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Por que Jesus expulsou os vendilhões do Templo?

Quantos milagres nós contemplamos na vida de Jesus. Ele é a Divina Misericórdia que, cheio de compaixão e amor aos homens, restituiu a vista aos cegos, curou paralíticos, ressuscitou mortos, expulsou demônios… Quantos milagres! No entanto, há um gesto de Jesus, considerado verdadeiro milagre, produzido por sua Divina Justiça, onde Ele manifesta sua indignação contra a ofensa feita à glória de Deus e ao próximo. Qual será este gesto?

Tinha Nosso Senhor operado seu primeiro milagre, a transformação da água em vinho nas Bodas de Caná. Pouco tempo depois, nos primórdios de sua vida pública, Ele se dirige ao Templo no período da Páscoa, para cumprir a Lei.

Jesus expulsa os vendilhões do Templo – Granada, Espanha

Conta-nos o Apóstolo bem amado, João¹, que ao chegar ao Templo, Jesus encontrou vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas fazendo negócios. Tomado de santa ira, teceu um chicote e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois, espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E com sua divina voz, interpelou: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2, 16b).

O grande autor Orígenes² considera este gesto de Jesus como um verdadeiro milagre, onde Ele exerce seu poder irresistível. Milagre sim, pois Nosso Senhor no meio daquela multidão constituída de milhares de pessoas que tinham acorrido a Jerusalém por ocasião da Páscoa judaica ergue-se sozinho, com heroísmo e santa cólera, em defesa da Casa do Pai, expulsando com um chicote aqueles homens gananciosos e desrespeitosos do lugar sagrado. E ninguém se atreveu opor-se a Ele.

Eis aqui, no comentário de Mons. João Clá Dias, “uma admirável lição da virtude da justiça, permitindo-nos contemplar um aspecto raramente salientado – mas quão grandioso e adorável! – de sua divina personalidade” ³. [grifos nossos]

De fato, muito se fala da misericórdia de Jesus, e sem dúvida nunca será demasiado acentuar o quanto devemos amar Aquele Jesus de doce memória (canto da Liturgia), operando os mais belos milagres e restituindo a paz de alma aos que dele se aproximavam com fé, confiança e humildade. Sim, adoremos Jesus, a Divina Misericórdia, cujo Sagrado Coração é “cheio de bondade e de amor”! 4

No entanto, nosso amor ao Redentor deve ser total, admirando e adorando a todos os seus divinos aspectos, pois Ele é a própria Verdade, Bondade e Sabedoria. Nada há no Filho de Deus feito Homem que não devamos adorar.

Ora, por que, então, esta atitude de Jesus expulsando os comerciantes do Templo, é “um aspecto raramente salientado”? Não deveríamos nós adorar, com verdadeiro entusiasmo, este aspecto de sua divina personalidade?

Assim explica Mons. João Clá Dias 5, com profundidade e atualidade a questão: “Quanto se prega hoje em dia contra a disciplina, a ponto de se deformar o verdadeiro conceito de liberdade! Uma concepção errada, baseada nas idéias de Rousseau – de que todo o homem é bom, e por isso deve ser deixado entregue à sua natureza -, penetrou em muitos ambientes, inculcando uma máxima que poderia ser expressa assim: ‘Todo o homem é bom, a correção é que o torna mau’”.

Mas esta atitude de alma, a recusa da disciplina, encontra fundamento na Sagrada Escritura, a Palavra de Deus em relação à qual devemos nortear nossas vidas? Eis como continua o Fundador dos Arautos:

“Entretanto, o ensinamento da Escritura não deixa margem a dúvida. Os autores sagrados discordam desse ponto de vista tão comum em nossos dias, como por exemplo, nesta passagem: “A loucura apega-se ao coração da criança; a vara da disciplina afastá-la-á dela” (Pr 22, 15). E mais adiante: “Não poupes ao menino a correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá, castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos” (Pr 23, 13-14). E ainda: “Quem poupa a vara odeia seu filho, quem o ama, castiga-o na hora precisa” (Pr 13, 24)”. (Ver Nota)

E bem observa: “Estas palavras talvez sejam duras para os ouvidos de hoje, todavia foram inspiradas pelo próprio Espírito Santo e devem ser recebidas com amor”.

