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Fé e milagre na manifestação de Cristo

Em inúmeros momentos, quando estamos recolhidos, sozinhos, em família, procedendo à leitura das Sagradas Escrituras ou, atentamente, na Santa Missa ouvindo a Homilia, surge em nosso íntimo uma pergunta: como deveria ser a pregação de Jesus?

Nosso Senhor, o Divino Pedagogo, infinitamente sábio, com Sua linguagem, timbre de voz, gestos… tudo de uma perfeição extraordinária! Os olhos humanos contemplavam a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada, com Sua doutrina arrebatadora e Suas palavras dotadas de vida eterna!

O Redentor do gênero humano trouxe não apenas ensinamentos que expressam a máxima sabedoria. Além disso, de acordo com Professores da Companhia de Jesus, “confirmava a verdade de sua doutrina com milagres, que eram ao mesmo tempo obras de caridade, curando toda espécie de enfermidades”. ¹

Toda esta pregação tinha um objetivo supremo: Jesus veio até nós para se revelar. E revelar-se como o Filho de Deus!

Mas de que maneira esta filiação divina se manifestou? Por que Jesus, no começo de sua vida pública, não proclamou que era Deus?

Estas bonitas questões são abordadas com maestria por Mons. João Clá Dias, EP, ao comentar o início da pregação de Jesus, narrada pelo Evangelista São Mateus (Mt 4, 12-23). Assim diz: “A convicção de Jesus quanto ao seu papel de Messias jamais poderá ser posta em dúvida […] grande e exata era a compreensão que Ele possui em relação à sua missão”. ²

Neste momento o leitor pode questionar: Como se daria a realização de Sua missão?

Para explicar esta pergunta, o Fundador dos Arautos escreve: “Porém, se de um lado a consciência a respeito dos fins […] era claríssima ab initio [desde o início] e nunca cresceu nem, menos ainda, diminuiu, sua manifestação aos outros foi progressiva. Aqui na Galiléia encontramos o Divino Mestre numa fase inicial. Era não só prematuro, como até imprudente, revelar em todo ou em parte sua divindade. Só muito mais tarde – por volta de dois anos após o Batismo no Jordão – Pedro proclamará sua filiação divina, por pura revelação do Pai, e, em seguida, os Apóstolos receberão a ordem de manterem o assunto em sigilo”. 3 [grifo nosso]

E mais adiante, explicita do porque era prematuro e imprudente, naquele momento, a revelação de sua divindade: “Mas, neste período da Galileia, ´O Evangelho do Reino` é pregado pelo Filho do Homem a uma opinião pública com insuficiente fé para reconhecer a infinita grandeza do Filho de Deus”. 4 [sublinhado nosso]

Esta linda questão, porque diz respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo, traz para nós uma grande lição. A fé daquelas pessoas para quem Jesus Cristo pregava era insuficiente… Consequência disto: a revelação do Salvador para eles foi limitada.

Milagre da Cura dos leprosos

Muitas pessoas hoje em dia se perguntam do porque em nossa época não acontecerem tantos e tão retumbantes milagres, como por exemplo, ocorria no Antigo Testamento, ou quando Jesus esteve caminhando pelas terras de Israel. Há até quem diga que Deus chegou a abandonar o mundo. Contra estas ideias, existem alguns pontos a se pesar.

Um deles é que atualmente sucedem-se numerosos milagres de ordem individual. Bastará lançar os olhos em Lourdes, em Aparecida do Norte e em outros muitos santuários de devoção e peregrinação, para verificarmos prodígios diários, diversos deles já constatados pela ciência e a medicina.

Com relação a milagres que envolvam povos em seu conjunto, de fato tornaram-se escassos. Talvez pelo fato de que esses se encontram, sem dúvida, num inaudito afastamento de Deus.

Entretanto, ainda se encontram grupos ou pessoas que, na sua individualidade, possuem grande fé. Em outros termos, há indivíduos com fé que alcançam grandes graças, mas que representam uma parcela minoritária em relação aos povos a que pertencem.

 Pode-se dizer que ainda há pessoas com elevada fé, mas seria forçado dizer o mesmo de um povo ou um país, numa época de tanto materialismo e tantos pecados.

Isso possivelmente explica porque os grandes milagres que outrora envolveram povos inteiros como, por exemplo, os judeus e egípcios no Êxodus, a passagem do Mar Vermelho, as dez pragas etc., tornaram-se mais raros, em contraste com a grande incidência de milagres particulares.

Não excluamos, entretanto, a possibilidade de grandes milagres para os povos incrédulos de hoje, pois se para os judeus estes prodígios confirmavam a fé, para os egípcios eles desafiavam a incredulidade. Assim, pode ser que estejamos à beira de grandes acontecimentos, como os previstos por Nossa Senhora em Fátima, caso os homens de nosso tempo não se convertam e cessem de ofender a Deus.

Aqui está, caro leitor, uma boa meditação para todos e cada um: como está nossa fé na grandeza, no poder e na bondade infinita do Filho de Deus?

Peçamos que esta fé seja, pela graça divina e a rogos de Maria, profunda, convicta e entusiasmada por Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus. E assim poderemos contemplar em nossas vidas a dadivosa manifestação de Sua divindade, carregada de bênçãos, graças e milagres; e escutar, talvez, sua voz ressoar no fundo de nossas almas – “Tua fé te salvou, vai em paz.” Lc (7, 50) – a nos fortalecer ainda mais na confiança e na fidelidade ao Salvador.

