Os Dez Mandamentos estão ultrapassados?

Em nossos dias, bastará abrirmos as páginas de jornal ou acessarmos as notícias on-line, para encontrarmos narrados incontáveis fatos, muitos deles assustadores, nos quais o amor ao próximo vai sendo vertiginosamente banido da face da terra. Consequência, sem dúvida, do rechaço, ou pelo menos, do esquecimento do amor de Deus.

Ora, sabemos que os dez Mandamentos entregues por Deus a Moisés no Monte Sinai, trazem os preceitos concretos que devem nortear o relacionamento dos homens com Deus e deles entre si.

No entanto, estamos frente a uma crise monumental, de abandono da Lei de Deus. Conforme diz o Papa Bento XVI, “vivemos num contexto cultural marcado pela mentalidade hedonista e relativista, que propende para eliminar Deus do horizonte da vida, não favorece a aquisição de um quadro claro de valores de referência e não ajuda a discernir o bem do mal e a maturar um justo sentido do pecado”. ¹

Diante desta situação, podemos nos perguntar: os Dez Mandamentos – decorridos tantos séculos – não estão ultrapassados?

Ou ainda, não será normal que a Lei de Deus e as leis morais dela decorrentes evoluam e se adaptem aos costumes?

Esta questão nos é suscitada e esclarecida pela consideração da Liturgia do 6° Domingo do Tempo Comum.

Com efeito, nos ensina o Catecismo da Igreja: “Visto que exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, os Dez Mandamentos revelam, em seu conteúdo primordial, obrigações graves. São essencialmente imutáveis, e sua obrigação vale sempre e em toda a parte. Ninguém pode dispensar-se deles”. ² [grifo nosso]

Bon Dieu – Catedral de Amiens

Como se tal ensinamento não bastasse, vejam-se as divinas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, narradas por São Mateus (Mt 5, 17-19):

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Não penseis que vim abolir a Lei e os profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade Eu vos digo: antes que o Céu e a Terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra”.

“Portanto, quem desobedecer a um só destes Mandamentos, por menor que seja, e ensinar aos outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus”.

Neste sentido comenta Mons. João Clá Dias, EP: “Nosso Senhor não é só o Autor da Lei, mas também a Lei viva. Assim como dizemos que o ‘Verbo Se fez carne’ (Jo 1, 14), podemos afirmar que ‘a Lei de Deus Se fez carne e habitou entre nós’. No Divino Mestre se encontram os Dez Mandamentos no estado de divindade, pois, o que fez Ele na sua vida terrena senão praticar a todo o momento o Primeiro Mandamento: ‘Amarás o Senhor teu Deus sobre todas as coisas’?” ³

Roguemos à Maria Santíssima nos conceda um amor íntegro e a prática entusiasmada dos Dez Mandamentos, em todos os dias de nossa vida. E assim evitemos toda e qualquer relativização no cumprimento da Lei de Deus.

Por Adilson Costa da Costa

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¹ BENTO XVI. Discurso aos participantes no curso anual sobre foro intimo, promovido pela Penitenciária Apostólica. Cidade do Vaticano, 11.03.2010.

² Catecismo da Igreja Católica. Tópico n. 2072: A obrigatoriedade do Decálogo. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 546

³ Mons. João S. Clá Dias, EP. Cristo é a plenitude da Lei. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 73.