Por que o homem é a obra prima da Criação?
É possível que o caro leitor, depois de um dia fatigante de trabalho, ao entardecer, retornando para o seu lar, tenha em certo ângulo do percurso se deparado com um belo por do sol. Aquele jogo de cores, entre azul e róseo certamente o terá encantado e lhe servido de refrigério psíquico e até, quiçá, espiritual.
Ou então, num final de semana repousante, tenha passeado por um jardim zoológico e analisado os diversos animais: ora um pavão, com sua calda prestigiosa, onde o azul prateado e o verde esmeralda se harmonizam esplendidamente, conformidade própria a deixar certos pintores e mestres das artes visuais atônitos com tão curiosa combinação de cores de que a natureza é capaz. Ora um leão, fazendo jus a seu imorredouro título de “rei dos animais”, com seu porte majestoso e calmo, a rugir sonoramente e intimidando as demais criaturas.
Face à variedade aspectos da criação, ficamos muitas vezes admirados. No entanto, caro leitor, você já deve ter formulado a seguinte questão: todas as criaturas, por mais belos reflexos e símbolos que sejam do Criador, comparadas com o homem, são muitíssimo inferiores. Conforme São João Crisóstomo (+404), o grande doutor da Igreja, “é o homem, grande e admirável figura viva, mais precioso aos olhos de Deus do que a criação inteira”. ¹
De onde vem tanta superioridade do homem em relação às demais criaturas visíveis? Por que é o homem “a obra prima da Criação”? ²
A resposta no-la dá o Catecismo: “só o homem é chamado a compartilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus. Foi para este fim que o homem foi criado, e aí reside a razão fundamental de sua dignidade”. ³
Sim caro leitor, nós somos criados à imagem e semelhança de Deus e, portanto, capazes de conhecer e amar nosso Criador, enquanto as demais criaturas visíveis não o podem. E esta capacidade de conhecer e amar a Nosso Senhor, guiada pela graça, nos santifica na terra e nos prepara para a felicidade eterna no Céu.
Por isto mesmo, em seu Diálogo com Deus, a grande doutora da Igreja, Santa Catarina de Sena, com alegria se manifesta: “Qual foi a razão que te levou a colocar o homem em tão sublime dignidade? Certamente o incompreensível amor com que o pensaste e dele te enamoraste! Por amor criaste o homem e lhe deste o ser, desejoso de que saboreasse teu sumo e eterno Bem” 4. Em outros termos, o homem foi criado e chamado para a eterna felicidade, na contemplação de Deus face a face.
E de tal forma o amor de Deus por nós se elevou ao inimaginável que, segundo São João Crisóstomo, Ele atribuiu tanta importância à salvação do homem que nem se quer poupou seu Filho único em nosso favor.5
Assim, caro leitor, quando te vires encantado pelas belezas da criação, lembra-te que o Criador as fez para ti. E que Ele mesmo será a tua recompensa demasiadamente grande, se tu fizeres bom uso das criaturas e viveres na amizade com Deus. Que Nossa Senhora te ajude!
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¹ São João Crisóstomo. Sermão sobre o Gênesis 2, 1.
² Catecismo da Igreja Católica. Tópico n. 343: o mundo visível. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 100.
³ Catecismo da Igreja Católica. Tópico n. 356: o homem. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 102
4. O Diálogo, Ed. Paulinas, São Paulo: 2ª. ed., 1984, p. 52.
5. São João Crisóstomo. Idem.