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Conduzidos pelo Fogo do Espirito Santo

Resumo dos Comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, no Inédito Sobre os Evangelhos.

A vida humana é constituída pela presença da alma que anima o corpo. Este perde a sua harmonia quando aquela se separa. Dado que possuímos muitos membros diferentes – os braços são diversos da cabeça, as pernas dos braços, e até mesmo a função de cada dedo da mão se difere entre si – é indispensável um fator de unidade que exerça uma ação ordenadora sobre todo o organismo. Tal é o papel da alma. Sem a sua presença, desde a nossa concepção, seriamos um conglomerado de órgãos e elementos sem coesão incapazes de agir em conjunto.

Essa característica da natureza humana é uma imagem de uma realidade incomparavelmente mais alta: “o que a alma do homem é para o corpo, o Espirito Santo é para o Corpo de Cristo, que é a Igreja”. Cristo é a cabeça, nós somos os membros e o Espirito Santo é a alma vivificante que, por sua atuação, conserva a unidade deste Corpo Místico. O Espirito Santo está presente na Igreja inabitando seus membros e permanecendo neles pela graça santificante. Essa presença é sentida pelas almas, ainda que de modo imponderável, como se passou com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, desde menino. Refletindo sobre a unidade e diversidade da Igreja, pensava ele: “Por cima de tudo isso há Alguém, que é mais do que tudo! E uma coisa curiosa. A Igreja não parece uma instituição, mas uma pessoa que se comunica através de mil aspectos. Ela tem movimentos, grandezas, santidades e perfeições como se fosse uma alma imensa que se exprime em todas as igrejas católicas do mundo, todas as imagens, toda Liturgia, todos os acordes de órgão e todos os toques de sino. Essa alma chorou com os réquiens e alegrou-se com o bimbalhares dos Sábados de Aleluia e das noites de Natal. Ela chora comigo, se alegra comigo. Como eu gosto dessa alma!”

Una é a Igreja Católica dentro da múltipla riqueza de seus aspectos. Por ação divina, filhos das mais diversas nações das mais variadas culturas participam em amor recíproco de uma única e mesma Fé, sob os cuidados de um só pastor. Cristo declarou: “Pedro, tu és pedra e sobre esta pedra, edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”(Mt 16,18). Por essa razão a Igreja é indestrutível e inteiramente triunfante em todas as circunstâncias.

Um sinal dessa indestrutibilidade foi a transformação operada nos apóstolos, em Pentecostes. Enquanto semente da Igreja, constituíam eles um corpo, todavia sem vida como nos narra o Evangelho. Os apóstolos dormiram durante a agonia do Senhor, mais tarde fugiram quando da prisão do Senhor, São Pedro seguindo-O de longe, O negou três vezes, por respeito humano. Depois do sepultamento os apóstolos se encontravam receosos por medo da perseguição e quando Cristo apareceu eles duvidaram. Em sentido oposto, depois de Pentecostes, saíram eles cheios de fervor pregando às multidões, sem temor algum de serem presos ou perseguidos. Afirma São João Crisóstomo: “já estavam transformados e eram superiores a tudo o que era corpóreo. Ali mesmo a assistência do Espirito Santo converte em ouro o que era barro”. Foi a partir da efusão do Espirito Santo que a Igreja começou a se mover e se expandir.

Quantas vezes somos movidos por surtos de entusiasmo, de bons desejos e propósitos ou até mesmo de consolação em momentos de tristeza, tais impulsos interiores provém do Espirito Santo que age sobre nossas almas como outrora com os Apóstolos. Contudo antes do Batismo, nos homens, sem possuir a vida divina, brotam da sua natureza manchada pela culpa original o egoísmo, e uma preocupação desmedida por seus interesses, de onde defluem amargas experiências ao longo de suas vidas. É necessário, portanto, “renascer da água do Espirito”(Jo 3,5). Pleno de fé, esperança e caridade adquire uma profunda compreensão dos panoramas sobrenaturais. No Batismo passamos a fazer parte da família divina, nos tornamos filhos de Deus por adoção. Para tal precisamos agir como o próprio Deus. No Batismo junto com a Graça Santificante, Deus infunde na alma as virtudes, que constituem o elemento dinâmico e operativo de todo organismo sobrenatural.

No Evangelho o raio de luz é uma referência aos dons do Espírito Santo. São eles hábitos infusos, que agem sobre as virtudes, fortalecendo-as, tornando-as mais robustas e conduzindo-as a seu pleno desenvolvimento. A moção dos dons não pertence mais ao homem, mas ao Divino Espirito Santo como causa única. Como a figura de uma criança que caminha de mãos dadas com a mãe. Sem dúvida é o menino que avança sustentado pelo amparo materno. Ademais é o Espirito Santo quem nos ilumina a inteligência para podermos atingir as verdades da Fé. Ilumina também a nossa vontade; então acabamos por desejar o que se deve. Ele também é o doce refrigério, pois é a única fonte capaz de nos transmitir verdadeira paz e consolação interior.

Há certas ações do Espirito Divino que dispensam a necessidade de petição, como quando a criança é batizada, porém, em outras se faz necessária a nossa petição perseverante como com os Apóstolos no Cenáculo e com Maria em Pentecostes. Por isso, antes de qualquer atividade roguemos insistentemente ao Paráclito que Ele tome inteira posse e domínio de tudo quanto possamos fazer.

Se não fosse a sua maravilhosa atuação, o convívio humano tornar-se-ia insuportável. É Ele quem produz o entendimento mútuo, a linguagem perfeita do amor entre os filhos de Deus, num intercâmbio benéfico entre uns e outros. Semelhante fenômeno ocorre quando se fecundam as maiores esterilidades no campo do apostolado ou se alcança a vitória definitiva sobre os defeitos morais mais difíceis de extirpar.

A solenidade de Pentecostes nos ensina que desde o despertar devemos pedir a intervenção d’Ele em todas as nossas atividades do dia, pois nada pode abater quem está cheio do Espírito Santo. Se vivermos neste mundo não pela carne mas, pelo Espirito, seguindo o conselho de São Paulo, percebemos a insignificância de todos os tormentos que nos assaltam ante a esperança na maravilha da ressurreição, quando haveremos de recuperar a nossa própria carne, finalmente gloriosa e transformada.

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