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Santo Antônio Maria Claret: apóstolo que se inflamou de amor divino

Muitos são os traços semelhantes que encontramos nos Santos. Alguns brilham de modo especial em determinadas virtudes, marcando o contexto e até a época histórica em que viveram. Contemplemos, por exemplo, Santo Elias, tal é a alma de fogo deste Profeta, que sua vida foi marcada coerentemente por estas suas palavras: “Consumo-me de zelo pelo Senhor, Deus dos Exércitos” (1 Re 19, 14).

Em qual outro Santo, já na história da Igreja, poderemos contemplar este fogo do amor de Deus?

Santo Antonio Maria Claret

Encontramos na festa celebrada em 24 de outubro a resposta ao questionamento apresentado: Santo Antônio Maria Claret (1807-1870). Considere, caro leitor, atentamente o conselho deste varão de Deus:

“A caridade de Cristo estimula, incita-nos a correr e voar com as asas do santo zelo. Quem ama a Deus de verdade, também ama o próximo. O verdadeiro zeloso é o mesmo que ama, mas em grau maior, conforme o grau de amor: quanto mais arde de amor, tanto mais é impelido pelo zelo. Se alguém não tem zelo, testemunha por isto que em seu coração o amor, a caridade se extinguiu. Quem tem zelo, deseja e faz as maiores coisas e se esforça para que Deus seja sempre mais conhecido, amado e servido nesta e na outra vida, já que este amor sagrado não tem fim” ¹.

Santo Antônio Maria Claret bem viveu estas palavras “eliáticas”. Grande missionário popular, de condição humilde, mesmo quando Arcebispo de Cuba e confessor da rainha da Espanha, Isabel II, fez-se pregador. Sabendo bem se comunicar com o povo, arrebatava as populações. Sua grande missão: despertar o zelo pelo amor de Deus e do próximo. Zelo tão heroico, a ponto de se esquecer de si próprio e de suas vantagens pessoais.

Alguns fatos narrados pelo Fundador dos Arautos do Evangelho, Mons. João Clá Dias, bem ilustram este zelo pelo amor de Deus e do próximo ²:

 “[…] davam-se fatos espetaculares durante as suas homilias. Por exemplo, às vezes ele interrompia suas palavras, apontava para uma mulher na assistência e lhe dizia de súbito: ‘A senhora pensa que não morrerá tão cedo, e terá vários anos pela frente. Sua morte se dará dentro de… – suspense! – seis meses’. Naturalmente, a indicada desmaiava, caía em prantos, etc.”

 “Quando se dirigira de uma cidade para outra, sua fama de orador sacro era tal que grande parte da população de onde falara o acompanhava, processionalmente, até deparar com os habitantes da localidade vizinha, para a qual ele falaria. Durante o encontro, o Santo fazia um sermão de despedida de uns e de saudação aos outros, comovendo a alma de todos.”

 “Noutras ocasiões afirmava: ‘Vou expulsar o demônio que está pairando sobre este auditório’. E em seguida pronunciava a fórmula do exorcismo. Estrépito, raio em céu sereno, caem os sinos do campanário e a população fica apavorada. Havia conversões em massa, pois bem podemos imaginar o efeito de pregações dessa natureza.”

Imaculado Coração de Maria – Arautos do Evangelho

As palavras dirigidas aos seus filhos espirituais da Congregação dos Missionários Filhos do Coração Imaculado de Maria (Claretianos), são especialmente adequadas para o momento em que vivemos: “A mim mesmo eu digo: Um filho do Imaculado Coração de Maria é aquele que arde de caridade e, por onde quer que passe, incendeia; que deseja eficazmente, por todos os meios, que todos os homens se inflamem com o fogo do amor divino. Não se amedronta com coisa alguma; goza com as privações; vai ao encontro dos trabalhos; abraça as tristezas; nas calúnias está contente; alegra-se nos tormentos; pensa unicamente em como seguir e imitar Jesus Cristo, rezando, trabalhando, sofrendo sempre e unicamente preocupado com a glória e a salvação dos homens” ³.

