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Brasil, Terra de Santa Cruz

Desde suas mais remotas origens, o Brasil está estreitamente vinculado à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Logo ao nascer, serviu de altar para a celebração da santa Missa, à sombra benfazeja de uma grande cruz plantada em seu solo. Como não ver nesses fatos um desígnio providencial?

Por Antonio Queiroz (Fonte: Revista Arautos do Evangelho – Agosto – 2004. Pags 40-42)

Alguém disse que a história de um homem começa, pelo menos, duzentos anos antes de ele nascer. E a de um povo, quando tem início? Pode-se afirmar que ela começa tão mais remotamente quanto maior é a vocação à qual esse povo está destinado pela Providência.

O marco inicial da História do Brasil

Corria o ano de 1139. Na véspera da Batalha de Ourique, o destemido príncipe Dom Afonso Henriques decidiu passar a noite em oração, certamente para pedir a vitória das tropas portuguesas, mas talvez também pressentindo em sua alma o grande acontecimento que se daria no dia seguinte. Próximo ao amanhecer, levantando os olhos ao céu, viu um raio de luz resplandecente, no qual lhe apareceu “uma cruz de extraordinária grandeza, mais esplendorosa que o sol. E nela Jesus Cristo crucificado, acompanhado de grande multidão de anjos formosíssimos”.

Prostrado por terra, o príncipe perguntou ao Redentor o motivo de “tão soberana mercê”. Este lhe respondeu que viera para “fortalecer teu coração e fundar os princípios de teu reino sobre rocha firme”. E acrescentou: “Eu sou o Fundador e destruidor dos reinos e dos impérios. Sobre ti e teus descendentes, quero fundar para Mim um império, por meio do qual seja meu nome publicado entre as nações mais estranhas”.

Raiou o dia, travou-se a batalha e, no próprio campo da luta, os guerreiros cristãos aclamaram Dom Afonso Henriques rei. Assim nasceu o Reino de Portugal, com a missão de “publicar o nome de Cristo entre as nações”.

Quase quatro séculos depois, atracava em terras brasílicas — Porto Seguro, na Bahia — uma esquadra cujas naus arvoravam a Cruz da Ordem de Cristo. A Nação brasileira era uma daquelas nas quais o Divino Redentor queria que o Reino Luso publicasse o seu santo Nome.

Pode-se, pois, dizer que a História do Brasil começa na Batalha de Ourique.

Um país marcado pela Cruz de Cristo

Na manhã de 8 de março de 1500, uma grandiosa cerimônia se desenrola na Capela Real de Belém, Portugal: ao final de uma vigília de armas, Pedro Álvares Cabral recebe do rei Dom Manuel, o Venturoso, o estandarte da Ordem de Cristo. Comandando uma esquadra de 13 naus com 1500 destemidos navegadores, esse rijo fidalgo de 32 anos partia para uma incerta e arriscada viagem rumo à Índia.

Com bandeiras desfraldadas, os navios levantaram âncoras e seguiram em direção ao Ocidente. Ao cabo de um mês e meio de navegação, notaram os primeiros indícios de terra próxima. Narra o escrivão da armada: “Assim seguimos nosso caminho por mar, até que terça-feira das oitavas de Páscoa, que é 2l de abril, topamos com alguns sinais de terra. Na quarta-feira seguinte (22 de abril) avistamos as primeiras aves. Neste mesmo dia, à hora de véspera, avistamos terra. Primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo, e outras mais baixas, ao sul dele, todas muito chãs e com grandes arvoredos. Ao qual monte alto o capitão pôs o nome de Monte Pascoal, e à terra, de Vera Cruz”.

Estava descoberto o Brasil.

Desembarque de Cabral em Porto Seguro

No dia 23, desembarcaram os navegadores, ficando a nova terra como propriedade da Ordem de Cristo. Algum tempo depois, mudaram-lhe o nome para Terra de Santa Cruz.

E coisa que a nós brasileiros tornou-se banal, mas que aos estrangeiros maravilha, é poder ver, de qualquer ponto deste imenso território, o Cruzeiro do Sul, uma cruz feita de estrelas pelo próprio Deus, a cintilar nos nossos céus.

