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No alto está São Miguel

No dia 29 de Setembro, comemora-se a festa dos gloriosos Arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel, grandes guerreiros, servos e mensageiros do Deus Altíssimo. Por ocasião desta data, trazemos aos leitores uma impressionante história, que se passou nos confins da Normandia e Bretanha, ao norte da bela França, em tempos muito antigos.

Havia, perdido em meio a imensas extensões de areia e águas marítimas, uma ilhota rochosa alta, conhecida na região com o curioso nome de “Monte Tumba”. O título se justificava, pois os antigos contavam que, naquele local, precipitou-se ao centro da Terra, em direção ao Inferno, o revoltado Lúcifer, derrotado no grande embate travado no Céu, entre os anjos bons e maus. Teria Deus colocado ali a descomunal rocha para marcar o ponto em que o inimigo infernal abandonou para sempre a liberdade dos que amam ao Criador.

Certo é que, atraídos por essa narração, grande quantidade de bruxos e servidores do demônio começou a frequentar e habitar a ilha, que se tornou local de pecados e ofensas a Deus, cercada assim, de uma malfadada reputação.

No ano 708, o Bispo Santo Albert estando no “Monte Tumba”, recebeu duas aparições do Arcanjo São Miguel, ordenando que naquele local fosse erguido um santuário em sua honra. Em dúvida sobre a realidade das graças místicas que recebera, decidiu esperar. Não obstante, o Glorioso Arcanjo torna a aparecer-lhe e, desta vez, dá-lhe uma prova irrefutável: toca-lhe a cabeça… e esta fica marcada com um sinal do “angélico dedo”, visível e permanente, sobre a pele do Santo.

Alguns monges beneditinos, então, dirigiram-se para o rochedo, a fim de edificarem uma abadia e uma Igreja gótica. A construção era ousada e difícil, mas graças às suas orações, exorcismos, trabalhos e a uma vida santa,atraíram as bênçãos divinas, puderam por para fora os maldosos moradores da ilha e alcançaram seu objetivo: Foi consagrada a São Miguel por Santo Albert no ano 709, no dia 16 de outubro, uma belíssima Igreja ali construída. Esta passou a abrigar as relíquias de anteriores aparições do Príncipe Celestial em Monte Gargano, Itália. A ilha passou então a ser chamada de “Mont San Michel”, ou seja, Monte São Miguel.

Com o tempo, construíram-se muralhas de pedra. Dentro delas, aos poucos, vieram morar aldeões, em busca de segurança e atraídos pela santidade, bondade e sabedoria dos monges. Formou-se, assim, uma pitoresca e autêntica vila medieval, cercada pelas águas do mar que, somente na baixa das marés, deixavam aparecer uma rasa passagem até o continente e que podia ser transposta a pé.

Por fim, em honra do poderosíssimo Príncipe dos Anjos, foi colocada – no ponto mais alto da ilha, a agulha da torre principal da igreja – a 170 metros de altura, uma belíssima imagem dourada do Fidelíssimo Guerreiro Celeste. Esmagando o derrotado, orgulhoso e desprezível inimigo, via-se o Arcanjo revestido de armadura, em defesa da glória de Deus, de sua Igreja e de seus filhos fiéis, reluzir aos raios do sol.

Mais uma vez ele triunfou, e sua imagem permanece, no alto do Mont San Michel, até os dias atuais, tal qual a assinatura de um pintor em sua obra de arte, como sinal da vitória alcançada no Céu e das vitórias que ele é capaz dar, na Terra, àqueles que pedem seu auxílio e se colocam sob sua poderosa proteção. Para isso, trazemos ao leitor esta oração conhecida como exorcismo breve e composta pelo Papa Leão XIII, para uso dos fiéis.

 “EXORCISMO BREVE”          Papa Leão XIII

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; sede nossa proteção contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

 

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O Apóstolo da Caridade: São Vicente de Paulo

Quando lemos as palavras cheias de unção de São Paulo a respeito da caridade, ficamos encantados. Verdadeiramente uma peça literária, para nos expressarmos assim. Na realidade, são infinitamente mais do que isto: são palavras de vida eterna, porque inspiradas pelo Espírito Santo.