Por Adilson Costa da Costa

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 ¹ Juan Leal, SJ; Severiano Del Páramo, SJ, José Alonso, SJ. La Sagrada Escritura: Evangelios. v. I. Madrid: BAC, 1961, p.54.
² Mons. João S. Clá Dias, EP. Não tinha chegado a hora de Se manifestar como Filho de Deus. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 37.
³ Mons. João S. Clá Dias, EP, op. cit, p.37.
4 Mons. João S. Clá Dias, EP, op. cit, p.37.

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Qual o grande abismo que separa os homens na terra?

Ao tomarmos contato com as parábolas do Divino Pedagogo, ficamos encantados com seus magníficos ensinamentos. Entre estas, uma das mais belas páginas evangélicas é a Parábola do rico e do pobre Lázaro, meditada neste 26º Domingo do Tempo Comum.

Quando lemos esta parábola, ficamos impressionados com o contraste chocante existente entre o rico que se banqueteava todos os dias de forma esplêndida e a situação de mendicância do pobre Lázaro, que disputava com os cães as migalhas que caiam da mesa daquele egoísta, indiferente à situação de penúria do seu semelhante.

Tão viva a narração feita por Nosso Senhor, que ficamos tomados de compaixão para com Lázaro, ao mesmo tempo em que sentimos indignação pelo alheamento e pouco caso do rico diante do pobre sofredor. De fato, não é outra senão esta a reação a que somos convidados. Aliás, tal cena, infelizmente, tantas vezes se sucede, com variantes diversas mas substancialmente reais, ao longo da história dos homens…

Ademais, chama-nos a atenção os extremos a que passam os dois protagonistas da parábola, após sua vida na terra: o rico, da opulência, é jogado nos tormentos do inferno a ponto de suplicar uma gota d´água do dedo de Lázaro para refrescar sua língua. Por outro lado o pobre Lázaro, do infortúnio, é levado pelos anjos ao seio de Abrão e consolado. E tal é a distância entre os dois, que Abraão diz ao rico: “[…] há entre nós e vós um grande abismo; de maneira que os que querem passar daqui para vós não podem, nem os daí podem passar para nós” (Lc 16, 26).

O grande abismo que separava o rico do pobre Lázaro, após suas mortes, está claro: a radical diferença entre o céu e o inferno. No entanto, poderíamos nos perguntar: haveria um “grande abismo” que separava os dois personagens, antes de morrerem? Ou ainda: Qual era o verdadeiro abismo que separava o rico do pobre Lázaro, na sua existência terrena?

Talvez alguém pudesse se precipitar e responder: “é claro, o que os separava era a riqueza de um e a pobreza de outro!” E talvez ainda concluísse: “E foi por esta razão mesmo que um foi para o céu e o outro lançado no inferno”.

Humildade e amor a Deus

No entanto, não é uma razão de ordem meramente econômica, o “grande abismo” que os separava em sua existência terrena, bem como na eternidade. Como podemos demonstrar isto? O incomparável Santo Agostinho nos dá uma resposta rutilante: “Não foi a pobreza que conduziu Lázaro ao céu, mas a sua humildade. Nem foram as riquezas que impediram o rico de entrar no descanso eterno, mas o seu egoísmo e sua infidelidade 1 [grifos nossos]

Mãe do Divino Amor – Paróquia São Gines – Madri, Espanha

Sim. Não era simplesmente o fato de um ser rico e ou outro pobre que explicava o abismo que os separava. Era isto sim, o fato de um ser humilde e amante de Deus, e outro egoísta, infiel a Deus e indiferente ao próximo.

É neste sentido, que Mons. João Clá Dias aborda tal questão: “Pode-se perguntar: vai-se para o inferno pelo simples fato de ser rico? No Céu, só entram os mendigos? Toda riqueza é um mal e toda miséria, um bem? Neste trecho de Lucas, encontramos a descrição de uma condenação e de uma salvação. As penas eternas aplicadas ao avarento são devidas ao mau uso das riquezas, pois estas, de si, são neutras, nem boas, nem más. Depende do uso que delas se faça. O mesmo se deve dizer da pobreza, não é ela boa, nem má. Para qualificá-la é necessário saber com que disposição interior foi aceita”. 2

Em resumo, como diz São João da Cruz: “Ao entardecer desta vida, seremos julgados segundo o amor”. 3

A mediação de Nossa Senhora

Eis o grande abismo que separa os homens nesta terra: o amor de Deus e do próximo e o amor de si mesmo com o esquecimento de Deus. No entanto, este abismo não é instransponível como aquele grande abismo de que nos fala Abraão na parábola. Sim, caro leitor, este abismo é transponível pela graça de Deus, que tudo pode.

Peçamos a Maria, Mãe do Divino Amor, que nos dê um amor radical e pleno ao Seu Divino Filho e, por amor a Ele, um verdadeiro amor ao próximo. E aí teremos transposto todos os abismos do pecado que nos separam de Deus.

Por Adilson Costa da Costa

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1 Santo Agostinho. Sermão 24, 3.
2 Mons. João S. Clá Dias, EP. Invertendo os papéis na parábola. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 383-384.
3 São João da Cruz. Dichos de Luz e Amor, n. 57. In: Obras Completas. Madri: Espiritualidad, 1057, p. 63.
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