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São Tomás de Aquino e o Mestre por excelência dos Doutores da Igreja

Há personagens na História que nos surpreendem pelo fulgor de sua inteligência. E ao analisarmos suas existências, verificamos como, em muitos deles, para além de aplicação intelectual, houve grandes mestres que os formaram.

Entre estes personagens, encontraremos muito especialmente um, não menos santo, que brilhou por sua sabedoria: São Tomás de Aquino.

São Tomás

São Tomás

São Tomás de Aquino, nascido de uma das mais nobres famílias de toda a Itália, família Aquino, já aos seis anos, sob os cuidados de seu tio, Abade do Monte Cassino, surpreendia os religiosos beneditinos com a pergunta: Quem é Deus? Ali permanece oito anos. Aos quinze anos faz seus estudos na Universidade de Nápoles até aos dezenove anos de idade.

Aos vinte anos sua vocação se consolidou: movido pela graça, decidiu entrar na Ordem Dominicana, apesar da oposição da família: “nem os gritos do pai, nem os afagos das irmãs, nem as violências dos irmãos, pouco lisonjeados com a ideia de verem um Aquino mendicante. Enquanto a família o mantinha preso no segredo de um dos seus castelos, resolveram enviar-lhe a mais atraente das tentadoras, mas a ‘mensageira de Satanás’ passou vergonha e escapou por pouco do tição que Tomás brandiu contra ela.

Queria ser dominicano e dominicano seria: nem abade do Monte Cassino, nem arcebispo de Nápoles! Ninguém seria capaz de vencer a sua santa obstinação”¹.

Inequivocamente, de uma extraordinária sabedoria, bastará verificar “uma sintética amostra dos Pontífices que ratificaram com sua autoridade a doutrina deste santo dominicano […]:

João XII, que o canonizara no ano de 1323, o recomenda mais que os outros mestres; São Pio V afirma que a Igreja fez sua a doutrina teológica do santo e lhe concede o título de ‘Doctor Angelicus’; Clemente VIII assevera estarem seus ensinamentos limpos de qualquer erro; Leão XIII, autor da encíclica Aeterni Patris, assinala a idoneidade de sua ciência, a qual deve ser preferida à ensinada por outros doutores, em caso de desacordo; São Pio X indica sua obra como regra certíssima da doutrina cristã; Pio XI, em sua encíclica Studiorum Ducem, recomenda: ‘Ide a Tomás’. Mais adiante, Paulo VI – que o chamara de ‘Doctor Communis Ecclesiae’ […]”. ²

Quantos depoimentos há, por parte daqueles que tiveram contato com o santo. “Aqueles que o conheceram pessoalmente foram mais explícitos. Sua inteligência era rápida, profunda, equilibrada; prodigiosa sua memória; incansável sua curiosidade e sua laboriosidade não conhecia descanso. Compreendia com facilidade tudo quanto lia ou ouvia, e o retinha fielmente em sua memória como no melhor fichário” ³.

Mas, caro leitor, de onde vem tanta sabedoria?

Não alongando por demais este artigo, obtenhamos a resposta do próprio Doutor Angélico. “Ele mesmo confidenciou a Frei Reginaldo, seu confessor, ter aprendido mais através de suas meditações, na igreja, diante do Santíssimo Sacramento, ou em sua cela [quarto do religioso] aos pés do Crucifixo, que em todos os livros por ele consultados”4.

Aqui temos a fonte da sabedoria de Santo Tomás, ele próprio indica Aquele que foi seu Mestre por excelência. Vale dizer: e não apenas dele, mas o Mestre de todos os Doutores da Santa Igreja, Católica, Apostólica, Romana: Nosso Senhor Jesus Cristo.

O grande e insuperável Mestre de São Tomás: o Santíssimo Sacramento

Conforme nos explicita Mons. João S. Clá Dias: “Seu grande e insuperável Mestre foi o Santíssimo Sacramento, diante do qual passava rezando horas inteiras, dia e noite. Freqüentemente, no momento auge da celebração da Santa Missa, ou seja, na hora da Consagração do pão e do vinho, não só o milagre da transubstanciação se realizava em suas mãos, como também, sua face se transfigura. […] Guilherme de Tocco, o seu primeiro e principal biografo, insiste em dizer que Tomás adquirira o hábito de rezar demoradamente quando tinha de vencer um obstáculo, de intervir num debate importante, de ensinar qualquer matéria mais árdua” 5.

