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Santa Maria Eugênia de Jesus: um fruto da pregação

 “Ide, pois, e ensinai a todas as nações”. Com estas palavras, o Divino Salvador conferiu aos Apóstolos a missão de pregar o Evangelho a todos os homens, transformando-os em discípulos de Jesus e, portanto, cumpridores de sua vontade nas vias da santidade para as quais cada um é chamado. Poderíamos, caro leitor, nos perguntar: O quanto a pregação dos ensinamentos do Divino Mestre, feita pela Igreja por meio dos Sacerdotes, constituiu ao longo dos vinte séculos de sua existência um veículo de graças magníficas, suscitando grandes conversões e grandes dedicações?

A esta pergunta, cabalmente teremos uma resposta somente no Juízo Final. Antes, no entanto, podemos conhecer na vida dos Santos alguns exemplos emocionantes. Entre estes, o de Santa Maria Eugênia de Jesus, fundadora da obra da Assunção, destinada a educação de meninas.

Teve esta santa uma vida cheia de contrastes, entre alegrias e tragédias, até sua conversão.

Santa Maria Eugênia de Jesus

Era filha de um pai influenciado pelas idéias de Voltaire, deputado de Mossele, homem abastado, dono de três bancos e de uma esplêndida propriedade. Sua mãe, da nobreza da Bélgica, negligenciava a formação católica fervorosa para os filhos, limitando-se a estimular as virtudes naturais de honestidade e generosidade.

Neste ambiente familiar pouco afeito à religião, Ana Eugênia Milleret de Brou (seu nome de batismo) foi sendo criada em meio aos júbilos de uma vida agradável.

Embora assim vivesse, tendo recebido pela primeira vez a Eucaristia, relembrou mais tarde: “minha ignorância dos dogmas e ensinamentos da Igreja era inconcebível. No entanto, eu participara das aulas de catecismo com os outros meninos, fizera minha Primeira Comunhão com amor, e Deus mesmo me concedera graças que foram, […] o fundamento de minha salvação”.¹

Eis aqui se delineando o valor da pregação e do ensino religioso através das aulas de catecismo. “Ide, pois, e ensinai o Evangelho…” Sim, como é belo aprender aqueles ensinamentos “que estão acima de todos os conhecimentos terrenos, e tais conhecimentos vêm-nos do céu, isto é, são revelados por Deus […] uma luz para a nossa inteligência, porque nos revelam o fim da vida e o caminho que para lá nos conduz”. ²

As tempestades começam por abalar aquela vida despreocupada. Sua família perde a fortuna e os problemas se multiplicam. Fica órfã da mãe aos 15 anos.

Passados certos dramas, começa ela a voltar-se para os prazeres. Sente, entretanto, o vazio de sua existência, de tal forma que, aos 18 anos, assim se expressa: “Meus pensamentos são um mar agitado que me cansa, me pesa. Tanta instabilidade, nunca o repouso, um ardor que sempre ultrapassa os limites do possível. Às vezes, absorvida por questões bem acima do meu alcance e sobre as quais eu faria melhor em não pensar: as mais altas do mundo. Eu queria saber tudo, analisar tudo, e lançando-me em regiões amedrontadas, vou ousadamente interrogando todas as coisas, perseguida por não sei que necessidade inquieta de conhecimento e de verdade, que nada pode saciar”. 4

Eis que afinal chega o momento da graça de Deus tocar profunda e irresistivelmente sua alma. Começa ela a participar das missas dominicais, na Catedral de Notre Dame, conforme costume da sociedade parisiense. Pregava um famoso Sacerdote dominicano, Padre Henri Lacordaire. Juntamente com a graça que recebera na Primeira Comunhão, vieram a constituírem “as palavras [deste Sacerdote] o fundamento de sua salvação”.

Assim escreve ela para o Padre Lacordaire: “Vossa palavra respondia a todos os meus pensamentos, explicava o melhor de meus instintos, completava meu entendimento das coisas e reanimava em mim a idéia do dever, o desejo do bem, já prestes a definhar em minha alma; enfim dava-me uma generosidade nova, uma fé que nada mais devia fazer vacilar”. 5

Tal foi o efeito da graça, através das homilias proferidas por aquele bom sacerdote, que ela pôde assim afirmar: “Minha vocação nasceu em Notre Dame”. 6

Catedral de Notre Dame – Paris

Aqui está caro leitor, um exemplo do valor e benefício sobrenatural da pregação do  Evangelho e dos ensinamentos do Redentor, conforme o magistério infalível da Santa Igreja. É própria a produzir conversões, por obra do Espírito Santo.

