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Humildade e a fé, lições da Cananéia para os dias de hoje

Quando lemos o Evangelho, vêm-nos luzes de compreensão entusiasmada dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. De variados matizes e cintilações, tais luzes falam em nossas almas, conforme o bem que o Espírito Santo queira nos fazer.

Meditemos sobre a narração que nos faz São Mateus (cf. Mt 15, 21-22) sobre pedido de cura da filha cruelmente atormentada pelo demônio, feito pela Cananéia. É o que nos propõe este XX Domingo do Tempo Comum.

Esta pobre mãe era de um povo pagão, de etnia Cananéia, que habitava no território de Tiro e Sidônia (Líbano atual), e que era rechaçado pelos judeus. Nosso Senhor foi a esta região, não propriamente para pregar, mas para ocultar-se dos seus inimigos que estavam acirrados e cheios de ódio contra sua Pessoa. No entanto, sua fama era tal, que muitos de seus habitantes já tinham ouvido falar de Jesus ou mesmo assistido suas pregações, de acordo com relatos de Marcos (cf. Mc 3, 8) e Lucas (Lc 6,17).

A Cananéia aos pés de Jesus

Com ardor materno, a cananéia suplica: “Senhor, Filho de Davi, tem piedade de mim: minha filha está atormentada por um demônio!”. Qual foi a atitude de Nosso Senhor diante da mulher? Num primeiro momento, Jesus manteve-se em um silêncio que poderia causar desconcerto. Depois, ante a insistência dela, respondeu-lhe: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-los aos cachorrinhos”. Sem intimidar-se, ou sentir-se ofendida, pelo contrário, foi adiante, importunamente, no seu intento: “É verdade, Senhor: mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!”. Qual a consequência desta súplica cheia de fé e humildade: Jesus lhe responde: “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!”.  E continua o Evangelho: “E desde aquele momento sua filha ficou curada” (Mt 15, 28).

No que propriamente consiste a grande fé da Cananéia, que, no entanto, pertencia a um povo pagão?

Esta grande fé, sobretudo consiste em crer em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. E a cananéia tinha esta “grande fé”. É o que diz a Glosa, a respeito do tratamento dela dado a Jesus, quando brada ´Senhor, Filho de Deus`: “Grande fé se nota nessas palavras da Cananéia: ela crê na divindade de Cristo quando O chama de ´Senhor`; e em sua humanidade quando Lhe diz: ´Filho de Davi`.” ¹

Eis aqui o ponto de partida de nossa fé e da condição para obtermos tudo de Deus: crermos em Nosso Senhor. Nossa fé atinge aqui a mais alta condição para conseguirmos algo de Deus, pois não se trata de confiar meramente nos auxílios de um qualquer, (ainda que este fosse o homem mais poderoso, rico e capaz), mas na certeza que nosso Benfeitor, por ser Deus, tudo pode e quer nos ajudar.

Sagrado Coração de Jesus

A respeito deste conhecimento da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem é Ele, e do quanto hoje em dia vive-se na ignorância deste conhecimento, comenta Mons. João Clá Dias, Fundador dos Arautos: “Outro ensinamento que podemos extrair do Evangelho de hoje é a necessidade de nos instruirmos sobre a verdadeira e boa doutrina. A Cananeia ouviu e se informou a respeito dos atos e das pregações de Jesus. Isso lhe foi fundamental para crer. Um grande mal de nossos dias, a ignorância religiosa[…]”.

E acrescenta, trazendo-nos as palavras da Escritura: “Ouvi a palavra do Senhor, filhos de Israel! Porque não há sinceridade nem bondade, nem conhecimento de Deus na Terra. Juram falso, assassinam, roubam, cometem adultério, usam de violência e acumulam homicídio sobre homicídio. […] porque meu povo se perde por falta de conhecimento (Os 4, 1-2,6). ² [grifo nosso]

Aqui está esplendidamente indicado para nós, que tanto necessitamos das graças e favores de Nosso Senhor Jesus Cristo: conhecimento de quem Ele é, aliado consequentemente, a um amor filial, cheio de confiança inabalável na certeza de que Ele tudo nos atende.