Peçamos a Santo Antonio Maria Claret que nos obtenha do Imaculado Coração de Maria o zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas, oposto ao egoísmo e mediocridade frequentes em nossos dias.

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¹ O amor de Cristo nos impele. Das Obras de Santo Antônio Maria Claret, bispo. In: Liturgia das Horas. v. IV. São Paulo: Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, 1999, p. 1406.

² Mons. João Clá Dias. Santo Antônio Maria Claret. Disponível em: http://www.arautos.org/especial/41510/Santo-Antonio-Maria-Claret.html – Acesso em 20 out. 2014.

³ O amor de Cristo nos impele. Das Obras de Santo Antônio Maria Claret, bispo. In: Liturgia das Horas. v. IV. São Paulo: Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, 1999, p. 1406-1407.

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Testemunhar e viver a Fé

Um amigo certa vez contou-me um lindo fato a respeito de São Domingos de Sávio, o padroeiro da pureza e discípulo perfeito de São João Bosco. Conforme me recordo, um dia, o Santo menino estava a brincar no horário do recreio no Oratório (casa e local onde o Santo Fundador vivia e reunia os jovens para evangelizar).

Eis que veio um Sacerdote salesiano e perguntou-lhe: “Domingos, se porventura um anjo lhe viesse avisar que daqui a alguns instantes Deus lhe pediria a sua vida, o que você faria neste curto período entre a vida e a morte? O jovem santo respondeu: “Continuaria brincando!”.

Talvez, esta resposta, não a daria qualquer pessoa; não incluo aqui, é claro, nosso caro leitor. E por que não seria esta a resposta? Talvez porque seria normal a angústia face à perspectiva tão próxima da morte. Ou quiçá, a perturbação ao ver-se “evaporarem-se” os apegos e caprichos, ou ainda uma situação mais constrangedora: a consciência poderia acusar alguma falta que cobraria uma boa confissão.

Cristo Rei – Igreja de Santo André – Bayona, França

No entanto, no caso do santo menino, o que notamos? Paz de alma, tranquilidade própria de quem está na amizade com Deus e consciência de que estava fazendo, no momento, aquilo que deveria fazer. É ou não verdade que tal exemplo nos enche de admiração e nos convida à reflexão?

Sim, reflexão que tem muita relação com o Evangelho deste 33° Domingo do Tempo Comum, narrado por São Lucas (21, 5-19), que trata da visão do futuro. Com efeito, conta-nos o evangelista que Jesus anunciou a “algumas pessoas” que não ficaria pedra sobre pedra do Templo de Jerusalém e que tudo seria destruído. “Mas eles perguntaram: ‘Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que essas coisas estão para acontecer?’”. Nosso Senhor anunciou a eles que viriam guerras, revoluções, grandes terremotos e recomendou-lhes: “Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé” (Lc  21, 13) [grifo nosso].

Eis aqui, entre outras resplandecentes luzes, uma especialmente preciosa que o Evangelho nos traz a respeito do posicionamento e atitude que devemos ter face ao futuro. Sobre isto, nos explicita Mons. João Clá Dia, EP, no seu livro “O inédito sobre os Evangelhos”: “para além das preocupações ou ‘aspectos cronológicos’, há um, incomparavelmente mais importante, que teve o Divino Salvador: a formação moral e espiritual dos seus ouvintes” (1).

Qual a relação, caro leitor, entre o fatinho de São Domingos de Sávio e a recomendação de Jesus?

Nossa Senhora Auxiliadora – Igreja do Sagrado Coração de Jesus – São Paulo, Brasil

Em poucas palavras: seja o que for, aconteça o que acontecer, façamos o que façamos, sempre testemunhemos a nossa fé! E como testemunhar a nossa fé? Praticando os Mandamentos, o amor de Deus e do próximo!

Qual o resultado? Teremos a graça divina e com ela, a tranquilidade de consciência e a paz de alma, a confiança e a fortaleza para nunca nos perturbarmos e triunfarmos diante dos acontecimentos, dolorosos ou gloriosos, individuais ou coletivos, que possam ocorrer em nossas vidas.

