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Frase da Semana – Natividade de Maria

“A nossa celeste menina, tanto por causa de seu ofício de medianeira do mundo, como em vista de sua vocação para Mãe do Redentor, recebeu, desde o primeiro instante de sua vida, graça mais abundante que a de todos os Santos reunidos”

Santo Afonso de Ligório (1)

Nascimento da Virgem Maria – Pinturas em madeira por F. E. Meloche, 1886 – Capela Notre Dame de Bon Secours – Montreal, Canadá

A Natividade de Maria, celebrada em 08 de Setembro é certamente uma data muitíssimo especial para todos os devotos desta grande Mãe. Como ilustra Santo Afonso nesta Frase da Semana, a grandeza imensa da vocação de Mãe do Redentor tornou necessário que Maria recebesse todas as graças de Deus para cumprir este chamado grandioso. E Ela as recebeu em abundância: Filha Bem Amada de Deus Pai, Mãe admirável de Deus Filho e Esposa Fidelíssima de Deus Espírito Santo.

Como é doce, como é sublime, como traz alegria ao nosso coração ver um grande Santo, como Santo Afonso, chamar Maria Santíssima de “nossa celeste menina”. Esta invocação nos leva, necessariamente a imaginar, a contemplar Maria pequenina, como uma criança frágil, dependente de cuidados maternos – e que cuidados certamente recebeu Ela de sua mãe, Santa Ana, desde os seus primeiros instantes de vida! Ali já estavam prenunciadas as grandezas dAquela que, posteriormente, apesar de sua profunda humildade, iria declarar: “O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor” (Lc 1,48-49).

O Fundador dos Arautos do Evangelho, Monsenhor João Clá Dias, em seu magnífico livro Pequeno Ofício da Imaculada Conceição (2) traz pensamentos de muitos santos e teólogos a respeito dessa grande data, deste fabuloso aniversário que comemoramos hoje: O aniversário de Maria Santíssima!

Que alegria representou para humanidade o nascimento de Maria: A chegada do Redentor já está próxima. Em apenas mais alguns anos – que nada representam para quem havia esperado, desejado a vida do Redentor por tanto tempo! – esta menina receber a saudação do Arcanjo São Gabriel: “Ave, cheia de graça: o Senhor é contigo!” e estará iniciada a obra da Redenção.

Incentivados pela devoção de seu Fundador a Nossa Senhora, os Arautos do Evangelho prepararam uma matéria especial, em seu site para comemorar esta grande data. Vale a pena meditá-la em todos os seus ricos detalhes! (3)

Que a alegria da Natividade de Maria seja a luz – não apenas para esta semana – mas para toda a nossa vida! Salve Maria!


(1) Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. Aparecida-SP: Ed. Santuário, 1989, p. 265.

(2) Monsenhor João Clá Dias. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. São Paulo: ACNSF/Instituto LumenSapientiae, 2011. Disponível para venda pela internet, através da Livraria Católica: www.lumencatolica.com

(3) Arautos do Evangelho. Natividade de Maria. Disponível em: http://www.arautos.org/especial/19039/A-Natividade-de-Maria.html

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Devoção a Nossa Senhora Comentários à Salve Rainha – (Parte VIII)

Virgen de la pera - Museu do Prado, MadriSalve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa,

esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

 E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre,

 ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

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E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre”

Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja nasceu em Nápoles (Itália) em 27 de setembro de 1696 e morreu em 01 de agosto de 1787. Fundou a Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas). Viveu 90 anos e teve uma vida de muitas batalhas e provações, entre as quais, por exemplo, ter sido expulso, por causa de intrigas, da Ordem religiosa que ele próprio fundara.

Santo Afonso Maria de LigórioÉ um dos escritores católicos mais fecundos, tendo publicado mais de 100 obras, abordando, principalmente a Teologia Moral. Escreveu um Tratado sobre a Oração que até hoje é uma das principais referências nessa matéria, no qual anima os católicos à confiança na oração incessante. Destaca-se também por sua entusiástica devoção a Nossa Senhora e, entre as suas principais obras está Glórias de Maria, que teve a sua primeira publicação em 1750. Um livro ao mesmo tempo simples, acessível e completo sobre Maria Santíssima, que já teve quase 1.000 edições no mundo todo.