Daí porque, no Evangelho de São Mateus, está dito que quem praticar e ensinar os mandamentos será considerado grande no reino dos céus (Mt 5, 19b).

Ana Eugênia procurou o Padre Lacordaire e narrou-lhe as graças eminentes que estava recebendo. Este lhe aconselhou a oração e que esperasse que Deus lhe manifestasse sua vontade a respeito de sua vocação. Mais adiante a jovem conhece o Padre Cambalot, outro pregador cujo zelo a impressiona. Ele ansiava por fundar uma congregação feminina para a educação de meninas e assim combater o laicismo da sociedade da época, problema que Ana também desejava enfrentar. Tocado pelo Espírito Santo, discerniu na jovem entusiasmada e bem pouco instruída em religião a futura fundadora de uma congregação religiosa!

Formada pela palavra e ensinamentos do Padre Cambalot e de outros sacerdotes, Ana Eugênia fez-se religiosa e fundou a Congregação da Assunção, que depois manteve de pé em meio a tremendas dificuldades, graças à grande fé que recebera de Deus por seus pastores e à grande valentia com que a soube defender. Hoje sua fundação, um século após sua morte, tem religiosas atuando na Europa, Ásia, África e nas três Américas, anunciando o Evangelho e educando meninas para viverem a santidade nas famílias e na sociedade, transformando-as rumo ao Reino de Cristo.

Ensinar e praticar. O quanto a graça por meio da pregação pode tocar as almas! No entanto, quanto maior será o fruto da pregação se vier acompanhada da prática daquilo que se ensina! Neste sentido, Mons. João Clá Dias assim explicita:

“Jesus, que dá aos seus ministros o poder de promover a transubstanciação, também lhes dá o de encontrar a palavra exata em benefício das almas. Com efeito, quantas angústias mitigadas, quantos furores apaziguados, quantas dúvidas de consciência resolvidas nos sigilos dos corações, quando Deus fala através de seus sacerdotes! Nisso temos um direito fundamental e sagrado do fiel: o acesso à palavra vivificante do sacerdote”. 7

Esta palavras que penetram fundo nas almas, comenta o Fundador dos Arautos, devem vir robustecidas pelo exemplo de vida do pregador e por sua convicção de que tudo depende da ação da graça divina. “Elas, assim, se tornarão fecundas. Pois a palavra vivificada pelo Espírito nunca é proferida sem produzir os seus efeitos”.

Santa Maria Eugênia de Jesus foi uma destas almas tocadas pela pregação, como ela própria escreveu – Minha vocação nasceu em Notre Dame (com a palavra do pregador) – e tornou-se ela também uma evangelizadora. Que esta santa obtenha de Nossa Senhora, Mãe da Igreja, a graça para todas as almas, até o fim dos tempos, se beneficiarem de pregadores que sempre mais preguem a santidade, pela palavra e pelo exemplo.

Santa Maria Eugênia de Jesus, rogai por nós!

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¹ Germain  Breton. Mère Marie-Eugénie de Jesus: première Supérieure Génerale dês Religieuses de l’Assomption. Saint-Étienne: J. Le lHénaff & Cie, 1922, p. 31.

² Francisco Spirago. Utilidade da Religião. In Catecismo Católico Popular I. Versão feita sobre a tradução francesa do Padre N. Delsor pelo Dr. Artur Bivar. 3ª ed. Lisboa: União Gráfica, 1938, p. 43.

³ Ler o artigo: Santa Maria Eugênia de Jesus – Uma mulher forte. Ir. Maria Teresa Ribeiro Matos, EP. Revista Arautos do Evangelho, número 159, de Março de 2015, p. 31 a 35.

4. Germain Breton, op. cit., p.36-37.

5. Germain Breton, op. cit., p. 38.

6. Idem, ibidem,

7. Mons. João S. Clá Dias. A palavra, seu poder.

http://comentariosdejoaocladias.blogspot.com.br/2014/07/a-palavra-seu-poder.html – Acesso em 11 mar 2015.

 

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Por que Jesus expulsou os vendilhões do Templo?

