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Por que Jesus elogiou o administrador desonesto?

Sabemos que está na nossa natureza a apetência pelos bens, sejam eles materiais ou espirituais. O desejo de possuir dinheiro e riquezas está de acordo com o que Jesus quer de nós, ou é contrário aos seus ensinamentos?

Com efeito, a vida traz dificuldades de toda a ordem, e entre essas, uma cujo espectro assusta e causa especial apreensão nas pessoas: as limitações que a pobreza acarreta. E, para não serem pegas por tais contingências, as pessoas usam das mais diversas habilidades e até de espertezas.

Parábola do administrador infiel

É isto que vemos expresso na parábola do administrador infiel (XXV Domingo do Tempo Comum – Evangelho de São Lucas, 16, 1-13). Quando soube que seria demitido do cargo pelo seu senhor, que lhe pediu as contas, o feitor apressou-se, com sagacidade e diligência, em garantir sua existência sem as penúrias da pobreza. E que estratégia utilizou? Como não queria mendigar nem se manter pelo trabalho sério, tratou de fazer dos devedores do seu senhor os seus amigos, reduzindo suas dívidas desonestamente.

E Jesus continua a parábola: “E o senhor louvou o feitor desonesto, por ter procedido sagazmente. Porque os filhos deste mundo são mais hábeis no trato com os seus semelhantes do que os filhos da luz” (Lc 16, 8).

Poderíamos nos perguntar: Por que Jesus elogiou tal administrador desonesto? Santo Agostinho nos responde: “Não porque aquele servo fosse um exemplo a ser imitado, mas porque foi previdente em relação ao futuro, a fim de que se envergonhe o cristão que não tenha essa determinação”. (1) [grifo nosso]

Aqui está o ponto fundamental, útil para nosso aprendizado na vida: a determinação de empregar as nossas habilidades e sagacidade para alcançarmos os benefícios legítimos, como cristãos, mas, sobretudo, no que diz respeito às “riquezas verdadeiras”, os dons espirituais e eternos, que “nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam” (Mt 6, 19b). Em outras palavras: sejamos prudentes!

Virtude da Prudência

Esta prudência nada tem a ver com aquela falsa, conforme comenta Mons. João Clá: “Esta virtude, quando é falsa, portanto, entendida num sentido pejorativo, busca um fim terra a terra, temporal e passageiro. Ela é fruto de uma filosofia pagã para a qual não existe Deus, nem a alma humana e a remuneração futura. […] Não poucas vezes a falsa prudência sabe empregar manhas e artimanhas para obter os bens terrenos, mas não os eternos. Para ela, o fim justifica os meios”. (2)

Virgem Prudentíssima – Paróquia de São Pedro – Biarritz, França

E no que consiste, então, a verdadeira prudência, que Jesus quer de nós? Continua Mons. João Clá: “Quem magistralmente soube transpor para a prática essa bela doutrina da prudência foi Santo Inácio de Loiola, o Fundador da Companhia de Jesus, na primeira meditação de seus Exercícios Espirituais: ´O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e mediante isso salvar a sua alma`. Saber servir-se das criaturas – inclusive do dinheiro – para alcançar esse fim, é o divino ensinamento ministrado por Jesus na parábola do administrador infiel, mas prudente, da Liturgia de hoje”. (2)

Peçamos àquele que é por excelência o “Arauto do desprendimento de tudo quanto passa”, que nos comunique sua divina prudência, para conseguirmos viver com dignidade e virtude  nesta terra e, desse modo, um dia alcançarmos o Céu, pela intercessão de sua Santa Mãe, que a ladainha honra com o título de Virgem Prudentíssima.

 Por Adilson Costa da Costa

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(1) Santo Agostinho. Sermão 359, 9-11.
(2) Mons. João S. Clá Dias, EP. A prudência da carne e a prudência santa. In: __________. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 362.
(3) Idem, p. 363-364
(4) Idem, p. 373.

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Há maior paz que na Cruz de Nosso Senhor?

