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Frase da Semana: nenhuma explicação é necessária

Para os que creem, nenhuma explicação é necessária.
Para os que não creem, nenhuma explicação é suficiente.

(Santo Inácio de Loiola)

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São José de Anchieta, Apóstolo do Brasil e exemplo para os nossos dias.

Imaginemos, nos dias de hoje, um jovem de apenas 19 anos, que sem ter ainda concluído os seus estudos, resolvesse aventurar-se mundo afora, partindo para uma terra distante. Imaginemos um país do outro lado do mundo, por exemplo, a gelada e inóspita Sibéria, ou, não tão longe, um país muito pobre no Continente africano. Terras longínquas e desprovidas dos “encantos” de civilização que tanto atraem os jovens de hoje: internet, smartphones, redes sociais… Imaginemos esse jovem resolvendo aventurar-se por essa terra estranha, abandonando família, amigos, etc… Qual seria a reação da sociedade? Como esse jovem seria tratado? Seria taxado de louco, insensato, imprudente?

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Retirar-se para um lugar à parte, para ouvir a voz de Deus.

Após percorrerem os povoados, anunciando a Boa Nova, e fazendo curas em todos os lugares, “os apóstolos voltaram, e contaram a Jesus tudo o que haviam feito. Jesus os levou consigo, e se retirou para um lugar afastado na direção de uma cidade chamada Betsaida”. (Lc 9,10)

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Pe. Alexandrino Monteiro, S.J., na introdução de seu livro Exercícios de Santo Inácio de Loiola, narra que “os autores ascetas veem neste trecho do Evangelho uma indicação dos retiros espirituais, dias abençoados, que nos arrancam às nossas ocupações ordinárias e nos introduzem numa atmosfera toda celestial, para nos unirmos mais intimamente com Deus pelo recolhimento dos sentidos e afastamento do mundo, a fim de ordenarmos a nossa vida e tratarmos do importantíssimo negócio da nossa eterna salvação”.

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Como elevar-se a Deus

Os avanços tecnológicos e o progresso material vêm ao longo dos anos e séculos surpreendendo os homens e, quando bem aplicados, constituindo-se em benefícios inequivocamente benfazejos. Entre as inúmeras façanhas, nesta perspectiva, que marcaram as páginas da história universal, está a empreendida pelos irmãos Montgolfier em junho de 1783: um balão com 32 metros de circunferência voou às alturas de centenas de metros e percorreu a “surpreendente” distância de aproximadamente três quilômetros. Qual não foi o espanto daqueles que presenciaram tal ascensão?

“Ancensão do balão Montgolfier em Aranjuez”, por Antonio Carnicero – Museu do Prado, Madri

Voar… “romper” com esta famosa lei da gravidade, que nos “puxa” para baixo e nos causa, por assim dizer, uma inveja dos pássaros que tem a liberdade de voar.

Se é verdade que não podemos, neste vale de lágrimas, fisicamente voar por nós mesmos, a não ser mediante os recursos técnicos que o progresso material constrói, verdade é, no entanto, que podemos voar espiritualmente

Contudo, está ao nosso alcance um outro voo, sem dúvida superior, incomparavelmente mais belo e benéfico para nós: o voo espiritual. Mas como se dá este voo?

Consideremos o trecho da leitura deste XXIII Domingo do Tempo Comum. Narra o evangelista São Lucas que Jesus, certa ocasião, estando acompanhado por multidões indicou-lhes como ser seu discípulo, concluindo: “[…] qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo”  (Lc 14, 33).

Voo de Balão – Revista Arautos do Evangelho, n. 90

Mas, o que é renunciar a tudo o que tem?

Esta renúncia consiste no desapego de tudo e o amor radical a Jesus. O leitor poderia perguntar: o que é propriamente o desapego e este amor radical?

