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Uma história de amor a Deus e ao próximo

Vivemos um momento histórico onde imperam o egoísmo, o descaso para com o próximo – apenas para citar alguns exemplos – e na raiz destes e muitos outros males está o distanciamento do homem em relação a Deus.

O leitor pode se perguntar: Como demonstrar o amor a Deus e ao próximo?

São Francisco de Assis – Igreja de Santo Domingo de Santiago, Chile

Para responder à esse questionamento, Mons. João Clá Dias, EP  na obra “O inédito sobre os Evangelhos”1, narra que havia um homem de cultura e instrução em extremo limitadas, cuja adolescência transcorrera nos trabalhos de alfaiataria. Desde sua entrada para o convento da Ordem dos Franciscanos, os superiores lhe confiaram a confecção dos buréis de todos os religiosos, julgando ser esta a missão mais adequada para ele.

Ora, não tardou em evidenciar-se, aos olhos de toda a comunidade quanto o novo religioso, tão desprovido de agudeza e de conhecimentos humanos, era exímio não só na técnica da costura, mas também, e sobretudo, na prática da virtude, pois fora ilustrado em ciência infinitamente superior por Aquele que ocultou os mistérios de seu Reino aos sábios e os revelou aos pequeninos (cf. Lc. 10, 21).

Com efeito, sua vida conventual transcorreu em total dedicação, assumindo seus deveres com profunda seriedade, espírito sobrenatural, inalterável mansidão e generosidade. Alfaiate esforçado e obediente, nunca recusava nenhum serviço; antes, procurava adivinhar as necessidades de seus irmãos de hábito e adiantar-se a seus desejos. Mal percebia que a túnica de algum religioso estava muito velha e gasta e logo seu amor o impelia a confeccionar uma nova, com todo o cuidado e esmero.

Tendo chegado ao término desta peregrinação terrena, encontrava-se ele em seu leito de dor prestes a dar o derradeiro suspiro, quando, após receber os sacramentos, dirigiu-se aos frades que o acompanhavam nesse supremo momento, implorando: “Por favor, tragam-se a chave do Céu!”

Aflitos aqueles filhos de São Francisco pensaram tratar-se de um delírio prévio à morte. Porém, receosos de não realizar a última vontade de um irmão tão querido, procuram diversos objetos: um livro de piedade, uma relíquia do santo de sua especial devoção, um crucifixo, as Sagradas Escrituras, sem lograr satisfazer a insistência do pobre agonizante: “Por favor, tragam-se a chave do Céu!”

Finalmente um dos religiosos com quem mais havia convivido teve uma inspiração: correu à alfaiataria, apanhou uma agulha usadíssima e entregou-a ao moribundo. Este agradecido e aliviado, tomou com mãos trêmulas o pequeno instrumento, inseparável companheiro durante os longos anos de vida religiosa, osculou-o, persignou-se com ele e rendeu sua alma a Deus, alegre e em paz.

Ele não se havia equivocado. De fato, tal objeto, do qual se utilizara durante a vida não só para costurar, como também para se santificar, na prática heroica da virtude da caridade, servia-lhe de chave, ao transpor os umbrais da morte, para poder penetrar no gozo da visão beatífica.

Verídica ou não, esta breve história nos lembra que a santidade consiste em praticar todos os atos de nossa vida, até os mais insignificantes, por amor a Deus e ao próximo. Ensinamento contido no Evangelho, pela pregação e exemplo do Divino Redentor, que supôs uma autêntica mudança nos padrões morais da humanidade.

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1Mons. João S. Clá Dias, EP. O amor a Deus e ao próximo deve refletir-se em todos os atos da vida. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 89-90.

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O Apóstolo da Caridade: São Vicente de Paulo

Quando lemos as palavras cheias de unção de São Paulo a respeito da caridade, ficamos encantados. Verdadeiramente uma peça literária, para nos expressarmos assim. Na realidade, são infinitamente mais do que isto: são palavras de vida eterna, porque inspiradas pelo Espírito Santo.

Consideremos apenas os dois primeiros versículos da Carta do Apóstolo aos Coríntios:

“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente”.

