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Adoração dos Pastores

Desde nossa infância o período do Santo Natal remete a uma série de convívios familiares, dentre os quais está a montagem do Presépio. Vemos – quando crianças – serem dispostas cuidadosamente as imagens que retratam o nascimento do Salvador na Gruta em Belém; já quando adultos somos nós que realizamos essa tarefa frente o olhar compenetrado e curioso das crianças. Na Gruta estão São José e Maria Santíssima ao lado do Menino Jesus, adorando-O junto à manjedoura envolto em panos, recebendo a visita dos Reis Magos e dos pastores.

Não raras vezes o leitor – a exemplo das crianças – pode se perguntar: por que os pastores foram escolhidos para contemplar o nascimento do Filho Unigênito de Deus?

Adoração dos Pastores – Igreja de São Roque – Portugal

O Evangelho de São Lucas nos ensina que: “Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. Apareceu-lhes um Anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram grande temor” (Lc 2, 4-5).

Na obra “O Inédito sobre os Evangelhos”* Mons. João Clá Dias, EP, escreve que “também Davi havia sido pastor de ovelhas, e naquela Gruta estavam três de seus descendentes, sendo um deles o Filho do Altíssimo. A corte celeste já rendera culto e homenagem ao Menino. Nascido com nossa natureza, digno e justo era que também de nossa sociedade recebesse Ele adoração.

Os pastores constituíam uma comunidade desprezada pelos fariseus. No caso concreto de Belém, trabalhavam eles nos confins da região, onde o cultivo das plantações já não interessava e as terras estavam abandonadas e incultas. Ali permaneciam os rebanhos mais numerosos, fosse inverno ou verão, vigiados por alguns homens. Os habitantes do povoado guardavam seus animais nos estábulos dos arredores. A péssima reputação dos pastores entre os fariseus provinha de várias razões. Percebe-se, de imediato, que as funções por eles exercidas não se coadunavam muito com as inúmeras abluções, lavar de mãos, purificação de vasilhas, seleção de alimentos, etc., às quais os fariseus davam tanta importância. Mas, sobretudo, eram eles homens de bom senso e mais dados à contemplação. O contato permanente com a natureza saída das mãos de Deus, na calma e tranquilidade do isolamento do campo, lhes enriquecia a alma de pensamentos elevados, conduzindo-os à elaboração de critérios sólidos, difíceis de serem destruídos pela ilogicidade caprichosa dos fariseus.

Eis em poucas palavras, os motivos pelos quais os pastores eram excluídos dos pleitos judiciais dos fariseus, não eram aceitos como testemunhas, e nem sequer podiam entrar em seus tribunais”.

Nesse instante o leitor poderia indagar: a Providência escolheu os pastores em virtude de sua condição humilde?

Encontramos a resposta prosseguindo na leitura dos escritos do Fundador dos Arautos do Evangelho: “[…] Os Anjos buscaram os pastores por terem estes uma robusta virtude da fé, toda feita de obediência. Não era fácil crer num Messias nascido em plena pobreza, num estábulo, entre um boi e um burro. Os pastores, entretanto, foram escolhidos por Deus, não por sua simplicidade de vida e de costumes, nem sequer pela sua pouca capacidade financeira – pois muitos outros havia em Israel mais pobres e simples do que eles –, mas porque estavam disposto a crer”.

Assim caro leitor, peçamos ao Menino Jesus neste Santo Natal, pela intercessão de Maria Santíssima, que a virtude da Fé em nossa vida seja inabalável e que possamos, em todos os dias de nossa existência, seguir o exemplo dos pastores na Gruta em Belém e adorar o Filho do Altíssimo que fez-Se pequenino e humilde para redimir nossos pecados.

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* Mons. João S. Clá Dias, EP. Adoração dos Pastores. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. V, Ano C, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 93-95.

