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Missa da aurora do Natal do Senhor

Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.

O exemplo de fé dos pastores.

Na Celebração Eucarística da Aurora, narra-nos São Lucas que, após terem cumprido sua missão, retornaram os Anjos ao Céu. É curioso que os Anjos não ordenam aos pastores visitar o Salvador recém-nascido, apenas lhes indicam o local. Entretanto, após a retirada dos puros espíritos eles se apressam a ir em busca do Menino para vê-Lo e adorá-Lo. Com essa bela atitude, ensinam aos que amam a fidelidade a serem dóceis, diligentes e ágeis em praticar com toda prontidão o bem que lhes seja insinuado, inspirado ou de qualquer outro modo comunicado pelo Senhor, caso contrário incorrerão numa falta.

Quiçá ajudando-me a meditar nesses fatos acontecidos em Belém, meu Anjo da Guarda me fale no fundo da alma uma palavra decisiva para eu mudar algo em minha vida, ou até mesmo o rumo que adotei, e assim cumprir o fim para o qual fui criado.

Os cânticos, os sermões e a liturgia dessa noite trarão à minha lembrança o nascimento do Salvador. Estarei eu, também, sendo convidado a ir a Belém como o foram os pastores? Que sentimentos passarão em meu interior? Terei eu a mesma santa sofreguidão que os acometeu naquela noite?

Não é necessário que eu empreenda uma viagem à Gruta de Belém, mas sim que eu tenha a mesma reação dos pastores, ou seja, total prontidão ao dirigir-me a um tabernáculo onde vive à minha espera o meu Redentor, o mesmo que foi adorado por eles na manjedoura. Quantos pretextos aparentemente legítimos poderiam ter alegado os pastores para não se moverem com pressa em busca do Menino: a longa distância, o perigo de abandonar o rebanho, o inverno já se fazia sentir rigoroso, a noite dominava os campos, etc. Quantos católicos, hoje em dia, por sua frivolidade, deixam de cumprir suas obrigações de culto, escorando-se em justificações as mais banais, ou até mesmo fantasiosas irrealidades! Nada pôde retardar os passos daqueles camponeses piedosos e por isso, com todo merecimento, encontraram não só Jesus, como também Maria e José.

Veremos também, nesta noite, a heroica e robusta fé daqueles homens tão simples. A equivocada crença daqueles tempos era de que o Salvador deveria ser um homem cheio de poder para livrar o povo todo de qualquer inimigo, a fim de conceder-lhe supremacia sobre todos os povos. Portanto, um libertador, rutilante de esplendor, de glória e de majestade, maior que Salomão.

Ora, em vez de se depararem com um temível e grandioso imperador, acharam-se diante de um frágil Menino envolto em panos. Junto a Ele um boi e um burro para aquece-Lo, um pobre artesão, uma mulher cheia de simplicidade. Enfim, tudo o que o mundo de então julgava vil e desprezível. Apesar disso, em nenhum momento foram penetrados pela menor dúvida ou insegurança. Acreditaram com toda alma que aquele Menino era o esperado Salvador. Será também a minha fé na Igreja de Deus, tão infalível quanto os Anjos?

Uma vez cumprido o dever imposto pelos seus fervorosos corações, “voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito”. É o primeiro efeito que a fé produz, ou seja, o dinâmico desejo de fazer dela participar todos os que se encontrem pelo caminho. Esta é a obrigação de todos nós, batizados. Como nos diz São Beda: “Os pastores não guardaram silêncio sobre os divinos mistérios que lhes foram revelados, mas os comunicaram a tantos quantos puderam. A isso também estão destinados os pastores espirituais da Igreja: pregar os mistérios da palavra de Deus e ensinar seus ouvintes a admirar as maravilhas que aprenderam nas escrituras”.

Cabe-nos portanto, tomar como modelo, também neste aspecto, os pastores: pois, se é viva a nossa fé, devemos comunica-la, dando conhecimento de Jesus e das belezas da Igreja, etc., a todos aqueles que nos rodeiam. Não nos esqueçamos de que a salvação deles, em certa medida, nos foi confiada, e neste sentido, um relaxamento pode se constituir em uma falta grave. Claro está que o ímpio morrerá em sua iniquidade, por castigo de sua malícia: “Impius in iniquitate sua morietur” (Ez, 3,18b). Entretanto, aquele que tinha a obrigação moral de instruí-lo e até de repreendê-lo e assim não procede, deverá prestar contas a Deus no dia do seu Juízo e pagará pela perda de seu irmão: “sanguinem autem eius de manu tua requiram – mas é a ti que pedirei conta do seu sangue” (Ez 3, 18c).

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