São Vicente de Paulo

“Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada”. (Cor 13, 1-2)

No entanto, estas inspiradas palavras sobre a caridade tomam um esplendor especial, quando contempladas na vida de santidade de homens de fé. Entre esses, uma luz no firmamento da Igreja: São Vicente de Paulo, o Apóstolo da Caridade.

São Vicente teve uma existência intensa de apostolado da caridade: a todos procurava fazer o bem. Promoveu retiros espirituais para a santificação dos sacerdotes e dos fiéis. Instituiu congregação de missionários. Criou seminários. Fundou um hospital para crianças relegadas e hospitais para idosos, insanos, presos e mendigos. Foi conselheiro de reis, na côrte, e cuidava de doentes. Sua obra permanece viva e atuante nos dias atuais e inspirou outras almas na santidade, como o Beato Federico Ozanan, fundador dos conhecidos Vicentinos.

De onde vinha esta multiplicidade de atividades? De seu amor abrasado por Nosso Senhor que se desdobrava no amor ao próximo.

Certa vez, quando viveu dois anos remando nas galés, pois até a escravidão este santo experimentou, encontrou um outro prisioneiro que perdera a fé na dureza daquela existência. Diante da confissão de seu ceticismo em relação a Deus, São Vicente lhe propôs um santo “negócio”: “daria” ao homem a sua fé, e este teria que “dar-lhe” a própria em troca.O incrédulo aceitou e, desde aquele momento, operou-se nele misteriosa mudança sobrenatural: passou a crer.

Contudo, paralelamente, outra mudança se deu…São Vicente, a partir desse momento, ficou privado da sensibilidade em relação às coisas sagradas, e cria sem nenhuma consolação. Nesta provação e aridez espiritual permaneceu por longo tempo. Ó heroica caridade, até onde por uma alma és capaz de sacrificar-te!

Quanta lição nos dá este santo a respeito desta virtude, em relação à qual o mundo vai se distanciando cada vez mais, e afundando no egoísmo.

A propósito, este fato nos foi contado por um idoso, residente no asilo São Vicente de Paulo de Maringá, no dia de hoje, 27 de setembro, festa de São Vicente de Paulo, em uma visita que os Arautos do Evangelho realizaram na benemérita instituição, mantida pelos vicentinos.

Peçamos a Nossa Senhora que nos dê a caridade e a generosidade capazes de realizarem todas as obras que Nosso Senhor quer de cada um de nós, a exemplo do grande São Vicente de Paulo.

Corpo incorrupto de São Vicente de Paulo – Paróquia São Vicente de Paulo, Paris

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O Samaritano por excelência: Jesus Cristo

Quando consideramos o próximo vem-nos a mente, já de início – e não sem razão, sobremaneira, por efeito do Batismo que recebemos – aquele que é carente de algum auxílio e em relação ao qual temos alguma proximidade, seja de ordem familiar ou física. E incluímos, nesta “categoria”, o pobre e o doente sem recursos financeiros. Estendendo nossa consideração, será também nosso próximo o necessitado para além do aspecto material, aquele que leva consigo algum sofrimento moral, muitas vezes mais doloroso do que o próprio sofrimento corporal.

E qual deve ser nossa atitude para aqueles que, precisando de auxílio material ou espiritual, passam por nossas vidas? A prática da caridade: “Pois toda a Lei encontra a sua plenitude num só mandamento: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Gl 5, 14). Em outros termos, devemos fazer ao próximo tudo aquilo que esteja ao nosso alcance, da mesma forma que gostaríamos que fizessem conosco, postos nós em tal contingência.

