Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte VI)
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,
vida, doçura e esperança nossa, salve!
A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.
A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.
E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.
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V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
“Eia, pois, Advogada nossa”
São Luís Maria Grignion de Montfort, nascido na França é um grande Santo mariano; suas diversas obras são conhecidas universalmente pelo enorme bem que fazem. Foram reconhecidas por vários papas e até utilizadas em suas encíclicas; entre eles, principalmente, o Beato João Paulo II que elegeu o Santo como “significativa figura de referência”, a quem o Santo “iluminou em momentos importantes da vida”.(1) Suas principais obras são: O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, O Segredo de Maria, O Segredo do Rosário, Carta Circular aos amigos da Cruz. Faleceu com apenas 43 anos, em 1743, quando tinha apenas 16 anos de sacerdócio.
Apesar de ter exercido o seu ministério por relativamente pouco tempo, foi um grande pregador e grande missionário. Fundou três congregações religiosas. Extraordinário apóstolo da devoção à Maria Santíssima. Foi canonizado pelo Papa Pio XII, em 1947.
Este grande santo é um ardoroso e incansável propagador do papel de Maria Santíssima como nossa Advogada. No seu esplendoroso Tratado da Verdadeira Devoção, utilizando-se da mesma doce expressão que Nosso Senhor Jesus Cristo usa no Evangelho, quando lamentou a infidelidade de seus filhos (Cf. Mt 23,37), São Luís menciona que Maria cuida de seus filhos: “abriga-os sob as asas de sua proteção, como uma galinha aos pintinhos”(2).
O papel que se espera de um advogado competente é que ele se empenhe para defender bem o seu cliente diante do tribunal. Em outro admirável livro, O Segredo do Rosário, S. Luís nos dá um exemplo de como Nossa Senhora há de nos proteger e nos defender diante do Tribunal Divino, no momento em que estivermos sendo julgados. Essa história, narrada pelo Santo nos faz entender o papel de Maria como nossa Advogada.
Antes de entrar propriamente na narração da história, o Santo nos adverte sobre o papel que as histórias piedosas têm na nossa vida.
“Todos sabem que há três tipos diferentes de fé na qual cremos em três tipos diferentes de histórias:
Às histórias das Escrituras Sagradas damos fé divina;
Às histórias relacionadas a assuntos que não sejam religiosos, que não estejam contra o bom senso e que são escritas por escritores dignos, damos fé humana, enquanto,
Às histórias tratando de assuntos sagrados que são contadas por bons escritores e que não possuam nada contrário à razão, fé ou moral (mesmo que às vezes lidem com acontecimentos que sejam sobrenaturais), pagamos-lhe tributo de fé pia.
Concordo que não devemos ser nem um tanto ingênuos nem por demais críticos e que devemos lembrar que ‘a virtude segue o caminho do meio’, ao mantermos o bom equilíbrio encontraremos a verdade e a virtude. Mas, por outro lado, eu igualmente o sei que a caridade facilmente leva-nos a crer em tudo que não é contrário à fé ou à moral: ‘a caridade… tudo crê” (1 Cor 13,7); da mesma forma, o orgulho nos induz a duvidar mesmo das mais autênticas histórias sob o argumento de que elas não são encontradas na Bíblia”.(3)
Ora, os católicos, sob a orientação da Santa Igreja através de seus pastores, podem, com toda a tranquilidade, dar fé às histórias contadas pelos santos canonizados, em seus livros. Isto nos dá, portanto, segurança, para referir a história piedosa que S. Luís nos conta a seguir:
“Afonso, rei de León e da Galícia, desejando que todos os seus servos honrassem a Santíssima Virgem rezando o rosário, colocava um grande rosário em seu cinto e sempre o usava, mas infelizmente nunca o rezava. Contudo, o fato de usá-lo, motivava a toda a corte a rezá-lo devotamente.
Um dia o rei adoeceu gravemente e quando creram que estava para morrer, ele caiu em êxtase, viu-se a si mesmo perante o trono do julgamento de Nosso Senhor. Muitos demônios estavam lá a acusá-lo de todos os pecados que havia cometido e Nosso Senhor como Juiz Soberano já estava para condená-lo ao inferno, quando Nossa Senhora apareceu para interceder por ele. Trouxeram uma balança, onde foram colocados todos os seus pecados. No outro prato Nossa Senhora colocou o Rosário que ele sempre carregava na cintura, juntamente com todos os Rosários que foram rezados por causa de seu exemplo. Viu-se que os Rosários pesaram mais do que seus pecados.
Ao olhá-lo com grande benignidade, Nossa Senhora disse: Como recompensa por esta pequena honra que você me fez em usar meu rosário, eu obtive uma grande graça de meu Filho. Sua vida será prolongada por mais alguns anos. Viva-os sabiamente, e faça penitência.(4)
Não sabemos quando acontecerá, mas é certo e a Doutrina da Igreja nos confirma(5) que logo após a nossa morte deveremos nos apresentar diante do Juízo Particular de Deus. O Juiz dará à alma de cada um aquilo que mereceu(6). Nesse grave momento de decisão final, irrevogável, inapelável, temos confiança de que estará lá, presente e atuante a nossa Advogada, Maria Santíssima. Com que alegria os seus devotos podem constatar que a sua Advogada é a Mãe do Juiz que dará a sentença, e dEle Ela pode alcançar, “com seus rogos, tudo quanto quer”.(7)
Continua ainda Santo Afonso: “Pobres pecadores! Que seria de nós, se não tivéramos esta grande advogada! Quanto a considera seu Filho e nosso Juiz por causa da compaixão, da prudência que nela encontra! Tanto a considera, que não pode condenar pecador algum que se acha sob seu patrocínio”.(8)
A interjeição que inicia esta invocação –“Eia” – é usada para expressar um pedido, mas, um pedido feito com ânimo, com confiança!(9) Com isso, quer a Igreja que invoquemos nossa Advogada, para que atue em nossa defesa, não somente naquele dia de nosso derradeiro julgamento, mas, também durante esta vida, pois Ela “não se cansa de tratar com o Pai e o Filho o sério assunto da nossa salvação. Singular refúgio dos perdidos, esperança dos miseráveis e advogada de todos os pecadores que a Ela recorrem”(10).
Que a invoquemos, portanto, com ânimo, com certeza de sua intercessão “agora e na hora da nossa morte”: Eia, pois Advogada nossa!
Por Prof. João Celso