A julgar por um fato minúsculo, mas cheio de significado, parece que o Criador quis marcar, não só os céus, mas também a terra brasílica com este sinal da nossa Fé. No Parque Nacional do Monte Pascoal existe um cipó que, cortado em qualquer posição, deixa ver, com toda nitidez, o desenho da mesma cruz da Ordem de Cristo, gravada nas velas dos navios da esquadra descobridora.

A certidão de nascimento do Brasil

Em poucas palavras, Caminha descreve de forma viva e precisa os primeiros contatos dos navegantes lusos com os silvícolas: “Muito se admiraram os portugueses das matas, aves e rios que encontraram nas costas da baía. E de tudo, o que mais os interessava eram naturalmente os habitantes da terra, os quais tinham boa índole, embora os ossos que lhes perfuravam os lábios demonstrassem sua infeliz condição de barbárie. Muito ariscos a princípio, pouco a pouco foram se aproximando dos portugueses. Ao cabo de três dias, muitos deles já haviam trocado arcos e flechas por presentes que lhes davam os visitantes. Até que no domingo seguinte já podiam os portugueses assistir a primeira Missa, que celebrava o descobrimento da nova terra”.

Em sua carta ao Rei Dom Manuel, a qual passou para a História como a certidão de nascimento do Brasil, Pero Vaz de Caminha relata com pormenores este ato que marcou o início de nossa vida enquanto nação. Cabral mandou a todos os capitães que “se arranjassem nos batéis e fossem com ele ouvir Missa e sermão. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquela ilha, e dentro levantou um altar bem arranjado. E ali com todos nós fez dizer Missa, celebrada por Frei Henrique de Coimbra com voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos padres e sacerdotes, a qual todos assistiram, segundo meu parecer, com muito prazer e devoção”.

Acrescenta o Escrivão que na ilha estava com o capitão o estandarte da Ordem de Cristo, o qual foi mantido alto durante a leitura do Evangelho. Subindo a uma alta cadeira, o celebrante fez o sermão sobre o Evangelho do dia. No fim, tratou da terra recém-descoberta, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência vieram os navegantes.

Os índios brasileiros, “gente boa e de bela simplicidade”

Grande número de índios assistiram da praia à cerimônia religiosa. Ao final, tocaram cornos e dançaram, em sinal de contentamento. Não é, portanto, sem razão que Caminha aconselha ao rei de Portugal mandar catequizar nossa gente: “Não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa Santa Fé” – afirma.

Por fim, faz votos de que “Nosso Senhor os converta, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade… Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons”. E acrescenta: “Deus, para aqui trazer os portugueses, não foi sem causa”.

No dia 1º de maio, os navegadores desembarcaram no continente e escolheram um lugar para erguer uma grande cruz. Narra o escrivão da armada: “O madeiro foi conduzido em procissão, com os sacerdotes e religiosos cantando à frente. Setenta a oitenta índios acompanharam de perto, e assim que viram a Cruz sendo levada aos ombros pelos portugueses, puseram-se solícitos debaixo dela para ajudá-los a carregá-la. Erguido o cruzeiro, Frei Henrique de Coimbra celebrou a segunda Missa, desta vez no continente.Também a esta os índios assistiram, ajoelhando-se ou levantando-se do mesmo modo que faziam os portugueses. De maneira que tinham as almas abertas para imitar as boas ações que os navegantes lhes ensinassem.”

Um pormenor histórico, especialmente promissor, é que no primeiro encontro dos navegantes com nossos índios “o que mais agradou os nativos não foram bugigangas, mas as contas brancas de um rosário”.

Ao concluir sua carta ao Rei, o escrivão insiste: “Esta terra, Senhor, (…) de tal maneira é graciosa, que querendo aproveitar, dar-se-á nela tudo, por causa das águas que tem. Contudo o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar”.

Uma história que ainda está por acontecer

Se nenhum passarinho cai por terra sem que seja da vontade de Deus (Mt 10, 29), como duvidar que a Providência tenha reservado um grandioso futuro para esta Nação, cujo descobrimento foi assinalado por tantas bênçãos divinas?

Encontrará o Brasil, nas reservas morais de muitos de seus filhos, a fidelidade e os recursos necessários para realizar plenamente sua excelsa missão no terceiro milênio?

Razões não nos faltam para crermos que sim!

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