Esta caridade manifesta-se na prática das obras de misericórdia, “ações caritativas pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais”, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC 2447). E continua o Catecismo: “Instruir, aconselhar, consolar são obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e suportar com paciência. As obras de misericórdia corporal consistem sobretudo em dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, sepultar os mortos”. (1)

Sagrado Coração de Jesus – St Mary’s Church – Kitchener, Canadá

Neste sentido, contemplemos o Evangelho do XV Domingo do Tempo Comum, no qual Jesus ensina, através de parábola ao doutor da Lei, no que consiste o amor ao próximo e, portanto, o verdadeiro sentido da Lei.  Conforme comenta Mons. João Clá Dias, EP, “Quantas escolas e cursos de didática se multiplicam por todo o orbe! Entretanto, é impossível superar aquela empregada pelo Divino Mestre em sua vida pública. A criação da figura do Bom Samaritano é simplesmente genial”. (2)

Sim, bem ao contrário do sacerdote e do levita da parábola, face ao pobre homem assaltado por um grupo de bandidos que o maltratam, deixando-o quase morto e o despojam de seus bens. Tanto o sacerdote quanto o levita, passam pelo desventurado agredido e, sem compaixão, não o socorrem ou tomam qualquer providência com vistas a fazer algum bem aquele sofredor.

No entanto, qual a atitude do samaritano? Assim observa Mons. João Clá Dias: “Bem diferente foi a reação do samaritano. Sem levar em conta o ódio racial que violentamente os separava, apesar de se tratar de um inimigo seu, sua religiosa incompatibilidade se transformou, no mesmo instante, em comiseração. O Evangelho recolhe os maravilhosos detalhes da divina parábola elaborada por Jesus para o doutor da Lei: “o samaritano se manifesta um herói da caridade desde o descer de sua montaria, aplicando in loco  todos os cuidados cabíveis naqueles tempos, conduzindo a vítima a uma pousada, até o contraiu uma dívida com o estalajadeiro, a fim de que este dispensasse todos os cuidados ao pobre judeu”. (3)

Eis a caridade, a misericórdia e a bondade belamente retratada por Jesus em relação ao próximo.

Aqui temos a manifestação do amor ao próximo. Para o Samaritano, o próximo foi aquele homem agredido, abandonado e estirado no chão, quase a morrer. Mas, poderíamos perguntar: existirá somente o próximo necessitado? Existirá, por ventura, algum outro próximo? Um próximo esquecido? Para o Samaritano, claro está que o próximo foi o homem de quem ele teve compaixão. Mas, qual será o próximo, na parábola, do homem socorrido? A resposta não poderá ser outra, senão esta: o próximo do homem socorrido foi seu benfeitor, o Samaritano.

Aí esta, em contrapartida e harmonicamente entrelaçado, o sentido do próximo genuinamente manifesto. Se há um próximo necessitado, há também um próximo benfeitor. Para o próximo necessitado devemos ter compaixão, eis como a caridade se manifesta. E para o próximo benfeitor, como deve se manifestar a caridade?

Poderemos responder, imaginando, na parábola, qual a caridade que o homem socorrido deveria ter para com o Samaritano. A resposta salta aos olhos, numa palavra: gratidão! Não poderá ser outra a não ser esta a atitude de amor ao meu próximo benfeitor: gratidão, reconhecimento e admiração para aquele que faz o bem, que me faz o bem.

Mãe do Bom Conselho – Genazzano, Itália

Peçamos a Nossa Senhora da Gratidão não nos esquecermos daqueles nossos próximos que nos fazem o bem: o pai, a mãe, um professor, um amigo, um superior, quiçá um que, embora não o conheçamos particularmente, está perto de nós e que somos objeto de sua caridade… Que sejamos agradecidos, reconhecidos, por todo o bem que deles recebemos, sejam os benefícios materiais, é claro, mas, sobretudo, os espirituais como o bom exemplo, o bom conselho, o ânimo para vencermos nossas dificuldades e adversidades…

Sobretudo, nos lembremos daquele que é o nosso maior e incomparável próximo e benfeitor, o Samaritano por excelência: Jesus Cristo. E qual será nossa gratidão para com Ele: a prática heroica do Mandamento do Amor.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Catecismo da Igreja Católica: n. 2447. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 632.

(2) Mons. João S, Clá Dias, EP. Quem é o meu próximo? In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 219.

(3) Idem, p. 222-223.

