O Amigo por excelência, tantas vezes esquecido pela humanidade!

Certa feita, dois amigos sem que fossem propriamente filósofos – mas com aquela característica própria a tantos destes – conversavam animadamente, num colóquio cheio de explicitações e vôos da inteligência, que se constituem um dos encantos da vida.

Em certo momento do diálogo, um pergunta ao outro: – então meu caro, responda-me, o que um amigo espera de outro amigo?

Este, sem titubear, por vivenciar na prática a amizade verdadeira, e com aquela leveza de quem sabe objetivamente se expressar, pontuou: – o que um amigo espera de seu amigo são duas coisas, respeito e perdão!

O Bom Samaritano. Igreja de São Patrício. Nova Órleans – EUA

Sim, respeito e perdão. Por mais que as pessoas se diferenciem, sejam ricas ou pobres, intelectuais ou menos favorecidas nesta faculdade, todas – desde que bem constituídas psicologicamente – querem ser respeitadas. É justamente isto que se espera de qualquer um, sobretudo, de um amigo. E algo mais além: o perdão.

Vemos no Livro dos Provérbios, o Espírito Santo assim se expressar: o homem justo peca sete vezes ao dia (Pr 24, 16). Se assim é com o homem justo, ou seja, santo e se formos santos teremos pecado, ao menos “sete vezes ao dia”. Ora, o pecado, a falta, ou a mais leve imperfeição pode tornar o relacionamento humano difícil, por vezes insustentável e conduzir à inimizade nesta terra de desterro. No entanto, quando tal ofensa se dirige a um amigo, sabemos que ele – por ser nosso amigo – sem dúvida nos perdoará.

Diante da resposta tão segura e clara, não sem certa surpresa de sua parte, surgiu uma nova indagação na mente e na palavra do amigo que havia perguntado:

– Mas a amizade consiste em somente estabelecer um vínculo entre as pessoas, marcadopelo respeito e perdão?

Tranqüilo, respondeu novamente o sagaz interlocutor:

– Não, esta amizade se fortalecerá e subirá ao seu mais alto patamar quando um amigo levar o outro à união com Deus. Tão elevada é esta amizade que produzirá gestos de heroísmo e benquerença, por meio dos quais um irá se dispor, por amor a Deus, a dar a vida pelo seu irmão. E desta verdadeira amizade, a história da humanidade é rica em exemplos.

Ora, quando encontramos um amigo nesta perspectiva de verdadeira amizade – e não no sentido tantas vezes desfigurado do neo-paganismo de nossos dias, onde a brutalidade de trato se faz cada vez mais presente – podemos exclamar com a Sagrada Escritura: Amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro (Eclo 6, 14).

 

Um amigo muito especial, que nos ama verdadeiramente!

 Estas reflexões nos fazem deitar o olhar e a consideração a um amigo muito especial, o melhor que se possa almejar, aquele que embora não tendo de nossa parte a reciprocidade de benquerença e amor, no entanto continua sempre a nos querer bem, a nos amar verdadeiramente e a ser nosso amigo. Porém, este Amigo é um “desconhecido”. Mas, como um amigo desconhecido?!

Vitral ilustrando o Espírito Santo. Basílica de São Pedro. Vaticano – Itália

Este incomparável Amigo é o Espírito Santo, o Espírito de Amor que nas palavras do famoso teólogo dominicano padre Antonio Royo Marin, é “o grande desconhecido” (1). Sim, se os homens realmente soubessem – quer pela inteligência, quer com auxílio da graça – quem é o Espírito Santo, certamente seriam mais felizes, tanto quanto o é possível neste vale de lágrimas. Mas não basta conhecer, cumpre, de acordo com as palavras de Mons. João S. Clá Dias, que não nos olvidemos dAquele “que poderia também ser denominado o ‘grande esquecido’. (2)

E o que fazer para não nos esquecermos do Divino Amigo? É o bom conselho – um conselho amigo – que nos traz o Fundador dos Arautos do Evangelho:

 

“Desde o despertar devemos pedir a intervenção d’Ele em todas as nossas atividades do dia […] Nada pode abater quem está cheio do Espírito Santo! Se ficamos edificados com a integridade dos mártires – sempre firmes na Fé, como foi São Lourenço ao ser queimado na grelha – nós, embora não tenhamos passado por suplícios como os deles, somos submetidos ao martírio da vida diária, com suas decepções, desilusões e traumas de relacionamento – às vezes até dentro da própria família. Em qualquer circunstância, devemos ter a certeza de que a solução para todas as angústias, aflições ou perturbações está na luz do Espírito Santo”. (3)

 

Vê-se o quanto é indispensável nos voltarmos para este Divino Amigo, sempre acolhedor e advogado nosso, que tudo pode e tudo quer para nós de bom, belo e verdadeiro, perdoando nossas fraquezas e tratando-nos com terno respeito, posto que somos pecadores, mas filhos de Deus e templos dEle mesmo, o Espírito Santo.

Peçamos Àquela que é a esposa do Divino Espírito Santo que interceda por nós junto a Ele e nos obtenha uma gota ao menos do inefável, sacral e incomparável convívio que ambos tiveram nesta terra e agora desfrutam no Céu.

 Adilson Costa


(1) Padre  Antonio Royo Marin, OP. El gran desconhecido. 5. ed. Madrid: BAC, 1981, p. 3.

(2) Mons. João S. Clá Dias. Inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. v. V. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 392.

(3) Mons. João S. Clá Dias. Op. cit., p. 392-393