Enfim, Santo Afonso é, como muitos outros Santos, um orgulho para os católicos. É verdade que, em geral, Deus não escolhe os mais capacitados; mas, com sua Graça, capacita os mais escolhidos. Mas, por outro lado é muito bom ver os mais capazes, em termos de dons naturais, servindo a Deus com afinco, dedicação e fidelidade. Santo Afonso é a prova de que é possível sim, ser brilhante, capaz e ao mesmo tempo, servir com entusiasmo a Igreja de Deus.

De inteligência rara, já aos 18 anos Afonso era um advogado reconhecido por sua capacidade, doutorado em direito civil e eclesiástico, com uma carreira de sucesso pela frente, podendo alcançar com facilidade tudo o que o mundo lhe proporcionasse. Porém, tudo abandona por amor a Deus, e abraça a vocação religiosa, dedicando-se ao sacerdócio. Sempre creditou a sua conversão à intercessão de Nossa Senhora. Com imensos talentos intelectuais, destacava-se, entretanto, por sua humildade, como atesta o fato a seguir, narrado na apresentação do livro Glórias de Maria:

Tendo junto a si um crucifixo e o quadro de Nossa
Senhora da Esperança que ele mesmo pintara,
Santo Afonso entregou serenamente
sua alma a Deus no dia 1º de
agosto de 1787

Era o dia 25 de outubro de 1784, numa pobre cela do convento redentorista de Pagani. O velho Padre Afonso de Ligório, todo recurvado pela artrose, ouvia atentamente o Irmão Romito que lia para ele um livro de piedade. O velhinho parecia cochilar. Mas, de repente, interrompeu a leitura: – “Irmão, quem é o autor desse livro tão belo sobre Maria?” O irmão enfermeiro arqueou as sombrancelhas, sorriu levemente e, com uma ponta de malícia, leu: – “‘As Glórias de Maria’ pelo ilustríssimo Dom Afonso de Ligório…”

Padre Afonso ficou um instante com os lábios entreabertos, ligeiramente desconcertado, e acabou dizendo: – “Meus Deus, eu vos agradeço o terdes me inspirado essa obra em honra de vossa Mãe Santíssima. Como é bom, às portas da eternidade, poder pensar que fiz alguma coisa para semear nos corações a devoção a Maria!”.(1)

E como é bom podermos ainda hoje apreciar esse tesouro!

Tendo feito este pequeno passeio e saboreado um trecho da biografia deste grande Santo, avancemos na meditação da Salve, Rainha.

Os novíssimos do homem

Como já referenciado em outra parte destes comentários(2), enquanto caminhamos para nossa Pátria celeste, nossa vida sobre a terra é um desterro, um exílio. Nesta invocação, pedimos a Nossa Senhora que, depois deste período transitório, Ela nos mostre Jesus, ou seja, que interceda por nós junto a Seu Divino Filho. Que seja nossa Auxiliadora durante este desterro e também depois deste desterro.

O Livro do Eclesiástico nos lembra: Em todas as tuas obras lembra-te dos teus Novíssimos, e jamais pecarás” (Cf. Eclo 7, 40). De fato, são as últimas coisas que nos acontecerão neste vale de lágrimas, ao encerrarmos nosso tempo de exílio. “O primeiro [novíssimo] é a morte, seguida do Juízo Particular, do qual resultará o prêmio ou o castigo eterno”(3)

Santo Afonso de Ligório nos convida a meditar sobre o papel que Maria Santíssima exercerá durante estes acontecimentos finais de nossa vida terrena, que culminarão no nosso destino eterno. Para o devoto de Nossa Senhora, a intercessão que Ela exerce será de grande valia nessa hora extrema: na hora de nossa morte, no nosso juízo particular e, ainda, caso a nossa alma não esteja completamente limpa e formos ao Purgatório, Ela intervirá para livrar dos sofrimentos e levar para o Céu o quanto antes os seus filhos queridos,

