É impossível não constatar no Evangelho de hoje, a fundamental importância do apostolado pessoal, direto, e sob o poder de uma hierarquia. Vê-se, já nos primórdios da Igreja, o Divino Redentor, preocupado em estabelecer essa Pedra-Base de seu edifício. Por esta razão em todo e qualquer sucessor de Cefas, nós devemos honrar esta pedra, obedecendo com toda a submissão às determinações da Igreja. Roguemos a Maria, Mãe da Igreja, que jamais nos separemos, nem um só milímetro da Cátedra infalível de Pedro, em nossa fé, espírito e disciplina. Que a Virgem Santíssima infunda em nossas almas a felicidade de crer no que a Hierarquia ensina, praticar o que ela ordena, amar o que ela ama, e percorrer as suas vias para chegar a glória eterna.
Em oposição a um mundo igualitário: o divino exemplo da obediência.
À luz da doutrina que o Evangelho da festa da Sagrada Família nos oferece, a primeira leitura adquire uma perspectiva altíssima: “Quem honra o seu pai, alcança o perdão dos pecados. […] Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros. […] A caridade feita ao teu pai não será esquecida, mas servirá para tua edificação”.
Sobressai, neste trecho, uma regra de ordem, de disciplina e de respeito que apaixona e emociona: na família existe uma hierarquia perfeita criada por Deus; todavia, isto não se aplica apenas aos pais carnais, mas a toda autoridade, e sobretudo à religiosa. Assim, quem ama este princípio é perdoado de seus pecados, pois esta reverencia tributada aos superiores é, no fundo, é um ato de religião e de culto a Deus, que lhe alcança, em consequência, graças estupendas.
Quando cada um de nós, no seu estado, for chamado a obedecer, lembre-se do Menino Jesus: seu caminho aqui na Terra foi passar, no contexto familiar, trinta anos de vida oculta e submisso a São José e a Maria Santíssima. Ele, obviamente, não tinha culpas a serem reparadas, mas resgatava, isto sim, as transgressões da humanidade.
Ora, este “honra o seu pai”, do qual Jesus nos deu o exemplo, é um ditame que confunde a mentalidade liberal de nossos dias. A via revolucionária que o mundo contemporâneo prega é a da revolta contra toda autoridade, da sublevação ante qualquer mandato e a promoção do igualitarismo. Quem tem este estado de espírito não obtêm o “perdão dos pecados”, nem “ajunta tesouros”.
Sim, somos todos iguais, pois temos cabeça, tronco e membros, mas é uma insensatez defender a existência da igualdade absoluta. Deus não é tartamudo para criar dois seres repetidos! Pelo contrário, Deus é anti-igualitário; Ele ama a hierarquia e quer uma sociedade humana escalonada, de modo que uns dependam dos outros e considerem com alegria os aspectos por onde os demais são superiores a si. Portanto, se quisermos um dia viver na Sagrada Família da Santíssima Trindade no Céu, contemplando a Deus face a face, compreendamos que a trilha da obediência, da flexibilidade e da submissão vale mais do que todas as obras que possamos realizar.
O momento da aceitação, quando Maria pronuncia o seu “Fiat!”, conclui-se de forma maravilhosa e superabundante, como não se podia imaginar, a promessa de Deus a Davi, baseada numa Aliança indissolúvel, e a realeza se torna eterna. O Pai concede à humanidade Templo por excelência! É assim que Deus trata aqueles que são seus verdadeiros amigos, filhos e servos; que premeia os que, tendo noção clara de sua dependência em relação a Ele, lhe entregam tudo o que é seu: sempre lhes outorga muito mais do que eles ofertaram!
O rei Davi julgava dar o máximo a Deus dedicando-lhe um templo; mas o Senhor queria que ele Lhe oferecesse sua linhagem, porque Ele mesmo, Deus, já lhe preparara uma posteridade especialíssima. E ao confia-la ao Senhor, Davi mereceu ser antepassado do Salvador, isto é, do próprio Deus.
