Nos últimos momentos da História do mundo, no Juízo Final, ouviremos a voz de Cristo Rei: “vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 34b).
Qual será este Reino? Será um lugar físico, concreto?
Narra-nos São Mateus que “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os Anjos, então Se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da Terra reunidos diante dele, e Ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda” (Mt 25, 31-33).
As ovelhas aqui são o símbolo daqueles que, morrendo na amizade com Deus, receberão o prêmio incomparável de contemplarem a Deus por toda eternidade. De fato, conforme comenta Mons. João Clá Dias, “a essência do prêmio será a visão beatífica, quer dizer, a contemplação de Deus face a face. Pela força da graça nos será possível contemplar a própria essência de Deus, em vez de apenas discerni-Lo por seus reflexos nas criaturas. ´Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido` (I Cor 13,12)” ¹.
Embora o ápice da alegria dos Bem-aventurados seja a visão beatífica, Deus premiará os seus filhos diletos com ainda outro prêmio – sem dúvida, incomparavelmente menor, em relação àquela alegria – porém superior a tudo quanto na Terra possamos ter. Este prêmio é dar aos Bem-aventurados o Reino prometido. Este Reino será o Céu empíreo. Ele é superior e distinto do Paraíso Terrestre, onde foram colocados nossos primeiros pais, Adão e Eva. Com será esse reino? Um lugar real? Um estado de alma?
Assim nos traz a resposta, o Fundador dos Arautos do Evangelho:
“Como se não bastasse, os Bem-aventurados terão como morada o Céu Empíreo, a respeito do qual escreve Garrigou-Lagrange: ´O Céu é o lugar e, melhor ainda, o estado da suprema bem-aventurança. Se Deus não tivesse criado nenhum corpo, mas apenas puros espíritos, o Céu não seria um lugar, porém, tão só o estado dos Anjos que gozam da posse de Deus. De fato, o Céu é também um lugar, no qual estão a humanidade de Jesus, desde a Ascensão, a Bem-Aventurada Virgem Maria, desde a Assunção, os Anjos e as almas dos Santos. Embora não possamos dizer com certeza onde se encontra esse lugar em relação ao conjunto do universo, a Revelação não permite duvidar de sua existência, nós vamos vê-lo`”. ² [grifos nossos]
Detalhe de “A Coroação de Maria” – Fra Angélico – Itália
Que maravilha sabermos, pela Revelação e pelo Magistério da Igreja, que o Reino para o qual nos convida Nosso Senhor será uma condição espiritual, mas também um lugar extraordinariamente maravilhoso. Ora, os homens são compostos de corpo e alma; tal seria que depois da ressurreição dos corpos, estando estes novamente unidos às almas, nós não vivêssemos em um lugar material, onde desfrutássemos da mais perfeita e virtuosa felicidade física, ao mesmo tempo em que gozássemos da visão de Deus. Em outras palavras, enquanto pela visão beatífica o bem-aventurado contempla a Deus face a face com os “olhos” de sua alma, com os olhos de seu corpo ressurecto vê, nas realidades sensíveis do Céu empíreo, símbolos das maravilhas contempladas diretamente em Deus.
É nessa perspectiva que o Doutor Angélico, São Tomás de Aquino, nos afirma: “A contemplação da Essência divina não absorve os santos de maneira a impedir-lhes a percepção das coisas sensíveis, a contemplação das criaturas e sua própria ação. Reciprocamente, essa percepção, essa contemplação e essa ação não os podem distrair da visão beatífica de Deus” ³.
Imagine, caro leitor: se neste vale de lágrimas, a humanidade é capaz de se extasiar com as belezas criadas por Deus, como são as cataratas de Foz do Iguaçu ou as floradas de ipê em Maringá, dispostas magnificamente na natureza, quais maravilhas e surpresas não nos prepara a onipotência e bondade infinitas de Deus, neste lugar misterioso?
Conforme nos ensina um dos mais famosos teólogos, o jesuíta flamengo Cornélio a Lápide, o Céu Empíreo “é edificado pela própria mão de Deus, de onde sua beleza, seu esplendor e suas riquezas. De fato, Deus nele colocou incomparável ornamento. O lugar que seus eleitos ali ocupam é infinitamente belo, pois foi preparado pelo próprio Jesus Cristo” 4.
Que Nossa Senhora, Rainha do Céu e da Terra, interceda por nós, junto ao Seu Filho, Cristo Rei, em todo o transcurso de nossa existência terrena, e nos prepare assim, para o supremo júbilo que teremos no Céu. O convívio com este Rei e esta Rainha será nossa maior alegria! “[…] eu sou o teu protetor, a tua recompensa excessivamente grande” (Gen 15, 1b).
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Veja o vídeo da Homilia de Mons. João Clá sobre o assunto:
http://pejoaocladiassermoes.blogspot.com.br/2014/11/homilia-solenidade-cristo-rei.html
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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. O prêmio dos Bem-aventurados. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 490.
² Mons. João S. Clá Dias, EP. O prêmio dos Bem-aventurados. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 492.
³ São Tomas de Aquino. Suma Teológica 30,84.
4 Cornélio A Lápide. Ciel. In: Jean-André Barbier, SJ (Org). Les Tresor de Cornelius a Lapide. 4.ed. Paris: Ch. Poussielgue, 1876, v.I, p.283.
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