Peçamos a Nossa Senhora Auxiliadora que interceda por nós para que testemunhemos e vivamos a Fé, conforme o exemplo perfeitíssimo que Ela nos dá.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 474.

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A festa de todos os Santos

Quantos de nós, especialmente brasileiros, brindados por Deus por um senso religioso tão apurado, temos um carinho e devoção por algum Santo ou Santa “preferido”, ou então, uma particular devoção a Nossa Senhora, sob determinada invocação, como por exemplo, Nossa Senhora Aparecida, ou Nossa Senhora de Fátima, para não mencionar outra tantas centenas de devoções populares!

Todas estas, é claro, porque devoções verdadeiras conduzem-nos ao aumento da adoração Àquele que deve ser o fim de todas as nossas ações: Nosso Senhor Jesus Cristo. Sim, caro leitor, temos sempre alguma devoção que nos toca a alma, nos enche de confiança e incrementa a fé em nosso Salvador.

Esta piedade, sentimos vibrar nos corações de uma forma mais viva, quando celebramos a Solenidade de todos os Santos, incluídos aqui, todos os que estão na posse da visão de Deus, no Céu, sejam eles canonizados ou não. E então, procuramos neste dia, prestar-lhes uma homenagem cheia de fé e amor.

Mas poderíamos perguntar: Tal louvor aos Santos acresce alguma coisa a eles? Que proveito eles tiram desta nossa manifestação piedosa, visto que já estão na felicidade completa e de nada carecem, ao contrário da nossa situação, que buscamos a felicidade possível aqui na terra, com vistas àquela no Céu?

Sim, como responde o Doutor melífluo, São Bernardo, “os santos não precisam de nossas homenagens, nem lhes vale nossa devoção. Se veneramos os Santos, sem dúvida nenhuma, o interesse é nosso, não deles. Eu por mim, confesso, ao recordar-me deles, sinto acender-se em mim um desejo veemente” (1).

Qual é caro leitor este desejo veemente que o Santo vê acender-se nele? É o desejo do Céu. São Bernardo fica animado na consideração e devoção aos Santos, pelo exemplo e o convite que eles nos fazem: exemplo de santidade, de amor de Deus; convite para o Céu, o gozo da glória eterna. É por isto que ele nos incita, com estas palavras: “Os santos desejam-nos e não fazemos caso; os justos esperam-nos e esquivamo-nos” (2).

Como é própria, indispensável e santificante, pela graça de Nosso Senhor, a meditação da Solenidade de todos os Santos e a reflexão a propósito desta admoestação do Santo. Quantos equívocos o mundo de hoje nos sugere: em vez de seguirmos o exemplo daqueles que nos precedem na glória do Céu, nos deixamos arrastar, ou ao menos, nos influenciar pelos “modelos” tão discutíveis apresentados nos mais diversos meios, sejam eles formalmente educacionais ou informais, quantos “santos do mundo” enchem as páginas de jornal ou figuram nas telas da comunicação visual, protagonizando uma existência sem Deus, sem moral, sem religião…

Do alto, eles olham, rogam e nos protegem!

Enfim, não percamos tempo. Elevemos nossos olhos, sobretudo nosso coração, na admiração pelos Santos, canonizados ou não, que tiveram o heroísmo e a alegria de alcançar a glória eterna, no atendimento ao Sermão das Bem-aventuranças ensinadas por Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 5, 1-12a).

Como diz Mons. João Clá Dias, enquanto no Céu não chegamos, pelos méritos de Jesus Cristo, pelas lágrimas de Maria e pela intercessão dos Santos, “podemos nos relacionar com essa plêiade de irmãos celestes, membros do mesmo Corpo, por um canal direto muito mais eficiente do que qualquer meio de comunicação moderno: a oração, o amor a Deus e o amor a eles enquanto unidos a Deus. Tenhamos a certeza de que, do alto, eles nos olham com benevolência, rogam por nós e nos protegem”. (3)

Nossa Senhora, Rainha de todos os Santos, rogai por nós!

