By

A parábola do banquete de casamento

Foi a Igreja ao longo dos séculos convidando sucessivamente todos os povos
para o divino banquete.
“Pregação de São Pedro”
Catedral de Manresa – Espanha

Com a vinda de Jesus Cristo à terra, abriram-se as portas do Céu, eis que todos os homens são convidados a gozarem da eterna felicidade. Para que este convite se efetive por todo o mundo, o divino Salvador deu ordem aos Apóstolos: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi” (Mt 28, 1-14). Este convite para Paraíso Celeste feito por Nosso Senhor é expresso, de modo especial, na parábola do banquete de casamento.

No entanto, para participarmos deste banquete, se faz necessário um traje de festa. Qual é este traje de festa?

Com efeito, segundo São Mateus (Mt 22, 1-14),  Jesus contou a parábola do banquete de casamento do filho do rei, imagem do Reino dos Céus, símbolo da salvação. Para este banquete régio, o rei mandou seus empregados chamar os convidados. Estes recusaram, reagindo uns com indiferença, outros com ódio, a ponto de baterem e matarem os enviados.

Segundo São Gregório Magno, o rei é o próprio “Deus Pai, [que] realizou as núpcias de seu Filho quando O uniu à natureza humana no seio da Virgem, quando quis que Aquele, que era Deus antes do tempo, Se fizesse Homem no tempo” ¹.

Os emissários do rei que foram mortos
representavam os mártires de todos os tempos
“Martírio de Santo Estêvão”
Catedral de Dijon (França)

Já os empregados do rei, segundo a tradição, eram os Profetas e São João Batista, o Precursor. Junto a estes, ao longo da história, outros empregados foram os enviados para chamar os convidados, como Santo Estevão e os mártires. A recusa foi tal, que Jesus, ao contar a parábola, bem sabia que Ele próprio, o Filho do Rei, seria morto e crucificado.

Em face de indigna atitude dos convidados, o que fez o rei da parábola? Mandou chamar todos os que encontrassem pelo caminho, maus e bons. E eis que a festa ficou cheia de convidados.

Todos, enfim, participaram da festa do rei e alegraram-se com o banquete preparado? Entre os convidados, um não pode gozar da esplêndida festa. O que aconteceu?

Narra São Mateus (Mt, 22, 11-12a): “Quando o rei entrou para ver os convidados, observou aí um homem que não estava usando traje de festa e perguntou-lhe: ´Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?`. Diante do silêncio do comensal sem o traje apropriado, à pergunta do rei, este mandou o convidado para as “trevas exteriores”.

Qual era este traje de festa, condição para que o convidado permanecesse e gozasse do banquete régio?

Assim nos traz a explicação, o Fundador dos Arautos do Evangelho, Mons. João Clá Dias: Ora, o que significa este ‘traje de festa’? A interpretação dos exegetas e teólogos coincide em identificá-lo com o estado de graça, no qual deve estar a alma para entrar no Reino dos Céus” ². [grifos nossos]

E continua: “Segundo Santo Hilário, ele representa ´a graça do Espírito Santo e o candor do hábito celestial que, uma vez recebido pela confissão da Fé, deve ser conservado limpo e íntegro até a entrada no Reino dos Céus`”.

Finalizando com São Jerônimo, escreve Mons. João Clá: “E para São Jerônimo simboliza ´os preceitos do Senhor e as obras praticadas conforme a Lei do Evangelho, que confeccionam a vestimenta do homem novo. Se alguém, no dia do Juízo, ali se encontrar com o nome de cristão, mas não tem a vestimenta das bodas, isto é, o traje do homem celestial, e sim aquele manchado, quer dizer, os farrapos do homem velho, no mesmo instante será agarrado e se lhe dirá: ‘Amigo, como entraste aqui`”³.

Em síntese, o traje da festa representa o estado de graça. Se quisermos participar do banquete que o Rei e Senhor tem para nós no Céu, tenhamos esta vestimenta, que é a amizade com Deus, traduzida nesta vida na prática dos ensinamentos de Jesus e de seus Mandamentos. Eis o tesouro por excelência de nossa existência.

