Neste período litúrgico do Tempo Comum, somos convidados a contemplar inúmeros milagres operados por Nosso Senhor Jesus Cristo, que concorrem para provar, de maneira fabulosa, a sua divindade.
Entre estes milagres um especialmente, narrado pelo evangelista São Lucas (7, 1-10), atrai-nos a atenção: a cura do empregado do centurião romano. E vários são os admiráveis aspectos que nos evoca esta cura: feita à distância por Jesus, além do que restituída a saúde perfeita daquele servo (o que não era comum numa cura milagrosa que se dava pela intercessão dos fariseus, sendo que algumas seqüelas permaneciam da doença), a humildade do centurião que, embora autoridade cheia de prestígio em Cafarnaum, reconhece-se indigno de se aproximar de Jesus ou de recebê-Lo em sua casa; e ainda, a própria admiração de Nosso Senhor sobre a fé do centurião na Divindade. Enfim, quantas maravilhas!
Face à impossibilidade de nos aprofundarmos na contemplação de todas estas belezas, pois a dimensão de um artigo não as comporta, deitemos nossa atenção para um aspecto talvez ainda insuficientemente considerado, no entanto rico e benfazejo para nossa vida espiritual e nossa própria existência humana.
Qual é este aspecto? Trata-se de uma “peculiaridade”, no dizer de Mons. João S. Clá Dias, um pormenor, no entanto muito alentador como poderemos verificar. É a realização do milagre feito por Jesus, pela intercessão de alguém cheio de fé e confiança no Salvador, em favor de outro, em atenção à fé do intercessor pedinte e não do beneficiado: “[…] repete-se, no caso, uma peculiaridade que já havia movido Jesus a realizar outros milagres, como a cura da sogra de Pedro (cf. 4, 38-39), ou o restabelecimento e perdão dos pecados do paralítico descido pela abertura de um teto (cf. Mc 2, 3-5): o Salvador não exige dos enfermos a manifestação do desejo de serem curados, bastando-lhe a fé dos intercessores” (1) [grifos nossos].
Com efeito, o Evangelho expressa a estima que o oficial romano tinha por seu empregado, tendo assim intercedido por ele, porém não menciona a razão porque este serviçal não implorara sua própria cura, sendo possível que este não detivesse um conhecimento mais aprofundado de quem era Nosso Senhor – em decorrência do qual lhe faltaria a fé – ou mesmo por alguma impossibilidade física, não manifestou ele mesmo ao Mestre o desejo de ser curado.
Seja como for, o pedido simples, humilde e cheio de fé foi feito pelo seu senhor e aí o fato: Jesus curou em atenção a uma mediação. Ou seja, a mediação feita com humildade e fé traz benefícios para o outro. Em suma: eis a eficácia da “fé dos intercessores”. Ou seja, Nosso Senhor gosta que rezemos uns pelos ou outros e vê com olhos misericordiosos o pedido de uns para com seus semelhantes. Tanto assim que, quando solicitado por um dos discípulos que os ensinasse a rezar, Ele disse-lhes a Oração mais bela da História e da piedade cristã (Lc 11, 2-4) e a mais agradável a Deus (2), porque ensinada pelo próprio Homem-Deus, na qual aconselha-nos a nos dirigirmos ao Pai Nosso e pedirmos por todos, e não somente para si, individualmente.
Eis aí, com efeito, o papel dos intercessores, daqueles que pedem a Deus pelo próximo, que dirigem súplicas ao Pai Eterno para que atenda as necessidades dos irmãos. A tal ponto é benéfico tal intercessão, que São Paulo assim se expressa em carta aos cristãos de Roma: “Rogo-vos, pois, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo, e pelo amor do Espírito Santo, que me ajudeis com as vossas orações por mim a Deus” (Rm 15, 30).
Isto para nós é de uma motivação, fortalecimento e consolidação em nós da esperança, virtude teologal “pela qual confiamos alcançar de Deus a vida eterna e os meios necessários para consegui-la” (3). Pois, se é verdade que em certos momentos, nos sintamos desestimulados devido às nossas falhas ou faltas para com Deus, podemos nos consolar, pois o Deus da Misericórdia estará aberto à prece feita pelos outros em nosso favor. Seja o pai, a mãe, um irmão, uma irmã, um amigo nosso ou até um desconhecido, alguém enfim que reze e peça por nós com fé, e sem que até o saibamos, recebemos favores e graças de Deus em quantidade e qualidade excelentes. Oh! Que maravilha, em relação à qual só poderemos tomar inteira ciência quando no Céu estivermos, pela bondade de Deus, conhecendo aqueles que nos fizeram bem e intercederam por nós. Quanta alegria!
Mas, a ti caro leitor, que porventura se julgue desamparado, sem parentes e amigos ou desconhecidos seu, que peçam por você… Realmente uma triste situação, pensará. No entanto, ainda que tal situação tivesse uma verossimilhança – uma aparência de verdade – absolutamente falando, isto não é assim. Poderia então acrescer: real ou hipotético, não tenho quem reze e interceda por mim!