E conclui: “A bondade do Homem-Deus é infinita e, portanto, inesgotável. Mas Jesus não é exclusivamente a Bondade. Ele é também a Justiça. Apesar de serem extremos opostos, castigo e bondade constituem contrários harmônicos. Por este motivo, numa educação sábia e virtuosa, da mesma forma que jamais podem faltar a bondade, o afeto, a misericórdia, também não pode ser desprezada a disciplina: “Vara e correção dão a sabedoria; menino abandonado à sua vontade se torna a vergonha da mãe” (Pr 29, 15). Nesta matéria tão delicada, nota-se uma perfeita continuidade entre o ensinamento moral do Antigo e do Novo Testamento”.

A tal ponto esta perfeita continuidade entre o Antigo e Novo Testamento, que podemos meditar o que nos diz o Evangelho de São Mateus: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5, 6). Em outros termos, devemos ter sede não só de misericórdia, mas de justiça. E ainda lemos no último livro sagrado do Novo Testamento: “Eu repreendo e castigo aqueles que amo” (Apocalípse 3, 19). Ou seja, amor e castigo não se excluem, em certas circunstancias o amor se manifestará em repreensão.

Aqui está uma preciosa consideração, com base nas Sagradas Escrituras e, sobretudo, no Evangelho de São João (2, 13-25), contemplado neste 3º Domingo da Quaresma, onde vemos a Jesus expulsando os vendilhões do Templo. Peçamos à Nossa Senhora que nos obtenha de Seu Divino Filho, a graça de sabermos adorar a Misericórdia e a Justiça de Jesus, compreender e amar o papel da disciplina e da repreensão.

Veja também:

Haverá bondade no castigar?

Imagens que falam – Expulsão dos vendilhões do templo

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¹ Jo 2, 13-25

² Orígenes. Commentaria in Evangelium Joannis. T.X, n. 16: MG 14, 186.

³ Mons. João S. Clá Dias, EP. O amor e o castigo se excluem? In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. III, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, p. 199.

4 Invocação da Ladainha do Sagrado Coração de Jesus.

5 Mons. João S. Clá Dias. Idem, p. 204

Nota: Nas notas da “Bíblia Sagrada – Ave Maria – edição de estudos”, encontramos o acertado comentário deste trecho do Livro dos Provérbios (22, 13-15): “A sabedoria anda de mãos dadas com a diligência.[…]. O coração jovem, tenro e inexperiente, continua facilmente esta tendência (contrária da diligência, a vadiagem); daí a necessidade de educá-lo e corrigi-lo”. 13 ed, 2012, p. 954.

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Expulsão dos vendilhões do templo

Quantas imagens de Jesus nos falam de sua divina bondade! Não poderia ser diferente, visto ser Ele a própria Bondade. Cenas que representam a Ele curando leprosos, multiplicando os pães e peixes, comovido, ressuscitando o filho da viúva de Naim ou, após chorar a morte do amigo Lázaro, ressuscita-o. Dele disse São Pedro que “andou fazendo o bem”. Isto é indubitável.

Mas, como entender a imagem que ora contemplamos nesta sessão?

Jesus expulsa os vendilhões do Templo – Igreja do Senhor do Bonfim – Salvador, Bahia

O que faz Jesus? Diante da profanação dos vendedores de bois, ovelhas e pombas e dos cambistas que estavam sentados no átrio do templo, fazendo da casa de seu Pai uma casa de comércio, Ele se manifesta em sua indignação divina através da natureza humana.

E conta-nos São João: “Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas” (Jo 2, 15).

Saibamos contemplar e maravilharmo-nos com Jesus, em todas as suas manifestações, ainda que punientes, como nesta cena da expulsão dos vendilhões do templo.

Assim comenta o Fundador dos Arautos, Mons. João Clá Dias: “O modo de proceder de Nosso Senhor sugere uma pergunta: deixou Ele de ser bondoso naquela ocasião? Ele, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, não pode ter nenhuma reação desequilibrada ou defectiva: n´Ele tudo é perfeito, por ser a própria Perfeição. Como discernir, então, a sua misericórdia no momento em que emprega a força física?”

Prossegue o Mons. João Clá Dias: “[…] os vendilhões do templo atentavam contra a ordem e, além disso, perturbavam a tranquilidade. Cabia a Cristo, sublime modelo de todos os homens, constituir-Se como exemplo também dos que são chamados a utilizar a força para instaurar a disciplina e manter a paz, o que muitas vezes só é possível através de métodos impositivos”.¹

Tenhamos a compreensão de que tudo quanto Jesus, Príncipe da Paz, faz é para o benefício das almas e, portanto, procuremos discernir nos seus atos a divina misericórdia, ainda quando de “chicote de cordas” nas suas divinas mãos.

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. A verdadeira origem da indignação do Divino Mestre. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VII, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 270.

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