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Testemunhar e viver a Fé

Um amigo certa vez contou-me um lindo fato a respeito de São Domingos de Sávio, o padroeiro da pureza e discípulo perfeito de São João Bosco. Conforme me recordo, um dia, o Santo menino estava a brincar no horário do recreio no Oratório (casa e local onde o Santo Fundador vivia e reunia os jovens para evangelizar).

Eis que veio um Sacerdote salesiano e perguntou-lhe: “Domingos, se porventura um anjo lhe viesse avisar que daqui a alguns instantes Deus lhe pediria a sua vida, o que você faria neste curto período entre a vida e a morte? O jovem santo respondeu: “Continuaria brincando!”.

Talvez, esta resposta, não a daria qualquer pessoa; não incluo aqui, é claro, nosso caro leitor. E por que não seria esta a resposta? Talvez porque seria normal a angústia face à perspectiva tão próxima da morte. Ou quiçá, a perturbação ao ver-se “evaporarem-se” os apegos e caprichos, ou ainda uma situação mais constrangedora: a consciência poderia acusar alguma falta que cobraria uma boa confissão.

Cristo Rei – Igreja de Santo André – Bayona, França

No entanto, no caso do santo menino, o que notamos? Paz de alma, tranquilidade própria de quem está na amizade com Deus e consciência de que estava fazendo, no momento, aquilo que deveria fazer. É ou não verdade que tal exemplo nos enche de admiração e nos convida à reflexão?

Sim, reflexão que tem muita relação com o Evangelho deste 33° Domingo do Tempo Comum, narrado por São Lucas (21, 5-19), que trata da visão do futuro. Com efeito, conta-nos o evangelista que Jesus anunciou a “algumas pessoas” que não ficaria pedra sobre pedra do Templo de Jerusalém e que tudo seria destruído. “Mas eles perguntaram: ‘Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que essas coisas estão para acontecer?’”. Nosso Senhor anunciou a eles que viriam guerras, revoluções, grandes terremotos e recomendou-lhes: “Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé” (Lc  21, 13) [grifo nosso].

Eis aqui, entre outras resplandecentes luzes, uma especialmente preciosa que o Evangelho nos traz a respeito do posicionamento e atitude que devemos ter face ao futuro. Sobre isto, nos explicita Mons. João Clá Dia, EP, no seu livro “O inédito sobre os Evangelhos”: “para além das preocupações ou ‘aspectos cronológicos’, há um, incomparavelmente mais importante, que teve o Divino Salvador: a formação moral e espiritual dos seus ouvintes” (1).

Qual a relação, caro leitor, entre o fatinho de São Domingos de Sávio e a recomendação de Jesus?

Nossa Senhora Auxiliadora – Igreja do Sagrado Coração de Jesus – São Paulo, Brasil

Em poucas palavras: seja o que for, aconteça o que acontecer, façamos o que façamos, sempre testemunhemos a nossa fé! E como testemunhar a nossa fé? Praticando os Mandamentos, o amor de Deus e do próximo!

Qual o resultado? Teremos a graça divina e com ela, a tranquilidade de consciência e a paz de alma, a confiança e a fortaleza para nunca nos perturbarmos e triunfarmos diante dos acontecimentos, dolorosos ou gloriosos, individuais ou coletivos, que possam ocorrer em nossas vidas.

Peçamos a Nossa Senhora Auxiliadora que interceda por nós para que testemunhemos e vivamos a Fé, conforme o exemplo perfeitíssimo que Ela nos dá.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 474.

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Livros imperdíveis – Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales

Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales

por São João Bosco

Título:    Memórias do Oratório de São Francisco de Sales (1815-1855)

Autor:     São João Bosco

               Tradução P. Fausto Santa Catarina

Editora: Ed. Salesiana Dom Bosco. São Paulo, 1982.

São João Bosco

Há livros tão interessantes, atraentes, bem escritos e capazes de fazer com que seus leitores se liguem a eles de modo tão intenso que a sua leitura é repetida por várias vezes ao longo dos anos. Quando são livros suscitados pelo Amor a Deus e pela obediência, são ainda mais eficazes. É este precisamente o caso do nosso Livro Imperdível deste mês: Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, escrita pelo grande São João Bosco, fundador da Ordem Salesiana.

Imaginemos a cena de um pai de família que sem deixar-se levar por pretensões literárias, procure falar a seus filhos com o coração aberto, rememorando as muitas histórias, aventuras, perigos e apertos pelos quais passou ao longo da vida. Exatamente desta maneira, São João Bosco dirige-se a seus filhos e lhes dá a conhecer, neste livro, todos os detalhes que envolveram a fundação e o desenvolvimento dos seus Oratórios (como era conhecida a Obra dos Salesianos em seu início), durante as suas primeiras décadas, de 1815 a 1855.

Este livro foi escrito em obediência a uma determinação do Papa Pio IX. De fato, em sua primeira viagem a Roma, no ano de 1858, Dom Bosco foi aconselhado pelo Pontífice a escrever a história e os elementos sobrenaturais que envolveram a fundação de sua Congregação. O Santo adiou esta tarefa o quanto pode. Quando finalmente voltou a Roma, no ano 1867, querendo Pio IX saber se o trabalho estava concluído, Dom Bosco argumentou que inúmeras atividades o impediam de tocar esse projeto. Ordenou então o Papa que ele o fizesse o quanto antes, pois serviria de exemplo e de inspiração para as gerações futuras. Dom Bosco atendeu e, felizmente, esta magnífica obra chega até nossos dias.