Às vezes, depois de um “dia corrido”, ao entrarmos em uma igreja, especialmente ornada de imagens esculturalmente belas, que representam de maneira artística e com talento, as virtudes próprias de santos e santas, sobremaneira, de Jesus e sua Mãe Santíssima, ficamos encantados e, por alguns instantes, paramos pensativos. Imaginemos que encontrássemos uma imagem de Nosso Senhor, por exemplo, como esta – ou próxima em semelhança desta que reproduzimos nesta seção – e nela deitemos nosso olhar e atenção.

Igreja dos Mártires – Lisboa, Portugal

Quanta paz emana desta fisionomia de Nosso Senhor, ainda que em meio a tanta dor!

Uma paz verdadeiramente carregada de serenidade, de quem levou até suas últimas consequências a missão que o Pai lhe conferiu: Ele morreu e sofreu por mim, por você caro leitor, por qualquer um… E este foi o preço que o Redentor pagou para nossa salvação: a morte, e morte de Cruz!

Esta Cruz atrai. Atrai-nos para um estado de espírito cheio de serenidade, nos remete para outras perspectivas, para outros horizontes, para além deste vale de lágrimas: o Céu. No entanto, misteriosamente, a Cruz de Nosso Senhor ao mesmo tempo que convida para nos colocarmos na perspectiva sobrenatural e da eternidade, nos fortalece e nos comunica, uma tranquilidade, uma confiança, capaz de suportar a dor e a aridez desta terra de exílio.

Com efeito, a Bíblia Sagrada nos traz de forma eloquente estas palavras que bem podem ser aplicadas a Nosso Senhor com sua Cruz: “Ó vós todos que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta” (Lm 1, 12).

No entanto, ao contemplarmos este Crucifixo de Nosso Senhor, bem podemos ouvir no interior de nossos corações: Parai e vede… se há paz maior do que aquela que encontramos na Cruz de Nosso Senhor!

Assim sendo, como bem exorta nosso Fundador, Mons. João Clá Dias, EP, “[…] fugimos da cruz por desconhecermos a imensa felicidade oferecida por ela quando é abraçada com alegria. À medida que adequamos todo o nosso modo de ser, perspectivas, visualizações, desejos, pensamento, dinamismo, atividade e tempo em função de Nosso Senhor, somos invadidos por uma paz interior que a nada pode ser comparada. Descem as bênçãos do Alto e operam-se as maravilhas da graça”. (1)

Nossa Senhora das Dores – Colômbia

Que esta paz de Nosso Senhor pregado na Cruz, pelos rogos de Nossa Senhora das Dores, neste mês de setembro em que se comemora a Exaltação da Santa Cruz, nos faça amá-la, honrá-la e exaltá-la como o verdadeiro símbolo de glória, conforme nos anima a famosa Carta Circular aos Amigos da Cruz, de São Luis Maria G. de Montfort. Aconselha este santo, ao que se propõe a esta especial amizade: “Leve-a [a Cruz] aos ombros a exemplo de Jesus Cristo, a fim de que essa cruz se torne para ele a arma de suas conquistas […] Enfim, coloque-a, pelo amor em seu coração, para torná-la numa sarça ardente que, sem consumir-se queime, noite e dia, de puro amor de Deus!”. (2)

E assim, digamos com São Paulo: “Que eu me abstenha de gloriar-se de outra coisa que não a Cruz de meu Senhor Jesus Cristo” (Gl 6,14).

Nossa Senhora das Dores, rogai por nós e uni-nos à Cruz de Vosso amado Filho!

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. A Cruz, quando inteiramente abraçada, nos configura com Cristo. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 175.

(2) Carta Circular aos Amigos da Cruz, n. 19.

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Como elevar-se a Deus

Os avanços tecnológicos e o progresso material vêm ao longo dos anos e séculos surpreendendo os homens e, quando bem aplicados, constituindo-se em benefícios inequivocamente benfazejos. Entre as inúmeras façanhas, nesta perspectiva, que marcaram as páginas da história universal, está a empreendida pelos irmãos Montgolfier em junho de 1783: um balão com 32 metros de circunferência voou às alturas de centenas de metros e percorreu a “surpreendente” distância de aproximadamente três quilômetros. Qual não foi o espanto daqueles que presenciaram tal ascensão?