Para isto, rezemos com Santo Agostinho: “Ajuda-nos, Senhor, a deixar-nos de desculpas más e vãs e a comparecer a esse banquete… Que a soberba não seja impedimento para irmos ao festim, que não nos emproemos em jactância, nem uma má curiosidade nos apegue à terra, distanciando-nos de Deus, nem a sensualidade estorve as delícias do coração” 4.

Em outras palavras, que nem o orgulho, nem a sensualidade, nem o pecado nos afaste de Jesus, Senhor Nosso, mas antes, a Ele estejamos unidos radicalmente, na graça de Deus, agora e por toda a eternidade.

Que a Virgem fiel, Mãe da Divina Graça, assim nos ajude.

Por Adilson Costa da Costa

____________________________

¹ São Gregório Magno. Homiliae in Evangelia. L. II, hom. 18, n.3. In: ____.  Obras. Madrid: BAC, 1958, p. 749-750.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. Um convite feito para todos. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 393.

³ Idem, p. 393.

4 Santo Agostinho, Sermão 112.

By

Que eu seja, por toda vida, o “quarto filho”

Diante do chamado de Deus e de Sua graça, diversas são as reações que os homens podem ter, desde a correspondência plena até a recusa. É a respeito desta aceitação ou rejeição do homem à graça de Deus, que Nosso Senhor apresenta a Parábola dos dois filhos.

Nela Jesus coloca aos sacerdotes e anciãos do povo a seguinte questão: “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ´Filho, vai trabalhar hoje na vinha! O filho respondeu: ´Não quero`. Mas depois mudou de opinião e foi. O pai dirigiu-se ao outro e disse a mesma coisa. Este respondeu: ´Sim, senhor, eu vou`. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? (Mt 21, 28-31a).

Bem se vê que o pai da parábola representa Deus. E quem são os dois filhos?

Sobre esta pergunta, faz-nos uma apreciação muito bonita, o Padre Juan Maldonado, na qual pontua que os antigos escritores, como por exemplo Santo Atanásio e São João Crisóstomo, pensavam que um dos filhos representava os gentios aos quais Deus mandara trabalhar em sua vinha, impondo-lhes a lei natural. Estes, no início, não o quiseram, porém, arrependidos, obedeceram a mesma lei, como também aceitaram os ensinamentos do Evangelho. Já, o povo judeu, ao contrário, disse que iria trabalhar na vinha de Deus, cumprindo a Lei de Moisés, e depois não o foi 1.

Na apreciação do Padre Juan Maldonado, diz que é provável que esses dois filhos representassem dois tipos de judeus. Um seria o da plebe, da qual fazia parte os publicanos e pecadores. Tendo se recusado a seguir a Deus no início, contudo por meio da ação da graça e pregação de João Batista, tiveram o arrependimento e seguiram o Evangelho. Já o segundo tipo, tendo afirmado aceitar o convite de Deus, não obedeceram à Lei nem acreditaram em João, de quem os profetas haviam falado. 2

Mas seriam estas as duas únicas maneiras de proceder ante o convite de Deus? Para nós, quando convidados pela graça de Deus, podemos tomar alguma outra atitude que não a dos dois filhos da parábola?

Nossa Senhora das Dores aos pés da Cruz

Sim. Depois de comentar a atitude dos sacerdotes e anciãos do povo, que não apenas se negaram a trabalhar na vinha do Senhor e foram consequentes com tal recusa, tomando assim a postura de um terceiro filho (não presente na parábola), Mons. João Clá Dias, Fundador dos Arautos, explicita qual seria a resposta de um filho inteiramente fiel, ao dizer “sim” e proceder de imediato ao chamado do Pai.

“Faltaria dizer uma palavra sobre um quarto filho que, embora não esteja mencionado explicitamente pelo Divino Mestre, com facilidade é discernido por contraste em seu perfil moral. Este teria ouvido com entusiasmo o convite do Pai para trabalhar na vinha e entregado sua vida para, cultivando-a, Lhe dar alegria. A seguir esse exemplo nos convida a parábola de hoje.”3 .