Consideremos apenas os dois primeiros versículos da Carta do Apóstolo aos Coríntios:

“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente”.

São Vicente de Paulo

“Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada”. (Cor 13, 1-2)

No entanto, estas inspiradas palavras sobre a caridade tomam um esplendor especial, quando contempladas na vida de santidade de homens de fé. Entre esses, uma luz no firmamento da Igreja: São Vicente de Paulo, o Apóstolo da Caridade.

São Vicente teve uma existência intensa de apostolado da caridade: a todos procurava fazer o bem. Promoveu retiros espirituais para a santificação dos sacerdotes e dos fiéis. Instituiu congregação de missionários. Criou seminários. Fundou um hospital para crianças relegadas e hospitais para idosos, insanos, presos e mendigos. Foi conselheiro de reis, na côrte, e cuidava de doentes. Sua obra permanece viva e atuante nos dias atuais e inspirou outras almas na santidade, como o Beato Federico Ozanan, fundador dos conhecidos Vicentinos.

De onde vinha esta multiplicidade de atividades? De seu amor abrasado por Nosso Senhor que se desdobrava no amor ao próximo.

Certa vez, quando viveu dois anos remando nas galés, pois até a escravidão este santo experimentou, encontrou um outro prisioneiro que perdera a fé na dureza daquela existência. Diante da confissão de seu ceticismo em relação a Deus, São Vicente lhe propôs um santo “negócio”: “daria” ao homem a sua fé, e este teria que “dar-lhe” a própria em troca.O incrédulo aceitou e, desde aquele momento, operou-se nele misteriosa mudança sobrenatural: passou a crer.

Contudo, paralelamente, outra mudança se deu…São Vicente, a partir desse momento, ficou privado da sensibilidade em relação às coisas sagradas, e cria sem nenhuma consolação. Nesta provação e aridez espiritual permaneceu por longo tempo. Ó heroica caridade, até onde por uma alma és capaz de sacrificar-te!

Quanta lição nos dá este santo a respeito desta virtude, em relação à qual o mundo vai se distanciando cada vez mais, e afundando no egoísmo.

A propósito, este fato nos foi contado por um idoso, residente no asilo São Vicente de Paulo de Maringá, no dia de hoje, 27 de setembro, festa de São Vicente de Paulo, em uma visita que os Arautos do Evangelho realizaram na benemérita instituição, mantida pelos vicentinos.

Peçamos a Nossa Senhora que nos dê a caridade e a generosidade capazes de realizarem todas as obras que Nosso Senhor quer de cada um de nós, a exemplo do grande São Vicente de Paulo.

Corpo incorrupto de São Vicente de Paulo – Paróquia São Vicente de Paulo, Paris

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Deus obedece aos homens?

Deus infinito, perfeitíssimo, onipotente e onisciente obedeceria aos homens? Sabemos que o gênero humano, manchado pela culpa original, é sujeito a toda espécie de erros e misérias, infelizmente. Como poderia um homem “mandar” em Deus? Alguém diria: já sei a resposta, somente Nosso Senhor Jesus Cristo se encaixaria neste contexto. Sendo Ele Homem-Deus, é Senhor de Si mesmo. Mas, e se estivéssemos falando de homens que não são deuses?

Nosso interlocutor poderia tentar mais uma vez: Eureka! Somente um ser humano concebido sem pecado original, e portanto, criado em Graça e Santidade, estaria livre destas mazelas e, quem sabe… Todavia, Adão e Eva assim foram criados, e Adão, incitado por Eva, é o próprio autor do pecado original. Realmente, quem poderia satisfazer a uma posição tão exigente quanto a proposta na pergunta deste problema?

Moisés – Catedral de Colônia, Alemanha

É famoso o fato de que Moisés “segurou a mão de Deus”. O Onipotente queria exterminar o povo eleito no êxodo do Egito, pois mesmo tendo presenciado espantosos milagres, enquanto seu Profeta recebia as tábuas com os dez mandamentos, em apenas quarenta dias de sua ausência, construiu um ídolo infame e cometeu as piores barbaridades. Moisés, que a Sagrada Escritura define com uma simples frase: “Era o mais humilde dos homens”, intercedeu pelo povo impedindo que a vontade de Deus realizasse sua justiça e conseguindo a misericórdia.

