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Qual é a ideia central do Evangelho de São Marcos?

Estamos no Advento! Contemplemos no segundo domingo deste tempo litúrgico, as palavras do Espírito Santo, abrindo o Evangelho segundo São Marcos: “Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”.  É interessante notar que este evangelista quis atribuir destaque especial, já na primeira frase de seus escritos sagrados, a uma verdade fundamental e riquíssima em significados da nossa Fé cristã: Jesus Cristo é verdadeiro Homem e verdadeiro Deus.

Aprofundemo-nos em relação aos aspectos teológicos, históricos e espirituais que, através da sabedoria da Igreja, conseguimos haurir a partir desta pequena frase que encima o evangelho do discípulo de São Pedro.

Sabemos, pelo ensino da Santa Mãe Igreja, que os livros mais importantes das Sagradas Escrituras (Bíblia Sagrada), são os quatro Evangelhos: São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João. Estes livros sagrados têm esta importância incomparável por revelarem a vida e doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Como teria surgido na história o evangelho de São Marcos?

São Marcos Evangelista – Igreja do Sagrado Coração de Jesus – Montreal, Canadá

Este santo foi discípulo de São Pedro, convertido após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, só conheceu a Jesus através da pregação e da pessoa de seu mestre, o primeiro Papa da Igreja. Tendo-se iniciado o apostolado com os pagãos, São Pedro e São Marcos deslocaram-se para Roma, onde se formou uma pujante comunidade cristã que, encantada com as pregações, clamava por um texto escrito que lhe perpetuasse a Palavra.

Conforme comenta Mons. João Clá Dias, “muito significativo é o fato de ter sido redigido este segundo sinóptico [Evangelho de São Marcos] em Roma, para um ambiente no qual predominavam os gentios convertidos. Com efeito, segundo narra Eusébio de Cesareia, a origem deste manuscrito está nos insistentes pedidos feitos a Marcos pelos ouvintes do Príncipe dos Apóstolos. Eles o importunaram com todo o gênero de exortações a compor um memorial escrito da doutrina que lhes fora transmitida de viva voz. E não deixaram o Evangelista em paz enquanto este não conseguiu finalizar sua tarefa”¹.

Assim, o jovem Marcos iniciou o trabalho de escrever os ensinamentos de São Pedro a respeito de Nosso Senhor, tornando-se um dos quatro evangelistas.

Por essa razão o Evangelho de São Marcos é também chamado, por alguns autores, de “Evangelho de Pedro”. O discípulo fiel reproduziu aquilo que aprendeu de seu mestre.

Eis o que comenta um sacerdote jesuíta do século passado: “Através de seu grego hebraizante, apoiados nos antigos testemunhos e no exame interno do livro, podemos reconhecer emocionados a inconfundível fisionomia de São Pedro […] Este é o Evangelho de Pedro, composto com singeleza por seu discípulo, sem pretensões literárias, a não ser reproduzir as pregações de seu mestre” ².

E qual era a ideia central do ensinamento de São Pedro, presente no Evangelho de São Marcos?

Cristo entregando as chaves a São Pedro

O leitor deve se recordar que no despontar de sua vida pública o Salvador perguntou aos seus discípulos o que diziam os homens a respeito de Sua pessoa. A par de várias respostas, foi São Pedro, por inspiração divina, o único a revelar: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).

Eis aqui a ideia central do Evangelho de São Marcos, que aparece enunciada já no seu início: “Jesus Cristo, o Filho de Deus”. Verdadeiro Homem e verdadeiro Deus; ou seja, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, “o nome Filho de Deus significa a relação única e eterna de Jesus Cristo com Deus, seu Pai: Ele é o Filho Único do Pai e o próprio Deus”. E acrescenta: “Crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus é necessário para ser cristão” ³.

E qual é a pedagogia adotada por São Marcos para fazer crer aos ouvintes esta verdade fundamental para todo cristão?

Nosso Senhor Jesus Cristo, em seu apostolado, confirmou a veracidade de sua doutrina e a divindade de sua Pessoa através de numerosos e estupendos milagres. Curas, conversões, expulsões de demônios, multiplicações de pães e peixes, ressurreições… Desejoso de operar a conversão e comunicar a fé às almas, São Pedro narrava estas maravilhas, inflamado pelo amor ao Mestre, que tanto o caracterizava.

São Marcos reproduziu em seus escritos esta santa pedagogia de salvação; e isto, de tal maneira, que em seu evangelho aparecerem narrações de milagres não relatados pelos outros evangelistas. Conclui o Fundador dos Arautos do Evangelho: “É este o motivo de São Marcos citar muitos milagres não relatados nos outros sinópticos, a ponto de seu livro ser conhecido como o Evangelho dos Milagres”4.