Voltemo-nos para Nossa Senhora, a criatura mais perfeita saída das mãos do Altíssimo,  que sempre disse o sim perfeito, alegre, pleno de enlevo e veneração ao convite feito pelo Pai, e que em tudo fez Sua vontade, até o holocausto.

E peçamos: Minha Mãe, dai-me a graça do entusiasmo e da fidelidade íntegra a todos os toques da graça. Que eu seja, por toda vida, o “quarto filho”.

Por Adilson Costa da Costa

____________________________

 1 Padre Juan de Maldonado, SJ. Comentário a lós Cuatro Evagelios. Evangelio de San Mateo. v. I, Madrid: BAC, 1956, p. 750.

2 Idem, p. 751.

3 Mons. João S. Clá Dias, EP. Os dois filhos da parábola, e os dois outros. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VII, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 367.

By

Podemos encontrar e viver a felicidade verdadeira? – Parte I

Não raras vezes tomamos conhecimento, através dos meios de comunicação, de práticas levadas a efeito pelas pessoas com um único objetivo: alcançar a felicidade. Situações que vão desde a realização de incontáveis procedimentos cirúrgicos na busca por um padrão de beleza, a compulsão por amealhar riquezas materiais e adquirir bens de consumo a partir da ideia: eu preciso desse ou daquele objeto? Não, mas  quero-o mesmo assim!

À medida que aumenta-se a oferta de diversões e meios de satisfação para o ser humano, em igual proporção cresce a infelicidade e a sensação de vazio permeando a existência; prova desta realidade são os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicando que no ano de 2012, a cada 40 segundos uma pessoa no mundo comete suicídio.

Face a esta realidade o leitor pode questionar: é possível encontrar e viver a felicidade verdadeira?

Sagrado Coração de Jesus – Catedral de Asunción – Paraguay

A resposta a esta pergunta encontra-se nas palavras do Divino Mestre, narradas por São Mateus (5, 1-12a): “Naquele tempo: Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-Se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los: ‘Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça , porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus’”.

Na obra “O Inédito sobre os Evangelhos”* Mons. João Clá Dias, EP, escreve que “Difícil nos é hoje, após dois milênios, compreender a novidade radical contida nessas palavras do Divino Mestre. Trouxeram elas para o mundo uma suavidade nas relações dos homens entre si, e destes com Deus, desconhecida no Antigo Testamento e, a fortiori, pelas religiões dos povos pagãos”.

Ao praticar as Boa-aventuranças, prossegue o Fundador dos Arautos do Evangelho, “o homem encontra a verdadeira felicidade que busca sem cessar nesta vida e jamais poderá encontrar no pecado. Pois, quem viola a Lei de Deus no afã de satisfazer suas paixões desordenadas afunda cada vez mais no vício até se tornar insaciável. ‘Todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo’ (Jo 8, 34), adverte Jesus. As almas puras e inocentes, ao contrário, desfrutam já nesta Terra de uma extraordinária alegria espiritual, mesmo no  meio de sofrimentos e provações”.

Nas próximas semanas discorreremos a respeito de cada uma das Bem-aventuranças, buscando compartilhar com nossos leitores toda maravilha, riqueza e verdadeira felicidade que encerram as palavras de Nosso Senhor. Peçamos a Nossa Senhora, Mãe do bom conselho e Causa de nossa alegria, a graça de abrirmos os corações às palavras de Seu Divino Filho, alcançando assim a verdadeira felicidade.

____________________________

¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. Radical mudança de padrões no relacionamento divino e humano. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Ano A, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 38-53.

By

Sigamos o exemplo de São Pedro proclamando: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo!

À medida que aprendemos a Doutrina da Santa Igreja nos encantamos pela didática utilizada por Nosso Senhor, seja para falar às multidões que O ouviam, no meio do deserto, junto ao mar ou para formar os Apóstolos. Podemos citar, entre as mais belas passagens do Evangelho, a resposta dada por São Pedro à pergunta do Divino Mestre: E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Eis que o Apóstolo, cheio de entusiasmo, responde: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 13-16).

