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VI Domingo da Páscoa

Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.

Preparando a partida deste mundo:

Partir é sempre morrer um pouco, dizem os franceses. Por isso mesmo Nosso Senhor prepara de maneira exímia, seus seguidores, para as conseqüências da sua ida definitiva para o Pai. “Não se perturbe o vosso coração e nem se assuste”.Pois, os discípulos apesar do convívio intimo, ainda tinham uma visão muito humana do Redentor. Por isso era necessária sua ascensão aos céus para a vinda do Espírito Santo que lhes infundiriam a verdadeira imagem a respeito do Filho de Deus.E é diante da perspectiva de Jesus deixar seus discípulos que a liturgia de hoje aborda as mais belas promessas por Ele feitas.

O amor ocupa um lugar proeminente em nossas relações com Deus. Em muitas passagens, as Escrituras Sagradas, insistem sobre a lei do amor de Deus. Podemos amar a Deus de uma forma imperfeita, ou seja, esperando o prêmio da glória eterna, esse amor é mais fruto da virtude da esperança do que da caridade. Portanto é necessário amar a Deus em razão de ser Ele quem É, e não apenas com vistas de receber a recompensa. O Salvador deduz a primeira conseqüência do amor: a submissão à voz de Deus. Sendo que nos seus primeiros trinta anos de vida foi submisso a São José e a Nossa Senhora, em sua vida pública deixa claro a sua submissão ao Pai.

A obediência é, portanto, uma das virtudes mais agradáveis a Deus, e em conseqüência, uma das mais necessárias. Santo Agostinho e São Bernardo, dizem ser ela indispensável até mesmo para a prática da castidade, pois quem não obedece aos seus superiores não conseguirá reprimir a concupiscência da carne. Entretanto quem ama ao Cristo de forma mais perfeita obtém o cumprimento da promessa: “E meu Pai o amará”.

Eis o maior mistério da encarnação do Verbo. Ou seja, em Jesus a sua santíssima Alma e seu sagrado Corpo constituem uma só Pessoa com o Verbo eterno. N’Ele estão as propriedades humanas e toda a essência divina. N’Ele, o amor do Pai chegou a limites infinitos. E, através da fé, colocou ao alcance dos homens a plenitude do Bem, que é o próprio Deus. E logo após Jesus, na ordem do ser, Maria se encontra no mais alto grau de santidade, enquanto objeto do amor eficaz de Deus. Por estar penetrada do mais excelente amor de Deus e por ser mais amada pela Santíssima Trindade, Ela foi eleita a Mãe do Verbo.

No antigo testamento não se havia chegado a uma clara noção da existência das três Pessoas Divinas. De forma que este mistério é revelado por Nosso Senhor. No evangelho deste domingo, o Senhor faz menção à palavra nós, e promete estar presente na alma daquele que O ama e cumpre os seus preceitos. Como pode Cristo prometer essa vinda, quando na realidade Deus já se encontra presente em todas as suas criaturas?

Santo Tomás explica: “Ele está presente em todas as criaturas no mais íntimo delas, ou seja, por potência, porque tudo está submetido ao seu poder. Está por presença, porque tudo está patente e descoberto aos seus olhos. E está por essência, porque atua em todos como causa do seu ser”. Então como entender a promessa de Jesus?

Deus está presente em toda parte, pois criou e sustenta tudo em seu ser. Jesus, porém, faz referência a outra e, muito superior, presença exclusiva aos filhos de Deus, que supõe sempre a graça santificante. Trata-se aqui de uma presença permanente na alma daquele que O ama e guarda a sua palavra. É a vinda da Santíssima Trindade que nos enche de graças.

No cristão, a denominada, inabitação da Santíssima Trindade equivale à união hipostática na pessoa de Cristo, se bem que não seja ela, mas sim a vida na graça santificante. A divina inabitação é como que a ‘encarnação’ em nossas almas do absolutamente Divino, uno em essência e trino em pessoas. Estas são as maravilhas do mundo sobrenatural que nos fazem, através das virtudes teologais, acompanhar frutuosamente as revelações trazidas à terra pelo Verbo. “Para que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que também eles, sejam um em Nós. Eu neles e Tu em Mim para que a sua unidade seja perfeita”(Jo 17, 21a.23a).

Depois de haver ensinado a grande importância do amor a Deus, a perfeita caridade, Jesus estimula os discípulos à prática das duas outras virtudes teologais: a fé e a esperança. A essa impostação de espírito nos convida o Evangelho de hoje. Toda a nossa existência gira em torno de dois únicos amores: o amor a Deus levado até o esquecimento de si mesmo, ou o amor a si próprio levado até o esquecimento de Deus. Qual desses amores é praticado por nossa era histórica e quais as conseqüências correspondentes? Consideremos com toda a seriedade esta questão, especialmente, por ocasião da Ascensão do Senhor ao Céu, de onde virá para julgar os vivos e os mortos, os que amaram e os que se recusaram a amar.

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