Isto posto, caro leitor, preparemo-nos com amor e piedade para celebração do Natal do Senhor. Eis que ali está, envolto em panos, reclinado em um cochinho numa gruta de Belém, Aquele que é o Filho de Deus, o Deus humanado, Rei do Céu e da Terra.

E, pelos rogos da Mãe de Deus, Maria Santíssima e de São José, unidos com a Igreja, rezemos:

Ó Deus todo poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

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Veja o vídeo da Homilia de Mons. João Clá Dias, referente ao Primeiro Domingo do Advento:

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. A voz que clama no deserto In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. III, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, p. 33.

² Padre José Caballero, SJ. Introduccion. In Maldonado, SJ. Juan de. Comentarios a lós Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.3.

³ Catecismo da Igreja Católica. E em Jesus Cristo, seu Filho Único, Nosso Senhor. Tópico n. 454. 11a. edição. São Paulo: Loyola, 2001, p. 128.

4. idem, Mons. João Clá Dias, EP,. p. 34

5. Oração. 2° Domingo do Advento. Liturgia das Horas. 1999: Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, v. I, p. 164.

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Leia a Homilia referente ao Segundo Domingo do Advento: http://pejoaocladiassermoes.blogspot.com.br/2014/11/comentario-ao-evangelho-ii-domingo-do_28.html

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Como é o Reino do Céu?

Nos últimos momentos da História do mundo, no Juízo Final, ouviremos a voz de Cristo Rei: “vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 34b).

Qual será este Reino? Será um lugar físico, concreto?

Narra-nos São Mateus que “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os Anjos, então Se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da Terra reunidos diante dele, e Ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda” (Mt 25, 31-33).

As ovelhas aqui são o símbolo daqueles que, morrendo na amizade com Deus, receberão o prêmio incomparável de contemplarem a Deus por toda eternidade. De fato, conforme comenta Mons. João Clá Dias, “a essência do prêmio será a visão beatífica, quer dizer, a contemplação de Deus face a face. Pela força da graça nos será possível contemplar a própria essência de Deus, em vez de apenas discerni-Lo por seus reflexos nas criaturas. ´Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido` (I Cor 13,12)” ¹.

Embora o ápice da alegria dos Bem-aventurados seja a visão beatífica, Deus premiará os seus filhos diletos com ainda outro prêmio – sem dúvida, incomparavelmente menor, em relação àquela alegria – porém superior a tudo quanto na Terra possamos ter. Este prêmio é dar aos Bem-aventurados o Reino prometido. Este Reino será o Céu empíreo. Ele é superior e distinto do Paraíso Terrestre, onde foram colocados nossos primeiros pais, Adão e Eva. Com será esse reino? Um lugar real? Um estado de alma?

Assim nos traz a resposta, o Fundador dos Arautos do Evangelho:

“Como se não bastasse, os Bem-aventurados terão como morada o Céu Empíreo, a respeito do qual escreve Garrigou-Lagrange: ´O Céu é o lugar e, melhor ainda, o estado da suprema bem-aventurança. Se Deus não tivesse criado nenhum corpo, mas apenas puros espíritos, o Céu não seria um lugar, porém, tão só o estado dos Anjos que gozam da posse de Deus. De fato, o Céu é também um lugar, no qual estão a humanidade de Jesus, desde a Ascensão, a Bem-Aventurada Virgem Maria, desde a Assunção, os Anjos e as almas dos Santos. Embora não possamos dizer com certeza onde se encontra esse lugar em relação ao conjunto do universo, a Revelação não permite duvidar de sua existência, nós vamos vê-lo`”. ² [grifos nossos]

Detalhe de “A Coroação de Maria” – Fra Angélico – Itália

Que maravilha sabermos, pela Revelação e pelo Magistério da Igreja, que o Reino para o qual nos convida Nosso Senhor será uma condição espiritual, mas também um lugar extraordinariamente maravilhoso. Ora, os homens são compostos de corpo e alma; tal seria que depois da ressurreição dos corpos, estando estes novamente unidos às almas, nós não vivêssemos em um lugar material, onde desfrutássemos da mais perfeita e virtuosa felicidade física, ao mesmo tempo em que gozássemos da visão de Deus. Em outras palavras, enquanto pela visão beatífica o bem-aventurado contempla a Deus face a face com os “olhos” de sua alma, com os olhos de seu corpo ressurecto vê, nas realidades sensíveis do Céu empíreo, símbolos das maravilhas contempladas diretamente em Deus.

É nessa perspectiva que o Doutor Angélico, São Tomás de Aquino, nos afirma: “A contemplação da Essência divina não absorve os santos de maneira a impedir-lhes a percepção das coisas sensíveis, a contemplação das criaturas e sua própria ação. Reciprocamente, essa percepção, essa contemplação e essa ação não os podem distrair da visão beatífica de Deus” ³.

Imagine, caro leitor: se neste vale de lágrimas, a humanidade é capaz de se extasiar com as belezas criadas por Deus, como são as cataratas de Foz do Iguaçu ou as floradas  de ipê em Maringá, dispostas magnificamente na natureza, quais maravilhas e surpresas não nos prepara a onipotência e bondade infinitas de Deus, neste lugar misterioso?

Conforme nos ensina um dos mais famosos teólogos, o jesuíta flamengo Cornélio a Lápide, o Céu Empíreo “é edificado pela própria mão de Deus, de onde sua beleza, seu esplendor e suas riquezas. De fato, Deus nele colocou incomparável ornamento. O lugar que seus eleitos ali ocupam é infinitamente belo, pois foi preparado pelo próprio Jesus Cristo” 4.

Que Nossa Senhora, Rainha do Céu e da Terra, interceda por nós, junto ao Seu Filho, Cristo Rei, em todo o transcurso de nossa existência terrena, e nos prepare assim, para o supremo júbilo que teremos no Céu. O convívio com este Rei e esta Rainha será nossa maior alegria! “[…] eu sou o teu protetor, a tua recompensa excessivamente grande” (Gen 15, 1b).

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Veja o vídeo da Homilia de Mons. João Clá sobre o assunto:

http://pejoaocladiassermoes.blogspot.com.br/2014/11/homilia-solenidade-cristo-rei.html

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. O prêmio dos Bem-aventurados. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 490.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. O prêmio dos Bem-aventurados. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 492.

³ São Tomas de Aquino. Suma Teológica 30,84.

 4 Cornélio A Lápide. Ciel. In: Jean-André Barbier, SJ (Org). Les Tresor de Cornelius a Lapide. 4.ed. Paris: Ch. Poussielgue, 1876, v.I, p.283.

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Homem das Dores

Nosso Senhor Jesus Cristo flagelado

Imagens que falam! Sim, as imagens falam, não por meio de palavras, mas comunicam pensamentos, propiciam reflexões, convidam à consideração dos aspectos mais altos de nossa existência. Através das imagens, podemos transcender para aquilo que um olhar superficial não alcança, mas que a observação mais atenta nos faz aprender e voar.

Contemplai esta Imagem. A ela bem se aplica, por excelência, as palavras do Profeta Isaias: Homem das dores, experimentado nos sofrimentos (Is 53, 3).

Nosso Senhor Jesus Cristo, flagelado. Homem das dores porque sofreu em seu Corpo adorável açoites crudelíssimos, bofetadas e cusparadas, a coroação de espinhos, os pregos na Cruz. Seria possível sofrer mais no corpo do que Jesus sofreu?

Experimentado nos sofrimentos. E quantos! Sua Alma adorável, no Horto das Oliveiras, contemplou com pavor a sua Paixão e Morte na Cruz, bem como os pecados e ingratidões da humanidade ao longo dos séculos. Poderia alguém ter suportado maior sofrimento moral do que Jesus?

Com poesia e dramaticidade, canta o Salmista: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? […] Eu, porém, sou um verme, não sou homem, o opróbrio de todos e a abjeção da plebe […] Não fiqueis longe de mim, pois estou atribulado […] Minha garganta está seca qual barro cozido, pega-se no paladar a minha língua, vós me reduzistes ao pó da morte. […] Sim, rodeia-me uma malta de cães, cerca-me um bando de malfeitores. Traspassaram minhas mãos e meus pés: poderia contar todos os meus ossos.” (Sl 21, versículos 2, 7, 12, 16, 17).

Eis esta Imagem a nos falar. Certamente, muito nos encantamos com a divina figura, esplendorosa, do Salvador quando se transfigurou no Monte Tabor, ou na sua gloriosa Ressurreição. Mas, como estará nosso entusiasmo frente esta imagem dolorosa do Divino Redentor?

Assim comenta Mons. João Clá Dias, Fundador dos Arautos: “Nessa divina tragédia verei estampada a feiura e a maldade de meus pecados. A enorme quantidade de minhas faltas me confundirá de começo ao fim. Vós Vos tornastes um verme, foi possível contar Vossos ossos, morrestes por causa de meus pecados. ´Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta` (Lm 1, 12)”. ¹

Peçamos a Mãe Dolorosa que tenhamos o entusiasmo para todos os aspectos do Seu Divino Filho e, portanto, não sejamos indiferentes às suas dores e sofrimentos morais, que Ele os teve, por causa de nossos pecados. Que não fujamos da Cruz, mas a abraçemos com o mesmo amor que Nosso Senhor tomou em Seus ombros. Sejamos cheios de gratidão por tanto amor com que o Varão das dores nos dedicou.

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Via Sacra composta por Mons. João Clá Dias. Disponível em: http://viasacrajoaocladias.blogspot.com.br/ – Acesso em 15 out 2014.

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A parábola do banquete de casamento

Foi a Igreja ao longo dos séculos convidando sucessivamente todos os povos
para o divino banquete.
“Pregação de São Pedro”
Catedral de Manresa – Espanha

Com a vinda de Jesus Cristo à terra, abriram-se as portas do Céu, eis que todos os homens são convidados a gozarem da eterna felicidade. Para que este convite se efetive por todo o mundo, o divino Salvador deu ordem aos Apóstolos: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi” (Mt 28, 1-14). Este convite para Paraíso Celeste feito por Nosso Senhor é expresso, de modo especial, na parábola do banquete de casamento.

No entanto, para participarmos deste banquete, se faz necessário um traje de festa. Qual é este traje de festa?

Com efeito, segundo São Mateus (Mt 22, 1-14),  Jesus contou a parábola do banquete de casamento do filho do rei, imagem do Reino dos Céus, símbolo da salvação. Para este banquete régio, o rei mandou seus empregados chamar os convidados. Estes recusaram, reagindo uns com indiferença, outros com ódio, a ponto de baterem e matarem os enviados.

Segundo São Gregório Magno, o rei é o próprio “Deus Pai, [que] realizou as núpcias de seu Filho quando O uniu à natureza humana no seio da Virgem, quando quis que Aquele, que era Deus antes do tempo, Se fizesse Homem no tempo” ¹.

Os emissários do rei que foram mortos
representavam os mártires de todos os tempos
“Martírio de Santo Estêvão”
Catedral de Dijon (França)

Já os empregados do rei, segundo a tradição, eram os Profetas e São João Batista, o Precursor. Junto a estes, ao longo da história, outros empregados foram os enviados para chamar os convidados, como Santo Estevão e os mártires. A recusa foi tal, que Jesus, ao contar a parábola, bem sabia que Ele próprio, o Filho do Rei, seria morto e crucificado.

Em face de indigna atitude dos convidados, o que fez o rei da parábola? Mandou chamar todos os que encontrassem pelo caminho, maus e bons. E eis que a festa ficou cheia de convidados.

Todos, enfim, participaram da festa do rei e alegraram-se com o banquete preparado? Entre os convidados, um não pode gozar da esplêndida festa. O que aconteceu?

Narra São Mateus (Mt, 22, 11-12a): “Quando o rei entrou para ver os convidados, observou aí um homem que não estava usando traje de festa e perguntou-lhe: ´Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?`. Diante do silêncio do comensal sem o traje apropriado, à pergunta do rei, este mandou o convidado para as “trevas exteriores”.

Qual era este traje de festa, condição para que o convidado permanecesse e gozasse do banquete régio?

Assim nos traz a explicação, o Fundador dos Arautos do Evangelho, Mons. João Clá Dias: Ora, o que significa este ‘traje de festa’? A interpretação dos exegetas e teólogos coincide em identificá-lo com o estado de graça, no qual deve estar a alma para entrar no Reino dos Céus” ². [grifos nossos]

E continua: “Segundo Santo Hilário, ele representa ´a graça do Espírito Santo e o candor do hábito celestial que, uma vez recebido pela confissão da Fé, deve ser conservado limpo e íntegro até a entrada no Reino dos Céus`”.

Finalizando com São Jerônimo, escreve Mons. João Clá: “E para São Jerônimo simboliza ´os preceitos do Senhor e as obras praticadas conforme a Lei do Evangelho, que confeccionam a vestimenta do homem novo. Se alguém, no dia do Juízo, ali se encontrar com o nome de cristão, mas não tem a vestimenta das bodas, isto é, o traje do homem celestial, e sim aquele manchado, quer dizer, os farrapos do homem velho, no mesmo instante será agarrado e se lhe dirá: ‘Amigo, como entraste aqui`”³.