Entretanto, é sabido que certa vez, em Meriba, Deus não obedeceu a Moisés. Engastado com as seguidas infidelidades do povo, que se rebelava mais uma vez assolado pela sede, Moisés, após bater com o cajado na rocha a primeira vez, não viu brotar as águas milagrosas. Perplexo, bateu uma segunda vez na rocha e a água brotou. Por ter duvidado, Deus não permitiu que ele entrasse depois na Terra Prometida.

Houve, porém, uma criatura puramente humana, concebida sem pecado original, que recebeu a honra inefável de ser a Mãe de Deus. Sabemos que, na Santa Casa de Nazaré – existente até hoje na cidade de Loreto – o Menino Jesus obedecia à Sua Mãe, a São José, seu Pai adotivo, e “era-lhes submisso”.  (Lc 2, 51)

Mesmo assim, será que dessa simples mulher pode-se dizer que Deus a obedeceu e, mesmo agora no Céu, ainda a obedece? Qual é o mistério que diferencia esta mulher de todo o gênero humano? Talvez não o abarquemos por inteiro, mas podemos buscar no santo mariano por excelência, São Luís Maria Grignion de Montfort, a resposta a esta sublime questão.

Segundo este santo, “Nosso Senhor continua a ser, no céu, tão Filho de Maria, como o foi na terra. Por conseguinte, ele conserva a submissão e obediência do mais perfeito dos filhos para com a melhor das mães.

Maria, porque está toda transformada em Deus pela graça e pela glória, não pede, não quer, não faz a menor coisa contrária à eterna e imutável vontade de Deus. E Deus não resiste nunca às súplicas de sua Mãe, porque ela é sempre humilde e conformada à vontade divina.

Se Moisés, pela força de sua oração, conseguiu sustar a cólera de Deus contra os israelitas, que devemos pensar da prece da humilde Maria…” (1)

Assim cantou a Virgem no seu hino de glória, o Magnificat:

“Depôs do trono os poderosos, e elevou os humildes.” (Lc 1, 54)

E o próprio Nosso Senhor posteriormente o confirmaria na pregação do Evangelho:

“Porque todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado.” (Lc 14, 11)

Esta mulher misteriosa, à cujas preces o próprio Deus se submete, não teria sob seus pés virginais e imaculados o universo inteiro?

“No céu, Maria dá ordens aos anjos e aos bem-aventurados. Pois ele a fez soberana do céu e da terra, general de seus exércitos, tesoureira de suas riquezas, dispensadora de suas graças, artífice de Suas grandes maravilhas, reparadora do gênero humano, mediadora para os homens, exterminadora dos inimigos de Deus e a fiel companheira de suas grandezas e de seus triunfos.” (2)

Peçamos à Virgem Maria que possamos sempre crescer na confiança, na oração e na devoção a Ela, pois sendo suas súplicas onipotentes diante do Altíssimo, e a bondade e misericórdia de seu coração em relação a nós, pecadores, inesgotável pela graça de Deus, Nossa Senhora é, para nós, a vitória.

Por Marcelo Veloso Souza Mendes

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(1) MONTFORT, São Luís Maria G. de. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. 42ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012. Números 27.
(2) Idem, nº 28.

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Quem é este Rei?

Caro leitor, atente para as palavras do Cântico inspirado e por fim responda “quem é este Rei”? :

Vós sois grande, Senhor, para sempre,

E vosso poder se estende nos séculos! (Tb 13, 2a)

Considera ainda os versículos deste Salmo (23, 10):

Dizei-nos: “Quem é este Rei da glória?”

“O Rei da glória é o Senhor onipotente,

o Rei da glória é o Senhor Deus do universo!”.

Sim, este Rei da glória é o Senhor soberano, é o Deus feito homem.

No entanto, contemple esta imagem e medite por uns instantes, com São Mateus, a que foi “reduzido” em sua humanidade este Rei e Senhor?