Sim, você, eu, qualquer homem, mulher, criança, adolescente ou adulto da face da terra, tem alguém que pede por cada um em particular. Sendo que, com uma diferença, em relação à pessoa que é intercessora: não se trata do centurião romano, nem dos discípulos, no caso da sogra de Pedro, nem mesmo dos amigos do paralítico, casos que já mencionamos e que são descritos no Evangelho.
Mas, afinal, quem é esta pessoa que intercede por nós?
Mãe do Divino Amor
Paróquia de San Guinés – Madri – Espanha
É Maria, Mãe espiritual dos homens, é a nossa Mãe! “Maria é […] nossa Mãe verdadeira, não propriamente carnal, mas espiritual; não natural, mas sobrenatural. Esta verdade é a conseqüência lógica, necessária, da cooperação de Maria para a nossa Redenção, ou seja, nossa regeneração para a vida da graça”, conforme sacerdote mariano. (4)
A intercessão de Maria é universal, não discrimina ninguém, sempre aberta a todos e pedindo por todos, pobres, ricos, inteligentes, ignorantes, santos e pecadores, o que for; Ela é Mãe, a melhor de todas as mães. Vejamos de que forma São Luís Maria G. de Montfort descreve o amor de Maria Santíssima para conosco:
Ela os ama ternamente, e com mais ternura que todas as mães juntas. Acumulai de se puderdes, num só coração materno e por um filho único, todo amor natural que todas as mães deste mundo têm por seus filhos: sem dúvida essa mãe amaria muito esse filho. É verdade, entretanto, que Maria ama ainda mais ternamente seus filhos do que aquela mãe amaria o seu. Ela não os ama somente com afeição, mas também com eficácia. (5)
E por que Nossa Senhora é nossa medianeira? Nos responde, em consonância com o sentir comum dos teólogos, Mons. João Clá Dias: “É, pois, em conseqüência de sua cooperação no sacrifício redentor de Cristo Jesus, e de sua maternidade espiritual sobre todos os redimidos, que Maria adquiriu os títulos de Medianeira e Dispensadora universal de todas as graças…”. (6)
Esta doutrina está consignada de modo expresso e claro no Catecismo da Igreja Católica, quando ensina:
Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura ininterruptamente, a partir do consentimento que ela fielmente prestou na anunciação, que sob a cruz resolutamente manteve, até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assunta aos céus, não abandonou este múnus salvífico, mas, por sua múltipla intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. (…) Por isso, a bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de advogada, auxiliadora, protetora, medianeira. (7)
Eis a maravilhosa lição que podemos tirar a propósito destas considerações que fizemos a partir da contemplação de Jesus operando seus milagres a rogos de intercessores e mediadores, subindo para a mais alta das mediações: temos uma Mãe que reza por você, uma Mãe que reza por mim. Diante de tal misericórdia divina, precisaremos a eternidade para agradecer tamanha dádiva. A Mãe de Deus e nossa pede por nós. Que poderemos nós temer?
Sigamos o conselho que nos dá São Bernardo, o Doutor melífluo, invocando sempre Maria, a Estrela do Mar, por nós e pelos outros, confiando inteiramente em sua intercessão:
E o nome da Virgem era Maria (Lc. 1, 27). Falemos um pouco deste nome que significa, segundo se diz, Estrela do mar, e que convém maravilhosamente à Virgem Mãe… Ela é verdadeiramente esta esplêndida estrela que devia se levantar sobre a imensidade do mar, toda brilhante por seus méritos, radiante por seus exemplos.
Ó tu, quem quer que sejas, que te sentes longe da terra firme, arrastado pelas ondas deste mundo, no meio das borrascas e tempestades, se não queres soçobrar, não tires os olhos da luz desta estrela.
Se o vento das tentações se levanta, se o escolho das tribulações se interpõe em teu caminho, olha a estrela, invoca Maria.
Se és balouçado pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria.
Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria.
Se, perturbado pela lembrança da enormidade de teus crimes, confuso à vista das torpezas de tua consciência, aterrorizado pelo medo do Juízo, começas a te deixar arrastar pelo turbilhão da tristeza, a despenhar no abismo do desespero, pensa em Maria.
Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria.
Que seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dEla, não negligencies os exemplos de sua vida.
Seguindo-A, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando nEla, evitarás todo erro.
Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim.
E assim verificarás, por tua própria experiência, com quanta razão foi dito: “E o nome da Virgem era Maria. (8)
Por Adilson Costa da Costa
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(1) Mons. João S, Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 128.
(2) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã. Do Pai Nosso. 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 38.
(3) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã. Da Esperança. 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 100.
(4) Padre Gabriel Roschini. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p 72.
(5) São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. 42ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 195.
(6) Mons. João S. Clá Dias, EP. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. v. II, 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2011, p. 125.
(7) Catecismo da Igreja Católica. A maternidade de Maria com relação à Igreja: n. 969. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 273-274.
(8) São Bernardo. A Maria Estrela do Mar. Disponível em: <http://oracoes.arautos.org/2011/10/a-maria-estrela-do-mar/>. Acesso em 31 maio 2013.
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