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Leia Mais em: <http://www.joaocladias.org.br/MostraArtigo.aspx?id=158>

(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 10 à 17)  

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Qual é a ideia central do Evangelho de São Marcos?

Estamos no Advento! Contemplemos no segundo domingo deste tempo litúrgico, as palavras do Espírito Santo, abrindo o Evangelho segundo São Marcos: “Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”.  É interessante notar que este evangelista quis atribuir destaque especial, já na primeira frase de seus escritos sagrados, a uma verdade fundamental e riquíssima em significados da nossa Fé cristã: Jesus Cristo é verdadeiro Homem e verdadeiro Deus.

Aprofundemo-nos em relação aos aspectos teológicos, históricos e espirituais que, através da sabedoria da Igreja, conseguimos haurir a partir desta pequena frase que encima o evangelho do discípulo de São Pedro.

Sabemos, pelo ensino da Santa Mãe Igreja, que os livros mais importantes das Sagradas Escrituras (Bíblia Sagrada), são os quatro Evangelhos: São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João. Estes livros sagrados têm esta importância incomparável por revelarem a vida e doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Como teria surgido na história o evangelho de São Marcos?

São Marcos Evangelista – Igreja do Sagrado Coração de Jesus – Montreal, Canadá

Este santo foi discípulo de São Pedro, convertido após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, só conheceu a Jesus através da pregação e da pessoa de seu mestre, o primeiro Papa da Igreja. Tendo-se iniciado o apostolado com os pagãos, São Pedro e São Marcos deslocaram-se para Roma, onde se formou uma pujante comunidade cristã que, encantada com as pregações, clamava por um texto escrito que lhe perpetuasse a Palavra.

Conforme comenta Mons. João Clá Dias, “muito significativo é o fato de ter sido redigido este segundo sinóptico [Evangelho de São Marcos] em Roma, para um ambiente no qual predominavam os gentios convertidos. Com efeito, segundo narra Eusébio de Cesareia, a origem deste manuscrito está nos insistentes pedidos feitos a Marcos pelos ouvintes do Príncipe dos Apóstolos. Eles o importunaram com todo o gênero de exortações a compor um memorial escrito da doutrina que lhes fora transmitida de viva voz. E não deixaram o Evangelista em paz enquanto este não conseguiu finalizar sua tarefa”¹.

Assim, o jovem Marcos iniciou o trabalho de escrever os ensinamentos de São Pedro a respeito de Nosso Senhor, tornando-se um dos quatro evangelistas.

Por essa razão o Evangelho de São Marcos é também chamado, por alguns autores, de “Evangelho de Pedro”. O discípulo fiel reproduziu aquilo que aprendeu de seu mestre.

Eis o que comenta um sacerdote jesuíta do século passado: “Através de seu grego hebraizante, apoiados nos antigos testemunhos e no exame interno do livro, podemos reconhecer emocionados a inconfundível fisionomia de São Pedro […] Este é o Evangelho de Pedro, composto com singeleza por seu discípulo, sem pretensões literárias, a não ser reproduzir as pregações de seu mestre” ².

E qual era a ideia central do ensinamento de São Pedro, presente no Evangelho de São Marcos?

Cristo entregando as chaves a São Pedro

O leitor deve se recordar que no despontar de sua vida pública o Salvador perguntou aos seus discípulos o que diziam os homens a respeito de Sua pessoa. A par de várias respostas, foi São Pedro, por inspiração divina, o único a revelar: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).

Eis aqui a ideia central do Evangelho de São Marcos, que aparece enunciada já no seu início: “Jesus Cristo, o Filho de Deus”. Verdadeiro Homem e verdadeiro Deus; ou seja, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, “o nome Filho de Deus significa a relação única e eterna de Jesus Cristo com Deus, seu Pai: Ele é o Filho Único do Pai e o próprio Deus”. E acrescenta: “Crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus é necessário para ser cristão” ³.

