-religioso, corresponde uma atitude penitencial. Por isso os séculos antecedentes ao nascimento do Salvador foram marcados pela dor dos pecados pessoais e do de nossos primeiros pais. Mais marcante ainda se tornou o período anterior à vida pública do Messias: uma voz clamante no deserto convidava todos a pedirem perdão de seus pecados e a se converterem, para que assim fossem endireitados os caminhos do Senhor.

___Esperança pervadida pelo desejo de santidade

Para estarmos à altura do grandioso acontecimento natalino, é indispensável colocarmo-nos diante da perspectiva dos últimos acontecimentos que antecederão o Juízo Final. Daí o fato de a Igreja durante muito tempo ter cantado na Missa a seqüência “Dies Irae”, a famosa melodia gregoriana.

Primeira e segunda vindas de Jesus se unem diante de nossos horizontes neste período do Advento, fazendo-nos analisá-las quase numa visão eterna; talvez, melhor dizendo, de dentro dos próprios olhos de Deus, para Quem tudo é presente. Eis algumas razões pelas quais se entende a escolha do roxo para os paramentos litúrgicos, nessas quatro semanas. É tempo de penitência. E por isso o Evangelho de hoje nos fala da vigilância, por não sabermos quando retornará o “senhor da casa”. É indispensável que não sejamos surpreendidos dormindo.

___Veio como réu, voltará como Juiz

É preciso considerar que o Senhor não virá como Salvador, mas sim como Juiz, não só enquanto Deus, mas também enquanto Homem, tal como nos explica São Tomás: “Havendo, pois, (Deus) colocado Cristo-Homem como cabeça da Igreja e da humanidade, e havendo-Lhe submetido tudo, concedeu-Lhe também — e com maior direito — o poder judicial” (1). “Cristo mereceu, ademais, esse ofício, por haver lutado pela justiça e haver vencido, ao ser sentenciado injustamente. ‘O que esteve de pé ante um juiz — diz Agostinho — se sentará como juiz, e o que caluniosamente foi chamado réu, condenará os réus autênticos’” (2).

Nosso Senhor Jesus Cristo será o Grande Juiz, em sua humanidade santíssima unida hipostaticamente à Sabedoria divina e eterna. Assim, conhece Ele os segredos de todos os corações, tal qual escreve São Paulo aos Romanos: “No dia em que Deus julgará, por Jesus Cristo, as ações ocultas dos homens” (Rm 2,16).

Ele aparecerá em toda a sua glória, pois, em sua primeira vinda, porque se dispunha a ser julgado, revestiu-se de humildade. Portanto, deverá revestir-se de esplendor, ao retornar como Juiz (3). Pondera ainda São Tomás que, ao nascer em Belém, o Filho se encarnou para representar nossa humanidade junto ao Pai, mas, no fim do mundo, Ele virá aplicar a nós a justiça do Pai; por isso deverá demonstrar a glória de embaixador do poder eterno de Deus.

___Consideração benfazeja, tanto para os bons quanto para os maus

Nada será esquecido, os mínimos pensamentos ou desejos serão relembrados com vigor de realidade. Ações e omissões, a respeito de Deus, do próximo e até de nós mesmos. O Divino Juiz não deixará uma só vírgula sem análise, sem ser devidamente pesada. E para cada um proferirá de público uma inapelável e definitiva sentença. Alguns à sua direita, outros à esquerda. Destes últimos, quantos ali estarão por terem procurado um prazer fugaz, ou por terem se recusado a fazer um esforço insignificante? É preciso levar em conta que esse trágico panorama do Juízo Final será uma repetição pública do juízo particular de cada um.

Mas, por outro lado, quanta alegria terão os bons! “Os padecimentos do tempo presente nada são em comparação com a glória que há de se manifestar em nós” (Rm 8, 18). Os corpos dos justos estarão livres das fraquezas e enfermidades, serão imortais e espiritualizados, assimilados à luz de Cristo. Ao se verem reunidos em Maria e em Jesus, sentir-se-ão inundados de gozo e alegria, naquele dia de triunfo.

Daqui se conclui o quanto é benfazejo, tanto para os maus como para os bons, considerar de frente essa segunda vinda do Senhor. Para uns talvez lhes comova o temor de Deus, para outros poderá alentá-los, em meio às dores e dramas desta vida, a esperança dessa apoteótica cerimônia.

