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Comentários à Salve Rainha – (Parte IX) – “Ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria”

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa,

esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre,

Ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

 V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

         Os santos vivem imersos, mergulhados na Graça de Deus e justamente por isso, têm eles como que uma “segunda natureza”. São Paulo, na carta aos Gálatas manifesta essa realidade de forma inequívoca, quando afirma: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Cf. Gl 2, 20).

         Esses heróis da Fé corresponderam de tal maneira às graças que Deus lhes concedeu em vida, que essa correspondência lhes torna capazes de acrescentar algo de valioso onde, a princípio, poderíamos imaginar que não existe mais nada a adicionar, nenhum espaço a ser preenchido. Os santos podem sempre nos presentear com boas surpresas! O Amor de Deus é um tesouro inesgotável e, pela devoção a Nossa Senhora, eles podem tirar desse tesouro sempre algo mais.

         Este é precisamente o caso que se deu com o complemento acrescentado por São Bernardo de Claraval à oração da Salve, Rainha.

         Como temos visto nestes Comentários, é esta uma oração tão rica, tão cheia de significados arrebatadores que, à primeira vista, dir-se-ia que está completa, nada mais poderia ser acrescido a ela. Mas, de repente vem um grande Santo, inflamado de um sublime amor à Mãe de Deus e, ao que estava já completo, acrescenta ainda uma parte inédita e valiosa: “Ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria!” De fato, este complemento que não havia na oração original foi acrescido por este grande santo, São Bernardo, chamado Doutor Melífluo. (1)

         Vejamos, portanto, como se deu esse fato, na bela narração de Monsenhor João Clá, no seu livro Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado:

          “Glorioso encomiasta da Santíssima Virgem, São Bernardo não podia pensar na clemência de Nossa Senhora sem experimentar um sentimento que, muitas vezes, chegava até o êxtase.

       Foi assim que, na noite do Natal de 1146, encontrando-se ele na Catedral de Speyer (Alemanha), onde pregaria durante a Missa do Galo, ouviu a multidão ali presente cantar, com profunda piedade, a Salve Regina. Ao fim das palavras: ‘et Jesus benedictum fructus ventris tui, nobis post hoc exsilium ostende’ (e depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre), emudeceram-se todas as vozes, pois assim terminava então aquela incomparável prece.

       Emocionado, ajoelhou-se São Bernardo diante do altar-mor, recolhendo-se por alguns momentos antes do sermão que pronunciará. Nunca o havia tocado tanto a Salve Regina quanto naquela noite! ‘Eia ergo, advocata nostra’… Este brado de confiança era tão penetrante, íntimo e irresistível, que pedia uma resposta de clemência, suavidade e doçura.

       Ainda ressoam no sagrado recinto as últimas sílabas daquele clamor à Rainha do Céu. E Nossa Senhora põe a resposta nos lábios de seu discípulo predileto, Bernardo de Claraval.

       Voltado para os fiéis, de pé e com os braços abertos, São Bernardo eleva sua potente voz que domina toda a assistência. Num terno e inexcedível verso, anuncia ele ao povo de Deus ali presente seu louvor à Mãe Virginal: ‘O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria!’ (ó clemente, ó piedosa, ó dolce e sempre Virgem Maria).

          Tão profunda foi a impressão que este arroubo de piedade produziu, que a frase ecoou por toda a Cristandade. E a partir de então a Igreja adotou estas belas palavras que encerram, até hoje, a Salve Regina: ‘O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria’.

         Estava reservado a esse grande Santo, entusiasta da clemência de Maria, nos ensinar aquilo que ainda podemos dizer à Santíssima Virgem quando nada mais temos a Lhe suplicar”. (2)

        Incansável clemência e misericórdia de nossa Mãe Santíssima

          Ao enriquecer a já tão bela oração da Salve, Rainha com esse fabuloso complemento, quis São Bernardo, inspirado pela Graça, enaltecer a clemência de nossa Mãe, sobretudo para com os mais necessitados; especialmente para com os pecadores, carentes da misericórdia de Deus. Vejamos a interessante definição do dicionário Houaiss para a palavra “clemência”: “substantivo feminino. 2. sentimento ou disposição para perdoar as ofensas e/ou minorar os castigos; indulgência, bondade, benignidade” (3). Como temos visto, não é justamente este o papel que desempenha Nossa Senhora, ao buscar alívio para as nossas penas e nos ajudar a alcançar a Salvação?

         Com muita propriedade, Santo Afonso explica o novo proceder que Nosso Senhor Jesus Cristo veio trazer no Novo Testamento: ao invés do “olho por olho, dente por dente”, a clemência, a piedade, a misericórdia. Esse proceder clemente atinge seu auge pela intercessão de Nossa Senhora.