O grande Santo Inácio de Loiola, com a lógica e coerência tão características de seu pensamento e de sua vida, assim expressa nos seus “Exercícios Espirituais” o relacionamento do homem com Deus, consigo e com as criaturas, e portanto, no que consiste o amor e o desapego: “O homem é criado, para louvar, reverenciar e servir a Deus, e mediante isto salvar a sua alma. […] Donde se conclui que o homem tanto há de usar delas [das coisas criadas], quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve abster-se delas, quanto disso o impeçam”. (1)

Em expressivas e claras palavras, assim explica Mons. João Clá Dias, EP: “a necessidade de amor a Deus acima de tudo, portanto, de nos desapegarmos radicalmente até mesmo do que nos for mais caro, se isto representar um obstáculo para seguirmos a Cristo. Pois Jesus é digno de ser amado com um amor perfeitíssimo, e jamais chegará a ser seu verdadeiro discípulo quem não estiver disposto a, por causa d´Ele, levar aos últimos extremos o desprendimento: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim (Mt 10, 37)”. (2)

Ora, justamente os apegos e afetos que não se constituam em função do amor a Deus, são as “amarras” que nos prendem nesta terra, nos impedindo de voar espiritualmente para o discipulato de Jesus, amando-O e amando o próximo como Ele nos amou.

A estas alturas do artigo, alguém poderia questionar: “o que tem a ver o desapego e amor a Deus com a abordagem de cunho ‘tecnológico’ descrita na introdução deste artigo?”.

Para responder este questionamento, deixo as palavras do Fundador dos Arautos:

“Esta é a imagem [as amarras e lastros que são soltos do balão, para que ele suba] da elevação das almas a Deus. ‘Aquecidas’ pela prática das virtudes, especialmente da caridade, iniciam elas a subida espiritual e começam a ‘voar’. Costuma haver, porém, em consequência do pecado, amarras que as prendem à Terra e lastros que dificultam seu itinerário rumo à perfeição. É imperioso, portanto, cortar aquelas e alijar estes, para o espírito humano poder elevar-se ao transcendente e ao eterno.

Cristo Rei – Igreja de Santo André – Bayona, França

À semelhança de nosso corpo, padecem as almas dos danosos efeitos de uma espécie de lei da gravidade espiritual por onde nos sentimos atraídos para o mais baixo, o mais trivial, o que nos exige menos esforço”. (3)

Eis assim, o sentido próprio do que nos convida Nosso Senhor Jesus Cristo, ensinando a renunciarmos a tudo por amor a Ele. Ou, se quisermos, aqui está o convite que Ele nos faz para sermos discípulos Dele, nos perguntando: “Quereis voar?”.

Peçamos àquela que é Nossa Senhora da Boa Viagem que nos obtenha a graça de voarmos, que queiramos e tenhamos a verdadeira liberdade de voar, de virtude em virtude, de desapego em desapego, de nos elevarmos no amor exclusivo por seu Filho Jesus e por Ele, no amor ao próximo.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola. Tradução do autógrafo espanhol pelo Padre Vital Dias Pereira, S.J. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1966, p. 28.

(2) Mons. João S. Clá Dias, EP. Humildade e mansidão. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 330.

(3) Idem. p. 327-328.

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Marta e Maria: uma lição para a humanidade

Contemplação e ação, vida contemplativa e vida ativa. Duas expressões que nos trazem à mente ideias como oração, leitura e estudo, de um lado, trabalho e atividade de outro. Em graus diferentes, estas vidas são características que vemos presentes na generalidade das pessoas – não necessariamente religiosas: umas estudam mais, outras rezam mais, outras trabalham bem mais. Posto que “o homem é criado, para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor, e mediante isto salvar a sua alma”, conforme Santo Inácio ensina (1), poderíamos, então, perguntar: qual destas “vidas” vale mais? Qual delas é mais importante para alcançar tal finalidade?

Se alguém fosse responder precipitadamente, talvez se equivocasse. Diria ele: já que o homem tem que alcançar o Céu – portanto, santificar-se – deverá rezar e contemplar; o resto não tem importância.

Outro mais “despistado” poderia dizer: o que importa mesmo é trabalhar, pois ai daquele que não desenvolve seus talentos, o que não for trabalho é perda de tempo e poderia acrescentar: ademais, o próprio Apóstolo admoesta aos Tessalonicenses a imitarem o seu exemplo, em que trabalhou “com fadiga e esforço” e deu esta norma de “quem não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3, 8-10).