E qual é a pedagogia adotada por São Marcos para fazer crer aos ouvintes esta verdade fundamental para todo cristão?

Nosso Senhor Jesus Cristo, em seu apostolado, confirmou a veracidade de sua doutrina e a divindade de sua Pessoa através de numerosos e estupendos milagres. Curas, conversões, expulsões de demônios, multiplicações de pães e peixes, ressurreições… Desejoso de operar a conversão e comunicar a fé às almas, São Pedro narrava estas maravilhas, inflamado pelo amor ao Mestre, que tanto o caracterizava.

São Marcos reproduziu em seus escritos esta santa pedagogia de salvação; e isto, de tal maneira, que em seu evangelho aparecerem narrações de milagres não relatados pelos outros evangelistas. Conclui o Fundador dos Arautos do Evangelho: “É este o motivo de São Marcos citar muitos milagres não relatados nos outros sinópticos, a ponto de seu livro ser conhecido como o Evangelho dos Milagres”4.

Isto posto, caro leitor, preparemo-nos com amor e piedade para celebração do Natal do Senhor. Eis que ali está, envolto em panos, reclinado em um cochinho numa gruta de Belém, Aquele que é o Filho de Deus, o Deus humanado, Rei do Céu e da Terra.

E, pelos rogos da Mãe de Deus, Maria Santíssima e de São José, unidos com a Igreja, rezemos:

Ó Deus todo poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

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Veja o vídeo da Homilia de Mons. João Clá Dias, referente ao Primeiro Domingo do Advento:

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. A voz que clama no deserto In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. III, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, p. 33.

² Padre José Caballero, SJ. Introduccion. In Maldonado, SJ. Juan de. Comentarios a lós Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.3.

³ Catecismo da Igreja Católica. E em Jesus Cristo, seu Filho Único, Nosso Senhor. Tópico n. 454. 11a. edição. São Paulo: Loyola, 2001, p. 128.

4. idem, Mons. João Clá Dias, EP,. p. 34

5. Oração. 2° Domingo do Advento. Liturgia das Horas. 1999: Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, v. I, p. 164.

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Leia a Homilia referente ao Segundo Domingo do Advento: http://pejoaocladiassermoes.blogspot.com.br/2014/11/comentario-ao-evangelho-ii-domingo-do_28.html

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Como é o Reino do Céu?

Nos últimos momentos da História do mundo, no Juízo Final, ouviremos a voz de Cristo Rei: “vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 34b).

Qual será este Reino? Será um lugar físico, concreto?

Narra-nos São Mateus que “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os Anjos, então Se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da Terra reunidos diante dele, e Ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda” (Mt 25, 31-33).

As ovelhas aqui são o símbolo daqueles que, morrendo na amizade com Deus, receberão o prêmio incomparável de contemplarem a Deus por toda eternidade. De fato, conforme comenta Mons. João Clá Dias, “a essência do prêmio será a visão beatífica, quer dizer, a contemplação de Deus face a face. Pela força da graça nos será possível contemplar a própria essência de Deus, em vez de apenas discerni-Lo por seus reflexos nas criaturas. ´Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido` (I Cor 13,12)” ¹.

Embora o ápice da alegria dos Bem-aventurados seja a visão beatífica, Deus premiará os seus filhos diletos com ainda outro prêmio – sem dúvida, incomparavelmente menor, em relação àquela alegria – porém superior a tudo quanto na Terra possamos ter. Este prêmio é dar aos Bem-aventurados o Reino prometido. Este Reino será o Céu empíreo. Ele é superior e distinto do Paraíso Terrestre, onde foram colocados nossos primeiros pais, Adão e Eva. Com será esse reino? Um lugar real? Um estado de alma?

