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IV Domingo da Páscoa

Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.

Somos todos ovelhas de Deus?

Deus criou todas as coisas do nada, e de forma instantânea; Dele, por Ele e para Ele foram feitas todas as coisas. O Concílio Vaticano I é categórico neste particular: “Se alguém negar que o mundo foi criado para a glória de Deus, seja anátema”. Poucos dogmas da nossa fé foram tão atacados, como este, por tantas heresias ao longo dos tempos. Porém a doutrina de que Deus é a causa exemplar de todos os seres quase não levantou inimigos frontais. Na quarta via das provas da existência e Deus, Santo Tomas de Aquino explica que o Criador é o Pulchrum(belo) por essência, todas as belezas esparsas pelo universo são participações e decorrências dessa fonte infinita. … “Deus é o primeiro exemplar de todas as coisas”.

A mente divina é infinitamente rica de seres possíveis, assim, cada um de nós existiu como possível na consideração de Deus e desde toda a eternidade. Na imensa obra da criação o Criador quis colocar uma nota de altíssima beleza: o Simbolismo. A beleza simbólica tem uma categoria muito superior à estritamente física. Para nós é uma obrigação ascender a Deus, e para isso nos servem as criaturas, nelas encontramos uma verdadeira hierarquia. Por exemplo, no relacionamento com os seus pais uma criança sentir-se-á segura e compreendida pela simples presença deles. Por isso, nos deixar enlevar e influenciar pelos modelos que nos aproximam de Deus e a Ele nos assemelham, é uma grande virtude e até mesmo uma obrigação. E é na rica simbologia entre o pastor e as ovelhas que se situa a perspectiva do Evangelho deste domingo.

Ora, Jesus era o Messias esperado, porém de nada adiantaram todos os milagres, pregações ou as manifestações de virtude para dissolver o egoísmo pétreo e incrédulo daqueles fariseus. Para eles só exista uma única e exclusiva ideia: a político-religiosa. Essa é a malha de aço que a Verdade tem sempre diante de si. Em geral, a Verdade exige renuncia feita de dor, arrependimento e penitência, como proclamava São João Batista.

A própria natureza da Judéia propiciava o simbolismo. Ali o pastoreio se adaptava mais comodamente do que a agricultura e assim, exigia do rebanho, grandes deslocamentos. Essa situação exigia redobrados cuidados do pastor, tornando mais nítidas as diferenças entre o autêntico pastor e o mercenário.

 O bom pastor rege o rebanho sem decretos, mas por amor. Vai no meio delas para defende-las, guia-las e até entretê-las com seus cânticos. “Ele chama as suas ovelhas, uma a uma, pelos seus nomes” (Jo 10,3). Sendo assim o homem não é criado em série, Deus aplica o seu poder criador sobre cada pessoa, uma a uma. Ou seja, não há homem igual em nenhum aspecto. Daí a profundidade insondável desse conhecimento de Jesus a cada um de nós, a ponto de compará-lo ao existente entre o Pai e o Filho (cf. Jo 10,15). O conhecimento do Pai e do Filho não é um acidente da inteligência como o modo com que conhecemos as coisas, mas é substancial e amoroso, através do qual, por geração, Ele dá sua própria essência ao Filho, Este restitui ao Pai e desse amor perfeito procede o Espírito Santo. Ora, aí está o padrão do conhecimento de Jesus a cada um de nós. Por isso nada que seja interno ou externo a nós, escapa à onisciência de Deus.

As ovelhas conhecem as maravilhas que estão n’Ele, sua doutrina, sua vida, sua misericórdia, sua sabedoria, sua humanidade e divindade. E, por isso, ao ouvirem a sua voz, elas O seguem, como Saulo no caminho de Damasco (cf. At 9,5-9) ou como Madalena, ao ser chamada pelo nome no Santo Sepulcro. Portanto, ao conhece-Lo, seguem-No no cumprimento do seus desígnios: “Aquele que diz conhecê-Lo e não guardar os seus Mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele”.

Então Jesus passa a se representar não só como pastor mas também como pasto, pois confere às ovelhas sua própria vida. Pois nada existe que não tenha tido n’Ele sua origem. É em função da graça que a própria vida de Cristo se introduz nas almas e é alimentada pelos sacramentos em especial pela Eucaristia. Sua própria Carne, Sangue, Alma e Divindade constituem o insuperável alimento da vida de suas ovelhas.

O que terão entendido os fariseus? Ora ao afirmar que dá a vida eterna à suas ovelhas, Ele deixa entrever que não entrega essa vida àquelas que não são de seu redil. Os fariseus não queriam se beneficiar desses dons que, como todas as pessoas, lhes era oferecido. As ovelhas de Jesus não se perderão por culpa do pastor mas por conta de sua própria culpa em não querer segui-Lo. As ovelhas da posse de Jesus não podem ser arrancadas à força nem pelos homens nem pelos demônios.

Por fim Cristo proclama sua divindade, dizendo: “Eu e o Pai somos um”. Essa expressão encontra sua explicação, na Oração sacerdotal, na qual o Cristo pede ao Pai que o glorifique com a “glória que tive junto de Ti, antes que o mundo fosse criado” (Jo 17,5). Essa é a mais ousada, misteriosa e profunda afirmação feita por Jesus. Trata-se de uma união metafísica insondável.

Os fariseus que estavam ali deviam ter se mostrado fieis intérpretes dos profetas, humildemente se deixando penetrar pelas maravilhosas revelações feitas pelo esperado Messias. Seriam ovelhas no seu rebanho.

 O que dizer a respeito do mundo atual, que não antepõe a lei escrita à Lei do Espírito, mas coloca a lei do gozo e da carne, a lei do relativismo contra a Lei de Cristo, consagrada por Ele com sua vida e ressurreição e por sua Igreja? Quiseram os fariseus colher pedras para matar Jesus por tantos e insuperáveis dons que lhes oferecia. O que fará o mundo de hoje contra Cristo e a sua Santa Igreja em face das dádivas que, através d´Eles, lhes promete Deus?

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