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A oração para pedir os bens temporais

Santo Afonso Maria de Ligório

Quais são as condições para que Deus atenda às nossas orações, quando pedimos coisas materiais, ou temporais, por exemplo: saúde, boa situação financeira, um emprego melhor, uma nova casa, recursos para o estudo dos filhos, etc.?

Estas são todas coisas legítimas, que devemos pedir. Pode acontecer, porém, de pedirmos a Deus coisas materiais e não sermos atendidos.

Por que acontece isso? Estaria Ele “quebrando” a solene promessa: “Pedi e recebereis”? (Mt 7,7). Muitas pessoas quando não obtêm as graças materiais de que necessitam, desanimam e deixam de rezar.

Em seu magnífico tratado sobre a oração (1), Santo Afonso de Ligório esclarece este mistério, ao explicar que nossas orações, para serem atendidas, devem seguir certas condições, colocadas pelo próprio Deus. Uma dessas condições, explica o santo, é a de que peçamos os bens materiais “com resignação” (2) e sob a condição de que esses bens também sirvam para nosso progresso na vida espiritual – e não o contrário. Não pode a abundância de bens se tornar um impedimento à nossa salvação. Diz o santo:

“Quantos, se fossem pobres ou doentes, não cometeriam os pecados que cometem sendo ricos e sadios! Por isso o Senhor nega a alguns, que lhe pedem a saúde do corpo ou os bens da fortuna, porque os ama, vendo que isso lhes seria ocasião de perderem a sua graça, ou ao menos de se entibiarem [esfriarem] na vida espiritual”. (3)

Este ensinamento segue com exatidão o Evangelho: “De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida” (Mc 8,36).

Alguém poderá objetar: “Ora, eu não quero ganhar o mundo inteiro! Mas, precisamos dos bens materiais, sem eles não há como se viver; afinal, estamos no mundo e temos as nossas necessidades!”. Com certeza é este um pensamento legítimo e verdadeiro.

Então, resta a pergunta: como conciliar a busca e necessidade dos bens materiais – que devemos procurar e que nos são necessários – sem, no entanto, apegarmo-nos demasiadamente a eles, comprometendo a salvação de nossa alma?

Nossa Senhora de Fátima – Arautos do Evangelho

A Igreja, como Mãe e Mestra, sempre nos conduz ao equilíbrio. A Liturgia da 25ª Semana Comum ao nos propor, na primeira leitura da quarta feira, a meditação do livro dos Provérbios (Pr 30,8-9), nos dá uma sábia resposta:

“(…) não me dês pobreza nem riqueza, mas concede-me o pão que me é necessário. Não aconteça que, saciado, eu te renegue e diga: ‘quem é o Senhor?’ Ou que, empobrecido, eu me ponha a roubar e profane o nome de meu Deus”.

A oração por excelência para pedirmos os bens materiais é, seguramente, a oração do Pai-Nosso, ensinada pelo próprio Nosso Senhor. Mas, os versículos acima, de Provérbios, podem corretamente ser adotados como uma oração diária por todos os que querem buscar esse sapiencial equilíbrio.

O Deus que provê de alimento as aves do céu e veste magnificamente os lírios do campo jamais deixará de atender nossas necessidades, desde que a Ele recorramos com confiança. Sobretudo com o auxílio de Maria Santíssima, Mãe de Misericórdia.

Por João Celso


(1) Santo Afonso de Ligório. A Oração.  4. ed. Santuário: Aparecida, 1992,  p.61-62

(2) Idem, ibidem.

(3) Idem, ibidem.

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São Pio: a vitória da confiança sobre o inimigo

 Que o inimigo não me diga: “Eu triunfei!”

Nem exulte o opressor por minha queda,

Uma vez que confiei no vosso amor! (Salmo 13, 5-6)

Assim canta o Salmo, a trazer-nos uma súplica do justo que confia em Deus. De fato, esta prece se adequa a qualquer homem confiante em Deus, sobre o qual as dificuldades da vida se apresentam no dia a dia da existência humana. Dificuldades que pedem de nós uma postura de alma de quem está continuamente no “bom combate” por amor a Deus, sobretudo pelo fato de que em nosso torno ronda o inimigo, como um leão, procurando a quem devorar, conforme lemos na Primeira Carta de São Pedro (1Pe 5, 8).

Padre Pio

O santo capuchinho, São Pio de Pietrelcina, compreendeu bem a realidade da vida: lutas pela fidelidade a Nosso Senhor. Este varão de Deus viveu 81 anos, tendo falecido no dia 23 de setembro de 1968. Ciente do quanto existe uma realidade mais real do que a que nossos sentidos percebem, colocou-se numa perspectiva sobrenatural, cheia de confiança e amor a Deus.