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Frase da Semana – Santo Antônio de Pádua

“A caridade é a alma da fé, torna-a viva; sem o amor, a fé esmorece”

Santo Antônio de Pádua

(Sermões Dominicais e Festivos II)  (1)

A belíssima imagem de Santo Antônio de Pádua acima é venerada na Igreja de São Pedro Mártir, em Murano, na Itália e ilustra a contracapa da Revista Arautos do Evangelho do mês de Junho de 2013. Santo Antônio é um dos Santos mais populares da História da Igreja. Nasceu no ano de 1193 em Lisboa (por isso também é conhecido como Santo Antonio de Lisboa) e faleceu a 13 de Junho de 1231, com apenas 36 anos de idade. Alcançou grande fama de santidade já durante a vida. Foi canonizado pelo Papa Gregório IX, apenas um ano após a morte, tal a quantidade de milagres obtidos por sua intercessão.

“No último período de vida, Antônio pôs por escrito dois ciclos de ‘Sermões’, intitulados respectivamente ‘Sermões dominicais’ e ‘Sermões sobre os Santos’, destinados aos pregadores e aos professores dos estudos teológicos da Ordem franciscana”. (2)

A Frase da Semana é extraída de um desses Sermões. (3) O grande Santo Antônio nos transmite pensamentos profundos e cheios de substância.

Tal é a atualidade de seus ensinamentos, que esta frase deve nos guiar durante este Ano da Fé para chegarmos à prática da verdadeira Caridade. Isto poderemos obter rezando a este grande Santo, pois “só uma alma que reza pode realizar progressos na vida espiritual: é este o objeto privilegiado da pregação de Santo Antônio. Ele conhece bem os defeitos da natureza humana, a nossa tendência a cair no pecado, e portanto exorta a continuar a combater a inclinação da avidez, do orgulho, da impureza, e a praticar as virtudes da pobreza e da generosidade, da humildade e da obediência, da castidade e da pureza”. (4)

Santo Antônio, Rogai por nós!

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(1) Santo Antônio de Pádua. Apud Papa Bento XVI. Audiência Geral de 10/02/2010. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20100210_po.html
(2)Papa Bento XVI. Audiência Geral de 10/02/2010. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20100210_po.html
(3) Idem
(4) Idem

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A incompatibilidade entre caridade e orgulho

Naqueles dias em que os pés divinos de Nosso Senhor Jesus Cristo andavam por Israel, quantos foram os que ouviram falar daquele grande profeta, que operava os milagres mais espetaculares de toda ordem: cegos que passavam a enxergar, paralíticos andavam, surdos ouviam e mudos falavam, os possuídos eram libertos e até – prodígio mais impressionante – os mortos ressuscitavam.

À medida que a fama daquele Varão, taumaturgo sem par, crescia em Israel, aumentava o número dos que procuravam se acercar dEle, para buscar a cura dos males que lhes causavam sofrimentos extenuantes. E eram generosamente atendidos em seus anseios. Em meio à alegria do prodígio alcançado por uns, presenciado por outros, todos ficavam impressionados com seus milagres, ao mesmo tempo em que se sentiam atraídos pelos ensinamentos, dotados de força persuasiva e bondade, mesclada de uma grandeza arrebatadora.

As palavras do grande Sacerdote missionário redentorista, Padre Augustin Berthe, expressam com clareza o impacto e o significado da presença do Homem-Deus:

“Há dois mil anos, apareceu na Judéia um figura verdadeiramente incomparável. Revelou aos homens uma doutrina, cuja sabedoria e beleza os maiores sábios jamais puderam igualar; os prodígios que realizou superaram os dos grandes taumaturgos; as suas profecias transcenderam as de todos os profetas; o seu heroísmo sobrepujou todos os potentados deste mundo; o drama da sua vida lançou na sombra as tragédias mais pungentes.” (1)

 Eis a doutrina, milagres e, sobretudo, a presença dotada de potência, daquele Homem, própria a despertar a admiração e o amor da unanimidade dos corações. No entanto, esta conquista unânime dos corações por aquele Coração de bondade não se deu. E veio a confirmar – entre outras tantas profecias – aquelas palavras proféticas do justo e velho Simeão – cerca de trinta anos antes – ao ter nos seus braços o Menino que viria a ser este Varão, apresentado por seus pais no Templo de Jerusalém, para cumprirem o estabelecido na lei de Moisés: “Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição […] Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações” (conf. Lc 2, 33-35).