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(1) Dos Sermões de São Bernardo, abade. Apressemo-nos ao encontro dos irmãos que nos esperam. In: Liturgia das Horas. 1999: Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, v. IV, p. 1421.
(2) Idem, p. 1421.
(3) Mons. João S. Clá Dias, EP. A festa dos irmãos celestes. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VII, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 239.

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No alto está São Miguel

No dia 29 de Setembro, comemora-se a festa dos gloriosos Arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel, grandes guerreiros, servos e mensageiros do Deus Altíssimo. Por ocasião desta data, trazemos aos leitores uma impressionante história, que se passou nos confins da Normandia e Bretanha, ao norte da bela França, em tempos muito antigos.

Havia, perdido em meio a imensas extensões de areia e águas marítimas, uma ilhota rochosa alta, conhecida na região com o curioso nome de “Monte Tumba”. O título se justificava, pois os antigos contavam que, naquele local, precipitou-se ao centro da Terra, em direção ao Inferno, o revoltado Lúcifer, derrotado no grande embate travado no Céu, entre os anjos bons e maus. Teria Deus colocado ali a descomunal rocha para marcar o ponto em que o inimigo infernal abandonou para sempre a liberdade dos que amam ao Criador.

Certo é que, atraídos por essa narração, grande quantidade de bruxos e servidores do demônio começou a frequentar e habitar a ilha, que se tornou local de pecados e ofensas a Deus, cercada assim, de uma malfadada reputação.

No ano 708, o Bispo Santo Albert estando no “Monte Tumba”, recebeu duas aparições do Arcanjo São Miguel, ordenando que naquele local fosse erguido um santuário em sua honra. Em dúvida sobre a realidade das graças místicas que recebera, decidiu esperar. Não obstante, o Glorioso Arcanjo torna a aparecer-lhe e, desta vez, dá-lhe uma prova irrefutável: toca-lhe a cabeça… e esta fica marcada com um sinal do “angélico dedo”, visível e permanente, sobre a pele do Santo.

Alguns monges beneditinos, então, dirigiram-se para o rochedo, a fim de edificarem uma abadia e uma Igreja gótica. A construção era ousada e difícil, mas graças às suas orações, exorcismos, trabalhos e a uma vida santa,atraíram as bênçãos divinas, puderam por para fora os maldosos moradores da ilha e alcançaram seu objetivo: Foi consagrada a São Miguel por Santo Albert no ano 709, no dia 16 de outubro, uma belíssima Igreja ali construída. Esta passou a abrigar as relíquias de anteriores aparições do Príncipe Celestial em Monte Gargano, Itália. A ilha passou então a ser chamada de “Mont San Michel”, ou seja, Monte São Miguel.

Com o tempo, construíram-se muralhas de pedra. Dentro delas, aos poucos, vieram morar aldeões, em busca de segurança e atraídos pela santidade, bondade e sabedoria dos monges. Formou-se, assim, uma pitoresca e autêntica vila medieval, cercada pelas águas do mar que, somente na baixa das marés, deixavam aparecer uma rasa passagem até o continente e que podia ser transposta a pé.

Por fim, em honra do poderosíssimo Príncipe dos Anjos, foi colocada – no ponto mais alto da ilha, a agulha da torre principal da igreja – a 170 metros de altura, uma belíssima imagem dourada do Fidelíssimo Guerreiro Celeste. Esmagando o derrotado, orgulhoso e desprezível inimigo, via-se o Arcanjo revestido de armadura, em defesa da glória de Deus, de sua Igreja e de seus filhos fiéis, reluzir aos raios do sol.

Mais uma vez ele triunfou, e sua imagem permanece, no alto do Mont San Michel, até os dias atuais, tal qual a assinatura de um pintor em sua obra de arte, como sinal da vitória alcançada no Céu e das vitórias que ele é capaz dar, na Terra, àqueles que pedem seu auxílio e se colocam sob sua poderosa proteção. Para isso, trazemos ao leitor esta oração conhecida como exorcismo breve e composta pelo Papa Leão XIII, para uso dos fiéis.