         Citando outros grandes santos e teólogos (como é bela esta comunhão entre os santos!), comenta Santo Afonso:

          ‘Consentis, Senhor, que façamos descer fogo do céu e os consuma?’ – assim perguntaram ao Mestre João e Tiago, quando os samaritanos se recusaram a receber Jesus Cristo e sua doutrina. Respondeu-lhes então o Salvador: Não sabeis de que espírito sois? (Lc 9,55). Queria dizer: Sou de um espírito todo de clemência e doçura; para salvar e não para castigar os pecadores, vim do céu e vós quereis vê-los perdidos? Falais em fogo e castigo? Calai-vos e nisso não me faleis mais, porque não é esse meu espírito! Ora, sendo o espírito de Maria completamente semelhante ao de seu Filho, não podemos pôr em dúvida seu natural compassivo. De fato, é chamada Mãe de Misericórdia e foi a própria misericórdia de Deus que tão compassiva e clemente a fez para todos. Assim o revelou a própria Virgem a S. Brígida. Por isso representa-a S. João revestida do sol: Apareceu um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol (Ap 12,1). Comentando o trecho, diz S. Bernardo à Virgem: Senhora, revestistes o Sol (Verbo Divino) da carne humana, mas ele vos revestiu também de seu poder e de sua misericórdia.

         Nossa Rainha – continua o Santo – é sumamente compassiva e benigna; quando algum pecador se encomenda à sua misericórdia, ela não se põe a examinar-lhe os méritos, para ver se é digno de ser ouvido ou não, mas a todos atende e socorre. Eis a razão, conforme observa Hildeberto, por que de Maria se diz que é bela como a lua (Ct 6,9). Assim como a lua ilumina e beneficia os objetos mais inferiores sobre a terra, também ilumina Maria e socorre os pecadores mais indignos. Embora a lua receba do sol toda a sua luz, leva menos tempo que ele para descrever seu curso (…). Isso motiva então as palavras de Eádmero ao afirmar que nossa salvação será mais rápida, se chamarmos por Maria, do que se chamarmos por Jesus. Pelo que Hugo de S. Vítor nos adverte que se os nossos pecados nos fazem ter medo de nos chegarmos para Deus, cuja Majestade infinita ultrajamos, não devemos recear de recorrer a Maria; pois nada nela existe que inspire terror. É verdade que é santa, imaculada, Rainha do mundo e Mãe de Deus. Mas é uma criatura e filha de Adão, como nós.

         Em suma, conclui S. Bernardo, tudo o que pertence a Maria é cheio de graça e de piedade, porque, como Mãe de misericórdia, se fez tudo para todos; por sua imensa caridade tornou-se devedora dos justos e dos pecadores; para todos está aberto seu coração, para que possam receber de sua misericórdia. Se por um lado está o demônio sempre procurando a quem dar a morte, como no-lo atesta S. Pedro (1Pd 5,8), de outro lado está buscando Maria almas a quem possa dar a vida e salvar, segundo afirma Bernardino de Busti.

 É doce o nome de Maria e invocá-lo com frequência atrai as Graças de Deus

          Finalmente, podemos concluir este capítulo comentando ainda um importante aspecto: ao usar de clemência para conosco, nossa Rainha o faz docemente. Não o faz de modo amarrado, forçado, contrariado, como se fosse a ele obrigado. Não! Ela o faz com doçura. Devemos ter total segurança ao invocar o nome de Maria, pois, segundo Santo Afonso, há uma “doçura de conforto, de amor, de alegria, de confiança e fortaleza, que este nome de Maria ordinariamente dá àqueles que o pronunciam com devoção”.(4) Ainda diz ele:

 “Sigamos sempre, por conseguinte, o belo conselho de São Bernardo: Nos perigos, nos apuros, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca a Maria; nunca se aparte seu nome de teus lábios, de teu coração. Em todos os perigos de perder a graça divina pensemos em Maria, invoquemos o seu nome e o de Jesus, para que andem sempre unidos esses dois nomes. Nunca se apartem nem do nosso coração, nem da nossa boca, esses dois dulcíssimos e poderosíssimos nomes. Pois eles nos darão forças para não cairmos e para vencermos sempre todas as tentações”. (5)

 “Graças inestimáveis prometeu Jesus Cristo aos devotos do nome de Maria, conforme assevera [em revelações a] Santa Brígida. Disse Ele a sua Mãe Santíssima: Quem invocar o teu nome com propósito de emenda e confiança, receberá três graças particulares: perfeita dor dos seus pecados e satisfação por eles, força para progredir na perfeição e finalmente a glória do paraíso. Ó minha Mãe, acrescentou o Senhor, nada vos posso negar de quanto me pedis, porque vossas palavras são tão doces e agradáveis a meu coração”. (6)

         Anime-nos, portanto, a confiança na intercessão da Sempre Virgem Maria e seja Ela a razão de toda a nossa esperança: Ó clemente, ó piedosa, ó doce Mãe!

      Na próxima parte, a Conclusão: Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo!