Poderíamos nos questionar: o que São Pedro viu em Jesus que os apóstolos não enxergaram?

Cristo entregando as chaves a São Pedro

Sobre o que diziam os homens a respeito de Jesus, os discípulos responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias, outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas” (Mt 16, 14).

Os apóstolos não alcançavam muito mais do que esta visão dos homens, embora privilegiados pelo convívio incomparável com o Mestre, terem presenciado os mais estupendos milagres, ouvirem de viva voz as mais sublimes explicitações e palavras de vida eterna. No entanto, eram ainda tímidos na fé. Além do mais, como observa Mons. João Clá Dias, EP, estavam “receosos de perder a consonância com a opinião pública […]. Sabiam que era filho de Maria e José, mas ignoravam onde havia estudado, de onde vinha tanta sabedoria, como conseguia o poder de fazer milagres” ¹.

Frente à importante pergunta de Jesus, que intencionava formá-los e alargar neles a virtude da fé, até onde se deve alcançar, Pedro com ímpeto e ardorosamente proclama: Tu és o Messias, o Filho de Deus Vivo.

E qual foi o prêmio dessa proclamação de São Pedro?

A afirmação externada pelo Apóstolo, em si, é um prêmio, visto que tão elevada verdade foi-lhe revelada pelo Pai, não sendo fruto da percepção humana. Nosso Senhor, em Sua incomensurável sabedoria e bondade, estabelece uma palavra de vida eterna: “Por isso Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na Terra será ligado nos Céus: tudo o que tu desligares na Terra será desligado nos Céus” (Mt 16, 18-19).

A respeito do Papado, seu fundamento e sublimidade, indestrutibilidade e infalibilidade, quanto se teria que dizer. Contudo foquemos, neste momento, sobre outra grandeza igualmente divina: o conhecimento e reconhecimento a propósito de Nosso Senhor, sua condição de Filho de Deus.

Na passagem do Evangelho que narramos (do XXI Domingo do Tempo Comum) está a mais alta compreensão e bela proclamação de quem é Jesus. Com efeito, conforme Santo Hilário nos ensina: “A fé verdadeira e inviolável consiste em crer que o Filho de Deus foi engendrado por Deus e tem a mesma eternidade do Pai. […] E a confissão perfeita consiste em dizer que este Filho tomou Corpo e Se fez Homem. Compreendeu, pois, tudo o que expressa sua natureza e seu nome, no que está a perfeição das virtudes”. ²

Encontra-se expressa aqui a mais alta compreensão que podemos almejar a respeito de Nosso Senhor Jesus Cristo. Infelizmente  de tal compreensão a humanidade, a olhos vistos, cada vez mais se afasta num crescente abandono da fé verdadeira.

Roguemos Àquela que é a Virgem fiel para que nos de toda a fidelidade ao Homem-Deus, confessando e proclamando em união com São Pedro, toda a nossa fé no Messias, o Filho de Deus vivo, e no perfeito cumprimento de Sua vontade na Terra e Sua glória no Céu. Assim seja!

Por Adilson Costa da Costa

____________________________

¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. A fé de Pedro, fundamento do Papado. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Ano A, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 286-299.

² Santo Hilário de Poitiers. Commmentarius in Evangelium Mattei. C.XVI, n. 4-5: ML 9, 748-479.

By

Humildade e a fé, lições da Cananéia para os dias de hoje

Quando lemos o Evangelho, vêm-nos luzes de compreensão entusiasmada dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. De variados matizes e cintilações, tais luzes falam em nossas almas, conforme o bem que o Espírito Santo queira nos fazer.

Meditemos sobre a narração que nos faz São Mateus (cf. Mt 15, 21-22) sobre pedido de cura da filha cruelmente atormentada pelo demônio, feito pela Cananéia. É o que nos propõe este XX Domingo do Tempo Comum.