Comenta Santo Afonso que “é impossível que se perca um devoto de Maria, que fielmente a serve e a Ela se encomenda”.(4) Citando ainda vários santos, afirma: quem serve a Maria fiel e devotamente em sua vida, procurando honrá-la, não morrerá em pecado:

“[Maria] como Mãe deseja a nossa salvação mais do que nós a desejamos. Ora, assim sendo, como poderá perder-se um fiel devoto de Maria? E ainda que seja pecador, salvar-se-á, se com perseverança e propósito de emenda se encomendar a essa boa Mãe. Ela o levará ao conhecimento de seu miserável estado, ao arrependimento de seus pecados. Obter-lhe-á a perseverança no bem e finalmente uma boa morte”.(5)

É sobretudo no momento de nossa morte que Maria vem em nosso auxílio, porque Jesus, seu Filho, no-La deu por Mãe no momento de sua própria morte”.(6) Proporciona uma boa morte a seus fiéis devotos esta boa Mãe, e também roga por eles no momento de seu Juízo particular. Continuemos com Santo Afonso:

“Quem ousará dizer-me, escreve Ricardo de S. Vítor, que Deus não me será propício no dia do juízo, se estiverdes ao meu lado, ó Mãe de Misericórdia? – O Beato Henrique Suso protestava que às mãos de Maria havia confiado a sua alma. Se o juiz tivesse de condená-lo, queria que passasse a sentença pelas mãos misericordiosas da Virgem porque, como esperava, nesse caso ficaria suspensa a execução. O mesmo digo e espero para mim, ó minha Santíssima Rainha. Por isso quero repetir continuamente com S. Boaventura: Em vós, Senhora, pus toda a minha esperança, por isso seguramente espero não me ver perdido, mas salvo no céu para louvar-vos e amar-vos para sempre”.(7)

Maria socorre seus devotos no purgatório

As almas do purgatório são muito necessitadas de auxílio e de oração, pois já não podem ter nenhum tipo de merecimento, ou seja, não podem rezar por si mesmas. Por essas almas, empenha-se muito especialmente a Mãe de Misericórdia. “Revelou Nossa Senhora a S. Brígida: Eu sou a Mãe de todas as almas do purgatório; pois por minhas orações lhes são constantemente mitigadas as penas que mereceram pelos pecados cometidos durante a vida”.(8)

O que dizer ainda dos privilégios do escapulário do Carmo?

“Conhecidíssima é a promessa que Maria fez ao Papa João XXII. Apareceu-lhe um dia e lhe ordenou fizesse saber a todos aqueles que trouxessem o escapulário do Carmo que seriam livres do purgatório no primeiro sábado depois da morte”(9)

Esta riquíssima devoção do escapulário a Igreja torna acessível a todos quantos a queiram desfrutar. Os Arautos são incansáveis divulgadores desta devoção, pois, de fato, não é pouca coisa receber a visita de Maria Santíssima e ser livre do purgatório no primeiro sábado depois da morte! E todo sacerdote tem a investidura para benzer e impor os escapulários. Realmente, uma graça estupenda!(10)

Finalmente, depois de ter-lhes dado uma boa morte, tê-los acompanhado durante o juízo e tê-los livrado do purgatório, Maria Santíssima leva seus devotos para o Paraíso. Não sem razão, a Igreja lhe chama “Porta do Céu”. Sobre essa invocação, comenta Santo Antonio Maria Claret:

“Nossa Senhora pode salvar a seus verdadeiros devotos; Ela o quer, e o faz. Pode, porque é a porta do Céu; quer, porque é a Mãe de misericórdia. Maria o faz, porque obtém a graça justificante aos pecadores, o fervor aos justos e a perserverança aos fervorosos. Por isso os santos Padres A chamam a resgatadora dos cativos, o canal da graça e a dispensadora das misericórdias. (…)