Prof. João Celso


(1) Conheça a biografia de S. Bernardo na Revista Arautos do Evangelho. Disponível em: http://www.arautos.org/especial/28855/Sao-Bernardo-de-Claraval

(2) Monsenhor João Clá Dias. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. São Paulo: Artpress, 1997. p. 275

(3) Grande Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=clem%25C3%25AAncia

(4)  Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria.  3ª. Ed. Aparecida: Editora Santuário, 1989, p. 214

(5)  Ibidem, p. 217

(6)  Ibidem, p. 217/218,

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Devoção a Nossa Senhora Comentários à Salve Rainha – (Parte VIII)

Virgen de la pera - Museu do Prado, MadriSalve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa,

esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

 E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre,

 ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

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E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre”

Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja nasceu em Nápoles (Itália) em 27 de setembro de 1696 e morreu em 01 de agosto de 1787. Fundou a Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas). Viveu 90 anos e teve uma vida de muitas batalhas e provações, entre as quais, por exemplo, ter sido expulso, por causa de intrigas, da Ordem religiosa que ele próprio fundara.

Santo Afonso Maria de LigórioÉ um dos escritores católicos mais fecundos, tendo publicado mais de 100 obras, abordando, principalmente a Teologia Moral. Escreveu um Tratado sobre a Oração que até hoje é uma das principais referências nessa matéria, no qual anima os católicos à confiança na oração incessante. Destaca-se também por sua entusiástica devoção a Nossa Senhora e, entre as suas principais obras está Glórias de Maria, que teve a sua primeira publicação em 1750. Um livro ao mesmo tempo simples, acessível e completo sobre Maria Santíssima, que já teve quase 1.000 edições no mundo todo.

Enfim, Santo Afonso é, como muitos outros Santos, um orgulho para os católicos. É verdade que, em geral, Deus não escolhe os mais capacitados; mas, com sua Graça, capacita os mais escolhidos. Mas, por outro lado é muito bom ver os mais capazes, em termos de dons naturais, servindo a Deus com afinco, dedicação e fidelidade. Santo Afonso é a prova de que é possível sim, ser brilhante, capaz e ao mesmo tempo, servir com entusiasmo a Igreja de Deus.

De inteligência rara, já aos 18 anos Afonso era um advogado reconhecido por sua capacidade, doutorado em direito civil e eclesiástico, com uma carreira de sucesso pela frente, podendo alcançar com facilidade tudo o que o mundo lhe proporcionasse. Porém, tudo abandona por amor a Deus, e abraça a vocação religiosa, dedicando-se ao sacerdócio. Sempre creditou a sua conversão à intercessão de Nossa Senhora. Com imensos talentos intelectuais, destacava-se, entretanto, por sua humildade, como atesta o fato a seguir, narrado na apresentação do livro Glórias de Maria:

Tendo junto a si um crucifixo e o quadro de Nossa
Senhora da Esperança que ele mesmo pintara,
Santo Afonso entregou serenamente
sua alma a Deus no dia 1º de
agosto de 1787

Era o dia 25 de outubro de 1784, numa pobre cela do convento redentorista de Pagani. O velho Padre Afonso de Ligório, todo recurvado pela artrose, ouvia atentamente o Irmão Romito que lia para ele um livro de piedade. O velhinho parecia cochilar. Mas, de repente, interrompeu a leitura: – “Irmão, quem é o autor desse livro tão belo sobre Maria?” O irmão enfermeiro arqueou as sombrancelhas, sorriu levemente e, com uma ponta de malícia, leu: – “‘As Glórias de Maria’ pelo ilustríssimo Dom Afonso de Ligório…”

Padre Afonso ficou um instante com os lábios entreabertos, ligeiramente desconcertado, e acabou dizendo: – “Meus Deus, eu vos agradeço o terdes me inspirado essa obra em honra de vossa Mãe Santíssima. Como é bom, às portas da eternidade, poder pensar que fiz alguma coisa para semear nos corações a devoção a Maria!”.(1)

E como é bom podermos ainda hoje apreciar esse tesouro!

Tendo feito este pequeno passeio e saboreado um trecho da biografia deste grande Santo, avancemos na meditação da Salve, Rainha.

Os novíssimos do homem

Como já referenciado em outra parte destes comentários(2), enquanto caminhamos para nossa Pátria celeste, nossa vida sobre a terra é um desterro, um exílio. Nesta invocação, pedimos a Nossa Senhora que, depois deste período transitório, Ela nos mostre Jesus, ou seja, que interceda por nós junto a Seu Divino Filho. Que seja nossa Auxiliadora durante este desterro e também depois deste desterro.