“Ancensão do balão Montgolfier em Aranjuez”, por Antonio Carnicero – Museu do Prado, Madri

Voar… “romper” com esta famosa lei da gravidade, que nos “puxa” para baixo e nos causa, por assim dizer, uma inveja dos pássaros que tem a liberdade de voar.

Se é verdade que não podemos, neste vale de lágrimas, fisicamente voar por nós mesmos, a não ser mediante os recursos técnicos que o progresso material constrói, verdade é, no entanto, que podemos voar espiritualmente

Contudo, está ao nosso alcance um outro voo, sem dúvida superior, incomparavelmente mais belo e benéfico para nós: o voo espiritual. Mas como se dá este voo?

Consideremos o trecho da leitura deste XXIII Domingo do Tempo Comum. Narra o evangelista São Lucas que Jesus, certa ocasião, estando acompanhado por multidões indicou-lhes como ser seu discípulo, concluindo: “[…] qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo”  (Lc 14, 33).

Voo de Balão – Revista Arautos do Evangelho, n. 90

Mas, o que é renunciar a tudo o que tem?

Esta renúncia consiste no desapego de tudo e o amor radical a Jesus. O leitor poderia perguntar: o que é propriamente o desapego e este amor radical?

O grande Santo Inácio de Loiola, com a lógica e coerência tão características de seu pensamento e de sua vida, assim expressa nos seus “Exercícios Espirituais” o relacionamento do homem com Deus, consigo e com as criaturas, e portanto, no que consiste o amor e o desapego: “O homem é criado, para louvar, reverenciar e servir a Deus, e mediante isto salvar a sua alma. […] Donde se conclui que o homem tanto há de usar delas [das coisas criadas], quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve abster-se delas, quanto disso o impeçam”. (1)

Em expressivas e claras palavras, assim explica Mons. João Clá Dias, EP: “a necessidade de amor a Deus acima de tudo, portanto, de nos desapegarmos radicalmente até mesmo do que nos for mais caro, se isto representar um obstáculo para seguirmos a Cristo. Pois Jesus é digno de ser amado com um amor perfeitíssimo, e jamais chegará a ser seu verdadeiro discípulo quem não estiver disposto a, por causa d´Ele, levar aos últimos extremos o desprendimento: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim (Mt 10, 37)”. (2)

Ora, justamente os apegos e afetos que não se constituam em função do amor a Deus, são as “amarras” que nos prendem nesta terra, nos impedindo de voar espiritualmente para o discipulato de Jesus, amando-O e amando o próximo como Ele nos amou.

A estas alturas do artigo, alguém poderia questionar: “o que tem a ver o desapego e amor a Deus com a abordagem de cunho ‘tecnológico’ descrita na introdução deste artigo?”.

Para responder este questionamento, deixo as palavras do Fundador dos Arautos:

“Esta é a imagem [as amarras e lastros que são soltos do balão, para que ele suba] da elevação das almas a Deus. ‘Aquecidas’ pela prática das virtudes, especialmente da caridade, iniciam elas a subida espiritual e começam a ‘voar’. Costuma haver, porém, em consequência do pecado, amarras que as prendem à Terra e lastros que dificultam seu itinerário rumo à perfeição. É imperioso, portanto, cortar aquelas e alijar estes, para o espírito humano poder elevar-se ao transcendente e ao eterno.

Cristo Rei – Igreja de Santo André – Bayona, França

À semelhança de nosso corpo, padecem as almas dos danosos efeitos de uma espécie de lei da gravidade espiritual por onde nos sentimos atraídos para o mais baixo, o mais trivial, o que nos exige menos esforço”. (3)

Eis assim, o sentido próprio do que nos convida Nosso Senhor Jesus Cristo, ensinando a renunciarmos a tudo por amor a Ele. Ou, se quisermos, aqui está o convite que Ele nos faz para sermos discípulos Dele, nos perguntando: “Quereis voar?”.