Estes são os antecedentes que explicam o Evangelho de hoje.

II – Comentário ao Evangelho

33 Estai alerta! Vigiai, porque não sabeis quando será o momento.

Enquanto discípulo muito íntimo de Pedro, Marcos transmite em seu Evangelho — que, aliás, foi o primeiro a ser escrito e divulgado — a síntese das pregações de nosso primeiro Papa. Sua ênfase no “Estai alerta! Vigiai …”, tem origem no empenho especial manifestado por seu mestre nos últimos anos de vida, na cidade de Roma. Esse cuidado, pervadido de zelo pelas almas, cumprindo o mandato do Senhor: “Apascenta as minhas ovelhas”, visava aos problemas que então cercavam o nascimento da Igreja.

Sem nos determos na análise da história de há quase dois milênios, voltemos nossos olhos para os dias da atualidade.

A vigilância, virtude auxiliar da prudência, enquanto se identifica com a solicitude, tem um importante papel em nossa vida espiritual e moral. Ademais, a prudência tem estreita ligação com a vida social do homem. Sobre quais objetivos deveria se exercer a prática dessa virtude neste começo de terceiro milênio? Quase não há um só momento em que possamos baixar nossa guarda.

____Ação deletéria dos meios de comunicação social

De há muito — com a evolução da técnica e das descobertas científicas — os meios de comunicação social têm-se prestado a uma perigosa e atraente apresentação do mal e do pecado. Já na época de Leão XIII — fins do século XIX — encontramos a clara manifestação da preocupação daquele Papa de saudosa memória:

“Acrescentemos a isso estas seduções do vício, estes funestos convites ao pecado: aludimos às representações teatrais nas quais se exibem a impiedade e a licenciosidade, aos livros e aos jornais escritos com o propósito de ridicularizar a virtude e glorificar a infâmia, e a todas as artes que, inventadas para as necessidades da vida e dos honestos espairecimentos do espírito, colocaram-se a serviço das paixões para subornar as almas” (6).

Quatro anos mais tarde, nova declaração:

“Enfim, a ordem social está rompida até seus fundamentos. Livros e jornais, escolas e cátedras de ensino, círculos e teatros, monumentos e discursos, fotografias e belas-artes, tudo conspira para perverter os espíritos e corromper os corações” (7).

Outro Papa, sempre de saudosa memória, Paulo VI, assim se refere a esses males:

“Ao mesmo tempo em que esses instrumentos — destinados por sua natureza a difundir o pensamento, a palavra, a imagem, a informação e a publicidade — influenciam a opinião pública e, por conseguinte, o modo de pensar e de atuar dos indivíduos e dos grupos sociais, exercem também pressão sobre os espíritos que incide profundamente sobre a mentalidade e a consciência do homem, já incitado por múltiplas e opostas solicitações e quase submergido nelas.

“Quem pode ignorar os perigos e os danos que esses instrumentos, mesmo nobres, podem acarretar a cada um dos indivíduos e à sociedade, caso não sejam utilizados pelo homem com responsabilidade, com reta intenção e de acordo com a ordem moral objetiva? (…)

“Pensamos sobretudo nas jovens gerações, que procuram, não sem dificuldades e às vezes com aparentes ou reais extravios, uma orientação para suas vidas de hoje e de amanhã, e que devem poder tomar decisões, com liberdade de espírito e com senso de responsabilidade. Impedir ou desviar sua difícil procura com falsas perspectivas, com ilusões enganosas, com seduções degradantes, significaria decepcionar suas justas esperanças, desorientar suas nobres aspirações e mortificar seus generosos impulsos.” (13)

____Campo de batalha para mestres e confessores

É um convite, pois, para que todos nós sejamos vigilantes no tocante à imprensa, aos livros e revistas provocativas, à televisão, à rádio, à internet, etc.

E nunca é demais sublinhar o que foi dito por Pio XI, citado logo atrás, a respeito dos malefícios causados ao próprio uso das faculdades da alma (produzindo, por exemplo, a decadência intelectual), quando esses veículos de comunicação são mal empregados.

Esse é um grande campo de batalha para os confessores, os diretores de consciência, os pais, os mestres, os formadores, os apóstolos, etc.: “Estai alerta! Vigiai…” Tanto mais que não se sabe “quando será o momento”.

34 Será como um homem que, empreendendo uma viagem, deixou a sua casa, delegou a autoridade aos seus servos, indicando a cada um a sua tarefa, e ordenou ao porteiro que estivesse vigilante.