Em síntese, o traje da festa representa o estado de graça. Se quisermos participar do banquete que o Rei e Senhor tem para nós no Céu, tenhamos esta vestimenta, que é a amizade com Deus, traduzida nesta vida na prática dos ensinamentos de Jesus e de seus Mandamentos. Eis o tesouro por excelência de nossa existência.

Para isto, rezemos com Santo Agostinho: “Ajuda-nos, Senhor, a deixar-nos de desculpas más e vãs e a comparecer a esse banquete… Que a soberba não seja impedimento para irmos ao festim, que não nos emproemos em jactância, nem uma má curiosidade nos apegue à terra, distanciando-nos de Deus, nem a sensualidade estorve as delícias do coração” 4.

Em outras palavras, que nem o orgulho, nem a sensualidade, nem o pecado nos afaste de Jesus, Senhor Nosso, mas antes, a Ele estejamos unidos radicalmente, na graça de Deus, agora e por toda a eternidade.

Que a Virgem fiel, Mãe da Divina Graça, assim nos ajude.

Por Adilson Costa da Costa

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¹ São Gregório Magno. Homiliae in Evangelia. L. II, hom. 18, n.3. In: ____.  Obras. Madrid: BAC, 1958, p. 749-750.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. Um convite feito para todos. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 393.

³ Idem, p. 393.

4 Santo Agostinho, Sermão 112.

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São Pio: a vitória da confiança sobre o inimigo

 Que o inimigo não me diga: “Eu triunfei!”

Nem exulte o opressor por minha queda,

Uma vez que confiei no vosso amor! (Salmo 13, 5-6)

Assim canta o Salmo, a trazer-nos uma súplica do justo que confia em Deus. De fato, esta prece se adequa a qualquer homem confiante em Deus, sobre o qual as dificuldades da vida se apresentam no dia a dia da existência humana. Dificuldades que pedem de nós uma postura de alma de quem está continuamente no “bom combate” por amor a Deus, sobretudo pelo fato de que em nosso torno ronda o inimigo, como um leão, procurando a quem devorar, conforme lemos na Primeira Carta de São Pedro (1Pe 5, 8).

Padre Pio

O santo capuchinho, São Pio de Pietrelcina, compreendeu bem a realidade da vida: lutas pela fidelidade a Nosso Senhor. Este varão de Deus viveu 81 anos, tendo falecido no dia 23 de setembro de 1968. Ciente do quanto existe uma realidade mais real do que a que nossos sentidos percebem, colocou-se numa perspectiva sobrenatural, cheia de confiança e amor a Deus.

Por esta razão, e especialmente porque agraciado com um dom especial, tinha ele um convívio íntimo com o Anjo da Guarda. Conforme comenta Mons. João Clá Dias, Fundador dos Arautos do Evangelho:

“Um traço revelador do privilegiado contato dele com o mundo sobrenatural é a estreita relação que manteve durante toda a vida com seu Anjo da Guarda, ao qual ele chamava de “o amigo de minha infância”. Era seu melhor confidente e conselheiro. Quando ele ainda era menino, um de seus professores decidiu pôr à prova a veracidade dessa magnífica intimidade. Para tanto, escreveu-lhe várias cartas em francês e grego, línguas que o Pe. Pio então não conhecia. Ao receber as respostas, exclamou estupefato: – Como podes saber o conteúdo, já que do grego não conheces sequer o alfabeto?

– Meu Anjo da Guarda me explica tudo.

Graças a um amigo como esse, junto ao auxílio sobrenatural de Jesus e Maria, o Santo pôde ir acrisolando sua alma nos numerosos sofrimentos físicos e morais que nunca lhe faltaram.”¹

São Pio Pietrelcina

Mas qual a utilidade deste exemplo do Padre Pio para nós, de seu amor e confiança em Jesus, Maria e no Anjo da Guarda?

A firmeza do Santo propicia a convicção do quanto devemos nos colocar numa perspectiva sobrenatural em relação à nossa existência. Do contrário, como enfrentarmos tantas provas e a própria investida dos poderes das trevas?

De fato, se quisermos que o inimigo jamais nos diga que triunfou, nem caiamos face às tentações e percalços da existência terrena, confiemos no amor a Jesus, a Maria e ao nosso amigo, o Anjo da Guarda.

São Pio de Pieltricina, rogai por nós!

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Mons. João Clá Dias. A Companhia do Anjo da Guarda. Disponível em: http://www.arautos.org/especial/19541/Sao-Pio-de-Pietrelcina.html . Acesso em 23 set 2014.

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