Peçamos àquela que é Nossa Senhora da Boa Viagem que nos obtenha a graça de voarmos, que queiramos e tenhamos a verdadeira liberdade de voar, de virtude em virtude, de desapego em desapego, de nos elevarmos no amor exclusivo por seu Filho Jesus e por Ele, no amor ao próximo.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola. Tradução do autógrafo espanhol pelo Padre Vital Dias Pereira, S.J. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1966, p. 28.

(2) Mons. João S. Clá Dias, EP. Humildade e mansidão. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 330.

(3) Idem. p. 327-328.

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As lições do Divino Mestre: humildade e mansidão

Neste vale de lágrimas há pobrezas e pobrezas, incontáveis vezes nos deparamos com a mendicância, estado doloroso pelo qual falta ao ser humano tudo que há de mais elementar para sua existência: alimentação, vestimentas e habitação.

Quando por exemplo, devido a alguma doença, inexistem possibilidades legítimas de se alçar uma condição de vida digna, de trabalhar e sair da situação de indigência, o único caminho para tal pessoa é mendigar.

Dir-se-á: situação pior não há! No entanto, generaliza-se uma forma de “mendicância”, não propriamente material, e sobretudo não ornada pela dor resignada.

Trata-se de uma precariedade nem sempre aparente: a miséria da alma! Estado que, infelizmente, se faz recorrente naqueles que, perdendo a visão religiosa da vida – a partir da qual o homem encontra sua finalidade no conhecer, amar e servir a Deus –, colocam-se no centro de sua própria existência, numa espécie de egolatria.

Perdendo esse prumo inicial e essencial para a vida, a alma inicia uma busca constante e sem limites pela satisfação pessoal, mas que parece escapar-lhe por entre os dedos cada vez que pensa tê-la encontrado; não em Deus mas em si ou nas ilusões terrenas  com as quais procura preencher-se.

O coração humano só encontra o verdadeiro repouso em Deus!

Há pessoas, sejam ricas ou pobres materialmente, que guardam entre si uma nota caracterísitca: são miseráveis de alma! Vivem para mendigar a atenção, o aplauso, a fama, o reconhecimento e a boa opinião dos outros. Tentam, no fundo, encontrar nestes o apoio para persistirem numa posição contrária à ordem estabelecida por Deus para reger a existência e o convívio humanos: a humildade, em que cada um é aquilo que é; nem mais, nem menos.

Por outro lado, existem pessoas também ricas ou pobres de bens materiais, mas que trazem em seus corações o tesouro da generosidade e da admiração em relação ao próximo, almas que têm Deus no seu prumo e em sua meta primeira. São os humildes, que nas palavras de Nosso Senhor, tornaram-se tal qual crianças para adquirirem o Reino dos Céus.

Em sua existência terrena, Nosso Senhor conviveu com pessoas de variadas mentalidades; entre elas, infelizmente, algumas que careciam miseravelmente de humildade. Um exemplo que vem muito a calhar é o apresentado no Evangelho de São Lucas do 22º Domingo do Tempo Comum, em que Ele visita a casa de um chefe dos fariseus, em um jantar seleto, mas em que a miséria de alma apareceu com cores fortes…

“Jesus e os fariseus” – Museu de Artes – Montreal (Canadá)

Reparando que os convidados procuravam os primeiros lugares à mesa, Nosso Senhor os censura com uma pequena parábola, em que um convidado sentou-se em local de destaque num casamento, mas é convidado a cedê-lo para um personagem mais ilustre, numa situação constrangedora. Com sua divina mansidão, censura delicadamente a atitude dos convivas pretenciosos, aconselhando-os a não agirem deste modo, mas a procurarem os últimos lugares, para que, se for o caso, sejam convidados a subir e não a descer, o que é honroso. É de uma sabedoria incontestável!