E quando a Igreja diz que esta incomparável Rainha é a porta do Céu e a janela do Paraíso, nos ensina com essas palavras que todos os eleitos, justos e pecadores, entram na mansão da glória pela mediação de Nossa Senhora, com esta única diferença: que os justos entram por Ela como pela porta aberta; mas os pecadores [arrependidos], pela janela que é Maria. Depois de Jesus, nEla devemos pôr toda nossa confiança e esperança de nossa eterna salvação”.(11)

Portanto, durante todo o curso deste desterro – que é a nossa vida terrena – e quando tivermos que comparecer diante de Deus após nossa morte, confiemos sempre, sem cessar na intercessão de nossa Rainha, que, ao mesmo tempo é Mãe de nosso Juiz. Coloquemos em suas mãos Virginais o nosso destino eterno, com a certeza da vitória até o Céu!

Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos, rogai por nós!

Por Prof. João Celso

1) Fl. Castro, C.SS.R. Apresentação. Glórias de Maria (de Santo Afonso de Ligório). 3ª ed. Aparecida: Ed. Santuário, 1989.
3) Monsenhor João Clá Dias. Os novíssimos do homem. http://www.arautos.org/artigo/6077/Os-novissimos-do-homem- Comentários ao Evangelho. 13/07/2009.
4) Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. Ed. Aparecida: Editora Santuário, 1989, p. 182.
5) Ibidem, p. 185
6) Monsenhor João Clá Dias. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. 2ª. Ed. São Paulo: ACNSF/Loyola, 2011. p. 310
7) Santo Afonso Maria de Ligório, op. cit. p. 188
8) Ibidem, p. 191
9) Ibidem, p. 193.
10) Maiores informações sobre o escapulário do Carmo. Consulte o site dos Arautos do Evangelho:http://www.arautos.org/artigo/64/Como-receber-e-usar-o-Escapulario-
11) Santo Antonio Maria Claret apud Monsenhor João Clá Dias, op. cit. p. 292.

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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte V)

 Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas

A incomparável bondade de Deus presenteou o mundo e os homens que nele habitam com uma quantidade enorme de belos e encantadores vales.

O Grand Canyon, Colorado, EUA

Esses acidentes geográficos podem variar enormemente de extensão, comportando apenas alguns quilômetros, como também milhares de quilômetros quadrados de área. Geralmente se constituem em uma área de baixa altitude, na qual corre um rio, cercado de montanhas. Podem ser vales desertos e quase sem vegetação, como o Grand Canyon, localizado nos Estados

Castelo de Neuschwanstein, Alemanha

Unidos e descoberto por espanhóis no século XVI. Este vale, imenso, chega a ter profundidades de 1.600 metros! Podem ser também imensos vales verdejantes, cercados por montanhas cobertas por neve, ou por abundantes florestas verdes, nas quais, com elegância, pode um imponente castelo ocupar lugar de destaque na paisagem, como por exemplo o Castelo de Neuschwanstein, que por sua graça e beleza é o edifício mais fotografado na Alemanha.

Na França existe um vale muitíssimo famoso, o Vale do Loire, também conhecido como Jardim da França. Toda a paisagem do rio Loire é coberta por castelos magníficos, que demonstram como a genialidade humana, quando corresponde aos estímulos do Evangelho, pode emoldurar ainda mais a já privilegiada natureza da região. A esses castelos acorrem visitantes do mundo inteiro, em todas as épocas do ano, para contemplar a sua grandiosidade e beleza únicas. Seus castelos mais famosos são os de Chambord e Chenonceau, além de outras dezenas, igualmente visitados e referenciados.

Castelo de Chenonceau, Vale do Loire, França

 

Castelo de Chambord
Vale do Loire, França

Neste nosso Brasil, abençoado por Deus com uma natureza rica e variada, temos também os nossos verdes e exuberantes vales, cujos rios caudalosos fazem os rios da Europa parecerem pequenos riachos. São também de uma beleza extraordinária e proporcionam àqueles que os visitam uma sensação de bem estar, como que uma antessala do que seria o Paraíso terrestre, do qual, em consequência do pecado, foram expulsos nossos primeiros pais.