Maria santíssima aspirava a ser escrava da Mãe do Messias; Deus porém mandou um anjo para convida-la a uma escravidão muito maior… a escravidão a Ele! Nossa Senhora compreendeu no primeiro instante, ao receber o anuncio do Anjo, que aquele Filho, embora fosse d’Ela, deveria ser totalmente restituído a Deus, porque Ele era o Filho de Deus e, sendo Ela também de Deus, o Filho muito mais pertencia a Ele do que a Ela… E, portanto, Ela tinha de conduzi-lo, em tudo, de pleno acordo com a vontade do Pai a respeito do destino deste Filho… Foi-Lhe revelado ainda, que Ele iria sofrer a terrível morte de Cruz. E Maria tudo consentiu por amor a Deus, sabendo que Ele queria, desta maneira, redimir o gênero humano!
Na Liturgia de Hoje Deus nos chama à santidade e quer de nós um fiat, como o de Nossa Senhora, uma entrega radical, cheia de fogo e entusiasmo: “Faça-se em Mim segundo a tua palavra!”. Só na correspondência à Graça e na fidelidade à fé, ou seja, sendo santos, obteremos a estabilidade e cada um de nós será “templo de Deus”, sempre belo e em ordem, como Nosso Senhor Jesus Cristo Homem é soberanamente o Templo de Deus.
Não nos deixemos enganar pela aparente alegria do pecado.
De modo diferente à incondicional alegria que a vinda do Redentor deveria trazer, eis a correlação entre júbilo e tristeza, euforia e provação, evocada pelo Evangelho desse 3º Domingo do Advento. Enquanto os bons são assistidos pela alegria da esperança, como aconteceu a São João Batista e aos que se converteram ante a perspectiva do aparecimento do Messias, há na alma dos maus tristeza e insatisfação. Cabe ao bom saber interpretar a frustração de quem vive no pecado e não pensar que ele está sendo bem-sucedido. Quando, na segunda leitura, São Paulo exorta “Estai sempre alegres!”, deseja mostrar que quem se une a Deus, pratica a virtude e trilha o bom caminho, não pode de forma alguma deixar-se tomar pela má tristeza.
O Domingo da Alegria nos revela uma divisão claríssima que caracteriza a humanidade: os bons estão sempre alegres e os maus, por mais que procure aparentar alegria, vivem na tristeza. Aqueles que estão ligados a Deus têm o contentamento, a segurança e a felicidade de que carece quem se apega às coisas materiais e Lhe dá as costas. Ambos vivem juntos, mas no momento em que o homem que pôs sua esperança no mundo e no pecado vê a alegria verdadeira manifestada pelo bom, ou se converte ou quer matá-lo tal como fizeram com Nosso Senhor Jesus Cristo.
Peçamos, nesta Liturgia, a graça de viver na alegria da virtude, como sinal de nossa inteira adesão ao Salvador que em breve chegará!
A Liturgia nos inspira hoje a nos depor aos pés da Virgem Mãe qualquer defeito capaz de nos impedir a receber com ardente devoção o Menino Deus. Não temos obrigação de, neste Advento, nos esforçarmos para acondicionar do melhor modo possível a “gruta” da nossa alma, a fim de Jesus não encontrar nela um ambiente mais frio e inóspito que o da Gruta de Belém? Examinemo-nos com cuidado para saber a quantas andam nesse sentido. Haverá sem dúvidas falhas a sanar em nosso procedimento. Quais? E desvios a retificar em nossa vida. Quais?
Se, feito esse balanço, o resultado nos for desfavorável e não sentirmos ânimo suficiente para corrigir esses defeitos, a solução está ao alcance de qualquer um de nós: recorrer com filial confiança a Nossa Senhora, refúgio dos pecadores. Ela nos obterá do seu Divino Filho graças para uma completa vitória sobre todas as nossas falhas e desvios. Pois Jesus Cristo – que quis permanecer cativo durante nove meses em seu seio puríssimo, dependendo d’Ela em todas as coisas e A coroou como Rainha do Céu e da Terra – não deixará de atender as súplicas por Ela feitas em favor de seus devotos.