Quantos milagres nós contemplamos na vida de Jesus. Ele é a Divina Misericórdia que, cheio de compaixão e amor aos homens, restituiu a vista aos cegos, curou paralíticos, ressuscitou mortos, expulsou demônios… Quantos milagres! No entanto, há um gesto de Jesus, considerado verdadeiro milagre, produzido por sua Divina Justiça, onde Ele manifesta sua indignação contra a ofensa feita à glória de Deus e ao próximo. Qual será este gesto?

Tinha Nosso Senhor operado seu primeiro milagre, a transformação da água em vinho nas Bodas de Caná. Pouco tempo depois, nos primórdios de sua vida pública, Ele se dirige ao Templo no período da Páscoa, para cumprir a Lei.

Jesus expulsa os vendilhões do Templo – Granada, Espanha

Conta-nos o Apóstolo bem amado, João¹, que ao chegar ao Templo, Jesus encontrou vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas fazendo negócios. Tomado de santa ira, teceu um chicote e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois, espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E com sua divina voz, interpelou: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2, 16b).

O grande autor Orígenes² considera este gesto de Jesus como um verdadeiro milagre, onde Ele exerce seu poder irresistível. Milagre sim, pois Nosso Senhor no meio daquela multidão constituída de milhares de pessoas que tinham acorrido a Jerusalém por ocasião da Páscoa judaica ergue-se sozinho, com heroísmo e santa cólera, em defesa da Casa do Pai, expulsando com um chicote aqueles homens gananciosos e desrespeitosos do lugar sagrado. E ninguém se atreveu opor-se a Ele.

Eis aqui, no comentário de Mons. João Clá Dias, “uma admirável lição da virtude da justiça, permitindo-nos contemplar um aspecto raramente salientado – mas quão grandioso e adorável! – de sua divina personalidade” ³. [grifos nossos]

De fato, muito se fala da misericórdia de Jesus, e sem dúvida nunca será demasiado acentuar o quanto devemos amar Aquele Jesus de doce memória (canto da Liturgia), operando os mais belos milagres e restituindo a paz de alma aos que dele se aproximavam com fé, confiança e humildade. Sim, adoremos Jesus, a Divina Misericórdia, cujo Sagrado Coração é “cheio de bondade e de amor”! 4

No entanto, nosso amor ao Redentor deve ser total, admirando e adorando a todos os seus divinos aspectos, pois Ele é a própria Verdade, Bondade e Sabedoria. Nada há no Filho de Deus feito Homem que não devamos adorar.

Ora, por que, então, esta atitude de Jesus expulsando os comerciantes do Templo, é “um aspecto raramente salientado”? Não deveríamos nós adorar, com verdadeiro entusiasmo, este aspecto de sua divina personalidade?

Assim explica Mons. João Clá Dias 5, com profundidade e atualidade a questão: “Quanto se prega hoje em dia contra a disciplina, a ponto de se deformar o verdadeiro conceito de liberdade! Uma concepção errada, baseada nas idéias de Rousseau – de que todo o homem é bom, e por isso deve ser deixado entregue à sua natureza -, penetrou em muitos ambientes, inculcando uma máxima que poderia ser expressa assim: ‘Todo o homem é bom, a correção é que o torna mau’”.

Mas esta atitude de alma, a recusa da disciplina, encontra fundamento na Sagrada Escritura, a Palavra de Deus em relação à qual devemos nortear nossas vidas? Eis como continua o Fundador dos Arautos:

“Entretanto, o ensinamento da Escritura não deixa margem a dúvida. Os autores sagrados discordam desse ponto de vista tão comum em nossos dias, como por exemplo, nesta passagem: “A loucura apega-se ao coração da criança; a vara da disciplina afastá-la-á dela” (Pr 22, 15). E mais adiante: “Não poupes ao menino a correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá, castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos” (Pr 23, 13-14). E ainda: “Quem poupa a vara odeia seu filho, quem o ama, castiga-o na hora precisa” (Pr 13, 24)”. (Ver Nota)

E bem observa: “Estas palavras talvez sejam duras para os ouvidos de hoje, todavia foram inspiradas pelo próprio Espírito Santo e devem ser recebidas com amor”.