Em outras palavras, a admiração a esses vales nos remete à grandeza de Deus e nos fazem imaginar como será o Céu, que Ele tem preparado para nós desde toda a eternidade. Enfim, seja para um descanso de férias, seja numa viagem a trabalho, quantos de nós não gostariam de visitar, conhecer e – quem sabe! até morar em um desses vales. De fato, não seria pequena a satisfação de constantemente contemplar a natureza intocada, ou a natureza redesenhada pelo homem, cuja contemplação nos remete a nosso fim último.

No entanto, ainda como consequência do pecado de nossos primeiros pais, nós somos constrangidos a morar e a conviver uns com os outros em outro vale: O vale de lágrimas. Com efeito, a oração da Salve Rainha, nos convida a recorrermos a Nossa Senhora, “suspirando, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Esta frase nos indica que não podemos ter felicidade plena, completa, nesta terra. Sempre estaremos cercados de problemas, ou doenças, ou provações, algum tipo de infelicidades, as quais nos fazem suspirar, gemer e chorar. E esse nosso lamento só pode ser aliviado com a presença de Deus em nossas vidas. Por que Deus permite que isso seja assim? Comenta o Monsenhor João Clá, EP, fundador dos Arautos:

Assim como o carvão, para se transformar em diamante, precisa ser submetido às altíssimas temperaturas e pressões encontradas nas entranhas da Terra, nossas almas necessitam do sofrimento, neste vale de lágrimas, para merecermos a glória celeste. E para bem suportarmos os padecimentos que nos esperam, façamos, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, o pedido contido no salmo: ‘Sobre nós venha, Senhor, vossa graça, pois em Vós esperamos’ (Sl 32, 22)”(1).

Portanto, sempre que tivermos sofrimentos a enfrentar – e sempre os teremos, somos convidados a recorrer a Nossa Senhora, que poderá nos amparar com as suas graças. Nesse sentido, ensina-nos Santo Afonso de Ligório:

Que o recorrer, pois, à intercessão de Maria Santíssima seja coisa utilíssima e santa, só podem duvidar os que são faltos de fé. O que, porém, temos em vista provar é que esta intercessão é também necessária à nossa salvação. Necessária, sim, não absoluta, mas moralmente falando, como deve ser. A origem desta necessidade está na própria vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças que nos dispensa.”(2)

Exatamente no mesmo sentido, complementa S. Luís Maria Grignion de Montfort:

Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua fiel esposa, seus dons inefáveis, escolhendo-a para dispensadora de tudo que ele possui. Deste modo ela distribui seus dons e suas graças a quem quer, e dom nenhum é concedido aos homens, que não passe por suas mãos virginais. Tal é a vontade de Deus, que tudo tenhamos por Maria e assim será enriquecida, elevada e honrada pelo Altíssimo, aquela que, em toda a vida, quis ser pobre, humilde e escondida até ao nada”(3)

Temos em nossas vidas momentos de calmaria, mas temos também momentos de tempestade. O mais importante é estarmos sempre agarrados à mão de nossa Protetora, Aquela que nos ajuda a atravessar o vale de lágrimas e chegar ao outro lado. Que a nossa confiança cresça a cada dia, e não deixemos jamais de recorrer ao auxílio de nossa Mãe Santíssima!

Por Prof. João Celso

Na próxima parte:

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei

1) Monsenhor João Clá Dias. Há vida sem sofrimento? Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2012, p. 10 a 17.
2)Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. ed. Aparecida: SP, Editora Santuário, 1989. p. 132
3)São Luis Maria G. de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 38ª. Ed. Petrópolis: RJ, Vozes, 2009. P. 31

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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte II)

 

Nossa Senhora Rainha dos Corações

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,
vida, doçura e esperança nossa, salve!
A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.
A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.
E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre,
ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.