Assim nos traz a resposta, o Fundador dos Arautos do Evangelho:

“Como se não bastasse, os Bem-aventurados terão como morada o Céu Empíreo, a respeito do qual escreve Garrigou-Lagrange: ´O Céu é o lugar e, melhor ainda, o estado da suprema bem-aventurança. Se Deus não tivesse criado nenhum corpo, mas apenas puros espíritos, o Céu não seria um lugar, porém, tão só o estado dos Anjos que gozam da posse de Deus. De fato, o Céu é também um lugar, no qual estão a humanidade de Jesus, desde a Ascensão, a Bem-Aventurada Virgem Maria, desde a Assunção, os Anjos e as almas dos Santos. Embora não possamos dizer com certeza onde se encontra esse lugar em relação ao conjunto do universo, a Revelação não permite duvidar de sua existência, nós vamos vê-lo`”. ² [grifos nossos]

Detalhe de “A Coroação de Maria” – Fra Angélico – Itália

Que maravilha sabermos, pela Revelação e pelo Magistério da Igreja, que o Reino para o qual nos convida Nosso Senhor será uma condição espiritual, mas também um lugar extraordinariamente maravilhoso. Ora, os homens são compostos de corpo e alma; tal seria que depois da ressurreição dos corpos, estando estes novamente unidos às almas, nós não vivêssemos em um lugar material, onde desfrutássemos da mais perfeita e virtuosa felicidade física, ao mesmo tempo em que gozássemos da visão de Deus. Em outras palavras, enquanto pela visão beatífica o bem-aventurado contempla a Deus face a face com os “olhos” de sua alma, com os olhos de seu corpo ressurecto vê, nas realidades sensíveis do Céu empíreo, símbolos das maravilhas contempladas diretamente em Deus.

É nessa perspectiva que o Doutor Angélico, São Tomás de Aquino, nos afirma: “A contemplação da Essência divina não absorve os santos de maneira a impedir-lhes a percepção das coisas sensíveis, a contemplação das criaturas e sua própria ação. Reciprocamente, essa percepção, essa contemplação e essa ação não os podem distrair da visão beatífica de Deus” ³.

Imagine, caro leitor: se neste vale de lágrimas, a humanidade é capaz de se extasiar com as belezas criadas por Deus, como são as cataratas de Foz do Iguaçu ou as floradas  de ipê em Maringá, dispostas magnificamente na natureza, quais maravilhas e surpresas não nos prepara a onipotência e bondade infinitas de Deus, neste lugar misterioso?

Conforme nos ensina um dos mais famosos teólogos, o jesuíta flamengo Cornélio a Lápide, o Céu Empíreo “é edificado pela própria mão de Deus, de onde sua beleza, seu esplendor e suas riquezas. De fato, Deus nele colocou incomparável ornamento. O lugar que seus eleitos ali ocupam é infinitamente belo, pois foi preparado pelo próprio Jesus Cristo” 4.

Que Nossa Senhora, Rainha do Céu e da Terra, interceda por nós, junto ao Seu Filho, Cristo Rei, em todo o transcurso de nossa existência terrena, e nos prepare assim, para o supremo júbilo que teremos no Céu. O convívio com este Rei e esta Rainha será nossa maior alegria! “[…] eu sou o teu protetor, a tua recompensa excessivamente grande” (Gen 15, 1b).

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Veja o vídeo da Homilia de Mons. João Clá sobre o assunto:

http://pejoaocladiassermoes.blogspot.com.br/2014/11/homilia-solenidade-cristo-rei.html

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. O prêmio dos Bem-aventurados. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 490.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. O prêmio dos Bem-aventurados. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 492.

³ São Tomas de Aquino. Suma Teológica 30,84.

 4 Cornélio A Lápide. Ciel. In: Jean-André Barbier, SJ (Org). Les Tresor de Cornelius a Lapide. 4.ed. Paris: Ch. Poussielgue, 1876, v.I, p.283.