Além disso aconselha também ao anfitrião, que convidara, muito provavelmente, aqueles dos quais poderia barganhar prestígio, interesses pessoais, trocas de favores e outras misérias do gênero. Era ele um esmoler de mesquinharias, incapaz de reconhecer o tesouro infinito que teve a honra de receber em sua casa: o próprio Homem-Deus. Este exorta-o a convidar para suas festas os pobres e aleijados, aqueles que não lhe poderiam retribuir com nenhuma vantagem. Esta ação generosa seria então recompensada eternamente por Deus na ressurreição dos justos. Destes conselhos depreende a belíssima conclusão:

 “Porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha, será elevado.”(Lc 14, 11)

Sigamos o Divino Mestre e Pedagogo que afirma, conforme narrado no Evangelho de São Mateus, que devemos imitá-Lo: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt. 11, 29).

Comentando este mesmo Evangelho, Mons. João Clá Dias, Fundador dos Arautos do Evangelho, escreve:

“Na verdade, Ele é muito mais do que isso, pois essas virtudes, que o homem luta por praticar, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade as possui em essência: Jesus é a humildade e a mansidão.

Quem é verdadeiramente humilde, é também manso, tem flexibilidade de espírito, está disposto a servir ou a obedecer a seu irmão, preocupa-se mais com os outros do que consigo mesmo, aceita qualquer humilhação ou ofensa com alegria, e quando nota um defeito na atitude de outro, reza por ele e procura não deixar transparecer o que percebeu. Pratica, assim, uma elevada e nobre forma de caridade para com o próximo.” (1)

Vale ressaltar que se Nosso Senhor usou de sinceridade para com os fariseus denunciando seu erro, foi porque discerniu neste modo de agir, aquele que mais faria bem àqueles pobres homens, naquela situação; agindo com fortaleza, mas prudentemente.

Nossa Senhora, exemplo de humildade e mansidão

Imaculado Coração de Maria – Arautos do Evangelho

Eis o grandioso ensinamento deixado por Nosso Senhor a todos nós: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc. 10, 45).

Sigamos o exemplo de Maria Santíssima, que em sua vida terrena praticou maximamente as virtudes da humildade e mansidão; procurando em pensamentos, atos e palavras servir aos desígnios da Providência para que o Sol da Justiça brilhe majestade e plenitude sobre todos os corações.

Peçamos pela intercessão de Nossa Senhora das Graças, que busquemos não as ilusões passageiras dos ególatras, mas as graças de Nosso Senhor Jesus Cristo para tornar-nos humildes e mansos de coração, para assim obtermos os dons da fortaleza e sabedoria.

 Por Marcelo Veloso Souza Mendes

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. Humildade e mansidão. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 314-315.

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Confiança e esforço: a via pela qual chegamos ao Céu

Imaculado Coração de Maria de Nossa Senhora de Fátima

Certas inquietações e questões não raramente se colocam às pessoas, quando se trata da existência para além desta vida terrena. É o que se dá com a pergunta feita por um homem a Jesus, quando passava pregando o Evangelho pelas aldeias e cidades, a caminho de Jerusalém. Conta-nos o evangelista Lucas que “alguém” perguntou: “Senhor, são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23)

Para além dessa pergunta – se muitos ou poucos vão para o Céu após a morte -, existe outra consideração mais útil para nossa vida espiritual e nossa vida “aqui e agora”.

Com efeito, ainda que fossemos teólogos, dos mais capacitados e conhecedores das verdades da Fé e, em concreto, do que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica a respeito da vida eterna, do Céu e da existência do Inferno (1), tal discussão sobre quantos se salvam não é vista com clareza nem mesmo pelos mais sábios estudiosos da Doutrina, como bem expressa o famoso teólogo dominicano Pe. Antonio Royo Marín:

“Eis aqui um dos problemas mais angustiantes e difíceis que podem oferecer ao teólogo. A pergunta é uma das que, com maior freqüência e apaixonado interesse, formula a maioria das pessoas.” (2)

Para quem deseja  saber a explicação mais lúcida a respeito, contemple os estudos de São Tomás de Aquino: “A respeito de qual seja o número dos homens predestinados, dizem uns que se salvarão tantos quantos forem os anjos que caíram; outros, que tantos quantos foram os anjos que perseveraram; outros, enfim, que se salvarão tantos homens quantos anjos caíram e, ademais, tantos quantos sejam os Anjos criados. Mas, melhor é dizer que só Deus conhece o número dos eleitos que hão de ser colocados na felicidade suprema”. (3)