E conclui: “A bondade do Homem-Deus é infinita e, portanto, inesgotável. Mas Jesus não é exclusivamente a Bondade. Ele é também a Justiça. Apesar de serem extremos opostos, castigo e bondade constituem contrários harmônicos. Por este motivo, numa educação sábia e virtuosa, da mesma forma que jamais podem faltar a bondade, o afeto, a misericórdia, também não pode ser desprezada a disciplina: “Vara e correção dão a sabedoria; menino abandonado à sua vontade se torna a vergonha da mãe” (Pr 29, 15). Nesta matéria tão delicada, nota-se uma perfeita continuidade entre o ensinamento moral do Antigo e do Novo Testamento”.

A tal ponto esta perfeita continuidade entre o Antigo e Novo Testamento, que podemos meditar o que nos diz o Evangelho de São Mateus: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5, 6). Em outros termos, devemos ter sede não só de misericórdia, mas de justiça. E ainda lemos no último livro sagrado do Novo Testamento: “Eu repreendo e castigo aqueles que amo” (Apocalípse 3, 19). Ou seja, amor e castigo não se excluem, em certas circunstancias o amor se manifestará em repreensão.

Aqui está uma preciosa consideração, com base nas Sagradas Escrituras e, sobretudo, no Evangelho de São João (2, 13-25), contemplado neste 3º Domingo da Quaresma, onde vemos a Jesus expulsando os vendilhões do Templo. Peçamos à Nossa Senhora que nos obtenha de Seu Divino Filho, a graça de sabermos adorar a Misericórdia e a Justiça de Jesus, compreender e amar o papel da disciplina e da repreensão.

Veja também:

Haverá bondade no castigar?

Imagens que falam – Expulsão dos vendilhões do templo

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¹ Jo 2, 13-25

² Orígenes. Commentaria in Evangelium Joannis. T.X, n. 16: MG 14, 186.

³ Mons. João S. Clá Dias, EP. O amor e o castigo se excluem? In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. III, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, p. 199.

4 Invocação da Ladainha do Sagrado Coração de Jesus.

5 Mons. João S. Clá Dias. Idem, p. 204

Nota: Nas notas da “Bíblia Sagrada – Ave Maria – edição de estudos”, encontramos o acertado comentário deste trecho do Livro dos Provérbios (22, 13-15): “A sabedoria anda de mãos dadas com a diligência.[…]. O coração jovem, tenro e inexperiente, continua facilmente esta tendência (contrária da diligência, a vadiagem); daí a necessidade de educá-lo e corrigi-lo”. 13 ed, 2012, p. 954.

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A devoção a Nossa Senhora atrapalha a devoção a Jesus Cristo?

Uma das questões levantadas ao longo da História sobre a devoção a Maria Santíssima, formula a seguinte pergunta: a devoção a Nossa Senhora atrapalha, desvia a devoção a Jesus Cristo?

Um belo artigo estampado no Boletim Informativo “Salvai-me, Rainha de Fátima, pela graça de Cristo, Nosso Redentor” nos traz a resposta de forma sucinta, interessante e irrefutável. Vejamos os dois argumentos expostos, muito úteis, aliás, para esclarecermos aqueles e aquelas que, embora piedosos, tem por vezes certa dificuldade em compreender o papel imprescindível da devoção à Mãe de Deus.

Nossa Senhora de Paris – Arautos do Evangelho

Dois pontos são apresentados. O primeiro, por meio da Constituição Dogmática Lumen gentium: “Todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece” (Lumen gentium, n. 60). [grifos nossos]

Outro argumento no sentido de demonstrar o quanto a devoção a Nossa Senhora é o melhor caminho para se chegar a Jesus Cristo, é explicitado séculos antes por São Luis Maria Grignion de Montfort.

Diz o Santo missionário mariano: “Seria possível que Aquela que achou graça diante de Deus para o mundo inteiro em geral, e para cada um em particular, impedisse uma alma de encontrar a grande graça da união com Ele? Seria possível que Aquela que foi cheia de graça e superabundante de graças, e tão unida e transformada em Deus que este n’Ela Se encarnou, impedisse uma alma de ficar perfeitamente unida a Deus?” (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 164).

E conclui São Luis: “Vós, Senhor, estais sempre com Maria, e Maria sempre convosco; nem pode Ela estar sem Vós, pois senão deixaria de ser o que é; de tal modo está Ela transformada em Vós, pela graça, que já não vive, já não existe: sois Vós que viveis e reinais n’Ela, de maneira mais perfeita que em todos os Anjos e Bem-aventurados. […] Maria está tão intimamente unida a Vós que mais fácil seria separar do sol a luz, e do fogo o calor” (idem, n. 63).