Para que este conhecimento amoroso e cheio de confiança em Jesus Cristo nos inunde e acompanhe a alma em nossa existência, roguemos Àquela que nesta terra teve uma fé em seu Divino Filho e humildade como ninguém, e teremos a alegria de em tudo sermos atendidos!

Por Adilson Costa da Costa

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¹ GLOSA, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Mattheum, c. XV, v. 21-28.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. Tudo se obtém pela fé. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Ano A, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 285.

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“Senhor, salva-me!”

No convívio com os nossos conhecidos e amigos somos, frente a algumas situações, tomados de certa compaixão: um que é “assaltado” por uma doença grave, a princípio, incurável, outro angustiado por um drama familiar ou pela dor da irremediável morte que se acomete.

Esse compartilhar o sofrimento do próximo – ou de você mesmo caro leitor, que vivendo uma situação difícil –, nos leva a procurar remediar em algo tal drama, problema ou dificuldade.

Nesse momento poderíamos questionar: O que fazer diante das tempestades da vida que nos assaltam?

Jesus tira São Pedro da água – Catedral de Salamanca – Espanha

Uma luz do Evangelho narrado por São Mateus (Mt 14, 22-23), apresentado no XIX Domingo do Tempo Comum, irradia um conselho para além daquilo que naturalmente somos incapazes de fazer.

Com efeito, após a multiplicação dos pães, Jesus ficou com as multidões para despedi-las e mandou aos Apóstolos irem de barca para o outro lado do mar. Acontece que em plena madrugada, após esforços inúteis no sentido de avançar com ligeireza naquela navegação, devido ao agitado do mar e vento contrário, em meio à violenta tempestade, Jesus aparece caminhando sobre as águas; então Pedro Lhe disse: “Senhor, se és Tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água” (Mt 14, 28). Diante do “vem” de Jesus, ele começou a andar, porém, assustado com o vento, ficou com medo e começou a afundar.

O que fez Pedro ao afundar nas águas? Gritou: “Senhor, salva-me!”

Caro leitor, quantas vezes presenciamos ou vivenciamos situações tempestuosas na nossa existência! Momentos em que parecemos afundar irremediavelmente. Sentimo-nos como uma barca a naufragar e tendemos a perder a esperança.

Como comenta Mons. João Clá Dias, a propósito deste Evangelho: “Essa é a nossa história: ao longo de nossa caminhada rumo ao Reino Eterno, sempre acontece, mais cedo ou mais tarde, diminuir-nos o fervor ou, às vezes, até sua sensibilidade chegar à estaca zero. E, assim, somos provados em nossa fé. Ai de nós se, nessas circunstâncias, nos esquecermos de que tudo quanto temos de bom vem de Deus! Se à primeira tentação perdermos o entusiasmo e a confiança, acabaremos por sentir a lei da gravidade cobrando o peso de nossa própria miséria: infalivelmente pereceremos”¹.

Nossa Senhora de Fátima – Arautos do Evangelho

E qual é a solução para não perecermos ante os problemas e tentações contra a fé?

O Fundador dos Arautos conclui: “A única solução para nós, nessa hora, será imitarmos São Pedro, gritando: ‘Senhor, salva-me!’”².

Em outros termos. Coloquemos nosso olhar no Divino Salvador, roguemos com confiança e Ele nos salvará das dificuldades – sejam quais forem –, ou então nos dará forças e animo para bem suportá-las. Sobretudo se soubermos invocar Aquela que é a intercessora junto ao Seu Divino Filho, a Estrela do Mar, Consoladora dos aflitos, pois conforme nos aconselha São Bernardo:

“Ó tu, quem quer que sejas, que te sentes longe da terra firme, arrastado pelas ondas deste mundo, no meio das borrascas e tempestades, se não queres soçobrar, não tires os olhos da luz desta estrela” ³.

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. Até onde deve chegar nossa fé. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Ano A, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 269-270.

