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A Sagrada Família: exemplo de obediência e docilidade à voz de Deus

Quando a Santa Igreja nos propõe celebrar uma festa litúrgica, Deus a faz acompanhar com graças próprias a trazer benefícios espirituais para os fiéis. Neste tempo natalino, comemorarmos a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Que dádivas a Providência nos quer comunicar por meio da Sagrada Família?

Quantas vezes presenciamos, consternados, notícias ou tomamos contato com fatos que “ilustram” a triste situação da instituição familiar em nossos dias. Sem dúvida, tal crise não é senão um dos aspectos da ampla crise moral que assola a humanidade. Qual será a razão?

Contemplemos o Evangelho de São Mateus em que narra a fuga do Menino Jesus para o Egito, pois O queria matar o invejoso Herodes. Conta-nos o evangelista que o anjo aparece a São José em sonho e sugere que pegasse o Menino e sua Mãe e fugisse para o Egito; passado o perigo, o anjo diz ao chefe da Sagrada Família para que voltassem à terra de Israel, pois aqueles que procuravam matar o Menino já estavam mortos. (Mt 2, 13-15. 19-23).

Mas, o que representava tal viagem de Belém para uma terra estrangeira e com costumes e língua diferentes? Seria por demais longo enumerar as dificuldades e riscos de tal viagem.

No entanto, diante do conselho do anjo, qual foi a atitude de São José e da “Mãe do Menino”? Em ambas as circunstâncias, procederam com a obediência e flexibilidade incondicional.

A estas alturas, poderíamos nos perguntar: qual a relação desta submissão de São José e da Sagrada Família com a abordagem no início deste artigo, sobre a crise da família contemporânea?

A resposta, no-la dá Mons. João Clá Dias, EP.: “Eis o aspecto maravilhoso da família quando se desenvolve em torno de um eixo: a Lei de Deus, o próprio Deus. A Igreja nos propõe nesta festa litúrgica o inimaginável exemplo da Sagrada Família: São José, obediente, de nada se queixa; Nossa Senhora toma os reveses com inteira cordura e submissão; e o Menino Jesus Se deixa conduzir e governar por ambos, sendo Ele o Criador do Universo. Nós também devemos, portanto, ser flexíveis à vontade de Deus e estar dispostos a aceitar com doçura, com resignação plena e total os sofrimentos que a Providência exigir ao longo de nossa vida. Esta atitude diante da cruz é a raiz da verdadeira felicidade, bem-estar e harmonia familiar […]” (1).

Eis aqui a luz deste Evangelho a nos indicar a solução para os problemas e crises da família em nossos dias: abraçar a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim teremos a ordem, paz e felicidade, que por vezes tanto falta a nossas famílias.

Peçamos a intercessão da Sagrada Família para que sejam restaurados o respeito, o amor, a fidelidade e as virtudes tão caras ao Menino Jesus, Maria Santíssima e São José, bem como a obediência e docilidade à voz de Deus e, desta forma, nossas famílias crescerão nas vias da santidade e da perfeição, buscando em primeiríssimo lugar as coisas de Deus, pois tudo o mais será acrescentado.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. A Sagrada Família, exemplo nas dificuldades da vida. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. I, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 144-145.

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A misericórdia de Cristo Rei

Uma das formas muito elucidativas de compreendermos o Reinado de Cristo nesta Terra é expressa belamente pela imagem do Cristo Rei, que se encontra na Basílica do Sagrado Coração de Jesus em Valladolid (Espanha).

Cristo Rei – Igreja do Sagrado Coração de Jesus – Valladolid, Espanha

Contemple por alguns instantes, caro leitor, a magnífica imagem. Nosso Senhor está sentado de maneira majestosa, dando uma bênção. Tem como esplendor de sua cabeça, uma grande cruz ornamental. Sua fisionomia, serena, régia e bondosa; quantos aspectos poderíamos comentar!

No entanto, um se sobressai, no sentido de evocar a maneira pela qual, tão frequentemente, ou melhor dizendo, sempre, Ele realiza o seu governo nas almas.