O Livro do Eclesiástico nos lembra: Em todas as tuas obras lembra-te dos teus Novíssimos, e jamais pecarás” (Cf. Eclo 7, 40). De fato, são as últimas coisas que nos acontecerão neste vale de lágrimas, ao encerrarmos nosso tempo de exílio. “O primeiro [novíssimo] é a morte, seguida do Juízo Particular, do qual resultará o prêmio ou o castigo eterno”(3)

Santo Afonso de Ligório nos convida a meditar sobre o papel que Maria Santíssima exercerá durante estes acontecimentos finais de nossa vida terrena, que culminarão no nosso destino eterno. Para o devoto de Nossa Senhora, a intercessão que Ela exerce será de grande valia nessa hora extrema: na hora de nossa morte, no nosso juízo particular e, ainda, caso a nossa alma não esteja completamente limpa e formos ao Purgatório, Ela intervirá para livrar dos sofrimentos e levar para o Céu o quanto antes os seus filhos queridos,

Comenta Santo Afonso que “é impossível que se perca um devoto de Maria, que fielmente a serve e a Ela se encomenda”.(4) Citando ainda vários santos, afirma: quem serve a Maria fiel e devotamente em sua vida, procurando honrá-la, não morrerá em pecado:

“[Maria] como Mãe deseja a nossa salvação mais do que nós a desejamos. Ora, assim sendo, como poderá perder-se um fiel devoto de Maria? E ainda que seja pecador, salvar-se-á, se com perseverança e propósito de emenda se encomendar a essa boa Mãe. Ela o levará ao conhecimento de seu miserável estado, ao arrependimento de seus pecados. Obter-lhe-á a perseverança no bem e finalmente uma boa morte”.(5)

É sobretudo no momento de nossa morte que Maria vem em nosso auxílio, porque Jesus, seu Filho, no-La deu por Mãe no momento de sua própria morte”.(6) Proporciona uma boa morte a seus fiéis devotos esta boa Mãe, e também roga por eles no momento de seu Juízo particular. Continuemos com Santo Afonso:

“Quem ousará dizer-me, escreve Ricardo de S. Vítor, que Deus não me será propício no dia do juízo, se estiverdes ao meu lado, ó Mãe de Misericórdia? – O Beato Henrique Suso protestava que às mãos de Maria havia confiado a sua alma. Se o juiz tivesse de condená-lo, queria que passasse a sentença pelas mãos misericordiosas da Virgem porque, como esperava, nesse caso ficaria suspensa a execução. O mesmo digo e espero para mim, ó minha Santíssima Rainha. Por isso quero repetir continuamente com S. Boaventura: Em vós, Senhora, pus toda a minha esperança, por isso seguramente espero não me ver perdido, mas salvo no céu para louvar-vos e amar-vos para sempre”.(7)

Maria socorre seus devotos no purgatório

As almas do purgatório são muito necessitadas de auxílio e de oração, pois já não podem ter nenhum tipo de merecimento, ou seja, não podem rezar por si mesmas. Por essas almas, empenha-se muito especialmente a Mãe de Misericórdia. “Revelou Nossa Senhora a S. Brígida: Eu sou a Mãe de todas as almas do purgatório; pois por minhas orações lhes são constantemente mitigadas as penas que mereceram pelos pecados cometidos durante a vida”.(8)

O que dizer ainda dos privilégios do escapulário do Carmo?

“Conhecidíssima é a promessa que Maria fez ao Papa João XXII. Apareceu-lhe um dia e lhe ordenou fizesse saber a todos aqueles que trouxessem o escapulário do Carmo que seriam livres do purgatório no primeiro sábado depois da morte”(9)

Esta riquíssima devoção do escapulário a Igreja torna acessível a todos quantos a queiram desfrutar. Os Arautos são incansáveis divulgadores desta devoção, pois, de fato, não é pouca coisa receber a visita de Maria Santíssima e ser livre do purgatório no primeiro sábado depois da morte! E todo sacerdote tem a investidura para benzer e impor os escapulários. Realmente, uma graça estupenda!(10)

Finalmente, depois de ter-lhes dado uma boa morte, tê-los acompanhado durante o juízo e tê-los livrado do purgatório, Maria Santíssima leva seus devotos para o Paraíso. Não sem razão, a Igreja lhe chama “Porta do Céu”. Sobre essa invocação, comenta Santo Antonio Maria Claret:

“Nossa Senhora pode salvar a seus verdadeiros devotos; Ela o quer, e o faz. Pode, porque é a porta do Céu; quer, porque é a Mãe de misericórdia. Maria o faz, porque obtém a graça justificante aos pecadores, o fervor aos justos e a perserverança aos fervorosos. Por isso os santos Padres A chamam a resgatadora dos cativos, o canal da graça e a dispensadora das misericórdias. (…)

E quando a Igreja diz que esta incomparável Rainha é a porta do Céu e a janela do Paraíso, nos ensina com essas palavras que todos os eleitos, justos e pecadores, entram na mansão da glória pela mediação de Nossa Senhora, com esta única diferença: que os justos entram por Ela como pela porta aberta; mas os pecadores [arrependidos], pela janela que é Maria. Depois de Jesus, nEla devemos pôr toda nossa confiança e esperança de nossa eterna salvação”.(11)

Portanto, durante todo o curso deste desterro – que é a nossa vida terrena – e quando tivermos que comparecer diante de Deus após nossa morte, confiemos sempre, sem cessar na intercessão de nossa Rainha, que, ao mesmo tempo é Mãe de nosso Juiz. Coloquemos em suas mãos Virginais o nosso destino eterno, com a certeza da vitória até o Céu!

Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos, rogai por nós!

Por Prof. João Celso

1) Fl. Castro, C.SS.R. Apresentação. Glórias de Maria (de Santo Afonso de Ligório). 3ª ed. Aparecida: Ed. Santuário, 1989.
3) Monsenhor João Clá Dias. Os novíssimos do homem. http://www.arautos.org/artigo/6077/Os-novissimos-do-homem- Comentários ao Evangelho. 13/07/2009.
4) Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. Ed. Aparecida: Editora Santuário, 1989, p. 182.
5) Ibidem, p. 185
6) Monsenhor João Clá Dias. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. 2ª. Ed. São Paulo: ACNSF/Loyola, 2011. p. 310
7) Santo Afonso Maria de Ligório, op. cit. p. 188
8) Ibidem, p. 191
9) Ibidem, p. 193.
10) Maiores informações sobre o escapulário do Carmo. Consulte o site dos Arautos do Evangelho:http://www.arautos.org/artigo/64/Como-receber-e-usar-o-Escapulario-
11) Santo Antonio Maria Claret apud Monsenhor João Clá Dias, op. cit. p. 292.

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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte VII)

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa,

esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

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Volvei para nós esses vossos olhos misericordiosos”

O cuidado materno é uma das coisas mais maravilhosas que Deus colocou na natureza humana. As mães têm por seus filhos uma dedicação incansável; quase se diria uma dedicação incompreensível aos olhos de quem não entende todo o significado do amor materno. Têm elas por seus filhos cuidados extremos: uma mínima queixa durante a noite, por exemplo, faz com que a mãe imediatamente se levante e vá atender à necessidade de seu filho; pode ser uma simples indisposição, pode ser o começo de uma gripe, pode ser fome, não importa: lá está ela alerta, disposta, sem olhar para o seu próprio cansaço. São os olhos maternos que permanecem atentos, vigilantes, prontos a fazer qualquer sacrifício para atender o seu filho. E se não for uma ocasião de necessidade que obrigue os olhos maternos a velarem o seu filho durante a noite, pode ser também num simples passeio, ou de uma brincadeira num parque, por exemplo. O tempo todo a mãe vigia para que seu filho não caia, não se machuque; mas, se por acaso acontecer de cair, imediatamente a atenção de mãe cuidará para que seu filho se levante o quanto antes! Desvelo de mãe, cuidado materno!

Ora, este cuidado, esta atenção que os olhos maternos têm para com os seus filhos são apenas uma pequena demonstração, uma pré-figura do que são os olhos misericordiosos de nossa Mãe Santíssima, pois Ela está constantemente movendo o seu olhar e acompanhando detalhadamente a nossa vida.

As Bodas de Caná, um grande exemplo do olhar de Maria sobre seus filhos.

Fachada e interior da igreja erigida no local das Bodas de Caná

É muito conhecido o episódio narrado nos Evangelhos em que Jesus e Sua Mãe Santíssima foram convidados para um casamento, em Caná da Galiléia (Cf. Jo 2,1-11). Segundo São Luís Maria Grignion de Montfort, nessa ocasião, por intercessão de Nossa Senhora, Nosso Senhor Jesus Cristo realizou o seu primeiro milagre na ordem da natureza.(1) A Rainha de misericórdia percebe que o vinho iria faltar, o que, de fato, iria gerar um extremo constrangimento para os jovens esposos.

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Comenta o Fundador dos Arautos, Monsenhor João Clá:
>Como sempre, despreocupada de Si, Maria Santíssima prestava atenção em tudo, desejosa de fazer o bem aos outros. Percebeu, então, talvez sem ninguém Lhe ter comunicado, a situação embaraçosa: acabara o vinho. Que vergonha para os anfitriões! Quão grande seria a decepção quando isto viesse a saber-se! Isto, porém, não aconteceu, pois, como diz São Bernardino de Siena, “o Coração de Maria não poderia ver uma necessidade, uma aflição” e, mesmo sem ser rogada, “Ela intervém, pedindo um milagre para tirar de embaraços esses humildes esposos”.

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É muito importante notar o quanto Maria está vigilante, pronta a atender às necessidades dos noivos, os quais, provavelmente nessa circunstância festiva, estavam completamente alheios ao imenso problema que teriam em breve: a falta de vinho. E Ela lhes ajuda, sem que eles saibam, ou melhor, sem que sequer tenham pedido.

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Assim também acontece conosco, que somos filhos de Maria: O Seu olhar misericordioso está o tempo todo acompanhando as nossas necessidades e, antes mesmo que peçamos, Ela está intercedendo por nós junto a Seu Filho Divino.

Santo Afonso de Ligório comenta em seu magistral Glórias de Maria:

Com grande afeto dirigia S. Gertrudes certa vez as sobreditas palavras à Virgem Santíssima: A nós volvei esses vossos olhos misericordiosos. Apareceu-lhe então a Senhora com o Menino Jesus nos braços e, mostrando-lhe os olhos de seu divino Filho, disse: São estes os olhos misericordiosos que posso inclinar, a fim de salvar todos a aqueles que me invocam.