“Vestiram Jesus com um manto vermelho, teceram uma coroa de espinhos e a colocaram na sua cabeça. E começavam a saudá-lo: “Salve, rei dos judeus!”. Davam-lhe na cabeça com uma vara, cuspiram nele e punham-se de joelhos como para homenageá-lo. Depois de terem escarnecido dele, tiraram-lhe a púrpura, deram-lhe de novo as vestes e conduziram-no fora para o crucificar” (Mt 15, 17-20)

Esta rejeição contra Aquele que é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, tem um nome: pecado. E a única reparação possível e reconhecedora de sua realeza é, unidos aos méritos infinitos de sua Paixão e às lágrimas preciosas de sua Mãe Santíssima, abraçarmos a via da santidade.

Peçamos, assim, com as palavras de Mons. João Clá Dias, esta graça: “Aceitai, Senhor, o meu pobre coração e assumi-o como Rei e dono absoluto. Estou seguro de que se assim o fizerdes, jamais Vos ofenderei”. (1)

Nossa Senhora Rainha dos corações, rogai por nós!

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(1) Mons. João Clá Dias. I Estação: Jesus é condenado à morte. In Via Sacra. 3ª ed. São Paulo: Takano Editora Gráfica Ltda, 2003, p. 8.

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A pedra no caminho

O caro leitor já pensou alguma vez no benefício que nos trazem, muitas vezes, as dificuldades da vida? Como aproveitar-se dos obstáculos que tão frequentemente qualquer ser mortal encontra nesta existência? Pois bem, meu amigo, deite a atenção nesta rápida história e certamente encontrará uma bela lição para sua vida:

História para crianças… ou adultos cheios de Fé?

Logo que amanheceu, as instruções do rei começaram a ser postas em prática: os soldados cercaram a estrada enquanto vários operários executavam um misterioso serviço.

Desde que o rei ascendera ao trono, tudo corria bem naquele reino distante, outrora assolado por contínuas guerras.

O soberano era ao mesmo tempo forte e bondoso. Dominava como ninguém a arte militar e possuía tropas bem treinadas, mas preferia alcançar a paz através de amistosos tratados. Por isso, visando a glória de Deus e o bem do seu povo, já havia assinado acordos de cooperação com a maior parte dos estados limítrofes.

As aldeias do reino estavam em pleno desenvolvimento e os negócios com os estados vizinhos eram bastante prósperos. O clima ameno favorecia o plantio dos mais diversos vegetais, e até a natureza parecia estar ajudando a tornar aquela região semelhante a um paraíso.

Os habitantes eram laboriosos, solidários e piedosos. As igrejas estavam sempre cheias e os Sacramentos eram muito frequentados. Reinava entre todos um espírito de fraternidade cristã que fazia lembrar o mandamento novo de Jesus: “Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34).

Porém, o tempo passou e o temperamento dos habitantes do reino foi mudando… Acostumando-se a viver na prosperidade, perderam o espírito de sacrifício e de luta. Já não queriam saber de vencer quaisquer dificuldades, por pequenas que fossem, e o menor problema despertava entre eles muitas queixas.

O rei ficou preocupado. A paz e a tranquilidade, que tanto esforço tinha custado, deram ocasião à mediocridade de espírito da população. Ao mesmo tempo, as rixas entre os seus súditos aumentavam. O espírito comodista tornara-os irritadiços e egoístas.

O rei decidiu expor ao Bispo suas inquietações e ambos conversaram longamente

Decidiu expor ao Bispo suas inquietações e ambos conversaram longamente. O prelado também sofria com a decadência moral do povo, sobretudo vendo os Sacramentos serem cada vez menos frequentados.

Ora, o que fazer? Como ajudar o povo a perceber a decadência em que estava caindo? Como afastá-lo do egoísmo e compenetrá-lo da necessidade do sacrifício e da luta nesta vida? Depois de muito pensar e trocar ideias, prelado e soberano arquitetaram um projeto…

Naquela mesma noite, o monarca chamou à sua presença um pelotão escolhido de soldados e um grupo de servidores da maior confiança para lhes expor o plano, exigindo deles o mais rigoroso segredo.