R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia”

Uma oração magnífica, completa, rica em significados, capaz de condensar, em uma única frase, vários aspectos da realeza e da maternidade de Nossa Senhora, resumindo, em doces palavras o papel dado a Ela por Deus, tendo em vista a nossa Salvação. Uma única frase comportaria anos de estudo, anos de meditação, quem sabe uma eternidade inteira devotada a saboreá-la. Pois, como menciona S. Luís no Tratado: “De Maria nunquam satis… Ainda não se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço ela merece” (1).

Pois bem: o que significa para a nossa vida espiritual invocar Maria como Rainha, como Mãe de misericórdia? Em primeiro lugar, analisemos, com Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja, o significado do título de Rainha dado a Nossa Senhora:

Santo Afonso Maria de Ligório

Tendo sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja a honra, e quer que de todos seja honrada com o título glorioso de Rainha. (…) Desde o momento em que Maria aceitou ser Mãe do Verbo Eterno, diz S. Bernardino de Sena, mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas as criaturas. (…) Se Jesus é rei do universo, do universo também é Maria Rainha. De modo que, quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas também devem servir a Maria. Por conseguinte estão sujeitos ao domínio de Maria os anjos, os homens e todas as coisas do céu e da terra, porque tudo está também sujeito ao império de Deus.(2)

Citando vários teólogos, doutores e santos da Igreja, na mesma linha de pensamento, o Monsenhor João Clá, EP, fundador dos Arautos do Evangelho, explica em sua obra magistral Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado os fundamentos da realeza de Maria:

Os títulos pelos quais podemos chamar Nossa Senhora de Rainha, são os mesmos de Cristo. Na ordem sobrenatural a graça coloca Maria tão acima de toda criatura, que não pode deixar de ser a Rainha natural do mundo (incluídos homens e Anjos). A isto, porém, deve se acrescentar, como sempre, o título jurídico de sua maternidade, fonte de todas suas prerrogativas e funções. Maria é a Mãe do Rei e deve desfrutar das honras de Rainha-Mãe.

Maria participou estreitissimamente e de maneira muito especial, nas grandezas e nas humilhações de Jesus Cristo, para não ser com Ele coroada de glória e de honra, elevada com Ele acima dos próprios Anjos, partilhando sua soberania, Rainha-Mãe ao lado do Rei seu Filho.(3)

A realeza de Maria, portanto, é real, efetiva e procede da vontade do próprio Deus. Maria é Rainha. Porém, essa realeza é exercida, sobretudo, nos corações. Com sua brilhante devoção e com um amor ardoroso à Mãe de Deus, S. Luís assegura, no Tratado, que Maria “recebeu de Deus um grande domínio sobre as almas dos eleitos” e quer moldar no coração de seus súditos “as raízes de suas virtudes” e não poderá fazê-lo se não tiver sobre eles “direito e domínio”.(4)

Maria, Rainha dos Últimos Tempos

Pensar em “domínio”, ou, em “ser dominado” pode gerar certo desconforto em algumas almas; certa apreensão. Numa época em que predomina em muitos ambientes uma mentalidade de independência e de autossuficiência, pode parecer desproporcional que alguém exerça domínio sobre outro. Parte dessa mentalidade se deve ao fato de que, infelizmente, em muitos lugares do mundo, ainda existem tiranos que exercem o poder pela força, subjugando e explorando os mais fracos, sem nenhuma misericórdia, o que é abominável, sob todos os aspectos, perante Deus e perante os homens. Mas, temos que reconhecer que a maior tirania, sem dúvida é a escravidão ao pecado, que “desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança”(5) E, nesse sentido, qual de nós pode dizer de si mesmo não ser carente da misericórdia de Deus? Quantas vezes temos que, a exemplo do publicano, bater no peito a cada dia e dizer: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador” (Cf. Lc 18,13). Dessa tirania do pecado, vem a nossa Rainha nos libertar!