² Mons. João S. Clá Dias, EP, op. cit, p. 270.

³ São Bernardo de Claraval. Olha a Estrela, Invoca Maria! In: http://africa.blog.arautos.org/2014/05/olha-a-estrela-invoca-maria/. Acesso em 07 ago 2014.

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“Assim brilhe a vossa luz”

Todos nós somos cercados de realidades, as mais diversas possíveis, algumas das quais, inteiramente banais, corriqueiras e, se diria, inteiramente sem expressão ou maior alcance. No entanto, posto que tais realidades se dão na presença de Deus, elas tomam uma perspectiva revestida de seriedade, de significado.

Quantas vezes, ao escurecer, levamos, sem maiores reflexões, a mão ao interruptor para acender uma lâmpada e iluminar uma sala. Executamos tal ação de forma inteiramente mecânica. No entanto, consideremos o seguinte: ao apertar o interruptor, “aciona-se” a passagem da eletricidade pelo filamento de tungstênio da lâmpada e esta ilumina o ambiente.

Ora, isto que é tão simplório, tem um expressivo significado para nossa vida espiritual. É o que comenta Mons. João Clá Dias, EP, ao refletir sobre as palavras divinas de Jesus, “Vos sóis a luz do mundo” (V Domingo do Tempo Comum).

Com efeito, diz o Fundador dos Arautos: “Confiando-nos a missão de sermos a ‘luz do mundo`, Jesus nos convida exatamente a participar de sua própria missão, a mesma que fora proclamada pelo velho Simeão no Templo, quando tomando o Menino Deus nos braços, profetizou que Ele seria a ´luz para iluminar as nações` (Lc 2, 32). Nosso Senhor veio trazer a luz da Boa-Nova e do modelo de vida santa. A doutrina ilumina e indica o caminho, enquanto o exemplo edificante move a vontade a percorrê-lo”. ¹

Ora, Nosso Senhor é o Caminho, a Verdade e a Vida. Como discípulos dele, somos chamados, enquanto “luz do mundo”, especialmente em nossos dias em que se vai desbotando, apagando a noção do bem e do mal, da verdade e do erro, do belo e do feio, a amarmos e vivermos os ensinamentos de Jesus. Eis aqui o melhor que podemos oferecer ao próximo: cultivarmos a amizade de Deus e fazermos o apostolado do bom exemplo.

Mas, o que é necessário para isso tal?

“Para que isto se concretize – continua Mons. João C. Dias – a condição é sermos desprendidos e admirativos de tudo o que no universo é reflexo das perfeições divinas, de modo a sempre procurarmos ver o Criador nas criaturas. Assim, nossas cogitações e nossas vias terão um brilho proveniente da graça.”

E retomando a abordagem no início do artigo, sobre a lâmpada e o tungstênio: “Expressiva figura dessa realidade espiritual nos é proporcionada pela lâmpada elétrica incandescente. O tungstênio é, em si, um elemento vil e de escassa utilidade. No entanto, perpassado pela corrente elétrica e em uma atmosfera na qual o ar foi substituído, ele ilumina como nenhum outro metal. A eletricidade representa a graça divina, enquanto a debilidade do tungstênio bem simboliza o nosso nada”.

Assim, apesar de nosso “nada”, se nos deixarmos penetrar pela graça de Deus, “como filamentos de tungstênio ligados à corrente da graça, poderemos ser transmissores da verdadeira luz para o mundo”. ²

Em outros termos, correspondamos à graça de Deus, nos deixemos embeber por ela e nos movamos em função dela, na prática dos Mandamentos, e assim irradiaremos “a luz do bom exemplo” sobre os ambientes, as mentalidades e as vidas das pessoas que nos cercam, cumprindo o conselho de Nosso Senhor: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens” (Mt 5, 16)

Por Adilson Costa da Costa

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1  Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 61.
² Idem, p. 62

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O pedregulho, o colibri e o filho de Deus

Um dos atrativos ao realizarmos uma viagem às alterosas de Minas Gerais é visitar as cidades históricas e podermos desfrutar – ainda que talvez não compremos – as lindas pedras preciosas e semipreciosas expostas em inúmeras lojas. Muitas delas, naturalmente belas, tomam ainda mais esplendor quando o engenho humano as transforma em magníficas joias. Entre estas, podemos contemplar lindos pássaros, águias, papagaios, beija-flores.