Esta questão – vida contemplativa e vida ativa – vem-nos à tona ao contemplarmos o episódio narrado por São Lucas sobre a conduta das irmãs de Lázaro, Santa Maria Madalena e Santa Marta (cujas memórias a Igreja celebra dia 22 e 29 de julho, respectivamente), ao hospedarem o Divino Mestre em sua residência.

Marta e Maria com Jesus – Basílica de Paray Le Monial, França

Conta-nos o evangelista que Jesus foi à casa em Betânia, daquela família amiga, para um repouso e descanso após longa viagem, com destino à Jerusalém. O que fizeram para acolher a Jesus – com seus Apóstolos e discípulos – que chegava?

As duas irmãs tiveram atitudes bem diversas: uma se pôs aos pés de Jesus, ouvindo embevecida as divinas palavras de Seu Senhor, ou seja, convivia admirativamente com Ele. A outra pôs-se na lida da casa, afadigando-se em preparar a comida e o que fosse necessário para bem atender ao divino hóspede e seus acompanhantes, em outros termos, trabalhava com eficiência.

Santa Maria Madalena – Igreja de St. Severin, França

Qual das duas terá agradado mais ao Senhor? Uma contemplava, a outra agia.

Para bem responder, melhor seria formular a pergunta de outra forma: o que faltou à Maria e o que faltou à Marta?

A esta questão nos responde Mons. João S. Clá Dias, apontando para o amor imperfeito de Maria: “O Divino Mestre diz que Maria escolheu a melhor parte [a contemplação], mas não afirma ter ela agido impelida pelo amor perfeito. Nosso Senhor é cioso da obediência devida às autoridades intermediárias e, portanto, deveria Maria ter se submetido às determinações de sua irmã mais velha, cumprindo as obrigações que lhe cabiam sem perder o enlevo, mantendo o coração todo posto no Senhor”. (2)

Santa Marta – Catedral de Bayona, França

Quanto à Marta, o Fundador dos Arautos do Evangelho mostra a preocupação naturalista da irmã de Maria: “sem ela se dar conta – como sói acontecer – essa louvável aspiração [o bom atendimento de Nosso Senhor] foi sendo substituída por uma preocupação naturalista, acompanhada pelo desejo de fazer bela figura diante d’Ele e dos demais. Se executasse todas aquelas tarefas pondo em Jesus a atenção principal, ficaria ela também com a melhor parte, os frutos de seu trabalho teriam outra beleza e outra substância. Não lhe era preciso, portanto, deixar suas ocupações para ir sentar-se com Maria, aos pés de Jesus, mas, segundo sublinha acertadamente Fillion, ter em vista que ‘o único necessário é preferir as coisas interiores às exteriores, dar-se a Cristo sem restrições, adorando-O, amando-O e vivendo só para Ele’”. (3)

Mas, então, com qual parte ficar: contemplação ou ação? A de Maria ou a de Marta? A quem imitar?

Com o amor de Maria e do modo exímio de Marta

Assim nos responde Mons. João S. Clá Dias: “Devemos imitar as duas irmãs: fazer todos os atos cotidianos com o amor de Maria, mas, como Marta, cumprir nossas obrigações de modo exímio. Porque a vida dos homens tem momentos de ação e de contemplação e, tanto em uns quanto nos outros, é preciso ser ‘perfeito como o Pai celeste é perfeito’ (Mt 5, 48)”. (4)

Peçamos a Nossa Senhora do Divino Amor, juntamente com Santa Maria Madalena e Santa Marta, a graça de sermos perfeitos na contemplação e na ação, para glória de Deus e nossa própria salvação.

 Por Adilson Costa da Costa

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(1) Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola. Tradução do Autógrafo Espanhol pelo P. Vital Dias Pereira, S. J. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1966, p. 27.

(2) Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana e São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 236.

(3) Idem, p. 236

(4) Idem, p. 238

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