XXVIII Domingo Tempo Comum
Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.
A lepra, enfermidade simbólica.
Neste Evangelho Nosso Senhor nos mostra a lepra como uma doença simbólica, pois ela destrói o organismo e deforma a beleza do semblante. Ora, muito pior que a lepra física é a espiritual contraída por quem comete um pecado mortal. Se a lepra física deforma o corpo a espiritual enfeia a alma, a torna repulsiva diante dos olhos de Deus e faz com que a pessoa se torne escrava de suas más tendências e paixões. O leproso físico era expulso de uma sociedade enquanto que o espiritual é retirado de uma sociedade muito mais excelente, a divina, pela privação da graça santificante, das virtudes, dos dons, de todo o organismo sobrenatural e, sobretudo, da inabitação da Santissima Trindade. “A lei dos judeus considera a lepra como uma doença imunda, e a lei do Evangelho não considera imunda a lepra externa, mas sim a interna.”
A lepra física é contagiosa, assim como também a da alma, pois a pessoa que abraça as vias do pecado acabara causando escândalos que levarão outros a ruína espiritual. Se a lepra física, depois de uma vida infeliz, levava a morte, a lepra do pecado amargura a existência e conduz a uma morte muito mais terrível: a eterna infelicidade, no inferno. A situação com cristã resignação e espírito sobrenatural progredirá na virtude, podendo vir a ser santo. O pecado destrói a vida divina na alma, que é a sua maior beleza, dano muito pior do que destruir a formosura do corpo e a saúde.
O milagre operado por Nosso Senhor na cura dos dez leprosos, Ele o continua a realizar a todo instante em favor de qualquer pecador que, arrependido, venha a suplicar o seu perdão. Ele exige apenas que seja obedecida a mesma recomendação dada aos leprosos: apresentar-se ao sacerdote. Esta prescrição legal não era senão uma pre-figura da absolvição sacramental, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual nossas almas são purificadas da lepra do pecado.
No entanto, quão rara é a virtude da gratidão! Muitas vezes ela se pratica apenas por educação e meras palavras. Toda via, para ser autêntica, é necessário que ela transborde do coração com sinceridade. É lamentável, afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que a “virtude da gratidão seja entendida hoje de uma forma contábil. De maneira que, se alguém me faz um benefício, eu devo responder, contabilisticamente, com uma porção de gratidão igual ao benefício recebido. Há, portanto, uma espécie de pagamento: favor se paga mediante afeto, bem como mercadoria se paga com dinheiro. Então eu recebi um favor e tenho de arrancar de dentro de minha alma um sentimento de gratidão. Também fico pago, tenho um alívio, estou quite”. Essa e uma forma pagã e materialista de conceber a gratidão. Bem diferente é essa virtude quando impregnada pelo espírito católico.
“A gratidão é, em primeiro lugar, o reconhecimento do valor do benefício recebido. Em segundo lugar, é o reconhecimento de que nós não merecemos aquele benefício. E, em terceiro lugar, é o desejo de dedicar-nos a quem nos fez o serviço na proporção do serviço prestado e, mais ainda, da dedicação demonstrada com relação a nos.”
Ora, além de dar-nos a vida humana, Deus nos concede o inestimável tesouro da participação na sua vida divina pelo Batismo e, ainda mais, nos dá constantemente a possibilidade de recuperar esse estado quando perdido pelo pecado, bastando para isso o nosso arrependimento e a confissão sacramental. Sobretudo dá-Se a Si mesmo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade como alimento espiritual para nos transformarmos n’Ele, santificando-nos de maneira a garantir uma ressurreição gloriosa e a eternidade feliz. Ele nos deixou sua Mãe como Medianeira, para cuidar do gênero humano com todo o carinho e desvelo. O benefício que Deus nos outorga são, assim, incomensuráveis! Quão não deve ser a nossa gratidão em relação a Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima. Abraçar com entusiasmo e abnegação a santidade e batalhar com sempre crescente dedicação pela expansão da glória de Deus e da Virgem Puríssima na Terra, eis o melhor meio de corresponder ao amor infinito do Sagrado Coração de Jesus, que derrama sobre nos as torrentes, do nascer do sol ate o seu ocaso.