Frase da Semana – São Camilo de Lellis
“Ainda que não se encontrassem pobres no mundo, os homens deveriam andar a procurá-los e desenterrá-los, para lhes fazerem o bem e praticar a misericórdia para com eles” ¹
São Camilo de Lellis
A frase da semana nos impressiona, entre outros aspectos, pelo desejo ardente, apaixonado, de seu autor em praticar a misericórdia para com os necessitados. Quem é seu autor? Como explicar esta “sede de misericórdia” em um homem?
Seu autor é São Camilo de Lellis (1550-1614, Itália), militar que, depois de uma vida dissoluta, converteu-se e consagrou-se aos cuidados dos doentes e pobres. Ordenado Sacerdote, fundou uma Congregação, para construir hospitais e atender aos enfermos, hoje mundialmente conhecida como Ordem dos Camilianos, atuante em 35 países.
Durante o processo de sua conversão, após uma vida errante, onde perdera seus bens e ficara reduzido a pedir esmolas junto à Catedral, sofrendo ao mesmo tempo de uma misteriosa chaga na perna que não se separava dele, tocado por uma graça fulgurante, tornou-se noviço capuchinho.
“Seus irmãos de hábito o chamavam de ‘frei humilde’, por seu empenho em disputar o último lugar, ser o servo de todos e ocupar-se dos serviços mais penosos e repugnantes. No entanto, a chaga de sua perna se agrava com o roçar do rústico tecido do hábito, e viu-se ele forçado a regressar ao hospital[…].” ²
Decidido a dedicar-se por inteiro ao serviço dos doentes e exercitar-se na caridade para com os pobres, o fez de maneira tão heróica e com capacidade, que foi nomeado pelos administradores do Hospital São Tiago onde fora internado, como Mestre da Casa.
Eis que “um prodígio veio confirmar o acerto desta escolha. São Camilo passara longas horas animando um pobre homem, a quem seria amputada uma perna no dia seguinte. Quando o deixou, ele estava tão bem disposto que adormeceu tranqüilo. Na hora marcada para a amputação, os cirurgiões constataram que a perna inexplicavelmente ‘estava curada de forma inesperada’”. ³
De onde veio seu amor apaixonado pelos pobres e doentes? Do Divino Salvador, Jesus Cristo, a Bondade em essência
Eis a fonte de bondade e misericórdia de São Camilo de Lellis, como de tantos outros Santos fundadores e dedicados discípulos do Divino Salvador.
Com efeito, conforme nos descreve Mons. João S. Clá Dias, “é patente, pelas narrativas históricas, que antes de Nosso Senhor Jesus Cristo Se encarnar, na ‘plenitude dos tempos’ (Gal 4, 4), a humanidade não tinha ainda noção da verdadeira bondade e se encontrava num ápice de degradação. Os homens se tratavam com uma ferocidade superior à das próprias feras, e o relacionamento era constituído por uma catarata de desprezos, de ultrajes e de violências, que causa espanto. Os servos, considerados ‘coisa’, eram submetidos a tanta brutalidade por seus donos, que estes chegavam a mandá-los experimentar certos venenos para comprovarem seus efeitos mortais. E não só os escravos, mas até os filhos eram objeto de um trato desumano. No Império Romano, se uma criança nascesse defeituosa, o pai possuía o direito de abandoná-la no meio da floresta para que os animais selvagens a devorassem. Mesmo a mulher, em todas as civilizações antigas, era cruelmente relegada”. 4
E observa o Fundador dos Arautos: “Em contraste com tal horror, nasce Jesus – a Bondade em essência – e maravilhas começam a se produzir, a ponto de surgir, a partir d’Ele, uma nova humanidade. Realiza-se, por fim, o que pede o Salmo [do] 15° Domingo do Tempo Comum: “Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!”. 5 [grifos nossos]
São estas maravilhas de bondade, de amor sincero e desinteressado dedicado aos pobres e doentes, nascidos no seio da Santa Igreja, frutos do Sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta realidade “do amor ao próximo” levado a cabo pelos homens e instituições católicas fundamentou o famoso escritor Thomas E. Woods – bacharelado pela Universidade de Harvard e o doutorado pela Universidade de Columbia – a afirmar:
“Exigiria volumes sem conta elaborar uma lista completa das obras de caridade católicas promovidas ao longo da história por pessoas, paróquias, dioceses, mosteiros, missionários, frades, freiras e organizações leigas. Basta dizer que a caridade católica não tem paralelo com nenhuma outra, em quantidade e variedade de boas obras, nem no alívio prestado ao sofrimento e miséria humanos. Podemos ir mais longe e dizer que foi a Igreja Católica que inventou a caridade tal como a conhecemos no Ocidente”. 6
Aqui estão, caro leitor, explicitados a razão e a extensão do bem e da prática da misericórdia de São Camilo de Lellis e de tantos outros homens e mulheres de Deus, bem como de instituições nascidas no seio da Igreja ou por influência dela para com os pobres e doentes.
Que o Divino Redentor nos dê a graça, pelos rogos de Nossa Senhora Auxiliadora, de realizarmos aquelas obras de misericórdia corporais e espirituais, para auxílio dos mais necessitados. Certamente não teremos que “procurar muito os pobres nem desenterrá-los para poder lhes fazer o bem e praticar com eles a misericórdia”, pois os há em quantidade, neste nosso mundo neo-pagão, onde o egoísmo impera com desrespeito ao ser humano, quer no sentido material – sem dúvida – quer, sobretudo, no sentido moral e espiritual.
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1 Ofício Divino – Tempo Comum – Dia 14/07 – XV Semana – São Camilo de Lellis, Presbítero
2 http://www.arautos.org/especial/60844/Sao-Camilo-de-Lellis–O-valente-soldado-que-se-rendeu-a-Deus.html – Acesso em 16 jul. 15
3 http://www.arautos.org/especial/60844/Sao-Camilo-de-Lellis–O-valente-soldado-que-se-rendeu-a-Deus.html – Acesso em 16 jul. 15
4 Mons. João S. Clá Dias. Os Doze Apóstolos – Apóstolos de todos os tempos. In Revista Arautos do Evangelho, N. 163, julho de 2015, p. 9.
5 Mons. João S. Clá Dias. Idem, p. 9-10
6 Thomas E. Woods Jr. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental. Tradução de Élcio Carillo. São Paulo: Quadrante, Sociedade de Publicações Culturais, 2013, p. 160.
Vale à pena ler a impressionante vida deste São Camilo de Lellis em: