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A História de Santa Hildegonda: a obediência é a guarda da inocência (Parte I)

Estamos na Europa Medieval. Uma mãe estava para dar à luz, porém o parto trazia complicações. Nasceu Hildegonda e sua irmã gêmea, mas infelizmente, por algum desígnio divino, Deus quis levar naquele momento a vida de sua mãe. O pai, muito preocupado com a sobrevivência das duas filhas, fez uma promessa de ir em peregrinação até a Terra Santa caso elas passassem com vida por essa situação difícil. Deus premiou a Fé daquele pobre homem. Conseguiu os auxílios de que precisava e as duas irmãs cresceram sadias nas terras da bela Alemanha onde haviam nascido.

Quando ambas tinham por volta de dez anos, seu bom pai, já com idade um pouco avançada, decidiu que havia chegado o momento de empreender a heroica e abençoada viagem a Jerusalém. Entendeu ser prudente deixar a irmã de Hidelgonda sob os cuidados de fervorosas religiosas, que viviam em um Mosteiro próximo e levar apenas uma das filhas para auxiliá-lo no audacioso propósito.

Terra Santa – Jerusalém

Entretanto, analisando melhor a situação, compreendeu que, sendo sozinho e já não tendo as forças da juventude, não poderia proteger a pureza de sua inocente filha contra malfeitores e ladrões que rondavam os caminhos. Como resolver tão premente problema e pagar sua fervorosa promessa?

Talvez, inspirado pelo Espírito Santo, o piedoso pai pensou em uma criativa solução: deu roupas de menino para a pequena menina, cortou bem curtos seus cabelos e com sua paterna autoridade, deu a Hildegonda uma ordem que de modo algum ela poderia desobedecer. Explicou-lhe que seria uma viagem perigosa e que ela não mais se chamaria Hildegonda, nem deveria agir como uma menina. Daquele dia em diante, chamar-se-ia “José” e só poderia atender por este nome, como se fosse um menino. Hildegonda, sempre obediente, aceitou com humildade e boa disposição tudo o que seu pai lhe pedia.

Partiram, então, pai e “filho” rumo ao longínquo, místico e misterioso Oriente Médio. Para chegar a seu objetivo, deveriam primeiramente deslocar-se das terras germânicas até a Península Itálica onde embarcariam, junto a um de seus numerosos e movimentados portos, em algum navio que se dirigisse, pelo Mar Mediterrâneo, em  direção ao sol nascente.

O percurso foi duro, longo e extremamente desgastante. Conseguiram chegar nas terras alegres e cheias de vida que hoje chamamos de Itália, porém a saúde do corajoso pai ressentiu-se das dificuldades que uma viagem como essa, naquela época, trazia. Apesar dos auxílios sempre prontamente prestados pelo solícito e bondoso José, a doença progredia irreparavelmente.

Pressentindo, em meio às dores e preocupações, que um outro desígnio divino ainda mais incógnito poderia talvez levar-lhe não à Terra Santa, mas ao Paraíso, chamou seu amado “filho” e disse-lhe que se morresse, seria ainda mais importante que ele continuasse observando a ordem que lhe havia dado. Para sua segurança e para o bem de sua alma, devia continuar vivendo com sua segunda identidade, nunca revelando este segredo. Era preciso mais do que nunca continuar a ser “José”.

Mais uma vez a inocente criança acolheu inteiramente os conselhos de seu bom pai que, pouco depois, entregava suas filhas e sua alma a Deus, assim como Lhe havia entregue alguns anos antes, a alma de sua esposa. Realmente as duas filhas estavam nas mãos de Deus, mas em condições inteiramente adversas: uma nas mãos de santas religiosas e, desta forma, nas mãos do Altíssimo; outra sozinha, sem pais, sem amigos, sem bens, num país de língua estranha e sem proteção humana, sujeita à má influência de pessoas maldosas, com risco de perder sua inocência e a salvação de sua alma.

Sem dúvida, podemos dela também dizer que tal era a dificuldade enfrentada, que estava somente amparada por Deus, e nas mãos da sua Divina Providência. Sem outra opção, teve que contar com a caridade alheia e começou então a mendigar…

Qual seria agora o destino de Hildegonda, ou melhor, do pobre menino mendigo chamado José?

Se considerarmos quão impressionantes são os problemas que enfrentou e enfrentava, mais impressionante é o que se passaria a partir deste momento e as lutas que teve de travar!

Se queres conhecer tudo isso, caro leitor, reze e espere pelo próximo artigo que trará o fim inimaginável desta história.

Salve Maria e até o próximo artigo!  

Por Marcelo Veloso Souza Mendes

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As lições do Divino Mestre: humildade e mansidão

Neste vale de lágrimas há pobrezas e pobrezas, incontáveis vezes nos deparamos com a mendicância, estado doloroso pelo qual falta ao ser humano tudo que há de mais elementar para sua existência: alimentação, vestimentas e habitação.

Quando por exemplo, devido a alguma doença, inexistem possibilidades legítimas de se alçar uma condição de vida digna, de trabalhar e sair da situação de indigência, o único caminho para tal pessoa é mendigar.

Dir-se-á: situação pior não há! No entanto, generaliza-se uma forma de “mendicância”, não propriamente material, e sobretudo não ornada pela dor resignada.

Trata-se de uma precariedade nem sempre aparente: a miséria da alma! Estado que, infelizmente, se faz recorrente naqueles que, perdendo a visão religiosa da vida – a partir da qual o homem encontra sua finalidade no conhecer, amar e servir a Deus –, colocam-se no centro de sua própria existência, numa espécie de egolatria.

Perdendo esse prumo inicial e essencial para a vida, a alma inicia uma busca constante e sem limites pela satisfação pessoal, mas que parece escapar-lhe por entre os dedos cada vez que pensa tê-la encontrado; não em Deus mas em si ou nas ilusões terrenas  com as quais procura preencher-se.

O coração humano só encontra o verdadeiro repouso em Deus!

Há pessoas, sejam ricas ou pobres materialmente, que guardam entre si uma nota caracterísitca: são miseráveis de alma! Vivem para mendigar a atenção, o aplauso, a fama, o reconhecimento e a boa opinião dos outros. Tentam, no fundo, encontrar nestes o apoio para persistirem numa posição contrária à ordem estabelecida por Deus para reger a existência e o convívio humanos: a humildade, em que cada um é aquilo que é; nem mais, nem menos.

Por outro lado, existem pessoas também ricas ou pobres de bens materiais, mas que trazem em seus corações o tesouro da generosidade e da admiração em relação ao próximo, almas que têm Deus no seu prumo e em sua meta primeira. São os humildes, que nas palavras de Nosso Senhor, tornaram-se tal qual crianças para adquirirem o Reino dos Céus.

Em sua existência terrena, Nosso Senhor conviveu com pessoas de variadas mentalidades; entre elas, infelizmente, algumas que careciam miseravelmente de humildade. Um exemplo que vem muito a calhar é o apresentado no Evangelho de São Lucas do 22º Domingo do Tempo Comum, em que Ele visita a casa de um chefe dos fariseus, em um jantar seleto, mas em que a miséria de alma apareceu com cores fortes…

“Jesus e os fariseus” – Museu de Artes – Montreal (Canadá)

Reparando que os convidados procuravam os primeiros lugares à mesa, Nosso Senhor os censura com uma pequena parábola, em que um convidado sentou-se em local de destaque num casamento, mas é convidado a cedê-lo para um personagem mais ilustre, numa situação constrangedora. Com sua divina mansidão, censura delicadamente a atitude dos convivas pretenciosos, aconselhando-os a não agirem deste modo, mas a procurarem os últimos lugares, para que, se for o caso, sejam convidados a subir e não a descer, o que é honroso. É de uma sabedoria incontestável!

Além disso aconselha também ao anfitrião, que convidara, muito provavelmente, aqueles dos quais poderia barganhar prestígio, interesses pessoais, trocas de favores e outras misérias do gênero. Era ele um esmoler de mesquinharias, incapaz de reconhecer o tesouro infinito que teve a honra de receber em sua casa: o próprio Homem-Deus. Este exorta-o a convidar para suas festas os pobres e aleijados, aqueles que não lhe poderiam retribuir com nenhuma vantagem. Esta ação generosa seria então recompensada eternamente por Deus na ressurreição dos justos. Destes conselhos depreende a belíssima conclusão:

 “Porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha, será elevado.”(Lc 14, 11)

Sigamos o Divino Mestre e Pedagogo que afirma, conforme narrado no Evangelho de São Mateus, que devemos imitá-Lo: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt. 11, 29).

Comentando este mesmo Evangelho, Mons. João Clá Dias, Fundador dos Arautos do Evangelho, escreve:

“Na verdade, Ele é muito mais do que isso, pois essas virtudes, que o homem luta por praticar, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade as possui em essência: Jesus é a humildade e a mansidão.

Quem é verdadeiramente humilde, é também manso, tem flexibilidade de espírito, está disposto a servir ou a obedecer a seu irmão, preocupa-se mais com os outros do que consigo mesmo, aceita qualquer humilhação ou ofensa com alegria, e quando nota um defeito na atitude de outro, reza por ele e procura não deixar transparecer o que percebeu. Pratica, assim, uma elevada e nobre forma de caridade para com o próximo.” (1)

Vale ressaltar que se Nosso Senhor usou de sinceridade para com os fariseus denunciando seu erro, foi porque discerniu neste modo de agir, aquele que mais faria bem àqueles pobres homens, naquela situação; agindo com fortaleza, mas prudentemente.

Nossa Senhora, exemplo de humildade e mansidão

Imaculado Coração de Maria – Arautos do Evangelho

Eis o grandioso ensinamento deixado por Nosso Senhor a todos nós: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc. 10, 45).

Sigamos o exemplo de Maria Santíssima, que em sua vida terrena praticou maximamente as virtudes da humildade e mansidão; procurando em pensamentos, atos e palavras servir aos desígnios da Providência para que o Sol da Justiça brilhe majestade e plenitude sobre todos os corações.

Peçamos pela intercessão de Nossa Senhora das Graças, que busquemos não as ilusões passageiras dos ególatras, mas as graças de Nosso Senhor Jesus Cristo para tornar-nos humildes e mansos de coração, para assim obtermos os dons da fortaleza e sabedoria.

 Por Marcelo Veloso Souza Mendes

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. Humildade e mansidão. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 314-315.

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A morte foi tragada pela vitória

Na Festa da Assunção de Nossa Senhora, a Liturgia das Horas ou Ofício Divino, que os Arautos do Evangelho recitam diariamente, trouxe um maravilhoso texto, ao qual bem poderia se chamar de uma autêntica “Pérola preciosa”. Ao recitá-lo na abençoada Capela da casa dos Arautos de Maringá, tivemos uma bela surpresa: esta preciosa pérola trazia dentro de si – quais as famosas bonecas russas – citações que são como outras pérolas,  surpreendentemente tão brilhantes e maravilhosas quanto o texto inicial que as continha.

Nossa Senhora da Assunção – Catedral de Lisboa, Portugal

Era a segunda leitura, da “Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus”, do Papa Pio XII (1). Diante de tão belas jóias da Teologia mariana católica, produzidas não no interior de conchas marinhas, mas no interior das almas santas, só nos resta o silêncio admirativo e sua exposição ao nosso querido público como uma homenagem à gloriosa Assunção da Santíssima Mãe de Deus.

Assim se expressa Pio XII a respeito da Assunção:

“São João Damasceno, entre todos o mais notável pregoeiro desta verdade da Tradição, comparando a Assunção em corpo e alma da Mãe de Deus com seus outros dons e privilégios, declarou com vigorosa eloquência: ‘Convinha que Aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que Aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divinos. Convinha que a esposa, desposada pelo Pai, habitasse na câmara nupcial dos Céus. Convinha que, tendo demorado o olhar em seu Filho na Cruz e recebido no peito a espada da dor, ausente no parto, o contemplasse assentado junto do Pai. Convinha que Mãe de Deus possuísse tudo o que pertence ao Filho e fosse venerada por toda criatura como Mãe e serva de Deus’. […]

Continua Pio XII, a respeito da vitória sobre o pecado e a morte alcançada por Nosso Senhor Jesus Cristo com a cooperação da Virgem Santíssima, baseando-se em São Paulo:

“Por este motivo, assim como a gloriosa ressurreição de Cristo era parte essencial e o último sinal desta vitória, assim também devia ser incluída a luta da santa Virgem, a mesma que a de seu Filho, pela glorificação do corpo virginal. O mesmo Apóstolo dissera: ‘Quando o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá o que foi escrito: A morte foi tragada pela vitória (1Cor 15, 54; cf. Os 13, 14)’”.

Este é mais um dos infindáveis tesouros da Santa Igreja Católica, que estão às vezes fora do alcance das vistas de muitos de nós, como as pérolas que jazem muitas vezes no fundo dos oceanos. Porém, para aqueles que as encontram, valem as palavras de Nosso Senhor, segundo o qual, o Reino de Deus é como um mercador de pérolas que, ao encontrar uma delas especialmente valiosa, vende tudo que tem para comprá-la.

Esperamos que o leitor tenha dado, senão tudo o que tem,  pelo menos alguns minutos de seu tempo para contemplar estas maravilhosas pérolas encontradas nos recônditos dos oceanos da Doutrina Católica.

Por Marcelo Veloso Souza Mendes

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(1) Liturgia das Horas segundo Rito Romano. Vol. IV. Tempo Comum. 18ª – 34ª Semana. Ed. Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave-Maria, 1999. Pág. 1197-1199

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