Por esta razão, e especialmente porque agraciado com um dom especial, tinha ele um convívio íntimo com o Anjo da Guarda. Conforme comenta Mons. João Clá Dias, Fundador dos Arautos do Evangelho:

“Um traço revelador do privilegiado contato dele com o mundo sobrenatural é a estreita relação que manteve durante toda a vida com seu Anjo da Guarda, ao qual ele chamava de “o amigo de minha infância”. Era seu melhor confidente e conselheiro. Quando ele ainda era menino, um de seus professores decidiu pôr à prova a veracidade dessa magnífica intimidade. Para tanto, escreveu-lhe várias cartas em francês e grego, línguas que o Pe. Pio então não conhecia. Ao receber as respostas, exclamou estupefato: – Como podes saber o conteúdo, já que do grego não conheces sequer o alfabeto?

– Meu Anjo da Guarda me explica tudo.

Graças a um amigo como esse, junto ao auxílio sobrenatural de Jesus e Maria, o Santo pôde ir acrisolando sua alma nos numerosos sofrimentos físicos e morais que nunca lhe faltaram.”¹

São Pio Pietrelcina

Mas qual a utilidade deste exemplo do Padre Pio para nós, de seu amor e confiança em Jesus, Maria e no Anjo da Guarda?

A firmeza do Santo propicia a convicção do quanto devemos nos colocar numa perspectiva sobrenatural em relação à nossa existência. Do contrário, como enfrentarmos tantas provas e a própria investida dos poderes das trevas?

De fato, se quisermos que o inimigo jamais nos diga que triunfou, nem caiamos face às tentações e percalços da existência terrena, confiemos no amor a Jesus, a Maria e ao nosso amigo, o Anjo da Guarda.

São Pio de Pieltricina, rogai por nós!

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Mons. João Clá Dias. A Companhia do Anjo da Guarda. Disponível em: http://www.arautos.org/especial/19541/Sao-Pio-de-Pietrelcina.html . Acesso em 23 set 2014.

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Santo André Kim e a certeza de vitória da Santa Igreja

“O sangue dos mártires é semente dos cristãos”, conforme afirmou Tertuliano, destacado polemista, no tempo das perseguições à Igreja nascente. Eis o grande fato, ao longo da história da Igreja e da humanidade, que se realiza de maneira surpreendente. Sim, tomemos a Era dos Mártires, na qual os primeiros cristãos, lançados no Coliseu de Roma, foram devorados pelas feras, ou outros cristãos sacrificados com instrumentos de suplício crudelíssimos:

A Santa Igreja não apenas perseverou, mas ergueu-se vitoriosamente, enquanto aquele império (o Império Romano) ruiu por terra. Lancemos o olhar, cheio de veneração, a outros tantos heróis da Fé, que confirmaram, com seu sangue, a fidelidade a Nosso Senhor. E hoje? Caem os impérios, ruem os poderes terrenos e as investidas mais cruéis contra a Igreja de sempre e ela resplandece vitoriosa, porque sobre ela paira a promessa do Divino Redentor: “e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18b).

Como pedra preciosa do diadema da Igreja, na lista de seus Santos mártires, celebramos neste mês de setembro (dia 20), o martírio do Sacerdote Santo André Kim Taegón e o apóstolo leigo Paulo Chón Hasang, com seus companheiros coreanos.

Basílica de São Pedro – Roma

Corria o século XVII, quando a fé cristã foi introduzida na Coréia, graças ao ardor de leigos que, embora sem pastores, foram dóceis ao sopro do Espírito Santo. Este apostolado desenvolveu-se quando no século seguinte (mais precisamente em 1836) vieram missionários da França. Eis que perseguições não tardaram em se fazer: 153 mártires. Entre eles, “sobressaem o primeiro sacerdote e ardoroso pastor de almas André Kim Taegón e o insigne apóstolo leigo Paulo Choón Hasang […]. Todos eles consagraram com seu testemunho e sangue as primícias da Igreja coreana”. ¹

Vejamos algumas das palavras, cheias de ardor, que proferiu Santo André Kim Taegón, e apliquemos a nós que vivemos neste século, cujo ateísmo prático quando não professo em doutrinas errôneas, descarrega crescentemente um ódio à Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo:

“Meus caríssimos irmãos e amigos […] se, pois, nesta vida de perigos e miséria, não reconhecermos o Criador, de nada nos servirá termos nascido e continuar vivendo. Já neste mundo pela graça divina, pela mesma graça recebemos o batismo, entrando no seio da Igreja e tornando-nos discípulos do Senhor. Mas, trazendo assim o precioso nome de cristãos, de que nos servirá tão grande nome, se na realidade não o formos? Seria inútil termos nascido e ingressado na Igreja se traíssemos o Senhor e sua graça; melhor seria não termos nascido do que recebendo a sua graça, pecarmos contra Ele.”²

O Santo continua, nos apontando a via da Cruz e a vitória da Igreja e de seus filhos: “Irmãos caríssimos, lembrai-vos de que nosso Senhor Jesus, descendo a este mundo, sofreu inúmeras dores e tendo fundado a Igreja por sua paixão, Ele a faz crescer pelos sofrimentos dos fiéis. Apesar de todas as pressões e perseguições, os poderes terrenos não poderão prevalecer […]”.