Sim, poderia alguém aprender melhor do que convivendo com Aquele que é a fonte da Sabedoria, Jesus Eucarístico e se embebendo dos ensinamentos d’Aquele que é o Mestre da Verdade? Por isto, afirma o Fundador dos Arautos:

“[…] que Mestre houve na História à altura do único e verdadeiro Mestre? Se Nosso Senhor é a Verdade, o Bem e a Beleza absolutos, por que não deveria ser também a Didática em essência? Não podemos nos esquecer de que Ele é Deus, enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, e, portanto, sua didática só pode ser também substancial”.6

Aqui temos o Mestre destes Santos Doutores da Igreja: Jesus, a Sabedoria Eterna e Encarnada. Consagremos-nos a Ele, pelas mãos maternais de Maria, e seremos sábios tanto quanto o desígnio que Deus tem para nós e, sobretudo, alcançaremos a santidade para a qual fomos criados e chamados.

……………………………….

¹ Daniel Rops. O apogeu da Escolástica: São Tomás de Aquino. In A Igreja das Catedrais e das Cruzadas. Tradução de Emérico da Gama. 2ª ed. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 367.

² Editorial. Lumen Veritatis – Revista Acadêmica. Ano I – N° 1 – Outubro a Dezembro – São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. 2007, p. 4-5.

³ Padre Victorino Rodrigues, Temas clave de humanismo Cristiano. Speiro. Madrid, 1984, p, 321.

4 Charles-Anatole, O.P., Saint Thomas d’Aquin, Lyon : Librairie Générale Catholique et Classique, 1895. In Lumen Veritatis – Revista Acadêmica. Ano I – N° 1 – Outubro a Dezembro – São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. 2007, p. 26.

5 Mons. João Scognamiglio Clá Dias. Por que ser tomista? In: Lumen Veritatis – Revista Acadêmica. Ano I – N° 1 – Outubro a Dezembro – São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. 2007, p. 25-26.

6 Mons. João S. Clá Dias, EP. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. I, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 159.

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O Terço na Palavra dos Papas e dos Santos

I – Uma Devoção a ser continuamente redescoberta.

             Uma das mais bonitas características da Língua Portuguesa (e de praticamente todas as línguas contemporâneas) é a sua vivacidade, a sua vitalidade. Com efeito, na medida em que o tempo passa e a História vai seguindo seu caminho, surgem novas demandas de comunicação e, para atendê-las, surgem palavras novas. Ao mesmo tempo, palavras já existentes vão se adaptando aos novos tempos e ganhando novos significados. Essa dinâmica é interessante e constitui-se em riqueza da Língua, pois uma de suas funções é propiciar uma comunicação eficiente.

            Um exemplo muito interessante é o que ocorreu com a palavra Terço. Se olharmos o dicionário, vemos que é definida como “que ou o que corresponde a cada uma das três partes iguais em que pode ser dividido um todo”. (1) A palavra terço pode ser um numeral: a terça parte de algo. Alguns dicionários também definem terço como a terça parte do Rosário. Neste caso, a palavra é um substantivo. Ainda, segundo o dicionário, Um Terço é “a terça parte do rosário, composta de cinco dezenas de contas, para a reza da ave-maria, intercaladas por cinco contas, correspondentes à oração do padre-nosso”. (2) Como muitos fiéis não tinham a possibilidade de rezar o Rosário Completo (os três conjuntos de Mistérios), rezavam o Terço, ou seja, a terça parte do Rosário.

            Mas… se a Língua é dinâmica, o Amor a Deus o é ainda mais: Por inspiração da Graça e movido por um imenso amor filial a Maria Santíssima, o Beato Papa João Paulo II acrescentou mais 5 mistérios ao Rosário, os Mistérios Luminosos. E agora, como fica? O Rosário passa a ser composto de 4 partes (4 mistérios). Cada parte do Rosário… continua a ser chamado de: Terço! Assim, quatro Terços e não mais “três terços” passam a formar o todo, que é o Rosário. Obviamente, quando se fala em Terço faz-se menção ao substantivo e não a um numeral. Para os fiéis que encontram na oração do Santo Terço uma devoção sólida, esse jogo de palavras pouco importa. O que importa é utilizarem-se dele para meditarem nos principais Mistérios de sua Fé!

            Portanto, quando nos referimos ao Rosário ou ao Terço, estamos falando da mesma Devoção. Rezar o Rosário significa rezar e meditar o conjunto dos quatro mistérios: Mistérios da Alegria (Gozosos), Mistérios Luminosos, Mistérios Dolorosos e Mistérios Gloriosos. Ao meditá-los, damos a volta em todo o Evangelho e, portanto, na História da nossa Redenção. E no que consiste a Devoção do Rosário? Qual é o seu histórico?