Qual é essa característica? A misericórdia. E esta é representada, na imagem, pelo seu Sagrado Coração.

Sim. Cristo Rei exerce o seu reinado sobre as almas com misericórdia infinita, no entanto nem sempre correspondida. “Eis o Coração que tanto amou o mundo e por ele não foi amado”.

Nosso Senhor Jesus Cristo, nesta imagem, nos mostra seu Sagrado Coração, símbolo de Seu amor infinito por cada um de nós. E seu reinado sobre nós se dará inteiramente, aqui na terra, se formos santos e abertos inteiramente ao convite de união com Ele.

Com efeito, conforme comenta Mons. João Clá Dias, o Sagrado Coração “é o símbolo por excelência do amor infinito de Deus pelos pecadores e a mais comovente manifestação de sua capacidade de perdoar, abrir-se à misericórdia que d’Ele dimana, constitui uma segura fonte de salvação […]” (1)

Que a Solenidade de Cristo Rei seja, para cada um de nós, ocasião de muitíssimas graças de amor e de confiança absoluta ao Seu Sagrado Coração, por meio do Imaculado Coração de Maria. Desta forma seremos inundados de um júbilo incomparável, a nos preparar para a felicidade plena no reinado de Cristo Rei na eternidade.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Mons. João Clá Dias. Artigos
Disponível em http://www.joaocladias.org.br/MostraArtigo.aspx?id=212
Acesso em 24 nov. 13

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O reinado de Cristo Rei, na Terra e no Céu

 

Diante do Bem, quantas são as reações dos homens, ao longo da história! Ali está, diante dos príncipes, dos sacerdotes e do povo Aquele que é o Salvador e Redentor do gênero humano, pregado numa cruz. Tem ao seu lado à direita o bom ladrão e à esquerda o mau ladrão. E todos, diante Dele, tomam atitudes e reações diversas, as mais contrárias que se possa imaginar. Confirmam-se também ali, no Calvário, aquelas proféticas palavras do velho Simeão, quando tomou o Menino Jesus nos braços, apresentado por sua Mãe, no templo de Jerusalém: “Ele será um sinal de contradição”. (Lc 2, 34b)

No entanto, este Homem-Deus é verdadeiro Rei. E justamente sua realeza é celebrada solenemente pela Igreja na festa de Cristo Rei, encerrando o Tempo Comum e abrindo as portas para o Advento.

Alguém, na contemplação desta cena da Paixão, descrita por São Lucas (Lc 23, 35-43) na Solenidade de Cristo Rei, poderia questionar: “Mas como será rei quem está exposto a tal humilhação e sofrimento; como conciliar a grandeza da realeza com a loucura da Cruz?”

Entre tantos aspectos a considerar, que nos mostram o quanto Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei, consideremos a reação de São Dimas, comentada por Mons. João Clá Dias:

 “Quem discerniu em sua substância a Realeza de Cristo foi o bom ladrão, por se ter deixado penetrar pela graça. Arrependido em extremo, aceitou compungido as penas que lhe eram infligidas, e reconhecendo a Inocência de Jesus no mais fundo do seu coração, proclamou os segredos de sua consciência para defendê-la das blasfêmias de todos: ‘Nem tu temes a Deus, estando no mesmo suplício? Quanto a nós se fez justiça, porque recebemos o castigo que mereciam nossas ações, mas Este não fez nenhum mal’. Eis a verdadeira retidão. Primeiro, humildemente ter dor dos pecados cometidos; em seguida, com resignação abraçar o castigo respectivo; por fim, vencendo o respeito humano, ostentar bem alto a bandeira de Cristo Rei e aí suplicar-lhe: ‘Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino!’” [grifo nosso] (1).

Mas, poderíamos nos perguntar: Qual seria essa substância da Realeza de Cristo?

E eis que nos vem a resposta dada pelo próprio Fundador dos Arautos: “[…] o principal de seu governo neste mundo: o Reinado sobrenatural que é realizado, na sua essência, através da graça e da santidade. Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto a  ‘videira verdadeira’, é a causa da vitalidade dos ramos. A seiva que por eles circula, alimentando flores e frutos, tem sua origem n’Aquele Unigênito do Pai (cf. Jo 15, 1-8). Ele é a Luz do Mundo (cf. Jo 1, 9; 3, 19; 8, 12; 9, 5) para auxiliar e dar vida aos que dela quiserem se servir para evitar as trevas eternas” (2).