E, num arrobo de entusiasmo, exclama: da Ascensão de Cristo e do tempo dos apóstolos até hoje, a santa Igreja continua crescendo no meio das tribulações ³ (grifos nossos)

Tenhamos pela a intercessão de Santo André Kim e de seus companheiros mártires, a certeza da vitória da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Santo André Kim, rogai por nós!

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Memória – 20 de setembro In: Liturgia das Horas. v. IV. Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, 1999, p. 1295.

² Da última Exortação de Santo André Kim Taegón. In: Liturgia das Horas. v. IV. Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, 1999, p. 1295-1296.

³ idem, p. 1296.

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Podemos encontrar e viver a felicidade verdadeira? – Parte I

Não raras vezes tomamos conhecimento, através dos meios de comunicação, de práticas levadas a efeito pelas pessoas com um único objetivo: alcançar a felicidade. Situações que vão desde a realização de incontáveis procedimentos cirúrgicos na busca por um padrão de beleza, a compulsão por amealhar riquezas materiais e adquirir bens de consumo a partir da ideia: eu preciso desse ou daquele objeto? Não, mas  quero-o mesmo assim!

À medida que aumenta-se a oferta de diversões e meios de satisfação para o ser humano, em igual proporção cresce a infelicidade e a sensação de vazio permeando a existência; prova desta realidade são os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicando que no ano de 2012, a cada 40 segundos uma pessoa no mundo comete suicídio.

Face a esta realidade o leitor pode questionar: é possível encontrar e viver a felicidade verdadeira?

Sagrado Coração de Jesus – Catedral de Asunción – Paraguay

A resposta a esta pergunta encontra-se nas palavras do Divino Mestre, narradas por São Mateus (5, 1-12a): “Naquele tempo: Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-Se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los: ‘Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça , porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus’”.

Na obra “O Inédito sobre os Evangelhos”* Mons. João Clá Dias, EP, escreve que “Difícil nos é hoje, após dois milênios, compreender a novidade radical contida nessas palavras do Divino Mestre. Trouxeram elas para o mundo uma suavidade nas relações dos homens entre si, e destes com Deus, desconhecida no Antigo Testamento e, a fortiori, pelas religiões dos povos pagãos”.

Ao praticar as Boa-aventuranças, prossegue o Fundador dos Arautos do Evangelho, “o homem encontra a verdadeira felicidade que busca sem cessar nesta vida e jamais poderá encontrar no pecado. Pois, quem viola a Lei de Deus no afã de satisfazer suas paixões desordenadas afunda cada vez mais no vício até se tornar insaciável. ‘Todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo’ (Jo 8, 34), adverte Jesus. As almas puras e inocentes, ao contrário, desfrutam já nesta Terra de uma extraordinária alegria espiritual, mesmo no  meio de sofrimentos e provações”.

Nas próximas semanas discorreremos a respeito de cada uma das Bem-aventuranças, buscando compartilhar com nossos leitores toda maravilha, riqueza e verdadeira felicidade que encerram as palavras de Nosso Senhor. Peçamos a Nossa Senhora, Mãe do bom conselho e Causa de nossa alegria, a graça de abrirmos os corações às palavras de Seu Divino Filho, alcançando assim a verdadeira felicidade.

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. Radical mudança de padrões no relacionamento divino e humano. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Ano A, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 38-53.

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São João Crisóstomo: “Cristo está comigo, a quem temerei?”

São João Crisóstomo

A Liturgia das Horas enaltece, neste mês de setembro (dia 13), São João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja, como o notável Arauto, que com Boca de Ouro, jamais calado e mudo, resplandeceu em virtudes e ensinamentos da Doutrina Católica, por amor a todos.¹

Como não poderia deixar de ser, este Varão de Deus sofreu perseguições, especialmente da corte imperial e, por duas vezes, foi exilado.

Com efeito, uma vez que “nada é tão central quanto saber sofrer” e “o traço comum de todos os Santos é justamente sua atitude diante da Cruz” ², São João Crisóstomo soube heroicamente viver conforme ele mesmo proferiu em uma homilia:

“Cristo está comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas, os mares, o furor dos príncipes se agitem contra mim, tudo isto não me impressiona mais do que uma aranha. E se vossa caridade não me retivesse, não recusaria partir ainda hoje mesmo para outro lugar. Repito sempre: Senhor, faça-se a tua vontade (Mt 26, 42); não o que quer este ou aquele, mas o que tu queres. Esta é a minha torre, minha pedra imóvel; este, o meu báculo firme. Se Deus quer isto, faça-se. Se quiser que permaneça aqui, agradecerei. Onde quer que me queira, darei graças.” ³

Peçamos a intercessão de São João Crisóstomo para sermos verdadeiros Arautos a proclamar e viver, com confiança e destemor, o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e a fazermos sempre a Sua vontade.

São João Crisóstomo, rogai por nós!

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Hino Laudes e Vésperas. In: Liturgia das Horas. v. IV. Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, 1999, p. 1259.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. A Cruz, fonte de glória. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VII, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 214-215.

³ Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo. In: Liturgia das Horas. v. IV. Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave Maria, 1999, p. 1258.

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