“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), declarou São João Batista a dois dos seus discípulos, indicando Nosso Senhor Jesus Cristo que passava. São João Evangelista e seu irmão, São Tiago, que até então haviam seguido fielmente o Batista, compreenderam que Jesus era Aquele ao qual deviam entregar suas vidas. E deixando seu antigo mestre, procuraram logo o Senhor, pedindo-Lhe permissão para O acompanharem e viver com Ele.
Pelos séculos dos séculos, essas palavras do grande “profeta da penitência” ressoarão no mundo, convidando todos os homens a também colocarem seus olhos no Divino Salvador, a se encontrarem com a figura d’Ele e – como católicos fiéis – a seguirem seus mandamentos, até o momento em que forem chamados para estar definitivamente com Ele, na vida eterna.
Cabe aqui, uma aplicação pessoal: luziu diante dos nossos olhos esta estrela por ocasião do Batismo, quando infundiu Deus em nossa alma um cortejo de virtudes – as teologais: fé, esperança e caridade; e as cardeais: prudência, justiça, temperança e fortaleza, em torno das quais se agrupam todas as outras – e dons do Espírito Santo e passamos a participar da natureza divina. A todo instante ela nos convida à santidade, a rejeitar nossas tendências e a estar totalmente prontos para ouvir a voz da graça. Se, por miséria ou provação, perdermos de vista esta luz, precisamos ir a Jerusalém, ou seja, a Santa Igreja, a qual, em seus templos sagrados, se mantém sempre a nossa espera para nos indicar onde está Jesus. Incumbe, ademais, tomar cuidado com Herodes instalado dentro de nós: nosso orgulho, nosso materialismo, nosso egoísmo. Ele almeja apagar esta estrela, pelo pecado mortal, e nos colocar nas vias dos prazeres ilícitos; quer levar-nos para matar Jesus Cristo que está em nossas almas. Nesta Solenidade da Epifania, compreendemos que os magos nos dão exemplo de como alcançar a plena felicidade. Com os olhos fixos em Maria, imploremos: “Minha Mãe, vede como sou fraco, inconstante, miserável, e quanto preciso, ó Mãe da vossa súplica e da vossa proteção. Acolhei-me, minha Mãe, eu me entrego em vossas mãos para que Vós me entregueis a vosso Filho”. E dirigindo-nos a São José, digamos: “Meu Patriarca, senhor meu, aqui estou, tende pena de mim, ajudai-me a pedir a vossa esposa, Maria Santíssima, para Ela ter sempre os olhos postos em mim”. Roguemos aos Reis Magos que intercedam ao Santo Casal e ao Menino Jesus, para nos obter a graça de não procurarmos luzes mentirosas, mas seguirmos a verdadeira estrela, ou seja, a da prática da virtude e do horror ao pecado.
Em oposição a um mundo igualitário: o divino exemplo da obediência.
À luz da doutrina que o Evangelho da festa da Sagrada Família nos oferece, a primeira leitura adquire uma perspectiva altíssima: “Quem honra o seu pai, alcança o perdão dos pecados. […] Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros. […] A caridade feita ao teu pai não será esquecida, mas servirá para tua edificação”.
Sobressai, neste trecho, uma regra de ordem, de disciplina e de respeito que apaixona e emociona: na família existe uma hierarquia perfeita criada por Deus; todavia, isto não se aplica apenas aos pais carnais, mas a toda autoridade, e sobretudo à religiosa. Assim, quem ama este princípio é perdoado de seus pecados, pois esta reverencia tributada aos superiores é, no fundo, é um ato de religião e de culto a Deus, que lhe alcança, em consequência, graças estupendas.
Quando cada um de nós, no seu estado, for chamado a obedecer, lembre-se do Menino Jesus: seu caminho aqui na Terra foi passar, no contexto familiar, trinta anos de vida oculta e submisso a São José e a Maria Santíssima. Ele, obviamente, não tinha culpas a serem reparadas, mas resgatava, isto sim, as transgressões da humanidade.
Ora, este “honra o seu pai”, do qual Jesus nos deu o exemplo, é um ditame que confunde a mentalidade liberal de nossos dias. A via revolucionária que o mundo contemporâneo prega é a da revolta contra toda autoridade, da sublevação ante qualquer mandato e a promoção do igualitarismo. Quem tem este estado de espírito não obtêm o “perdão dos pecados”, nem “ajunta tesouros”.
Sim, somos todos iguais, pois temos cabeça, tronco e membros, mas é uma insensatez defender a existência da igualdade absoluta. Deus não é tartamudo para criar dois seres repetidos! Pelo contrário, Deus é anti-igualitário; Ele ama a hierarquia e quer uma sociedade humana escalonada, de modo que uns dependam dos outros e considerem com alegria os aspectos por onde os demais são superiores a si. Portanto, se quisermos um dia viver na Sagrada Família da Santíssima Trindade no Céu, contemplando a Deus face a face, compreendamos que a trilha da obediência, da flexibilidade e da submissão vale mais do que todas as obras que possamos realizar.