 “EXORCISMO BREVE”          Papa Leão XIII

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; sede nossa proteção contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

 

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Livros imperdíveis – Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales

Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales

por São João Bosco

Título:    Memórias do Oratório de São Francisco de Sales (1815-1855)

Autor:     São João Bosco

               Tradução P. Fausto Santa Catarina

Editora: Ed. Salesiana Dom Bosco. São Paulo, 1982.

São João Bosco

Há livros tão interessantes, atraentes, bem escritos e capazes de fazer com que seus leitores se liguem a eles de modo tão intenso que a sua leitura é repetida por várias vezes ao longo dos anos. Quando são livros suscitados pelo Amor a Deus e pela obediência, são ainda mais eficazes. É este precisamente o caso do nosso Livro Imperdível deste mês: Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, escrita pelo grande São João Bosco, fundador da Ordem Salesiana.

Imaginemos a cena de um pai de família que sem deixar-se levar por pretensões literárias, procure falar a seus filhos com o coração aberto, rememorando as muitas histórias, aventuras, perigos e apertos pelos quais passou ao longo da vida. Exatamente desta maneira, São João Bosco dirige-se a seus filhos e lhes dá a conhecer, neste livro, todos os detalhes que envolveram a fundação e o desenvolvimento dos seus Oratórios (como era conhecida a Obra dos Salesianos em seu início), durante as suas primeiras décadas, de 1815 a 1855.

Este livro foi escrito em obediência a uma determinação do Papa Pio IX. De fato, em sua primeira viagem a Roma, no ano de 1858, Dom Bosco foi aconselhado pelo Pontífice a escrever a história e os elementos sobrenaturais que envolveram a fundação de sua Congregação. O Santo adiou esta tarefa o quanto pode. Quando finalmente voltou a Roma, no ano 1867, querendo Pio IX saber se o trabalho estava concluído, Dom Bosco argumentou que inúmeras atividades o impediam de tocar esse projeto. Ordenou então o Papa que ele o fizesse o quanto antes, pois serviria de exemplo e de inspiração para as gerações futuras. Dom Bosco atendeu e, felizmente, esta magnífica obra chega até nossos dias.

João Bosco nasceu no ano de 1815, numa pequena vila nos arredores de Turim, região do Piemonte, Norte da Itália. Perdeu seu pai quando tinha apenas dois anos e foi criado por sua virtuosíssima Mamma Margarida, na companhia de dois irmãos (o mais velho, Antonio, era seu irmão apenas por parte de pai). 

A sua família enfrentou inúmeras dificuldades materiais, sem, contudo esmorecer na Fé. Sua mãe foi exímia em formá-lo no caminho da santidade.  Por exemplo, no momento em que, ao entrar no Seminário, iria revestir-se do hábito eclesiástico, com firmeza falou sua mãe: Prefiro ter como filho um pobre camponês, a um padre negligente nos seus deveres” (1). Esses conselhos que levavam ao cumprimento exímio do dever, acompanharam-no por toda a vida.

Este Santo foi agraciado pela Providência com numerosos dons naturais que saltam aos olhos durante a leitura do livro: inteligência luminosa, memória inigualável, vigor físico arrebatador, aliada a uma força de vontade extraordinária. Estes dons naturais certamente o favoreceram durante a vida, mas, sobretudo, foi a total correspondência aos dons sobrenaturais, que fez de São João Bosco este grande Fundador. Tivesse ele levado em conta apenas seus dons naturais, poderia ter-se tornado um grande literato, um empresário de sucesso, um professor ilustre, mas, não um Fundador. Afinal, que são essas conquistas humanas diante do brilho que este Santo tem, no Céu, por toda a eternidade?