João Bosco nasceu no ano de 1815, numa pequena vila nos arredores de Turim, região do Piemonte, Norte da Itália. Perdeu seu pai quando tinha apenas dois anos e foi criado por sua virtuosíssima Mamma Margarida, na companhia de dois irmãos (o mais velho, Antonio, era seu irmão apenas por parte de pai). 

A sua família enfrentou inúmeras dificuldades materiais, sem, contudo esmorecer na Fé. Sua mãe foi exímia em formá-lo no caminho da santidade.  Por exemplo, no momento em que, ao entrar no Seminário, iria revestir-se do hábito eclesiástico, com firmeza falou sua mãe: Prefiro ter como filho um pobre camponês, a um padre negligente nos seus deveres” (1). Esses conselhos que levavam ao cumprimento exímio do dever, acompanharam-no por toda a vida.

Este Santo foi agraciado pela Providência com numerosos dons naturais que saltam aos olhos durante a leitura do livro: inteligência luminosa, memória inigualável, vigor físico arrebatador, aliada a uma força de vontade extraordinária. Estes dons naturais certamente o favoreceram durante a vida, mas, sobretudo, foi a total correspondência aos dons sobrenaturais, que fez de São João Bosco este grande Fundador. Tivesse ele levado em conta apenas seus dons naturais, poderia ter-se tornado um grande literato, um empresário de sucesso, um professor ilustre, mas, não um Fundador. Afinal, que são essas conquistas humanas diante do brilho que este Santo tem, no Céu, por toda a eternidade?

Nossa Senhora Auxiliadora – Basílica de Maria Auxiliadora – Turim, Itália

Desde o primeiro sonho (revelação mística) que teve aos nove anos de idade, que lhe fez antever o que a Providência Divina lhe reservava, João Bosco procurou escutar e atender – por toda a vida – aos chamados recebidos. Por isso, ele é a prova viva de que os dons naturais, quando potencializados pela Graça Divina, podem levar o ser humano a verdadeiros prodígios, em prol do serviço de Deus e da Igreja. São João Bosco sofreu inúmeras perseguições – internas e externas –, mas, soube entregar suas dificuldades, suas angústias ao auxílio de Nossa Senhora, cuja Devoção sua mãe imprimiu em sua alma desde a mais tenra idade. A Devoção a Nossa Senhora levou-o a construir, anos mais tarde, a belíssima Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora em Turim, até hoje um dos santuários mais visitados em todo o mundo!

A Providência sempre foi pródiga em recompensar e atender a esse filho muito fiel! Um exemplo tocante é a ação do seu Anjo da Guarda, que inúmeras vezes o protegeu sob a figura de um enorme e valente cão cinzento, o “Grigio. São fatos emocionantes e encantadores relatados pelo Santo.

Por que este livro é Imperdível?

O objetivo prioritário de São João Bosco neste livro é apresentar aos seus filhos, numa narrativa atraente e despretensiosa, as inúmeras aventuras vividas por ele nos seus primeiros 40 anos de vida, sobretudo as dificuldades que enfrentou para estabelecer estavelmente o seu Oratório, o qual tinha como meta atender aos inúmeros meninos carentes que então perambulavam pelas ruas de Turim, sem haver quem com eles se preocupasse. Estas pobres almas acabavam por cair na criminalidade e, invariavelmente iam parar nas cadeias, de onde saíam ainda piores do que entraram.

Porém, numa análise mais profunda, as narrativas de São João Bosco, serviram também para inspirar outros Fundadores e outras instituições, que futuramente viriam a dedicar-se a este mesmo apostolado com os jovens. Não apenas com jovens pobres no sentido material, mas, principalmente, com os jovens pobres na Fé, espiritualmente desamparados e carentes de ouvir a Boa Nova no caótico mundo contemporâneo.

Por outro lado é também riquíssima a experiência que nos deixa a narrativa do Santo a respeito do funcionamento das instituições em sua época, principalmente as Escolas Católicas: “(…) é bom lembrar que naqueles tempos a religião formava parte fundamental da educação. Um professor, que mesmo por brincadeira pronunciasse uma palavra indecorosa ou irreligiosa, era imediatamente destituído do cargo. Se assim acontecia com os professores, imaginai a severidade que se usava com os alunos indisciplinados ou escandalosos!” (2) Quão diferente dos tempos atuais!

Este grande Fundador desenvolveu também um sistema de pregações simples, atraentes e acessíveis a todas as pessoas; esta simplicidade, carregada de conteúdo e profundidade, era o segredo para atrair a si milhares de almas. Próprio dos grandes santos! São João Bosco também nunca fugiu da luta pelo bem das almas e pela defesa da Igreja, extremamente perseguida no seu tempo. Utilizou com eficiência dos meios que dispunha à época para comunicar-se com os fiéis e levar a eles a Doutrina, publicando livros, jornais e folhetos em tiragens espetaculares para a época. Hoje em dia, certamente também se utilizaria dos meios disponíveis, como faz o Fundador dos Arautos, Monsenhor João Clá Dias, aliás, grande devoto deste Santo.

Enfim, seriam necessárias milhares de palavras para descrever as grandezas deste livro: Imperdível pelo seu conteúdo e pelo seu estilo; mas, principalmente, pelos ensinamentos que a sua agradável leitura proporciona. Com toda a certeza os leitores que deste livro se aproximarem poderão auferir dele uma alegria verdadeira – aquela mesma alegria que experimentou São João Bosco ao narrar a seus filhos as suas inúmeras aventuras.

São João Bosco, rogai por nós e protegei a nossa juventude!

Salve Maria!

Por João Celso


(1) São João Bosco. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales (1815-1855). Trad. P.Fausto Santa Catarina. São Paulo: Ed. Salesiana Dom Bosco, 1982. P. 68.

(2) Op.cit. pág. 43

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