Segundo os Padres da Igreja, foi Jesus quem “deixou a sua casa”, ao subir aos céus. E a nós, deu-nos o encargo de vigiarmos. Nossa primeira obrigação recai sobre nós mesmos. De nada nos adianta rezar se não nos afastamos das ocasiões que podem nos levar ao mal. Além disso, cada um de nós, em sua função, tem responsabilidade sobre outros: patrões sobre empregados, pais sobre filhos, mestres sobre alunos, etc.

Os Pastores são representados pela figura do porteiro, a qual também simboliza o nosso dever de velarmos por nossos próprios corações.

35 Vigiai, pois, visto que não sabeis quando virá o senhor da casa, se de tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; 36 para que, vindo de repente, não vos encontre a dormir.

Não é só neste trecho que Jesus repete de forma imperativa seu conselho de vigilância. Os quatro Evangelhos contêm várias passagens relativas a esse empenho do Divino Mestre. Aqui, em concreto, as circunstâncias são descritas com certa variedade e de maneira metafórica. O importante é não sermos apanhados dormindo por ocasião de uma visita imprevista.

Essa advertência tem um real fundamento. A criatura humana, ao pecar, não recebe um castigo de imediato. Por isso o pecado vai aos poucos se transformando em habitual e, no fim, se torna um inveterado vício. Por uma necessidade de racionalizar e, assim, aquietar sua própria consciência, a pessoa acaba por atribuir a Deus o juízo relativista que elaborou para justificar-se.

Jesus, apesar de conhecer bem o pecado de cada um de seus irmãos e até de odiá-lo, cala-se por amor à salvação destes, para conceder-lhes mais oportunidades de se emendarem. Ora, sem vigilância, esse processo de regeneração é impossível. É preciso que Jesus não nos “encontre a dormir”, ou seja, entibiados nos vícios…

37 O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!

Assim termina o cap. XIII de Marcos. O capítulo seguinte será a descrição de toda a Paixão.

Neste versículo se encontra o caráter universal dos conselhos proferidos por Jesus a propósito da suma importância da vigilância em face não só do fim do mundo, mas também do fim de cada um de nós. Todos nós morreremos. Em que momento, não o sabemos. Estejamos alertas! Nesse dia nos encontraremos com Jesus; será o nosso juízo particular. Não será o único, pois Ele quer dar um caráter público e social ao julgamento, daí haver um segundo juízo.

III – Conclusão

Em nosso egoísmo, somos levados a nos considerar o centro de nossas atenções e preocupações, mas a essência de nossa vida cristã é social: “Amai-vos, uns aos outros” (Jo 13, 34; 15, 12; 15, 17); ou: “Quem ama ao próximo, cumpriu a lei” (Rom, 13, 8). Jesus pesa nossos atos em função de nossa misericórdia com o próximo, ou seja, Ele usa, para nos julgar, de um critério social.

Deus distribui seus bens de forma desigual aos homens, para que uns possam dispensar e outros receber. Isso se passa não só no campo material como também, e sobretudo, no campo cultural e espiritual. Pela misericórdia e justiça unidas, seremos nós julgados diante de todos os anjos e homens.

Preparemo-nos, pois, neste Advento, para receber Jesus que vem na plenitude de sua misericórdia, e roguemos Àquela que O traz a este mundo sua poderosa intercessão para o nosso segundo encontro com Ele, quando vier de improviso, na plenitude de sua justiça.

1) Suma Teológica, III q 59, a 2

2) Suma Teológica, III q 59, a 3

3) Cf. Suma Teológica, Supl. q 90, a 2.

4) Serm. 18,1: PL 38, 128-129.

5) Sto. Hilário, 9, de Trinit.

6) Exeunte iam anno, 25 de dezembro de 1888.

7) Carta ao povo italiano, 8 de dezembro de 1892.

8  ) Vigilante cura, n. 18.

9) ibid., n. 19.

10) ibid., n. 21.

11) ibid., n. 25.

12) À Ação Católica Italiana, 12 de outubro de 1952.

13) Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 1º de maio de 1967.

14) Mensagem para o 38º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de janeiro de 2004.

15) Instrução de 30/3/1992, Introdução.

(Extraído da Revista Arautos do Evangelho  –  nº 47 – Novembro 2005 – resumido)

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