Nossa Senhora Auxiliadora – Basílica de Maria Auxiliadora – Turim, Itália

Desde o primeiro sonho (revelação mística) que teve aos nove anos de idade, que lhe fez antever o que a Providência Divina lhe reservava, João Bosco procurou escutar e atender – por toda a vida – aos chamados recebidos. Por isso, ele é a prova viva de que os dons naturais, quando potencializados pela Graça Divina, podem levar o ser humano a verdadeiros prodígios, em prol do serviço de Deus e da Igreja. São João Bosco sofreu inúmeras perseguições – internas e externas –, mas, soube entregar suas dificuldades, suas angústias ao auxílio de Nossa Senhora, cuja Devoção sua mãe imprimiu em sua alma desde a mais tenra idade. A Devoção a Nossa Senhora levou-o a construir, anos mais tarde, a belíssima Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora em Turim, até hoje um dos santuários mais visitados em todo o mundo!

A Providência sempre foi pródiga em recompensar e atender a esse filho muito fiel! Um exemplo tocante é a ação do seu Anjo da Guarda, que inúmeras vezes o protegeu sob a figura de um enorme e valente cão cinzento, o “Grigio. São fatos emocionantes e encantadores relatados pelo Santo.

Por que este livro é Imperdível?

O objetivo prioritário de São João Bosco neste livro é apresentar aos seus filhos, numa narrativa atraente e despretensiosa, as inúmeras aventuras vividas por ele nos seus primeiros 40 anos de vida, sobretudo as dificuldades que enfrentou para estabelecer estavelmente o seu Oratório, o qual tinha como meta atender aos inúmeros meninos carentes que então perambulavam pelas ruas de Turim, sem haver quem com eles se preocupasse. Estas pobres almas acabavam por cair na criminalidade e, invariavelmente iam parar nas cadeias, de onde saíam ainda piores do que entraram.

Porém, numa análise mais profunda, as narrativas de São João Bosco, serviram também para inspirar outros Fundadores e outras instituições, que futuramente viriam a dedicar-se a este mesmo apostolado com os jovens. Não apenas com jovens pobres no sentido material, mas, principalmente, com os jovens pobres na Fé, espiritualmente desamparados e carentes de ouvir a Boa Nova no caótico mundo contemporâneo.

Por outro lado é também riquíssima a experiência que nos deixa a narrativa do Santo a respeito do funcionamento das instituições em sua época, principalmente as Escolas Católicas: “(…) é bom lembrar que naqueles tempos a religião formava parte fundamental da educação. Um professor, que mesmo por brincadeira pronunciasse uma palavra indecorosa ou irreligiosa, era imediatamente destituído do cargo. Se assim acontecia com os professores, imaginai a severidade que se usava com os alunos indisciplinados ou escandalosos!” (2) Quão diferente dos tempos atuais!

Este grande Fundador desenvolveu também um sistema de pregações simples, atraentes e acessíveis a todas as pessoas; esta simplicidade, carregada de conteúdo e profundidade, era o segredo para atrair a si milhares de almas. Próprio dos grandes santos! São João Bosco também nunca fugiu da luta pelo bem das almas e pela defesa da Igreja, extremamente perseguida no seu tempo. Utilizou com eficiência dos meios que dispunha à época para comunicar-se com os fiéis e levar a eles a Doutrina, publicando livros, jornais e folhetos em tiragens espetaculares para a época. Hoje em dia, certamente também se utilizaria dos meios disponíveis, como faz o Fundador dos Arautos, Monsenhor João Clá Dias, aliás, grande devoto deste Santo.

Enfim, seriam necessárias milhares de palavras para descrever as grandezas deste livro: Imperdível pelo seu conteúdo e pelo seu estilo; mas, principalmente, pelos ensinamentos que a sua agradável leitura proporciona. Com toda a certeza os leitores que deste livro se aproximarem poderão auferir dele uma alegria verdadeira – aquela mesma alegria que experimentou São João Bosco ao narrar a seus filhos as suas inúmeras aventuras.

São João Bosco, rogai por nós e protegei a nossa juventude!

Salve Maria!

Por João Celso


(1) São João Bosco. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales (1815-1855). Trad. P.Fausto Santa Catarina. São Paulo: Ed. Salesiana Dom Bosco, 1982. P. 68.

(2) Op.cit. pág. 43

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