Quinto Domingo da Quaresma
Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.
A lei ou a bondade?
Os evangelhos são o testamento da misericórdia. O anuncio do maior ato de bondade havido em toda obra da criação, unindo substancialmente dois extremos: a Gruta de Belém e o Calvário.
A alegria de Jesus transparece nas doutrinas, conselhos e parábolas. Nenhuma pessoa d’Ele se aproximou em busca de cura, perdão e consolo sem ser atendido. Empenhava-se sobretudo para com os mais necessitados: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores.” (Mc 2,17)
Essa bondade substancial de Cristo Jesus se torna ainda mais luzidia aos nossos olhos quando contrastada com a maliciosa oposição dos Fariseus: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos ameaça?” […] “Não digais dentro de vós: Nós temos Abraão por pai!”. (Mt 3,7-9)
São inúmeras as investidas dos Escribas e Fariseus contra Jesus, em razão de sua misericórdia. Chegam a chama-Lo de possesso do demônio (Jo 8,52; 10,20; Lc 11,15); distorcem suas palavras e afirmações (Mc 14,58), perseguem-No até O condenarem à morte e O acusam de revolucionário porque, segundo eles, sublevava o povo contra o poder civil. Esse ódio farisaico contra a bondade e a misericórdia de Jesus com os necessitados refletia também a repulsa que manifestavam aos miseráveis.
Os Fariseus se indignavam contra as atitudes de Jesus porque seu puritanismo partia de uma falsa justiça baseada no orgulho. Eles desprezavam os miseráveis sem ter jamais compaixão por qualquer carente. É no combate entre a bondade infinita e o falso amor à lei, que desenrola o drama do Evangelho de hoje.
A adúltera foi colocada no centro da multidão para ser julgada como autora de um crime e, dessa forma ipso facto, constituíram Jesus como Juiz. O caso trazido pela Liturgia de hoje mostra que foi montado, com muita habilidade, uma armadilha para Jesus. Decidindo Ele pela culpa da mulher ou pelo perdão estaria se contrapondo ao poderio romano, ou se declararia discordante a Moisés e assim do Sinédrio.
Numa atitude inédita o Divino Mestre inclina-Se e põe-Se a escrever “com o dedo na terra”. Essa é a única ocasião em que isso ocorre em todo o Evangelho. Neste ponto São Jerônimo e Santo Ambrósio defendem que Jesus escrevia na terra os pecados dignos do mesmo castigo cometidos pelos acusadores. Se assim de fato foi a sabedoria e a bondade de Nosso Senhor se refletem mais uma vez. Pois poderia contra-acusar cada um deles naquele momento e não o fez. Pelo contrário colocava-lhes a disposição seu total perdão. Mas aparentemente não reconhecem, aqueles homens, suas faltas e delas não pediram perdão.
Então, erguendo-Se, disse: “Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lhe atirar uma pedra” (Jo 8,7). O Salvador os remete às suas próprias consciências, estabelecendo-as como juízes. É insuperavelmente magistral essa resposta de Nosso Senhor, pois não assume a função de juiz mas a de mestre.
Quanto à “mulher adúltera”, ela constata, depois da grande humilhação e vergonha, que o pecado não compensa! A última e terrível prova é o santíssimo olhar de Jesus, a sagrada face, integra em sua Divina moralidade, a pureza e a virgindade em essência, sendo contempladas pelo seu delírio carnal envergonhado e arrependido. Ele Lhe manifesta sua misericórdia: “Ninguém te condenou?”. E leva à pecadora a declarar: “Ninguém senhor”. Segundo o exemplo de todos, Ele tão pouco a condenaria.
Assim, quebra o laço que lhe armaram os caçadores, confirma a lei, faz rebrilhar a dignidade, põe em fuga seus inimigos, produz maior admiração, respeito e submissão junto ao povo que O cercava e perdoa a pecadora advertindo-a: “Não peques mais.”
Que magnifica lição de penitência, de perdão e da necessidade de perseverança oferece a cada um de nós neste vale de lágrimas. Jesus colocado como juiz nos ensina a misericórdia, mostra seu amor e infinita bondade. No coração sagrado, humano e divino encontramos o perdão e a bem-querença infinita!
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