O receio dá lugar a doce confiança

Devemos, pois, considerar, que ao mesmo tempo em que exerce a realeza e é Rainha em toda a acepção da palavra, Maria Santíssima é também Mãe de Misericórdia, Aí, certamente, a situação muda completamente e o receio dá lugar à doce confiança. Asseguram os santos que não há no mundo pecador tão perdido que não possa participar dessa misericórdia. Em uma revelação a Santa Brígida, Maria Santíssima lhe revelou o seguinte: “Eu sou Rainha do céu e Mãe de Misericórdia: para os justos sou alegria e para os pecadores sou a porta por onde entram para Deus”.(6)

Invoquemos a Maria, portanto, como Rainha dos nossos corações, pedindo a sua proteção para nossa vida, para os nossos problemas, para as nossas mais urgentes necessidades e para as necessidades do nosso próximo. Porém, invoquemo-la como uma Rainha que, ao mesmo tempo é Mãe de Misericórdia, pronta a nos atender em nossas penúrias, sempre que a ela recorrermos!

Por Prof. João Celso

1)# São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 38ª. Ed Petrópolis: Vozes,. ,2009, p. 22.
2)# Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787). Glórias de Maria. 3ª. Ed Aparecida: Ed. Santuário, 1989. P. 35
3) Mons. João Clá Dias, EP. Os títulos da Realeza de Maria. Disponível em: http://www.arautos.org/artigo/6462/III–ndash–Os-titulos-da-Realeza-de-Maria
4)# São Luís Maria G. de Montfort. Op.cit. p. 41 e 42.
5)# Catecismo da Igreja Católica, n. 1855. 10ª. Ed. São Paulo: Loyola, 2000. P. 497
6)# Santo Afonso Maria de Ligório. Op.cit., p. 41
 

Afresco de Mater Misericórdiae, diante do qual São Bento rezava, em sua juventude (Igreja de San Benedetto in Piscinula, confiada pelo Vicariato de Roma aos Arautos do Evangelho

Na próxima parte: “vida, doçura e esperança nossa”

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Minha Mãe, minha confiança!

No local escolhido para fazer as imagens, Alphaville (São Paulo), três aquecedores mantinham a temperatura ambiente entre 28 e 30 graus e um aparelho reproduzia o som de batimentos cardíacos…”.

Assim a revista Veja São Paulo1 relata a preparação do ambiente para que um bebê de apenas 12 dias de idade faça, não um delicado exame ultrassonográfico, como alguém, de maneira apressada e angustiante poderia pensar, mas, um ensaio fotográfico! que irá registrar os primeiros dias de vida do pequeno Danilo. Informa ainda a matéria que “outras famílias paulistanas vêm investindo em produções semelhantes”; enfim, a reportagem dá conta de todo um arsenal à disposição dos pais – para que a vida de seus filhos seja, desde cedo, fartamente documentada para a posteridade. Muito longe vão os tempos em que os pobres pais podiam apenas dispor de uma ou outra foto de seus filhos; por exemplo, a famosa foto escolar do 4º ano primário.

É claro que toda essa facilidade tecnológica – e até um certo modismo – podem levar pais (e avós!) a darem importância demasiada a fatores não essenciais, negligenciando a atenção psicológica e, principalmente religiosa que seus filhos merecem. Há pais, por exemplo, que por questões meramente materiais, adiam por vários meses a cerimônia de batismo dos filhos, privando-os de se tornarem o quanto antes “criaturas novas, filhos adotivos de Deus, participantes da natureza divina, membros de Cristo e co-herdeiros com Ele, templos do Espírito Santo2. E esse atraso injustificável se pauta no desejo (legítimo, mas dispensável) de querer tornar ainda mais grandiosa uma cerimônia que de si já é extraordinária; assim a festa, a contratação dos fotógrafos, as roupas, etc. passam a ocupar o primeiro lugar, numa lamentável inversão de valores.