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Rezar pelas almas do Purgatório

O homem que deseja progredir, no sentido verdadeiro e legítimo de seu desenvolvimento, quer do ponto de vista material, ou do ponto de vista espiritual, deve procurar fazer “bons negócios”. E um destes bons negócios, dos maiores que possamos realizar nesta vida, é feito especialmente no Dia dos Finados. Não se assuste o leitor, pois neste negócio, nada existe de “argentário”, ou se quiser, de ganância material. Vejamos…

Almas do Purgatório

Conforme nos ensina a Igreja Católica, após a morte as almas irão ou para o Céu, ou para o inferno ou para o purgatório. Ao Paraíso Celeste vai aquela alma que está livre de todo pecado e não tem pena alguma que descontar. Para o inferno, a que está na inimizade para com Deus. E por fim, irá para o Purgatório a alma do justo, para se purificar e satisfizer com penas temporais o que ficou devendo por seus pecados.¹

Tanto as almas que estão no Purgatório quanto as condenadas no inferno sofrem, porém  as dos justos têm a esperança absoluta de que irão para o Céu: alcançarão a salvação eterna.

No entanto, as almas dos fiéis defuntos sofrem. Se pudéssemos avaliar o quanto significa este sofrimento purificador no Purgatório, esta compreensão nos ajudaria a buscarmos com mais empenho e amor a santidade e almejarmos irmos para o Céu sem passar por tal suplício.

Tome-se, por exemplo, o que diz o Doutor Angélico, São Tomás de Aquino: “a menor pena do Purgatório excederá a maior pena desta vida”². Na mesma linha, disse-o Santo Agostinho: “aquele fogo será mais violento do que qualquer coisa que possa padecer o homem nesta vida”³.

Esta consideração dos suplícios do Purgatório traz um grande e recíproco benefício, para você, caro leitor, para mim, e para as almas do Purgatório. Ele advém da prática da oração pelos defuntos e boas obras em favor deles.

Benefício para as almas dos fiéis defuntos, tomando-nos de compaixão pelos seus sofrimentos e rezando por eles. Podemos e “devemos pedir por todos os que se encontram no Purgatório, sobretudo os mais ligados a nós”, conforme comenta Mons. João Clá Dias, EP.

Para nós – acresce o Fundador dos Arautos – “este ato de caridade nos renderá bons amigos, que retribuirão em qualidade e quantidade o favor recebido e, por conseguinte, muito nos ajudarão na hora da dificuldade” 4.

Esta amizade a partir da oração com as almas do Purgatório é própria a nos alcançar de Deus muitas graças, visto que, quando estas almas subirem ao Céu, estando com Deus, gozam de esplêndida audiência, obtendo para nós os melhores favores da Bondade Divina.

Sejamos, assim, amigos dos que se encontram no Purgatório para sermos grandes amigos por toda a eternidade.

Façamos esta grande amizade com almas do Purgatório: rezemos por elas e elas intercederão por nós.

Pela misericórdia de Deus, descansem em paz as almas dos fiéis defuntos. Amem.

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Segundo Catecismo da Doutrina Cristã. 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 27-28.

² São Tomás de Aquino. Super Sent. L.IV, ap.I, a.3.

³ Santo Agostinho. De cura pro mortuis gerenda, XVIII, 22. In Obras. Madrid: BAC, 1995, v.XL, p. 473-474.

4 Mons. João S. Clá Dias, EP. Um “negócio” com as almas do Purgatório In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VII, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 252.

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A harmonia entre as coisas de Deus e as coisas da Terra

Numerosas foram as ciladas dos fariseus para apanhar a Jesus. Entre estas, uma especialmente ardilosa consistiu em perguntar ao Divino Mestre: “Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?” (MT 22, 17).

Qual a armadilha contida nesta questão e os ensinamentos na resposta de Jesus à nossa vida moral e para a sociedade?