Esta pobre mãe era de um povo pagão, de etnia Cananéia, que habitava no território de Tiro e Sidônia (Líbano atual), e que era rechaçado pelos judeus. Nosso Senhor foi a esta região, não propriamente para pregar, mas para ocultar-se dos seus inimigos que estavam acirrados e cheios de ódio contra sua Pessoa. No entanto, sua fama era tal, que muitos de seus habitantes já tinham ouvido falar de Jesus ou mesmo assistido suas pregações, de acordo com relatos de Marcos (cf. Mc 3, 8) e Lucas (Lc 6,17).

A Cananéia aos pés de Jesus

Com ardor materno, a cananéia suplica: “Senhor, Filho de Davi, tem piedade de mim: minha filha está atormentada por um demônio!”. Qual foi a atitude de Nosso Senhor diante da mulher? Num primeiro momento, Jesus manteve-se em um silêncio que poderia causar desconcerto. Depois, ante a insistência dela, respondeu-lhe: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-los aos cachorrinhos”. Sem intimidar-se, ou sentir-se ofendida, pelo contrário, foi adiante, importunamente, no seu intento: “É verdade, Senhor: mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!”. Qual a consequência desta súplica cheia de fé e humildade: Jesus lhe responde: “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!”.  E continua o Evangelho: “E desde aquele momento sua filha ficou curada” (Mt 15, 28).

No que propriamente consiste a grande fé da Cananéia, que, no entanto, pertencia a um povo pagão?

Esta grande fé, sobretudo consiste em crer em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. E a cananéia tinha esta “grande fé”. É o que diz a Glosa, a respeito do tratamento dela dado a Jesus, quando brada ´Senhor, Filho de Deus`: “Grande fé se nota nessas palavras da Cananéia: ela crê na divindade de Cristo quando O chama de ´Senhor`; e em sua humanidade quando Lhe diz: ´Filho de Davi`.” ¹

Eis aqui o ponto de partida de nossa fé e da condição para obtermos tudo de Deus: crermos em Nosso Senhor. Nossa fé atinge aqui a mais alta condição para conseguirmos algo de Deus, pois não se trata de confiar meramente nos auxílios de um qualquer, (ainda que este fosse o homem mais poderoso, rico e capaz), mas na certeza que nosso Benfeitor, por ser Deus, tudo pode e quer nos ajudar.

Sagrado Coração de Jesus

A respeito deste conhecimento da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem é Ele, e do quanto hoje em dia vive-se na ignorância deste conhecimento, comenta Mons. João Clá Dias, Fundador dos Arautos: “Outro ensinamento que podemos extrair do Evangelho de hoje é a necessidade de nos instruirmos sobre a verdadeira e boa doutrina. A Cananeia ouviu e se informou a respeito dos atos e das pregações de Jesus. Isso lhe foi fundamental para crer. Um grande mal de nossos dias, a ignorância religiosa[…]”.

E acrescenta, trazendo-nos as palavras da Escritura: “Ouvi a palavra do Senhor, filhos de Israel! Porque não há sinceridade nem bondade, nem conhecimento de Deus na Terra. Juram falso, assassinam, roubam, cometem adultério, usam de violência e acumulam homicídio sobre homicídio. […] porque meu povo se perde por falta de conhecimento (Os 4, 1-2,6). ² [grifo nosso]

Aqui está esplendidamente indicado para nós, que tanto necessitamos das graças e favores de Nosso Senhor Jesus Cristo: conhecimento de quem Ele é, aliado consequentemente, a um amor filial, cheio de confiança inabalável na certeza de que Ele tudo nos atende.

Para que este conhecimento amoroso e cheio de confiança em Jesus Cristo nos inunde e acompanhe a alma em nossa existência, roguemos Àquela que nesta terra teve uma fé em seu Divino Filho e humildade como ninguém, e teremos a alegria de em tudo sermos atendidos!

Por Adilson Costa da Costa

________________________

¹ GLOSA, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Mattheum, c. XV, v. 21-28.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. Tudo se obtém pela fé. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Ano A, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 285.

%d blogueiros gostam disto: