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Revista Arautos em foco

“A Revista Arautos do Evangelho nasceu em 2002, um ano após os Arautos receberem do Papa a aprovação Pontifícia.

Com o intuito de levar aos lares do mundo inteiro a Palavra de Deus, as principais notícias da Igreja e um conteúdo completo baseado nos ensinamentos da Santa Sé, a Revista Arautos traz em suas páginas artigos para todas as idades e visa, sobretudo, a formação católica da família.

A Revista Arautos é instrumento de evangelização e expressa o carisma dos Arautos do Evangelho”.

1 MILHÃO DE LEITORES EM TODO O MUNDO!

Resenha Mensal

da Revista

Arautos do Evangelho

 N. 138

Junho 2013

 Cerimônia de Ordenação Presbiteral Basílica Nossa Senhora do Rosário – Caieiras (SP)

     A foto de capa da Revista Arautos do Evangelho deste mês de Junho de 2013 traz em destaque a Cerimônia de Ordenação Presbiteral, que teve lugar na Basílica Nossa Senhora do Rosário no último mês de Abril. O Editorial destaca a existência de um enorme abismo entre a natureza humana e a Natureza Divina; na Igreja, os presbíteros são chamados a exercer o papel de ponte, auxiliando a transpor essa distância entre Deus e os homens. Com efeito,“ao presbítero foi conferida a insuperável dignidade de agir in persona Christi: através do seu ministério, quem ensina, governa e santifica é o próprio Jesus”. Os presbíteros são chamados a uma sublime e altíssima missão; deles “o povo fiel pede e exige – hoje mais do que nunca – não apenas o brilho da correção e da boa reputação, mas o esplendor da verdadeira santidade”.

         A Voz do Papa do presente mês traz excertos das homilias pronunciadas pelo Santo Padre em 14 e 23/04. Ao comentar as leituras que a Liturgia propõe, o Papa Francisco relembra a coragem dos Apóstolos quando respondem à ordem de cessarem a pregação da Mensagem de Jesus: “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens”. A partir dessa ousadia, o Santo Padre questiona: “E nós? Somos capazes de levar a Palavra de Deus aos nossos ambientes de vida? Sabemos falar de Cristo, do que Ele significa para nós, em família, com as pessoas que fazem parte da nossa vida diária? A Fé nasce da escuta, e se fortalece no anúncio”. Um convite, portanto, para uma vida verdadeiramente cristã. Na homilia proferida em 23/04 o Santo Padre relembra as características da identidade cristã: “A identidade cristã não é dada por um bilhete de identidade; a identidade cristã é pertença à Igreja (…) não é possível encontrar Jesus fora da Igreja”. E ainda: é um absurdo “querer viver com Jesus sem a Igreja”. No discurso da audiência aos membros da Pontifícia Comissão Bíblica, o Papa Francisco relembra que a interpretação das Sagradas Escrituras “deve ser sempre confrontada, inserida e corroborada pela Tradição viva da Igreja”, pois existe uma unidade indissociável entre a Sagrada Escritura e a Tradição.

         O Comentário ao Evangelho do n. 138 da Revista Arautos traz o belíssimo trecho de Lucas (7,11-17) proposto pela Liturgia para o X Domingo do Tempo Comum. Com a clareza que lhe é peculiar, Monsenhor João Clá Dias, EP (Fundador dos Arautos do Evangelho) lembra que, normalmente, para realizar os seus milagres, “Jesus exigia uma prova de fé do favorecido. Mas, às vezes, era Ele que se adiantava a qualquer pedido e distribuía seus divinos benefícios e esse modo de agir encerra em si um profundo significado”. É precisamente o que ocorre neste caso, relatado no Evangelho, quando a Divina Misericórdia Encarnada vai ao encontro da viúva de Naim e ressuscita o seu filho. Conclui Monsenhor João Clá: “Em Jesus a capacidade de compadecer-Se das misérias e das necessidades dos outros é insuperável, inefável e até inimaginável por qualquer mente humana”. A leitura e reflexão deste Comentário deve levar-nos a uma maior confiança na Misericórdia de Deus para conosco.

         No mês de Maio próximo passado, a Revista Arautos anunciou o lançamento do livro de Monsenhor João Clá sobre a vida de Dona Lucilia. O número deste mês de Junho traz um trecho extraído dessa Obra, em que é apresentado ao leitor um aspecto muito saliente da vida de Dona Lucilia: “a prática da virtude da caridade para com o próximo”, manifestada no trato a uma enfermeira negligente, que colocou a vida de Dona Lucilia em risco, quando esta convalescia de uma grave cirurgia.

         O que é a mística? Consiste ela apenas em grandes fenômenos sobrenaturais reservados a um reduzido número de almas privilegiadas? Ou ela está ao alcance de todos os fiéis? Com muita competência teológica, o Pe. Ignacio Montojo Magro, EP aborda esse interessante e atual tema em seu artigo Um convite para todos: seja místico! E demonstra que “a porta da mística está aberta a todos” e que, nas situações mais simples da nossa vida espiritual, nós podemos encontrá-la!Portanto, se quisermos ser santos, sejamos místicos. Este artigo é um verdadeiro guia de vida espiritual.

         A seção Arautos no Mundo aborda as ordenações diaconais e presbiterais, ocorridas respectivamente nos dias 21 e 22 de abril na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Caieiras, Grande São Paulo, quando foram entregues para o serviço da Igreja 11 diáconos e 11 sacerdotes dos Arautos do Evangelho. Os neo-ordenados são provenientes de vários países: Índia, Moçambique, Espanha, Nicarágua, Costa Rica, Venezuela, Colômbia, Equador, Chile, Paraguai, Uruguai e Brasil. São eles “novos servos para a messe”. Ainda nesta mesma seção, há destaques para atividades realizadas pelos Arautos no Canadá, na Espanha, na Colômbia e na Guatemala. Arautos no Brasil destaca os projetos Futuro e Vida realizados em vários colégios, em muitas localidades por todo o Brasil.

         A Irmã Isabel Cristina Lins Brandão Veas, EP apresenta uma biografia bastante completa de São Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas: “No precioso legado deste Santo aos seus discípulos, destacam-se seu sapiencial método de educação e a devoção a Nossa Senhora, fundamento e quintessência da pedagogia marista”. Uma vida marcada por muitas dificuldades e provações, que consumiram a sua saúde. Mas, todas vencidas pelo Santo, através de uma enorme confiança no auxílio de Maria Santíssima.

         A seção A Palavra dos Pastores traz excertos da homilia proferida por Dom Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 30/4/2013. Na homilia, o Prelado aborda aspectos da vida do Papa Pio V:“No serviço à integridade da Fé e à unidade da Igreja, Pio V manifestou um dos peculiares encargos do Sucessor de Pedro, que é chamado a garantir ao mesmo tempo a autêntica Fé apostólica e a unidade eclesial”.

         História para crianças… ou adultos cheios de Fé? deste mês traz um singelo, porém profundo, ensinamento sobre o papel da Fé em nossas vidas. Quando a ciência humana falha… é hora da Fé de Ouro agir!

         A Revista Arautos do Evangelho deste mês de Junho está ricamente ilustrada: traz na contracapa a foto de uma bela imagem de Santo Antonio (cuja Festa se comemora neste mês), com um trecho de um magnífico sermão deste grande Santo. Há também linda estampa e oração a Nossa Senhora, além de variadas notícias do que vai pelo mundo católico na seção Aconteceu na Igreja e no mundo.

         Enfim, convidamos você, caro leitor, a saborear por inteiro este número da Revista. Faça a sua assinatura contatando a Sede Regional dos Arautos, em Maringá, através do telefone (44) 3028-6596, ou através deste BLOG e daremos as informações detalhadas. Leia a Revista em seus momentos de descanso, de reflexão, de estudo. Esta é uma excelente maneira de falar de Deus em família!

Até o próximo mês.

 João Celso

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A limitação da inteligência humana e a fé diante da Santíssima Trindade

            A humanidade ao longo dos anos e séculos, através de estudos e pesquisas, vem desenvolvendo inventos que inequivocamente trouxeram benefícios de toda ordem. Bastará citar no campo da saúde a descoberta da penicilina no ano de 1928, pelo médico inglês Alexander Fleming, devemos mencionar os avanços tecnológicos como o elevador, a luz elétrica, o telefone, ou então, na área dos transportes o avião a jato que permitiu viagens intercontinentais em questão de horas, ao passo que os navios no início do século XX demoravam semanas.

No âmbito da comunicação, as propagandeadas tecnologias de informação e comunicação (TICs) dinamizam os processos de troca de informações entre as pessoas; dentre as quais podemos citar os telefones celulares (agora em suas novas gerações de smartphones), a internet, tablets e muitos outros recursos tecnológicos que surgem a cada dia e que integram o quotidiano dos indivíduos; tanto que no final do ano de 2012 o Brasil contava com 261,8 milhões de aparelhos celulares ativos para uma população de, aproximadamente, 197 milhões de habitantes (1) .

No entanto, se de um lado o conhecimento humano – que é a base do referido progresso e das novas tecnologias – vem trazendo-nos tantas vantagens, por outro, ainda que seja amplo e aprofundado, depara-se com obstáculos e incógnitas que não sabe resolver, nem apresentar construções benéficas que atendam todas as nossas necessidades. Percebe-se, desta forma, quanto a capacidade humana e a inteligência são limitadas e inoperantes frente ao que poderíamos chamar de “mistérios da natureza”. Sim, quantos são estes mistérios que o homem não consegue penetrar!

Essa incapacidade da inteligência humana para explicar todos os fenômenos da natureza tem levado cientistas, dos mais renomados, a reconhecer a contingência do ser humano. Sim, somos limitados e não conseguimos compreender sequer aquilo que está no domínio de nossos sentidos. Esta afirmação pode ser comprovada através de pesquisa publicada por uma equipe da Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde se assevera, a partir de mapeamento realizado em centenas de pessoas, uma tese recorrente na neurociência: nossa inteligência chegou a seu limite (2).

Esta incapacidade em entender pela razão os fenômenos naturais cresce e atinge sua maior realidade quando o homem busca a compreensão e o verdadeiro conhecimento de Deus.

Bem disse a esse propósito São Belarmino: “Se tantos objetos neste mundo são inexplicáveis para o homem, quanto maior é o perigo de errar quando ele procura perscrutar o que está acima dos céus” (3).

Estas considerações vêm à nossa mente a propósito daquele que é, no sentido pleno do termo, um mistério, ou melhor, o maior Mistério diante do qual o homem fica menor do que um “átomo”, um nada, e que a Igreja celebra, a partir do período do pontificado de João XXII (1316-1334), com as grandezas de uma Solenidade: o Mistério da Santíssima Trindade.

Com efeito, nos ensina o Magistério infalível da Igreja que o Mistério da Santíssima Trindade é “o mistério de um só Deus em três pessoas iguais e realmente distintas que são o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (4). E continua a nos explicar o Catecismo: “As três pessoas da Santíssima Trindade são um só Deus, porque que todas têm uma só e a mesma natureza divina” e “são todas iguais, porque todas têm a mesma natureza divina, o mesmo poder e a mesma sabedoria” (5).

Diante deste ensinamento, poderíamos nos perguntar: conseguimos nós, por mais inteligentes que uns e outros sejamos, penetrar e ter uma compreensão plena deste mistério? E, sem dúvida, todos serão unânimes em responder: simplesmente falando não compreendemos em toda a sua dimensão o Mistério da Santíssima Trindade! E por qual razão? Pelo simples fato de que não somos deuses, conforme pontua Santo Antônio Maria Claret:

Incompreensível vos parecerá isto, sem dúvida. E se pudéssemos compreendê-lo, ou seríamos Deus, ou Aquele cuja natureza declarássemos como é em si, não o seria. O que teria de precioso a Divindade incompreensível – pergunta Eusébio Emiseno – se a sabedoria humana pudesse compreender aquele Senhor que habita nas alturas, ao qual as nuvens servem de abajur e que é infinitamente superior a toda a ciência dos homens? (6)

 Nesta perspectiva, com base em São Tomás de Aquino, nos responde Mons. João Clá Dias, EP:

Esse insondável mistério de vida ad intra de Deus, baseada no amor, tornou-se cognoscível apenas pela Revelação. Para a inteligência humana resulta impossível entendê-lo, pois nada há na ordem da criação que possa dar ideia explícita dele. “É impossível chegar ao conhecimento da Trindade das Pessoas divinas pela razão natural”, afirma São Tomás. Logo a seguir, esclarece ser-nos possível conhecer a Deus, por mero raciocínio, “o que pertence à unidade da essência, não à distinção das Pessoas”. (7)

 Em outros termos, a razão humana foi capaz de chegar a conhecer a Deus, mas não a sua Trindade.

Porém, uma vez que a ciência dos homens não alcança esta verdade, qual deve ser a postura nossa em relação ao Mistério da Santíssima Trindade?

Santo Agostinho

Um dos maiores doutores da História da Igreja, Santo Agostinho, nos indica a via: “Se almejamos compreender tanto quanto nos é possível a eternidade, a igualdade e unidade de um Deus trino, precisamos crer antes que entender (8) [grifo nosso]. Ou seja, a partir da humildade e da fé poderemos – tanto quanto permita a nossa natureza e ainda auxiliados pela graça de Deus – ter um certo conhecimento da Trindade de Deus.

Sim, humildade! Virtude que nos coloca em relação a Deus no nosso devido lugar, reconhecendo nossa limitação, contingência e dependência para com nosso Criador. É a partir daí, praticando aquela que é a “virtude que Deus ama acima de todas as outras” (9)– conforme leciona São Luis Maria G. de Montfort – e não nos elevando a nós mesmos com soberba, que Deus nos dará, tanto quanto comporte a natureza humana, a graça de Seu conhecimento, que deve ser a razão de nossa plena alegria.

Unida à humildade encontra-se a fé, “virtude sobrenatural infusa, pela qual cremos firmemente todas as verdades reveladas por Deus e propostas pela Igreja” (10). Encontramos nas Sagradas Escrituras um ilustrativo e maravilhoso exemplo de humildade e fé diante dos mistérios de Deus: os pastores de Belém.

Embora despojados de maiores conhecimentos ou de uma inteligência especialmente cultivada (nos dias atuais poderiam ser definidos como ignorantes e analfabetos), creram e discerniram, pelo senso da fé, a presença do sobrenatural. Quando o Anjo anunciou, foram ao encontro do Deus Menino e, prostrando-se no Presépio, O adoraram. Podemos mencionar, ainda, a inocência das crianças que, sendo batizadas, creem sem colocarem a menor dúvida e sem buscar explicações no âmbito da razão.

Assim, com este espírito humilde, cheio de fé, flexibilidade e com a submissão de todo o entendimento e vontade ao sobrenatural, rezemos nesta Solenidade da Trindade, a Oração do Dia que nos propõe a Liturgia da Igreja:

 Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente. Por nosso Senhor Jesus Cristo (11).

Adilson Costa da Costa

(1) Agência Nacional de Telecomunicações. Relatório 2012. Disponível em <http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=297390&pub=original&filtro=1&documentoPath=297390.pdf>. Acesso em 24 de maio de 2013.
(2) Ed Bullmore. Nosso cérebro chegou ao limite, diz neurocientista. Revista Galileu. Disponível em <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,DML14634-17580,00-NEUROCIENCIA.html>. Acesso em 24 de maio 2013.
(3) São Bellarmino. In: Catecismo Popular. Primeira Parte: a Fé. Francisco Spirago. 2ª ed. Tipografia da Empresa Veritas, p. 30, s/d.
(4) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã. 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 15.
(5) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã, 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 16.
(6) Santo Antônio Maria Claret. Colección de Práticas Dominicales. v. II, Barcelona: L. Religiosa, 1886, p. 256.
(7) Mons. João S, Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. V, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana e São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 398.
(8) Santo Agostinho. De Trinitate. L. VIII, c.5, n.8. In: Obras. v. V, Madrid: BAC, 1956, p.514.
(9) São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. 42ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 140.
(10) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã, 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 96.
(11) Liturgia Diária. Ano XXII: n. 257: Maio de 2013. São Paulo: Paulus, 2013, p. 90.

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Brasil, Terra de Santa Cruz

Desde suas mais remotas origens, o Brasil está estreitamente vinculado à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Logo ao nascer, serviu de altar para a celebração da santa Missa, à sombra benfazeja de uma grande cruz plantada em seu solo. Como não ver nesses fatos um desígnio providencial?

Por Antonio Queiroz (Fonte: Revista Arautos do Evangelho – Agosto – 2004. Pags 40-42)

Alguém disse que a história de um homem começa, pelo menos, duzentos anos antes de ele nascer. E a de um povo, quando tem início? Pode-se afirmar que ela começa tão mais remotamente quanto maior é a vocação à qual esse povo está destinado pela Providência.

O marco inicial da História do Brasil

Corria o ano de 1139. Na véspera da Batalha de Ourique, o destemido príncipe Dom Afonso Henriques decidiu passar a noite em oração, certamente para pedir a vitória das tropas portuguesas, mas talvez também pressentindo em sua alma o grande acontecimento que se daria no dia seguinte. Próximo ao amanhecer, levantando os olhos ao céu, viu um raio de luz resplandecente, no qual lhe apareceu “uma cruz de extraordinária grandeza, mais esplendorosa que o sol. E nela Jesus Cristo crucificado, acompanhado de grande multidão de anjos formosíssimos”.

Prostrado por terra, o príncipe perguntou ao Redentor o motivo de “tão soberana mercê”. Este lhe respondeu que viera para “fortalecer teu coração e fundar os princípios de teu reino sobre rocha firme”. E acrescentou: “Eu sou o Fundador e destruidor dos reinos e dos impérios. Sobre ti e teus descendentes, quero fundar para Mim um império, por meio do qual seja meu nome publicado entre as nações mais estranhas”.

Raiou o dia, travou-se a batalha e, no próprio campo da luta, os guerreiros cristãos aclamaram Dom Afonso Henriques rei. Assim nasceu o Reino de Portugal, com a missão de “publicar o nome de Cristo entre as nações”.

Quase quatro séculos depois, atracava em terras brasílicas — Porto Seguro, na Bahia — uma esquadra cujas naus arvoravam a Cruz da Ordem de Cristo. A Nação brasileira era uma daquelas nas quais o Divino Redentor queria que o Reino Luso publicasse o seu santo Nome.

Pode-se, pois, dizer que a História do Brasil começa na Batalha de Ourique.

Um país marcado pela Cruz de Cristo

Na manhã de 8 de março de 1500, uma grandiosa cerimônia se desenrola na Capela Real de Belém, Portugal: ao final de uma vigília de armas, Pedro Álvares Cabral recebe do rei Dom Manuel, o Venturoso, o estandarte da Ordem de Cristo. Comandando uma esquadra de 13 naus com 1500 destemidos navegadores, esse rijo fidalgo de 32 anos partia para uma incerta e arriscada viagem rumo à Índia.

Com bandeiras desfraldadas, os navios levantaram âncoras e seguiram em direção ao Ocidente. Ao cabo de um mês e meio de navegação, notaram os primeiros indícios de terra próxima. Narra o escrivão da armada: “Assim seguimos nosso caminho por mar, até que terça-feira das oitavas de Páscoa, que é 2l de abril, topamos com alguns sinais de terra. Na quarta-feira seguinte (22 de abril) avistamos as primeiras aves. Neste mesmo dia, à hora de véspera, avistamos terra. Primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo, e outras mais baixas, ao sul dele, todas muito chãs e com grandes arvoredos. Ao qual monte alto o capitão pôs o nome de Monte Pascoal, e à terra, de Vera Cruz”.

Estava descoberto o Brasil.

Desembarque de Cabral em Porto Seguro

No dia 23, desembarcaram os navegadores, ficando a nova terra como propriedade da Ordem de Cristo. Algum tempo depois, mudaram-lhe o nome para Terra de Santa Cruz.

E coisa que a nós brasileiros tornou-se banal, mas que aos estrangeiros maravilha, é poder ver, de qualquer ponto deste imenso território, o Cruzeiro do Sul, uma cruz feita de estrelas pelo próprio Deus, a cintilar nos nossos céus.

A julgar por um fato minúsculo, mas cheio de significado, parece que o Criador quis marcar, não só os céus, mas também a terra brasílica com este sinal da nossa Fé. No Parque Nacional do Monte Pascoal existe um cipó que, cortado em qualquer posição, deixa ver, com toda nitidez, o desenho da mesma cruz da Ordem de Cristo, gravada nas velas dos navios da esquadra descobridora.

A certidão de nascimento do Brasil

Em poucas palavras, Caminha descreve de forma viva e precisa os primeiros contatos dos navegantes lusos com os silvícolas: “Muito se admiraram os portugueses das matas, aves e rios que encontraram nas costas da baía. E de tudo, o que mais os interessava eram naturalmente os habitantes da terra, os quais tinham boa índole, embora os ossos que lhes perfuravam os lábios demonstrassem sua infeliz condição de barbárie. Muito ariscos a princípio, pouco a pouco foram se aproximando dos portugueses. Ao cabo de três dias, muitos deles já haviam trocado arcos e flechas por presentes que lhes davam os visitantes. Até que no domingo seguinte já podiam os portugueses assistir a primeira Missa, que celebrava o descobrimento da nova terra”.

Em sua carta ao Rei Dom Manuel, a qual passou para a História como a certidão de nascimento do Brasil, Pero Vaz de Caminha relata com pormenores este ato que marcou o início de nossa vida enquanto nação. Cabral mandou a todos os capitães que “se arranjassem nos batéis e fossem com ele ouvir Missa e sermão. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquela ilha, e dentro levantou um altar bem arranjado. E ali com todos nós fez dizer Missa, celebrada por Frei Henrique de Coimbra com voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos padres e sacerdotes, a qual todos assistiram, segundo meu parecer, com muito prazer e devoção”.

Acrescenta o Escrivão que na ilha estava com o capitão o estandarte da Ordem de Cristo, o qual foi mantido alto durante a leitura do Evangelho. Subindo a uma alta cadeira, o celebrante fez o sermão sobre o Evangelho do dia. No fim, tratou da terra recém-descoberta, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência vieram os navegantes.

Os índios brasileiros, “gente boa e de bela simplicidade”

Grande número de índios assistiram da praia à cerimônia religiosa. Ao final, tocaram cornos e dançaram, em sinal de contentamento. Não é, portanto, sem razão que Caminha aconselha ao rei de Portugal mandar catequizar nossa gente: “Não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa Santa Fé” – afirma.

Por fim, faz votos de que “Nosso Senhor os converta, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade… Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons”. E acrescenta: “Deus, para aqui trazer os portugueses, não foi sem causa”.

No dia 1º de maio, os navegadores desembarcaram no continente e escolheram um lugar para erguer uma grande cruz. Narra o escrivão da armada: “O madeiro foi conduzido em procissão, com os sacerdotes e religiosos cantando à frente. Setenta a oitenta índios acompanharam de perto, e assim que viram a Cruz sendo levada aos ombros pelos portugueses, puseram-se solícitos debaixo dela para ajudá-los a carregá-la. Erguido o cruzeiro, Frei Henrique de Coimbra celebrou a segunda Missa, desta vez no continente.Também a esta os índios assistiram, ajoelhando-se ou levantando-se do mesmo modo que faziam os portugueses. De maneira que tinham as almas abertas para imitar as boas ações que os navegantes lhes ensinassem.”

Um pormenor histórico, especialmente promissor, é que no primeiro encontro dos navegantes com nossos índios “o que mais agradou os nativos não foram bugigangas, mas as contas brancas de um rosário”.

Ao concluir sua carta ao Rei, o escrivão insiste: “Esta terra, Senhor, (…) de tal maneira é graciosa, que querendo aproveitar, dar-se-á nela tudo, por causa das águas que tem. Contudo o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar”.

Uma história que ainda está por acontecer

Se nenhum passarinho cai por terra sem que seja da vontade de Deus (Mt 10, 29), como duvidar que a Providência tenha reservado um grandioso futuro para esta Nação, cujo descobrimento foi assinalado por tantas bênçãos divinas?

Encontrará o Brasil, nas reservas morais de muitos de seus filhos, a fidelidade e os recursos necessários para realizar plenamente sua excelsa missão no terceiro milênio?

Razões não nos faltam para crermos que sim!

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