Jesus Cristo diz: Esforçai-vos: guardai os Mandamentos

No que consiste este esforço? A leitura do trecho do Evangelho de São Mateus nos traz uma luz e uma resposta: “Se queres entrar para a Vida [Céu], guarda os Mandamentos” (Mt 19, 16-19). Eis aqui a primeira “medida” que devemos colocar nossa atenção e nosso esforço, indicada por Jesus ao “jovem rico do Evangelho”, como resposta ao que se deve fazer de bom para ter a vida eterna.

Mas, poderíamos questionar: é fácil ou difícil guardar os Mandamentos? Se fosse fácil guardar os Mandamentos, Jesus não empregaria o verbo “esforçar-se”. Sim, tal é nossa debilidade decorrente dos efeitos do pecado original em nós – que nos inclina para o pecado – e tais são as tentações e provocações do mundo, que se poderia dizer: realmente, não é fácil praticar os Mandamentos; mais, diríamos ainda: ao homem, pelas próprias forças, é impossível praticar integralmente e duradouramente os Mandamentos. Vê-se, portanto, o quanto é apropriada e forte a expressão: esforçai-Vos… e o convite a não se viver o “laissez faire” (deixar correr a vida) na nossa existência terrena, na perspectiva espiritual.

No entanto, sabemos que Nosso Senhor, a divina Misericórdia e a divina Justiça, que em tudo se fez igual ao homem, exceto no pecado, não nos pedirá algo que não nos seja possível realizar: “Porque meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11,30), “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mt 11, 28)

Confiança, eu venci o mundo

Sim, aqui está o remédio: a confiança no Sagrado Coração de Jesus. Ele nos redimi e nos sustenta, nos santifica, nos dá a graça e os Sacramentos e ainda Ele próprio se dá a nós no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. É com Ele que nós venceremos o mundo, o demônio e a carne.

Confiança em Maria, a Porta do Céu

E como se não bastasse tudo isto, para “nos convencer” – por força de expressão – Ele nos dá sua própria Mãe, Nossa Senhora. Sobre esta intercessão, consideremos as comoventes e animadoras palavras de Mons. João Clá Dias, em sua recente obra, intitulada “O Inédito sobre os Evangelhos”, ao comentar o Evangelho deste XXI Domingo do Tempo Comum:

“[…] É necessário servir a Deus com ardor e entusiasmo, entrando “pela porta estreita” que bem poderá ser Nossa Senhora. Não é sem razão que a Ela foi dada o título de Porta do Céu. Estreita porque exige de nós uma confiança robusta em sua proteção maternal. Invoquemo-la em todas as tentações e dificuldades, a fim de comprovarmos a irrefutável realidade de quanto “jamais se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à sua proteção maternal, implorado sua assistência, reclamado o seu socorro fosse por Ela desamparado”. E, ao chegarmos ao Céu, rendamos eternas graças aos méritos infinitos de Jesus e às poderosas súplicas de Maria.” (4)

Eis afinal o mais importante: para além da preocupação ou até mera especulação de se saber se muitos ou poucos se salvam, sigamos a recomendação do divino Mestre e Senhor. Esforcemo-nos para, aqui e agora enquanto estamos vivos, com fidelidade, fortaleza e confiança praticarmos os Mandamentos, pela intercessão de Maria Santíssima e, aí sim, pela misericórdia de Jesus e Maria, passarmos pela porta estreita rumo à eterna felicidade.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Catecismo da Igreja Católica. Creio na vida eterna: n. 1035-1036. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p, 180.

(2) Pe. Antonio Royo Marin. Teologia de la Salvación. Madri: BAC, 1997, p. 117.

(3) Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica: questão XXIII, art. VII, v.  I. 2ª ed. Porto Alegre: Vozes, 1980, p. 240-243.

(4) Mons. João S. Clá Dias, EP. Quem é o meu próximo? In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 310-312.

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