IV Domingo do Advento
Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.
Elevado ao plano da união hipostática
Ao selecionar este evangelho a Santa Igreja nos convida a considerar duas criaturas puramente humanas – Maria e José – à luz da Encarnação do Verbo, elevando assim as nossas cogitações até o sétimo e mais alto plano da ordem da criação, acima dos minerais, vegetais, animais, homens, Anjos e até da própria graça. Desse elevadíssimo plano hipostático, só Jesus Cristo, Homem-Deus, participa em estado absoluto.
Também Nossa Senhora, a seu modo, participa dessa ordem hipostática, por ter cooperado de forma moral e livre para a Encarnação com seu “Fiat!” (cf. Lc 1,38), bem como ter contribuído fisicamente para a formação do Corpo de Cristo. “Por essa colaboração, Maria consegue tocar com sua própria operação a Deus”, afirma o dominicano Frei Bonifácio Llamera.
Ora – segundo o padre Bover e vários outros autores -, o próprio São José foi unido a esse mistério extraordinário, embora “não fisicamente como a Virgem Mãe de Deus, mas moral e juridicamente”. Pois, segundo afirma o padre Llamera, além de intervir na constituição da ordem hipostática pelo seu consentimento livre e voluntário, ele coopera de forma direta e imediata na conservação dessa mesma ordem.
A análoga conclusão chega, sob um prisma diverso, o padre Garrigou-Lagrange, o qual afirma que a missão de São José vai além da ordem da natureza, e não somente humana, mas também, angélica. Para melhor frisar seu pensamento, o teólogo levanta uma pergunta a respeito dessa missão: ”Será ela somente da ordem da graça, como a de São João Batista, o qual prepara as vias da salvação; como a missão universal dos Apóstolos na Igreja para a santificação das almas; ou a missão particular dos fundadores de ordens?”. E apresenta esta resposta: “Observando de perto a questão, vê-se que a missão de São José ultrapassa até a ordem da graça, e confina com a ordem hipostática constituída pelo próprio mistério da Encarnação”.
“Deus pediu à Virgem” – comenta o padre Llamera – “seu consentimento para Encarnação. Ela o concedeu livremente, e neste ato voluntário se radica sua maior glória e mérito”. Mas também ao Santo Patriarca foi solicitada sua anuência ao virginal matrimônio com Maria, condição para a Redenção; outrossim, pediu-lhe a Providência uma heróica aceitação, sem entender, o mistério da Encarnação: mais acreditou ele na inocência de Maria do que a evidência da gravidez, constatada pelos seus olhos. Sem dúvida, foi esse fiat! de São José um dos maiores atos de virtude jamais praticados na terra.
Abre-se assim ante nossos olhos, às portas do Natal, um vastíssimo panorama em relação aos tesouros de graças depositadas na alma do esposo virginal de Maria e pai adotivo de Jesus. Segundo uma piedosa afirmação, “sabemos que algumas almas, por predileção divina, como as de Jeremias e do Batista, foram santificadas antes de verem a luz do dia. Ora, o que diríamos de José? […] [Ele] supera todos os outros santos em dignidade e santidade; somos, pois, livres para conjecturar que, embora não esteja consignado nas Escrituras, ele deve ter sido santificado antes do seu nascimento e mais cedo que qualquer um dos demais, pois todos os Santos Doutores concordam em dizer que não houve nenhuma graça concedida a qualquer Santo, exceto Maria, que não tenha sido concedida a José. […] A grande finalidade que Deus tinha ao criar São José era associá-lo ao mistério da Encarnação […]. Ora, para corresponder a tão elevada vocação, a qual, depois da Virgem Mãe, foi superior a todas as outras, quer dos Anjos ou dos Santos, José necessariamente deveria ter sido santificado em eminentíssimo grau, para ser digno de assumir sua posição na sublime ordem da união hipostática, na qual Jesus teve o primeiro lugar, e Maria, o segundo”.
Enfim, não desvendará ainda a teologia insuspeitadas maravilhas na pessoa de São José, o castíssimo chefe da Sagrada Família e Patriarca da Santa Igreja Católica Apostólica Romana?