Logo que amanheceu, as instruções do rei começaram a ser executadas. Os soldados dirigiram-se à principal via de acesso ao reino e a cercaram. Ninguém podia se aproximar do lugar onde alguns operários executavam um misterioso serviço. Os habitantes da região, curiosos, tratavam de adivinhar ao longe em que consistia, contudo nada alcançavam ver.

Por fim, o caminho ficou liberado… Bem, não exatamente: no meio dele havia agora uma enorme pedra!

Passaram por ali mercadores e homens ricos do reino. Ainda que com certa dificuldade, contornavam a rocha, aparentando indiferença. Alguns, mais exaltados, esbravejavam contra o rei, queixando-se pelo estado em que era mantida a estrada, mas também nada faziam para remover o empecilho.

Em pouco tempo a notícia correu por todo o reino. Não havia quem não reclamasse contra aquela volumosa rocha que tanto atrapalhava o passo das carruagens em uma das vias mais importantes do país; entretanto, ninguém tomava a menor iniciativa para resolver o problema.

Um belo dia, chegou junto à pedra o senhor Fabiano. Era um pequeno agricultor, de olhos vivos e corpo esguio, que todas a semanas utilizava a mesma estrada para levar ao mercado as frutas e verduras da sua horta.

Ao ver tal obstáculo no meio do caminho, desceu de sua carroça e, junto com seus filhos, dispôs-se a retirá-lo. Empurraram a pedra com força, mas ela nem se mexia… Procuraram madeiras para usá-las como alavanca, e foi em vão. Cansados pelo esforço, porém sem desanimar, pararam um pouco para tomar alento.

Senhor Fabiano estava indignado. Como era possível uma simples rocha resistir-lhes desse modo? Não haviam eles retirado milhares de pedras em sua horta, e até maiores, para torná-la mais fértil? Não construíram uma barragem desde o rio vizinho, para melhor regar os legumes? E, depois, o obstáculo não só atrapalhava a eles, senão a todos os que por ali passavam…

Um tanto recuperados, senhor Fabiano e seus filhos voltaram à tarefa. Juntos rezaram uma “Ave Maria”, como sempre faziam antes de iniciar o trabalho no campo, e unidos em um só esforço conseguiram afinal remover a grande rocha.

Depois de rezarem uma “Ave Maria”, senhor Fabiano e seus filhos, unidos em um só esforço conseguiram afinal remover a grande rocha.

Alegres e satisfeitos, já se dispunham a subir de novo na carroça, quando entreviram, em meio à poeira levantada, algo singular. Era uma bolsa de fino couro repleta de moedas de ouro, com um pergaminho, onde estava escrito: “Este é o prêmio para os valorosos que removerem da estrada a incômoda pedra. A vida está cheia de obstáculos e precisamos estar sempre em luta para vencê-los”. Estava assinado pelo próprio rei!

O fato rapidamente se tornou conhecido e o povo aprendeu a lição: tornaram-se moles e acomodados. O menor esforço lhes causava aflição. Diante de qualquer dificuldade preferiam reclamar em lugar de tentar resolvê-la.

No domingo seguinte, as filas dos confessionários se encheram e as Missas em todas as igrejas estiveram repletas. E o senhor Bispo, na principal Celebração da Catedral, aproveitou a ocasião para dizer no sermão:

— Os obstáculos em nossa vida são excelentes ocasiões para compreendermos ser a existência do homem nesta Terra uma luta. Sejamos solidários uns com os outros e ajudemo-nos nas dificuldades. Mas, sobretudo, lembremos sempre de pedir o auxílio de Maria Santíssima antes de enfrentar qualquer problema, por pequeno que ele seja.

Com a ajuda da graça divina, o plano do rei e do Bispo chegara a bom termo: aquela pedra havia sido instrumento para que o povo caísse em si e voltasse a ser valente, disposto a fazer qualquer esforço para o bem do reino e maior glória de Deus.

Fonte: Revista Arautos do Evangelho, n° 112, Abril de 2011. Págs. 46 e 47

Por Irmã Michelle Viccola, EP

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