Mas, voltemos ao pequeno Danilo, já fotografado em tantos detalhes na tenra idade de doze dias: É inteiramente possível imaginar quanta alegria proporcionará a seus pais e aos que estiverem ao seu redor durante os seus primeiros anos de vida. De fato é irresistível a felicidade de conviver com uma criança inocente. Quem não se encanta aos vê-las dando os primeiros passos, pronunciando as primeiras palavras? Por exemplo, a Beata Zélia Guérin, num arroubo de contentamento pela doçura de sua filhinha, a então pequenina Santa Teresinha do Menino Jesus, assim se expressa: “Há alguma coisa de tão celestial em seu olhar que ficamos encantados!…”3 É esta a vitalidade da inocência infantil.

Por outro lado é também digno de nota – e explicável apenas sob a perspectiva da inocência – a confiança sem restrições ou limites que os pequenos depositam em seus pais. Traz-nos uma sensação de paz e é nos aprazível ver uma criança pequena tomando as mãos de sua mãe para atravessar uma rua ou andar pela calçada de uma cidade às vezes freneticamente tomada por movimentos de carros, pedestres e todo tipo de perigo… Facilmente vemos a total despreocupação e a elegante indiferença dessa criança em relação ao ambiente que a rodeia: Estando entrelaçada às mãos da mãe (ou do pai, da avó…), ela se deixa conduzir com total naturalidade, navegando tranquila em seu mundo de inocência e candura.

Em outro ambiente e em um tempo muito diferente do nosso, a própria Santa Teresinha, com a santidade de quem conservou por toda a vida as graças primaveris do Batismo, relembra, docemente, os pequenos passeios que quando criança, fazia com seu querido pai, o seu “Rei”: “Todas as tardes ia dar pequenos passeios com papai; fazíamos juntos uma visita ao Santíssimo, visitando cada dia uma nova igreja”4.

Vendo essas cenas que mesclam confiança e inocência, não há um adulto sequer que não se comova e não se deixe envolver por uma atmosfera de pleno encantamento. Um verdadeiro descanso nas agitações cotidianas.

Certamente, assim também deve ser a nossa confiança na intercessão e no cuidado que tem por nós Maria Santíssima.

Sem as vantagens indescritíveis da inocência infantil, tendo já há muito abandonado ou perdido, nas palavras do poeta, as “asas brancas, asas que um anjo me deu”5 e já não podendo voar ao céu, estamos nós continuamente envoltos em desafios e dificuldades, perante angústias e problemas de todo o tipo que nos parecem intransponíveis. Nessas ocasiões, infelizmente, buscamos resolver as coisas a partir de nossa própria capacidade e nos esquecemos de estender a nossa mão e procurar o auxílio da Mãe de Misericórdia, da Consoladora dos Aflitos que, como nas Bodas de Caná está atenta, vigilante e pronta para nos atender em tudo o que precisarmos. Se não somos mais crianças inocentes, devemos ser adultos de fé.

Terminamos esta reflexão tomando as belas palavras de Santo Afonso de Ligório, em seu majestoso livro Glórias de Maria;6 por meio delas, dirigimos a nossa Mãe Santíssima uma oração pedindo que a nossa confiança em sua misericórdia para conosco seja sempre renovada:

   …………….É terníssimo o amor que ela consagra a todos os homens, mesmo os mais infelizes pecadores, quando lhe conservam algum afeto ou devoção. (…) Na qualidade de amantíssima advogada nossa, oferece a Deus as preces de seus servos; pois, como o Filho intercede por nós junto ao Pai, assim ela intercede por nós junto ao Filho. Não se cansa de tratar com o Pai e com o Filho o sério assunto da nossa salvação. Singular refúgio dos perdidos, esperança dos miseráveis e advogada de todos os pecadores que a ela recorrem”.

Por Prof. João Celso – Arautos Maringá

1 Revista Veja São Paulo. 17 de outubro de 2012, p. 49
2 Catecismo da Igreja Católica. P. 351.
3 Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Obras Completas. Ed. Loyola, 1997, p. 90.
4. Idem. p. 94
5 Almeida Garret (1854) . As minhas asas.
6 S. Afonso de Ligório. Glórias de Maria. Aparecida-SP: Ed. Santuário, 3. Ed. p. 160
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