Esta dolorosa realidade, em relação Aquele cujo “Coração que tanto amou os homens, que nada poupou até Se esgotar e consumir para lhes testemunhar seu amor, e que, como retribuição, da maior parte só recebe ingratidões” (2), é de maneira eloquente apresentada pelo Evangelho deste 11º Domingo deste Tempo Comum: de um lado, a antipatia e o ódio do fariseu Simão que recebe em sua casa a Jesus e, de outro, amor e admiração regeneradores da pecadora arrependida Maria Madalena.

Quais eram as disposições de alma do fariseu Simão, em face de Jesus, que ele próprio ouvira falar da fama dos milagres, entre os quais a ressurreição da filha de Jairo (Lc 7, 41-55)? Convida a Jesus para um festim, sem propiciar a Nosso Senhor as honras devidas a um ilustre visitante, trata-O como a um conviva qualquer. Para pasmo seu, Simão vê uma pecadora pública que entra no recinto da festa, ajoelha-se junto ao Mestre e em prantos começa banhar, com suas lágrimas, os pés adoráveis do Salvador e a enxugá-los com seus cabelos.

Eis, que diante deste Varão, “serão revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 35). Assim nos comenta Mons. João Clá Dias, a atitude de Simão: “[…] o fariseu, ao assistir a tão escandalosa cena: ‘Se este fosse profeta, com certeza saberia de que espécie é a mulher que O toca: uma pecadora’. Seu juízo é apressado e infundado. Assim como não teve fé e amor para enlevar-se com o Mestre, faltou-lhe também o discernimento para, na ex-pecadora, ver e interpretar os sinais de um arrependimento perfeito, pois são notórios os defeitos do vício ou da virtude estampados na face (cf. Eclo 13, 31)”. E bem observa: “O orgulho de ser um rigoroso e sábio legista levou-o a uma conclusão aparentemente lógica, mas em realidade temerária, contra o Médico e contra a enferma” (3).

Se assim foi o orgulho, antipatia e malevolência do fariseu, em uma palavra, de sua falta de amor, o que dizer da atitude da pecadora?

Observa o Fundador dos Arautos, Mons. João Clá Dias: “Há muito que Maria Madalena havia provado o vazio e a mentira do pecado. Sua alma delicada ansiava uma oportunidade para mudar de vida, mas as circunstâncias a impediam de realizar esse bom intento. Por pura fraqueza caíra naqueles horrores. Mas, em seu coração feminino, guardava uma grande admiração pela virtude e – por incrível que pareça – em especial pela pureza” (4). E em relação ao Mestre? “As primeiríssimas reações de sua alma em relação a Jesus foram de simpatia. Desde o início, ela o amou mais do que a si própria e anelava pela oportunidade de se aproximar d’Ele”(5).

Eis aqui os dois modos paradigmáticos de se colocar diante do Sagrado Coração de Jesus: amor e admiração, ou então recusa e antipatia; ficando assim apontado para uma incompatibilidade substancial entre caridade e orgulho.

Nossa Senhora do Divino Amor – Casa Mãe dos Arautos

São Paulo nos indica as características da verdadeira caridade, quando nos diz: “O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho” (I Cor 13, 4).

Peçamos, portanto, à Nossa Senhora do Sagrado Coração e Mãe do Divino Amor, que nos obtenha de Seu Filho Adorável a graça de verdadeiramente amarmos ao Sagrado Coração de Jesus, e mediante esta caridade, sermos admirativos, generosos e agradecidos para com Deus e edificarmos ao próximo, fazendo-lhe sempre o bem.

Adilson Costa da Costa

 
 
1. Padre Augustin Berthe. Jesus Cristo: Vida, Paixão e Triunfo. Porto: Livraria Civilização Editora, s/d, p. 9.
2. Padre Hamilton José Naville. Trezena das promessas do Sagrado Coração Jesus. São Paulo: ARNSG, 2012, p. 12.
3. Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana e São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 156.
4. Mons. João S. Clá Dias, EP. op. cit., p. 153-154.
5. Mons. João S. Clá Dias, EP. op. cit., p. 155.
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