Imagine-se o leitor, num desses passeios, entrando em uma loja de pedras e contemplando um lindo colibri. De repente, alguém transforma esta joia em um colibri vivo. Pergunto: ficaria ou não impressionado, talvez sem saber o que dizer? Não é por menos, pois seria tal o prodígio!

Mas aonde se quer  chegar com esta imaginação tão curiosa?

Este fato imaginário veio a propósito de uma linda e quão útil abordagem apresentada por Mons. João Clá Dias, EP ao comentar a Festa do Batismo do Senhor que celebramos no término Tempo do Natal. Vejamos as luzes que cintilam desta celebração.

Com efeito, em nossas primeiras lições de Catecismo aprendemos que o verdadeiro cristão é aquele que é batizado, crê e professa a doutrina e a lei de Jesus Cristo. Este conceito é tão simples e ao mesmo tempo de uma grandeza extraordinária. Por quê?

Consideremos o significado do batismo: ele nos torna autênticos filhos de Deus. A tal ponto que o Catecismo da Igreja Católica assim o definiu: “O Sacramento do Batismo é o fundamento de toda a vida cristã […]. Pelo Batismo somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão” 1.

E o que é ser filho de Deus?

É “simplesmente” termos uma “filiação real, porque por meio deste Sacramento Deus enxerta em nós sua própria vida […] é infundida uma qualidade sobrenatural que a torna deiforme, ou seja, semelhante a Deus em sua própria divindade”. E qual a consequência? “E com a graça santificante a alma recebe, por ação divina, as virtudes […] e os dons, pelos quais passa a agir como Deus” 2.

Retomando nossa introdução, entendemos a afirmação do Fundador dos Arautos: “Toda a pregação de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja tem como núcleo o convite para sermos filhos de Deus pelo Batismo. Este é um dos maiores milagres que é possível fazer. Se alguém transformasse um pedregulho em colibri, faria um milagre muito menor do que o operado no Batismo. Entre a pedra e o colibri há certa proporção, pois ambos pertencem à natureza material. Mas, tornar uma criatura humana partícipe da natureza divina é um salto infinito, que Nosso Senhor nos concede com o Batismo” 3 [grifo nosso].

Assim, caro leitor, seja esta Festa do Batismo do Senhor uma ocasião muitíssimo especial para nos compenetrarmos deste milagre que Ele realizou em nós quando fomos batizados: o de sermos filhos de Deus.

Não há, na face da terra, título maior do que este: filho de Deus. E peçamos assim a graça, por meio de Nossa Senhora, de correspondermos à filiação divina, não a renegando por nada, renunciando às “glórias” do mundo desvinculadas ou contrárias a esta filiação.

Por Adilson Costa da Costa

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1 Catecismo da Igreja Católica. Tópico n. 1213: o Sacramento do Batismo. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 340
2 Mons. João S. Clá Dias, EP. A alma divinizada. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. I, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 169.
3 Mons. João S. Clá Dias, EP. Somos verdadeiros filhos de Deus! In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. I, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 167.

 

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A sensibilidade aos toques da graça

Quem nos dá a honra e a alegria de acompanhar os artigos aqui publicados provavelmente também sabe degustar um bom prato, por exemplo, uma iguaria italiana saborosa, como uma boa pizza mussarela ou calabresa, ou uma lasanha típica, acompanhados de um excelente vinho ou, conforme a preferência de não poucos, de uma cerveja típica alemã ou até brasileira, por sinal várias delas, muito boas. Tudo isto tem seu papel na vida, quando apreciado com temperança e virtude.

