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I Domingo da Quaresma

Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.

O valor das tentações.

Na segunda leitura, São Paulo sintetiza o ensinamento da Liturgia deste 1º Domingo da Quaresma: se “o pecado entrou no mundo por um só homem […], pela obediência de um só, toda humanidade passará para uma situação de justiça” (Rm 5, 12.19). Sua afirmação deixa patente como toda graça, força e poder foram franqueados ao gênero humano pela fidelidade de Cristo, modelo supremo no combate às tentações.

Existem doentes com uma espécie de complexo causado por verem pessoas saudáveis, a quem muitas vezes gostariam de transmitir suas enfermidades para aliviar o instinto de sociabilidade ferido, por se sentirem diferentes ou inferiores. Assim também age Satanás. Ao cair no inferno, passou a detestar os que batalham pela salvação, por serem seus inimigos e adoradores d’Aquele que ele odeia. Anda em redor, “como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (IPd 5,8), pronto para nos empurrar precipício abaixo e nos lançar na mesma infelicidade eterna na qual ele se jogou.

A tentação é um benefício.

Deus lhe permite tentar-nos, com vistas ao nosso benefício, para nos dar oportunidade de adquirir força, experiência e sagacidade na luta contra ele, e, derrotado este, outorgar-nos o prêmio de não ter cedido. Mas se tivermos a desgraça de sucumbir, não nos esqueçamos do Salmo Responsorial (Sl 50) que diz: “Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra Vós”. Estas palavras do rei Davi, o perfeito arrependido, recordam como, desde que reconheçamos nosso pecado, com verdadeira contrição e desejo de nunca recair na falta cometida, nossas culpas serão apagadas. Quando nos apegamos a Nosso Senhor e à misericórdia de Nossa Senhora, recebemos o consolo de sermos perdoados.

Foi o que aconteceu a Adão e Eva. À medida que foram comprovando as consequências da falta cometida, deram-se conta de que não valera a pena ter comido do fruto proibido e, sem dúvida, choraram seu crime. Quantas vezes algo semelhante se passa conosco quando, depois de ter percorrido um bom trecho da vida, olhamos para trás e percebemos que o pecado não compensou. Nessas horas a lembrança de nossas quedas servirá para ilustrar e fortalecer as atitudes do presente, ajudando-nos a tomar decisões bem firmes e acertadas.

As tentações nos obtêm, sobretudo, méritos para a eternidade. Tanto o santo quanto o pecador são tentados, e às vezes o primeiro mais que o segundo, a julgar pelo modo atroz com que Satanás investiu contra Nosso Senhor. A grande diferença entre ambos é que um recusa as solicitações e o outro se rende. Logo, ser tentado não é um desastre, pelo contrário, pode ser até um bom sinal. De nossa parte é preciso não consentir e, para isso, apoiemo-nos no auxílio divino, pois seria uma insensatez concebermos nossas qualidades como o fator essencial na luta contra o demônio, o mundo e a carne.

A nossa força está na graça.

No deserto, o diabo tentou convencer Nosso Senhor do quanto Ele era poderoso, capaz e apto de estar no centro dos acontecimentos, e faz o mesmo conosco incitando-nos, pelo orgulho, a esquecer a graça e a vida interior, imprescindíveis para resistir. Daí a necessidade absoluta de nos aproximarmos dos sacramentos com maior frequência possível, de “orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18,1); de recorrermos à mediação de Nossa Senhora e à intercessão dos Santos; de termos, enfim, ao longo de todo o dia, a nossa primeira intenção posta no sobrenatural, como São Paulo: “A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus que me amou e Se entregou por mim” (Gl 2, 20).

Assim obteremos forças para enfrentar todos os problemas, pois quem é negligente em sua vida interior perde o principal instrumento de combate. O Apóstolo, confiante na ajuda divina, não se sentia intimidado por nenhuma adversidade: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Realmente, está escrito: ‘por amor de ti, somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado entregue ao matadouro’. Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude d’Aquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, Nosso Senhor” (Rm 8, 35-39).

Se uma criança recém-batizada tem mais poder do que todos os infernos reunidos, os que possuem a vida divina nada devem temer! Quando o inimigo nos assalta, unamo-nos ainda mais a Nosso Senhor Jesus Cristo, animados pela ligação deste início de Quaresma: para vencer todas as tentações é indispensável contar com a graça divina.

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