Chorando uma vez um pecador diante de uma imagem de Maria, e pedindo-lhe que lhe alcançasse de Deus o perdão de seus pecados, viu a bem-aventurada Virgem voltar-se para o Menino que tinha nos braços e lhe dizer: Filho, perde-se-ão estas lágrimas? Reconheceu o infeliz que Jesus Cristo lhe concedera o perdão.(2)

Mas, se o olhar que Maria mantém constantemente sobre nós já é motivo de verdadeiro encantamento para seus filhos, que dizer, então, de seu olhar misericordioso? Ou seja, é um olhar não apenas atento e carinhoso, mas, principalmente, um olhar que reconhece, que entende a miséria de seus filhos e deles se compadece.
Com muita clareza explica Santo Afonso no que consiste essa misericórdia:

Predissera o Profeta Isaías que pela grande obra da redenção nos devia ser preparado um sólio de misericórdia. “E será estabelecido um sólio de misericórdia” (16,5). Mas qual é esse sólio? É Maria, na qual acham confortos de misericórdia, não só os justos, mas também os pecadores, responde Conrado de Saxônia. Assim como o Salvador é cheio de piedade, também o é Nossa Senhora; à semelhança do Filho, a Mãe nada pode recusar a quem a chama em seu socorro”.(3)

Portanto, assim como Maria não tira por um momento sequer o seu misericordioso olhar sobre nós, sobre nossos problemas, sobre nossas necessidades, assim também nós devemos pedir a imensa graça de não desviar – nem sequer por um instante – o nosso próprio olhar da misericórdia de nossa Mãe. Devemos confiar sempre e cada vez mais que esse olhar há de nos valer em todas as nossas necessidades, “agora e na hora de nossa morte”. Amém.

Por Prof. João Celso

1)São Luís Maria Grignion de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 38ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009. P. 28.
2)Santo Afonso de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. Ed. Aparecida: Ed. Santuário, 1989. P. 179
3)Ibidem, p. 178

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Os Exercícios Espirituais que antecedem a Consagração Solene

Com a ajuda inestimável de nossa Mãe, Maria Santíssima, vamos avançando na preparação para a Consagração a Jesus Cristo, pelas mãos de Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, cuja solenidade se dará no primeiro final de semana do mês de Maio próximo (posteriormente, informaremos os detalhes). Temos, no momento, duas turmas, realmente entusiasmadas, compostas por uma bela e dinâmica variedade de pessoas: desde jovens entusiasmados até pessoas de mais idade, mais maduras na Fé; todas – de fato – procurando preparar-se seriamente, com uma ótima frequência às reuniões de estudo.

Nesta semana, a partir da próxima terça feira, dia 02 de Abril, os consagrandos deverão começar os seus 33 dias de exercícios espirituais preparatórios, conforme recomenda São Luís Maria no Tratado da Verdadeira Devoção. Esses dias de orações e meditações apenas se encerrarão no dia 04 de Maio (sábado).

As orações propostas por S. Luís, bem como as datas respectivas serão listadas logo abaixo. Antes disso, gostaríamos de refletir um pouco a respeito dessa preparação. Façamos isto na agradável companhia do Tratado da Verdadeira Devoção, do qual pode-se dizer que se trata de um dos principais livros de Mariologia já escritos, vivamente aprovado e recomendando pelos Papas e por nossos Pastores.

No capítulo VIII do Tratado, a partir do n. 226 (a página pode variar conforme a edição), São Luís trata da importância de algumas práticas exteriores:

“226. Se bem que o essencial desta devoção consista no interior, ela conta também práticas exteriores que é preciso não negligenciar; tanto porque as práticas exteriores bem feitas ajudam as interiores, como porque relembram ao homem, que se conduz sempre pelos sentidos, o que fez ou deve fazer; também porque são próprias para edificar o próximo que as vê, o que já não acontece com as práticas puramente interiores.

Nenhum mundano, portanto, critique, nem meta aqui o nariz, dizendo que a verdadeira devoção está no coração, que é preciso evitar exterioridades, que nisto pode haver vaidade, que é preferível ocultar cada um sua devoção, etc. Responde-lhes com meu Mestre: ‘Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus’ (Mt 5,16). Não quer isso dizer, como observa S. Gregório, que devamos fazer nossas ações e devoções exteriores para agradar aos homens e daí tirar louvores, o que seria vaidade; mas fazê-las às vezes diante dos homens, com o fito de agradar a Deus e glorificá-lo, sem preocupar-nos com o desprezo ou os louvores dos homens”.(1)

A partir do n. 227 São Luís explica longamente e com muita propriedade quais os propósitos dessas práticas exteriores: São 33 dias de preparação, consistindo em 12 dias preliminares, seguidos por três semanas. Nas reuniões preparatórias, temos procurado detalhar esses exercícios espirituais, fornecendo, inclusive, material próprio às meditações.