Porém, permita-me uma pergunta que talvez surpreenda o leitor: temos esta sensibilidade aos sabores, perfumes, para a boa música, para tantos aspectos naturais apreciáveis criados por Deus e desenvolvidos pela civilização cristã. Contudo, temos esta mesma sensibilidade, num plano superior, para os aspectos espirituais? Como anda caro leitor, nossa sensibilidade para perceber, “saborear” a graça de Deus que continuamente toca a nossa alma?

Consideremos a Solenidade da Epifania do Senhor, num dos seus numerosos aspectos. Narra-nos o evangelista São Mateus (Mt 2, 1-12) a chegada dos três Reis Magos do Oriente para adorarem o Menino Jesus, trazendo seus presentes: ouro, incenso e mirra. Parece tão simples este episódio, que poderia se pensar que os três personagens empreenderam esta viagem como alguém hoje em dia poderia realizar um passeio de viagem de férias, com toda a naturalidade, sem percalços ou riscos, tudo se dando na maior tranquilidade. Não foi isto que se passou com os reis magos: para aquela época, com estradas precárias, onde os assaltantes e animais ferozes ficavam a espreita de cobiçadas vítimas, esta jornada era propriamente uma aventura. Mas eles a empreenderam decididamente. O que os moveu a tal?

Alguém poderá responder: foi a estrela de Belém que apareceu e eles, impressionados, resolveram segui-la. Pode-se, entretanto, objetar: este, como outros sinais – por exemplo, os relatos dos pastores – deram a conhecer o nascimento do Salvador. O mesmo se pode dizer a respeito das inúmeras profecias, inteiramente conhecidas pelo povo judeu. Onde estavam, além dos Reis Magos, estes outros que tomaram ciência de tais sinais? Por que não foram adorar o Menino Deus?

Muito sugestivo e fundamentado em São Tomás, é o comentário de Mons. João Clá, EP, a propósito: “Tanto aos pastores quanto aos Reis, o Espírito Santo falou no fundo da alma, inspirando-lhes a fé no advento do Messias. Com efeito, muitos outros avistaram a estrela, pois ela não fora invisível, e vários conheceram também o relato dos pastores de Belém, na noite de Natal; todavia, nem todos acreditaram, só aqueles que foram favorecidos por moções do Espírito Santo” (1).

E continua o Fundador dos Arautos: “Por isso ressalta São Tomás o papel da graça, como um raio de verdade mais luminoso que a estrela, a instruir os corações dos Magos. É, então, mais importante a comunicação direta do Espírito Santo, do que os meros sinais sensíveis. A tal ponto que, para os justos, como Ana e Simeão, habituados a discernir a voz de Deus em seu interior, não foi necessária a aparição de Anjos ou o surgimento de estrelas, ou qualquer indicação extraordinária de que aquele era o Filho de Deus, o Messias prometido”.

Eis aqui, o mais importante: é a graça de Deus.

Porém, Deus quer de nossa parte, que tenhamos sensibilidade para perceber e compreender a graça do Espírito Santo agindo em nós, ainda quando estas manifestações sobrenaturais não venham com os sinais sensíveis. E para que esta sensibilidade e o nosso sim para com a graça de Deus se façam, é preciso de nossa parte não estarmos voltados às coisas passageiras e efêmeras da terra – conforme a expressão metafórica de São Luis Maria Grignion de Montfort – de modo parecido com os sapos, mas é preciso ter o espírito de águia, para voarmos e contemplarmos as coisas do Céu.

Assim, peçamos que os três Santos Reis Magos nos obtenham, daquela que é a Esposa do Espírito Santo, a graça que eles mesmos receberam e corresponderam: a abertura e a sensibilidade para os toques da graça. Deste modo, assim como estes Reis seguiram a estrela e ofertaram presentes ao Menino, tenhamos fidelidade a todos os desejos e inspirações do Divino Espírito e a entrega completa e amorosa à sua divina ação. (3)

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. O Espírito Santo e nossos maravilhamentos? In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. I, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 152
(2) São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. 42ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 84.
(3) Devocionário Arautos do Evangelho. São Paulo: Edições Loyola, 2007, p. 129-130.
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