“Assim brilhe a vossa luz”

Todos nós somos cercados de realidades, as mais diversas possíveis, algumas das quais, inteiramente banais, corriqueiras e, se diria, inteiramente sem expressão ou maior alcance. No entanto, posto que tais realidades se dão na presença de Deus, elas tomam uma perspectiva revestida de seriedade, de significado.

Quantas vezes, ao escurecer, levamos, sem maiores reflexões, a mão ao interruptor para acender uma lâmpada e iluminar uma sala. Executamos tal ação de forma inteiramente mecânica. No entanto, consideremos o seguinte: ao apertar o interruptor, “aciona-se” a passagem da eletricidade pelo filamento de tungstênio da lâmpada e esta ilumina o ambiente.

Ora, isto que é tão simplório, tem um expressivo significado para nossa vida espiritual. É o que comenta Mons. João Clá Dias, EP, ao refletir sobre as palavras divinas de Jesus, “Vos sóis a luz do mundo” (V Domingo do Tempo Comum).

Com efeito, diz o Fundador dos Arautos: “Confiando-nos a missão de sermos a ‘luz do mundo`, Jesus nos convida exatamente a participar de sua própria missão, a mesma que fora proclamada pelo velho Simeão no Templo, quando tomando o Menino Deus nos braços, profetizou que Ele seria a ´luz para iluminar as nações` (Lc 2, 32). Nosso Senhor veio trazer a luz da Boa-Nova e do modelo de vida santa. A doutrina ilumina e indica o caminho, enquanto o exemplo edificante move a vontade a percorrê-lo”. ¹

Ora, Nosso Senhor é o Caminho, a Verdade e a Vida. Como discípulos dele, somos chamados, enquanto “luz do mundo”, especialmente em nossos dias em que se vai desbotando, apagando a noção do bem e do mal, da verdade e do erro, do belo e do feio, a amarmos e vivermos os ensinamentos de Jesus. Eis aqui o melhor que podemos oferecer ao próximo: cultivarmos a amizade de Deus e fazermos o apostolado do bom exemplo.

Mas, o que é necessário para isso tal?

“Para que isto se concretize – continua Mons. João C. Dias – a condição é sermos desprendidos e admirativos de tudo o que no universo é reflexo das perfeições divinas, de modo a sempre procurarmos ver o Criador nas criaturas. Assim, nossas cogitações e nossas vias terão um brilho proveniente da graça.”

E retomando a abordagem no início do artigo, sobre a lâmpada e o tungstênio: “Expressiva figura dessa realidade espiritual nos é proporcionada pela lâmpada elétrica incandescente. O tungstênio é, em si, um elemento vil e de escassa utilidade. No entanto, perpassado pela corrente elétrica e em uma atmosfera na qual o ar foi substituído, ele ilumina como nenhum outro metal. A eletricidade representa a graça divina, enquanto a debilidade do tungstênio bem simboliza o nosso nada”.

Assim, apesar de nosso “nada”, se nos deixarmos penetrar pela graça de Deus, “como filamentos de tungstênio ligados à corrente da graça, poderemos ser transmissores da verdadeira luz para o mundo”. ²

Em outros termos, correspondamos à graça de Deus, nos deixemos embeber por ela e nos movamos em função dela, na prática dos Mandamentos, e assim irradiaremos “a luz do bom exemplo” sobre os ambientes, as mentalidades e as vidas das pessoas que nos cercam, cumprindo o conselho de Nosso Senhor: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens” (Mt 5, 16)

Por Adilson Costa da Costa

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1  Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 61.
² Idem, p. 62