Em outros termos, quando abrimos nossos corações para graça de Nosso Senhor, pelos rogos de Nossa Senhora, se dá o Reino em nosso interior, alcançamos assim a autêntica felicidade.

Eis aqui o Reinado de Cristo nesta Terra, diferentemente do que Ele exerce junto ao Céu, na eternidade. No entanto, em ambos, Ele é verdadeiramente Cristo Rei: “Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra” (Mt 28, 18).

Peçamos a Nossa Senhora, Rainha dos Corações, que interceda por nós junto a Ele, de maneira que ambos exerçam efetivamente o reinado em nossos corações, aqui e agora, nesta terra, e por toda a eternidade. Assim seja.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p.  495
(2) idem, p. 490

 

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Como alcançar a verdadeira felicidade?

Os avanços da ciência e os recursos tecnológicos permitem não apenas comodidades, mas também o aumento da expectativa de vida, se compararmos com períodos históricos anteriores. Contudo, estes progressos ensejam tristes realidades: o “culto ao corpo”, a busca desenfreada pela felicidade e satisfação de todos os desejos materiais.

Estas situações revelam a busca incessante – que muitas vezes renega valores éticos e morais – dos seres humanos pela felicidade, que não alcançada se transforma em desilusões, doenças psíquicas (transtornos de comportamento, depressão, etc.) e suicídios; conforme tomamos conhecimentos todos os dias pelos meios de comunicação.

Diante deste quadro, podemos nos perguntar: Como podemos alcançar a verdadeira felicidade?

Com o objetivo de fornecer elementos para responder este questionamento, Mons. João Clá Dias, EP  na obra “O inédito sobre os Evangelhos”1, escreve que a ilusão óptica é uma das numerosas impressões enganosas captadas por nossos sentidos, os quais por esse motivo, devem ser submetidos aos sensatos juízos da razão.

Expulsão de Adão e Eva do Paraíso – Detalhe da Anunciação, de Fra Angélico – Museu do Prado, Madri

Entretanto, se muitas das percepções transmitidas pela sensibilidade podem ser falsas, nada é causa de tantas ilusões – desde os primórdios da História, a começar por Adão e Eva, no Paraíso – como o modo de se obter a felicidade. Esse é o primordial desejo do homem, procurado com ardor insaciável durante toda a vida.

No mundo atual, muitos a confundirão com as inovações da técnica e da ciência; outros, com os ditames da moda e do culto à saúde; outras ainda, com os lucros financeiros, o bom êxito nos negócios, o relacionamento social, a realização profissional, os sonhos românticos, etc. além de não saciarem a sede de felicidade natural, essas ilusões do mundo não poucas vezes colocam em risco também a felicidade eterna, por conduzirem ao pecado, o qual sendo uma desordem do homem em relação a seu fim, que é Deus, traz como consequência inevitável, após uma satisfação passageira, a frustração e a tristeza.

A todos nós, batizados, Jesus Cristo chama à verdadeira felicidade, fruto da boa consciência e da fidelidade à vontade individual outorgada por Ele próprio, quer se desenvolva no estado sacerdotal, quer no religioso ou no leigo (junto ao sacramento do matrimônio, na condição de pai, filho, irmão e no trato com o próximo).

Sagrado Coração de Jesus

Tal felicidade terá como essência a evangelização, ou seja, fazer o bem às almas, apresentando-lhe as belezas do sobrenatural e instruindo-as na verdade trazida por Cristo ao mundo. Em suma, o Salvador nos convoca a transmitir a todos os homens a alegria de glorificar a Deus, trabalhando para que a vontade d’Ele seja efetiva na Terra assim como o é no Céu.