Com efeito, estavam os judeus sob a dominação romana e, em consequência, obrigados a pagar o tributo a César. Entre eles havia dois inimigos “irreconciliáveis”: os fariseus, que queriam acabar com sua subordinação aos romanos e alcançar a supremacia de Israel, e o partido dos herodianos, que apoiavam a Herodes e sua família, cujo poder recebera dos próprios romanos. No entanto, apesar de adversários, fariseus e herodianos se uniram para conspirar e armar uma cilada contra Jesus.

No que consistia a cilada maldosa dos fariseus e herodianos contra o Senhor?

Assim explica o Fundador dos Arautos, Mons. João Clá Dias:

“Se Jesus optasse pela obrigação moral de pagar o imposto exigido pelos romanos, prontas já estavam as tubas dos adversários para sublevar os israelitas contra Ele, pois não era admissível um Messias que Se manifestasse a favor da submissão ao estrangeiro gentio. De outro lado, se Jesus negasse a liceidade do tributo, seria denunciado às autoridades romanas, que por certo o condenariam à morte.” ¹

Neste caso, ali estavam os herodianos, “como adeptos do governo de Roma, seriam acusadores e testemunhas”², contra Jesus.

Qual o ensinamento de Jesus, quanto à relação entre a esfera temporal e a espiritual?

Para além de neutralizar a artimanha dos fariseus e herodianos, Jesus nos traz um grande ensinamento para a sociedade.

Conforme diz Mons. João Clá Dias: “As coisas de Deus e as coisas da Terra não devem ser antagônicas. Pelo contrário, entre elas deve haver colaboração. Na harmonia entre ambas as esferas, a temporal e a espiritual, está o segredo do progresso. E a História nos mostra que nada pode haver de mais excelente do que seguir o conselho de Nosso Senhor: ´Buscai antes o Reino de Deus e sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo`(Lc 12, 31)”.

E, após apontar para o segredo do progresso, Mons. João Clá aplica o ensinamento de Jesus, ao homem:

“Pode-se dizer que há uma espécie de convívio entre as duas esferas dentro do homem, uma vez que temos para conosco deveres referentes à nossa vida espiritual e às necessidades de nosso corpo. A tal respeito, comenta Orígenes: ´Também podemos entender essa passagem no sentido moral, porque devemos dar ao corpo algumas coisas, como o tributo a César, isto é, o necessário; mas tudo o que corresponde à natureza das almas, isto é, o que se refere à virtude, devemos oferecer ao Senhor. Os que ensinam a Lei de modo exagerado e ordenam que não cuidemos em absoluto das coisas devidas ao corpo […] são fariseus, que proíbem pagar o tributo a César; e os que dizem que devemos conceder ao corpo mais do que devemos, são herodianos. Nosso Salvador quer que a virtude não seja desprezada, quando prestamos demasiada atenção ao corpo; nem que seja a natureza oprimida, quando nos dedicamos com excesso à prática da virtude`” ³.

E por fim conclui: “[…] seguindo o conselho de Santo Agostinho: se nos preocupamos com as moedas nas quais está gravada a efígie de César, muito mais devemos nos preocupar coma nossas almas, nas quais Deus gravou sua própria imagem. Se a perda de um bem terreno nos entristece, muito mais nos deve contristar o causar dano à nossa alma pelo pecado”. 4

Peçamos a Nossa Senhora, que soube buscar em primeiro lugar as coisas de Deus e a Sua justiça, gozando assim da plena harmonia entre a virtude e a natureza, que nos alcance de Deus o verdadeiro progresso para a sociedade e a santidade para cada um de nós.

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. Dar a César, ou dar a Deus? In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 403.

² Louis-Claude Fillion. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Pasión, Muerte e Resurrección. Madrid: Rialp, 2000, v. III, p. 38-39.

³ Mons. João S. Clá Dias, EP, p. 406. Idem – http://pejoaocladiassermoes.blogspot.com.br/ – Acesso em 18 out 2014.

4 Mons. João S. Clá Dias, EP, p. 407.

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