No sentido de que os consagrandos tenham um resumo à disposição dos exercícios, através da rápida consulta ao Blog dos Arautos de Maringá, gostaríamos de confirmar, abaixo, o resumo das datas e das orações. Em caso de dúvida, sempre podem nos contatar ou buscar esclarecimentos nas reuniões. O mais importante é começar a preparação a partir deste dia 02 de abril, terça feira.

Doze Dias preliminares:

Tema da meditação: empregados em “desapegar-se do espírito do mundo, contrário ao de Jesus Cristo”.(2)

Orações: “Vem, ó Criador Espírito” e “Ave do Mar Estrela”.

Período: 02 a 13 de Abril de 2013.

Primeira Semana:

Tema da meditação: “Durante a primeira semana aplicarão todas as suas orações e atos de piedade para pedir o conhecimento de si mesmo e a contrição por seus pecados”.(3)

Orações: Ladainha do Espírito Santo e Ladainha de Nossa Senhora.

Período: 14 a 20 de Abril de 2013.

Segunda Semana:

Tema da meditação: “Durante a segunda semana, aplicar-se-ão em todas as suas orações e obras cotidianas, em conhecer a Santíssima Virgem”.(4)

Orações: Ladainha do Espírito Santo; Ave, do Mar Estrela e um rosário ou ao menos um terço.

Período: 21 a 27 de Abril de 2013.

Terceira Semana:

Tema da meditação: “A terceira semana será empregada em conhecer Jesus Cristo”.(5)

Orações: Ladainha do Espírito Santo; Ave, do Mar Estrela; Oração de Santo Agostinho; Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus; Ladainha do Sagrado Coração de Jesus.

Período: 28 de Abril a 04 de Maio de 2013.

Para correr bem uma maratona, uma atleta precisa de preparação física adequada, do contrário, não atingirá seus objetivos e poderá, ainda, sofrer danos irreparáveis. Da mesma forma, para fazermos bem este ato solene de entrega, temos também que fazer a preparação espiritual. Assim, S. Luís vai nos introduzindo no gosto da oração; como o curso de um rio, que depois percorrer muitos caminhos deságua finalmente no mar, assim também, nós, após no nosso “curso”, imploramos a graça de Deus para, finalmente, desaguar nas águas ternas e abundantes da verdadeira devoção à Nossa Senhora. “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as suas graças e chamou-as Maria”.(6)

Salve Maria!

1) São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 38ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009. P. 217.
2) Ibidem, p. 219
3) Idem.
4) Ibidem, p. 220
5) Ibidem, p. 221
6) Ibidem, p. 30
Sao-Luis-Grignon-de-Montfort-e-Joao-Paulo-II

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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte VI)

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

Maria Auxílio dos Cristãos –
Basílica de Maria Auxiliadora – Turim, Itália.

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa,

esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

.

 V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Eia, pois, Advogada nossa

São Luis Maria Grignon de Montfort

São Luís Maria Grignion de Montfort, nascido na França é um grande Santo mariano; suas diversas obras são conhecidas universalmente pelo enorme bem que fazem. Foram reconhecidas por vários papas e até utilizadas em suas encíclicas; entre eles, principalmente, o Beato João Paulo II que elegeu o Santo como “significativa figura de referência”, a quem o Santo “iluminou em momentos importantes da vida”.(1) Suas principais obras são: O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, O Segredo de Maria, O Segredo do Rosário, Carta Circular aos amigos da Cruz. Faleceu com apenas 43 anos, em 1743, quando tinha apenas 16 anos de sacerdócio.

Apesar de ter exercido o seu ministério por relativamente pouco tempo, foi um grande pregador e grande missionário. Fundou três congregações religiosas. Extraordinário apóstolo da devoção à Maria Santíssima. Foi canonizado pelo Papa Pio XII, em 1947.

Este grande santo é um ardoroso e incansável propagador do papel de Maria Santíssima como nossa Advogada. No seu esplendoroso Tratado da Verdadeira Devoção, utilizando-se da mesma doce expressão que Nosso Senhor Jesus Cristo usa no Evangelho, quando lamentou a infidelidade de seus filhos (Cf. Mt 23,37), São Luís menciona que Maria cuida de seus filhos: “abriga-os sob as asas de sua proteção, como uma galinha aos pintinhos”(2).

O papel que se espera de um advogado competente é que ele se empenhe para defender bem o seu cliente diante do tribunal. Em outro admirável livro, O Segredo do Rosário, S. Luís nos dá um exemplo de como Nossa Senhora há de nos proteger e nos defender diante do Tribunal Divino, no momento em que estivermos sendo julgados. Essa história, narrada pelo Santo nos faz entender o papel de Maria como nossa Advogada.

Antes de entrar propriamente na narração da história, o Santo nos adverte sobre o papel que as histórias piedosas têm na nossa vida.

Todos sabem que há três tipos diferentes de fé na qual cremos em três tipos diferentes de histórias:

Às histórias das Escrituras Sagradas damos fé divina;

Às histórias relacionadas a assuntos que não sejam religiosos, que não estejam contra o bom senso e que são escritas por escritores dignos, damos fé humana, enquanto,

Às histórias tratando de assuntos sagrados que são contadas por bons escritores e que não possuam nada contrário à razão, fé ou moral (mesmo que às vezes lidem com acontecimentos que sejam sobrenaturais), pagamos-lhe tributo de fé pia.