Assim, para alcançarmos a verdadeira felicidade, sigamos o exemplo da missão conferida aos setenta e dois discípulos escolhidos por Jesus, à qual bem caberia o título de evangelização da felicidade. Primeiro porque se davam por inteiro em beneficio do próximo, movidos pelo amor a Deus, experimentando em si mesmos como “há mais alegria em dar do que em receber” (At. 20, 35). Depois, quanto às almas favorecidas pela pregação lhes era oferecida a possibilidade de cumprirem os desígnios de Deus, transformando a vida terrena em preparação para o Céu.

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1Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 208-209.

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Cegueira?

Em uma cidade cujo nome não convém aqui relatar, havia uma triste senhora pervadida de terríveis preocupações. Qual não foi sua preciptada resolução senão uma irracional decisão: “Já basta, vou me matar”!

E assim, para cumprir seu propósito, julgou ser de maior conveniência atirar-se de uma alta ponte que ficava não tão próxima de sua casa, convicta de ser isso a solução para todos os seus problemas.

Ora qual não foi sua surpresa quando, ao encontrar-se ao lado do corrimão da ponte, despedindo-se de tudo o que presenciara nesta vida, sente em uma de suas pernas um curioso golpe: tratava-se da “varinha” de um cego que, ao atravessar aquela ponte, obviamente não imaginara que alguém ali parado estivesse.

Pediu ele, então, desculpas, justificando-se por ainda não estar tão destro para andar sozinho, e que dependia, inclusive, da ajuda de uma pessoa caridosa, capaz de conduzi-lo até sua casa que ficava ali perto.

De relance, a senhora viu tudo girar a sua volta, pois a poucos instantes, certamente não mais estaria neste mundo. Teria sido a intervenção do cego uma simples coincidência? Entretanto, como bem nos ensina o salmista, “Senhor Vós me sondais e conheceis, sabeis quando me assento ou me levanto” (1); ou ainda, “até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados”. (2).

Como que renovada pelo episódio, a fortuita personagem resolveu ajudar o cego, conduzindo-o pelo braço ao seu mencionado destino. Não sabia ele que cega de alma estava ela, uma vez que não sabia valorizar, ademais, a visão que possuía.

Chegando em casa, o cego agradeceu comprazido à senhora, dizendo:

– Com mil perdões, peço-lhe mais uma vez desculpas pelo incômodo que causei. Além disso, saiba que são poucas as pessoas nesta cidade que possuem uma alma tão caridosa e bem empostada como a da senhora. Creio, certamente, que sois alguém muito feliz, pois está disposta a não pensar só em si, em suas aflições, mas encontra tempo para fazer o bem aos outros, inclusive a mim…

Nossa Senhora da Salvação – Lisboa

Que extraordinário exemplo nos dá esse fato, uma vez que para tirar-nos do mal caminho, Deus pode utilizar até dos mais inusitados meios. A senhora voltou para casa, e no percurso refletia quem de fato se encontrava cega. Quase se matara, atirando-se pela ponte, não fosse a intervenção divina por meio de um triste cego. Triste? Percebia também o quanto aquele homem encontrara sua felicidade na resignação! Sofria ele, certamente. Mas estava disposto a enfrentar seu imfortúnio, buscando outras vias para continuar a viver.

Saibamos, pois, também nós, não sermos cegos às inúmeras dádivas e dons que Deus nos dá. E reconheçamos em nossos problemas os obstáculos a serem transpostos, com o auxílio da graça, rumo à nossa santificação. Afinal, de que adiantaria vercermos se não tivéssemos de combater? Nas belas palavras de Corneille, “Quem vence sem esforço, triunfa sem glória” (3). De que serviria nossa perseverança na prática das virtudes, se em meio às tentações, não proclamássemos nosso amor a Deus?

É pois a mensagem contida neste pequeno artigo, convidando à confiança em meio a quaisquer dificuldades. Deus nos criou por obra de sua infinita benevolência, e ainda por insondável misericórdia, nos confiou ao pé da cruz, sua Mãe Santíssima, Consoladora dos Aflitos, e socorro certíssimo de todos os que a invocam.

Por Douglas Wenner

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(1) Salmo 138,1.

(2) Matheus 10, 30.

(3) Pierre Corneille, escritor francês do século XVII

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