             Partindo do pressuposto de que, infelizmente, muitos católicos ainda não entendem plenamente o sentido dessa Devoção, a sua profundidade, a sua importância para nos ajudar a percorrer o caminho de Cristo, em companhia de Maria, iremos escrever esta série de artigos para tratar das maravilhas do Santo Rosário. Nas palavras do Beato João Paulo II: “Uma oração tão fácil e ao mesmo tempo tão rica merece verdadeiramente ser descoberta de novo pela comunidade cristã”. (3)

            Esta série de artigos pretende ser um pequeno passeio dentro do universo das palavras dos últimos Papas e de alguns santos sobre a sublimidade desta devoção. Muitos papas atribuíram uma grande importância ao Rosário: “Merecimento particular teve, a propósito, Leão XIII que, no dia 1º. de setembro de 1883, promulgava a Encíclica “Supremi apostolatus officio” alto pronunciamento com o qual inaugurava numerosas outras declarações sobre esta oração, indicando-a como instrumento espiritual eficaz contra os males da sociedade”. (4)

           Portanto, desde São Pio V, que no século XVI estabeleceu a invocação a Nossa Senhora do Rosário, como agradecimento à Virgem pela vitória da Cristandade na batalha de Lepanto, passando por Leão XIII (1878 a 1903) no século IX e até Bento XVI, há uma série de documentos muito interessantes nos quais os Sumos Pontífices apontam a eficácia do Rosário e sua utilidade no universo da piedade católica. Evidentemente, merece destaque o Beato João Paulo II que, como já comentamos, inaugurou uma fase luminosa na devoção ao Rosário, ao instituir, em sua magnífica Encíclica “Rosarium Virginis Mariae”, os Mistérios da Luz.

            Além dos inúmeros Papas, também vários santos se destacaram pelo amor ao Rosário. Alguns mais conhecidos, como São Luís Maria Grignion de Montfort, Santo Afonso de Ligório, São Pio de Pietrelcina e outros. Há outros santos, não tão conhecidos, como o Beato Bártolo Longo, o Beato Alano de La Roche, mas igualmente empenhados em sua difusão pelo mundo católico.

            No alto da Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo, num Solene ato de Amor, nos deu Maria como Mãe (Cf. Jo 19,26). Mais especialmente, coube ao Apóstolo Virgem, São João Evangelista, tomar a si o cuidado da Santíssima Virgem nos anos em que Ela ainda teria que permanecer nesta Terra, para uma missão complementar: Ajudar no florescimento da Igreja. Que graça imensa para este Apóstolo poder conviver com a Mãe de Deus, indagar-lhe sobre os principais Mistérios da vida do Salvador. Como teria se dado a Anunciação? Qual foi a reação de Maria quando o Anjo lhe anunciou que seria a Mãe de Deus? E como teria Ela passado, em companhia de São José, os três angustiantes dias antes reencontrar o Menino Jesus no Templo? E assim por diante. Como teriam sido essas conversas? Com que amor a Mãe instruía São João sobre estas e outras verdades? Quem de nós não gostaria de presenciar essas conversas, esse convívio entre Mãe e filho?

             Pois bem: a devoção ao Rosário é exatamente isso: Imaginemo-nos na casa de Éfeso, aos pés da Virgem Maria, meditando com Ela nos mistérios da vida de Jesus. A Mãe nos instrui e nos anima no Caminho de Cristo, compartilhando conosco todas aquelas coisas que Ela guardava no seu coração (Cf. Lc 2,52).

            Com efeito, o Rosário é uma oração eminentemente contemplativa: “Sem contemplação, o Rosário é um corpo sem alma e sua recitação corre o perigo de tornar-se uma repetição mecânica de fórmulas (…)”. (5) Assim, todas as vezes que rezamos o Rosário, estamos fazendo, em companhia de Maria, este exercício de contemplação.

            E, para que a nossa contemplação se torne mais santa, mais luminosa, mais de acordo com aquilo que a Igreja espera de nós, nada melhor do que buscarmos esse conhecimento, através das palavras dos Papas e dos Santos.

           Caro leitor: Contamos com a sua companhia durante este estudo! Ou melhor, durante esta Meditação! Rogamos à Santa Mãe de Deus que nos acompanhe, com Sua intercessão, para que, conhecendo melhor este grande instrumento de Salvação – que é o Rosário! – possamos crescer sempre mais no Amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, à Sabedoria Eterna e Encarnada.

Salve Maria!

João Celso


(1) Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=ter%25C3%25A7o
(2) Idem

(3) Papa João Paulo II. Carta Apostólica RosariumVirginisMariae. 9ª ed. São Paulo: Paulinas, 2005, p.58

(4) Idem, p. 6

(5) Papa Paulo VI. Exortação Apostólica Marialiscultus. n. 47.02 fev. 1974. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19740202_marialis-cultus_po.html
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