Concordo que não devemos ser nem um tanto ingênuos nem por demais críticos e que devemos lembrar que ‘a virtude segue o caminho do meio’, ao mantermos o bom equilíbrio encontraremos a verdade e a virtude. Mas, por outro lado, eu igualmente o sei que a caridade facilmente leva-nos a crer em tudo que não é contrário à fé ou à moral: ‘a caridade… tudo crê” (1 Cor 13,7); da mesma forma, o orgulho nos induz a duvidar mesmo das mais autênticas histórias sob o argumento de que elas não são encontradas na Bíblia”.(3)

Ora, os católicos, sob a orientação da Santa Igreja através de seus pastores, podem, com toda a tranquilidade, dar fé às histórias contadas pelos santos canonizados, em seus livros. Isto nos dá, portanto, segurança, para referir a história piedosa que S. Luís nos conta a seguir:

Afonso, rei de León e da Galícia, desejando que todos os seus servos honrassem a Santíssima Virgem rezando o rosário, colocava um grande rosário em seu cinto e sempre o usava, mas infelizmente nunca o rezava. Contudo, o fato de usá-lo, motivava a toda a corte a rezá-lo devotamente.

Um dia o rei adoeceu gravemente e quando creram que estava para morrer, ele caiu em êxtase, viu-se a si mesmo perante o trono do julgamento de Nosso Senhor. Muitos demônios estavam lá a acusá-lo de todos os pecados que havia cometido e Nosso Senhor como Juiz Soberano já estava para condená-lo ao inferno, quando Nossa Senhora apareceu para interceder por ele. Trouxeram uma balança, onde foram colocados todos os seus pecados. No outro prato Nossa Senhora colocou o Rosário que ele sempre carregava na cintura, juntamente com todos os Rosários que foram rezados por causa de seu exemplo. Viu-se que os Rosários pesaram mais do que seus pecados.

Ao olhá-lo com grande benignidade, Nossa Senhora disse: Como recompensa por esta pequena honra que você me fez em usar meu rosário, eu obtive uma grande graça de meu Filho. Sua vida será prolongada por mais alguns anos. Viva-os sabiamente, e faça penitência.(4)

Não sabemos quando acontecerá, mas é certo e a Doutrina da Igreja nos confirma(5) que logo após a nossa morte deveremos nos apresentar diante do Juízo Particular de Deus. O Juiz dará à alma de cada um aquilo que mereceu(6). Nesse grave momento de decisão final, irrevogável, inapelável, temos confiança de que estará lá, presente e atuante a nossa Advogada, Maria Santíssima. Com que alegria os seus devotos podem constatar que a sua Advogada é a Mãe do Juiz que dará a sentença, e dEle Ela pode alcançar, “com seus rogos, tudo quanto quer”.(7)

Continua ainda Santo Afonso: “Pobres pecadores! Que seria de nós, se não tivéramos esta grande advogada! Quanto a considera seu Filho e nosso Juiz por causa da compaixão, da prudência que nela encontra! Tanto a considera, que não pode condenar pecador algum que se acha sob seu patrocínio”.(8)

A interjeição que inicia esta invocação “Eia” – é usada para expressar um pedido, mas, um pedido feito com ânimo, com confiança!(9) Com isso, quer a Igreja que invoquemos nossa Advogada, para que atue em nossa defesa, não somente naquele dia de nosso derradeiro julgamento, mas, também durante esta vida, pois Ela “não se cansa de tratar com o Pai e o Filho o sério assunto da nossa salvação. Singular refúgio dos perdidos, esperança dos miseráveis e advogada de todos os pecadores que a Ela recorrem”(10).

Que a invoquemos, portanto, com ânimo, com certeza de sua intercessão “agora e na hora da nossa morte”: Eia, pois Advogada nossa!

Por Prof. João Celso

1) João Paulo II. Discurso do Santo Padre aos Participantes no VII Colóquio Internacional de Mariologia.. Roma, 13 de outubro de 2000. Disponível em www.vatican.va
2) S. Luís Maria Grignion de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem 38ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 201
3) São Luís Maria Grignion de Montfort. O Segredo do Rosário. Belo Horizonte: Ed. Divina Misericórdia, s/d, p. 33
4) Ibidem, p. 28
5) Catecismo da Igreja Católica. N. 1021 e n. 1022.
6) São Tomás de Aquino, apud Clá Dias, Mons. João. Os novíssimos do homem. Revista Arautos do Evangelho, Nov/2006, n. 59, p. 10 a 16.
7) Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª, Ed. Aparecida: Ed. Santuário, 1989, p. 161.
8) Ibidem, página 162.
9) Grande Dicionário Houaiss da língua portuguesa
10) Santo Afonso Maria de Ligório. Op.cit., p. 160.
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