Apresentados estes argumentos, mais fácil fica compreendermos o “indispensável papel de Maria na nossa salvação” – conforme salienta Mons. João Clá Dias: “Pois assim como Jesus veio a nós por Maria, é também  por meio d’Ela que obteremos as graças necessárias para sermos outros Cristos e alcançarmos a vida eterna”. ²  [grifos nosos]

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¹ Pe. Juan Carlos Casté, EP. Jesus e Maria, unidos como o fogo e o calor In Boletim Informativo Salvai-me, Rainha de Fátima, pela graça de Cristo, Nosso Redentor, Ano XI, n° 58.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. Amanhã, tudo saberemos! In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 172.

 

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Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria

O grande Santo mariano, São Luis Maria Grignion de Montfort, comenta na obra “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, que Deus reuniu todas as águas e chamou-as mar, reuniu todas as graças e chamou-as Maria.

Esta verdade é própria a nos extasiar. Mencionemos apenas algumas das inúmeras graças com as quais a Providência ornou Aquela que é a Obra prima saída de suas mãos: Cheia de graça, Imaculada Conceição, Virgindade perpétua, Mãe de Deus, Rainha dos Anjos e dos homens, Consoladora dos aflitos, Saúde dos enfermos, Medianeira universal de todas as graças, Mãe do Bom Conselho… Oh! Quanta maravilha!

Caro leitor, reflita por alguns instantes e procure apontar qual o principal privilégio que Maria Santíssima recebeu de Deus. Qual lhe parece?

Santa Maria, Mãe de Deus

Para auxiliar iniciemos nossa meditação a partir da Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria, celebrada no dia 1° de janeiro. Escreve Mons. João Clá Dias, EP: “A grandeza de Maria aparece com maior evidência no trecho da Carta aos Gálatas escolhido para a segunda leitura (cf. Gal 4, 4-7), no qual  São Paulo sublinha que Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu de uma mulher: ‘Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva` (Gal 4, 4-5). Se humanizarmos um pouco a figura de Deus, como tantas vezes o faz a Escritura, podemos imaginá-Lo esperando ‘o tempo previsto’ para o nascimento  da Mãe do Redentor. Mas na realidade, Ele – para quem tudo é presente – concebeu eternamente a obra da criação e, no centro desta, num só ato de sua vontade divina e num mesmo e idêntico decreto, predestinou a Jesus e Maria. Portanto, no plano da Encarnação do Verbo, estava também contido o dom singularíssimo da maternidade divina de Nossa Senhora”².

E assim conclui o Fundador dos Arautos: “Isto nos faz compreender porque, dentre os incontáveis privilégios de Maria – dos quais a abundante coletânea de títulos acumulados pela piedade católica para louvá-la nos dá uma pálida ideia –, o principal é o de ser Mãe de Deus. Comparados com este, todos os demais são ínfimos!”.

Aprofundando ainda mais a afirmativa, argumenta: “Deus poderia ter escolhido um meio distinto para assumir nossa natureza e estar entre nós, mas Ele quis tomar Nossa Senhora como Mãe. Para uma pessoa humana é impossível uma prerrogativa superior a esta e por isso, como ensina São Tomás, Ela Se encontra na categoria das criaturas perfeitas, à qual pertencem apenas duas mais: a humanidade santíssima de Jesus e a visão beatífica”³. A respeito desta temática podemos abordar em outra ocasião.

Eis aqui a luz da grandeza da Mãe de Deus emanada a partir das leituras do Evangelho e da Carta de São Paulo aos Gálatas, para esta Solenidade que abre o Ano Bom: Nossa Senhora é Mãe de Deus. Tal verdade, caro leitor, deve nos consolar, animar, alegrar! Sim, ao entrarmos no Ano Novo, em meio a tantas incógnitas, voltemo-nos para esta Mãe, Mãe poderosa que, sendo Mãe de Deus é também Mãe nossa. Ela é para nós a certeza da vitória, em qualquer circunstância da vida. Que Ela te cubra com seu manto materno por todos os dias de tua vida. Assim seja.

Por Adilson Costa da Costa

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¹ São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 43ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2013, p. 32.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. Um altíssimo privilégio, concebido por Deus desde toda a eternidade. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VII. Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 15-16.

³ Idem, p. 16.

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Para aprofundar sobre “Santa Maria, Mãe de Deus”, ler o magnífico artigo de Mons. João Clá Dias:

http://www.arautos.org/especial/22223/Santa-Maria–Mae-de-Deus.html

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Adoração dos Pastores

Desde nossa infância o período do Santo Natal remete a uma série de convívios familiares, dentre os quais está a montagem do Presépio. Vemos – quando crianças – serem dispostas cuidadosamente as imagens que retratam o nascimento do Salvador na Gruta em Belém; já quando adultos somos nós que realizamos essa tarefa frente o olhar compenetrado e curioso das crianças. Na Gruta estão São José e Maria Santíssima ao lado do Menino Jesus, adorando-O junto à manjedoura envolto em panos, recebendo a visita dos Reis Magos e dos pastores.

Não raras vezes o leitor – a exemplo das crianças – pode se perguntar: por que os pastores foram escolhidos para contemplar o nascimento do Filho Unigênito de Deus?

Adoração dos Pastores – Igreja de São Roque – Portugal

O Evangelho de São Lucas nos ensina que: “Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. Apareceu-lhes um Anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram grande temor” (Lc 2, 4-5).

Na obra “O Inédito sobre os Evangelhos”* Mons. João Clá Dias, EP, escreve que “também Davi havia sido pastor de ovelhas, e naquela Gruta estavam três de seus descendentes, sendo um deles o Filho do Altíssimo. A corte celeste já rendera culto e homenagem ao Menino. Nascido com nossa natureza, digno e justo era que também de nossa sociedade recebesse Ele adoração.

Os pastores constituíam uma comunidade desprezada pelos fariseus. No caso concreto de Belém, trabalhavam eles nos confins da região, onde o cultivo das plantações já não interessava e as terras estavam abandonadas e incultas. Ali permaneciam os rebanhos mais numerosos, fosse inverno ou verão, vigiados por alguns homens. Os habitantes do povoado guardavam seus animais nos estábulos dos arredores. A péssima reputação dos pastores entre os fariseus provinha de várias razões. Percebe-se, de imediato, que as funções por eles exercidas não se coadunavam muito com as inúmeras abluções, lavar de mãos, purificação de vasilhas, seleção de alimentos, etc., às quais os fariseus davam tanta importância. Mas, sobretudo, eram eles homens de bom senso e mais dados à contemplação. O contato permanente com a natureza saída das mãos de Deus, na calma e tranquilidade do isolamento do campo, lhes enriquecia a alma de pensamentos elevados, conduzindo-os à elaboração de critérios sólidos, difíceis de serem destruídos pela ilogicidade caprichosa dos fariseus.

Eis em poucas palavras, os motivos pelos quais os pastores eram excluídos dos pleitos judiciais dos fariseus, não eram aceitos como testemunhas, e nem sequer podiam entrar em seus tribunais”.

Nesse instante o leitor poderia indagar: a Providência escolheu os pastores em virtude de sua condição humilde?

Encontramos a resposta prosseguindo na leitura dos escritos do Fundador dos Arautos do Evangelho: “[…] Os Anjos buscaram os pastores por terem estes uma robusta virtude da fé, toda feita de obediência. Não era fácil crer num Messias nascido em plena pobreza, num estábulo, entre um boi e um burro. Os pastores, entretanto, foram escolhidos por Deus, não por sua simplicidade de vida e de costumes, nem sequer pela sua pouca capacidade financeira – pois muitos outros havia em Israel mais pobres e simples do que eles –, mas porque estavam disposto a crer”.

Assim caro leitor, peçamos ao Menino Jesus neste Santo Natal, pela intercessão de Maria Santíssima, que a virtude da Fé em nossa vida seja inabalável e que possamos, em todos os dias de nossa existência, seguir o exemplo dos pastores na Gruta em Belém e adorar o Filho do Altíssimo que fez-Se pequenino e humilde para redimir nossos pecados.

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* Mons. João S. Clá Dias, EP. Adoração dos Pastores. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. V, Ano C, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 93-95.

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Leia Mais em: <http://www.joaocladias.org.br/MostraArtigo.aspx?id=158>

(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 10 à 17)  

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