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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte III)

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Vida, doçura e esperança nossa, salve!”

Implorando à Nossa Mãe Santíssima que nos conceda graças especiais, vamos avançando na meditação desta magnífica oração da Salve, Rainha, objetivando que ela seja rezada com devoção cada vez maior e que constitua para cada um em particular um doce hino de louvor prestado à Rainha do Céu e da Terra.

Nas invocações desta segunda frase, a Igreja nos convida, em primeiro lugar, a chamarmos nossa Rainha de vida. Sendo assim, consideremos o significado desta invocação. Quando começa, de fato, a nossa “vida”? Em termos naturais, pode-se afirmar que a vida começa no momento da concepção, embora correntes não-católicas queiram considerar que a vida se inicia apenas em certas etapas do desenvolvimento do embrião ou feto, ou mesmo, apenas no momento efetivo do nascimento da criança. Com efeito, conforme ensina o Catecismo da Igreja Católica, “a vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção”(1)

Porém, muito mais importante que o começo de nossa vida natural, física, é o início da nossa verdadeira vida (no sentido mais pleno da palavra, sob o ponto de vista católico), que começa no momento de nosso Batismo, o qual para nós “é a fonte da vida nova em Cristo, fonte esta da qual brota toda a vida cristã”(2). Se compreendermos, portanto, que a verdadeira vida vem da graça de Deus, e que Maria Santíssima é a Mãe da Divina Graça, fica fácil compreender por que a Igreja nos recomenda chamá-la, nesta oração, de vida. Muito claramente trata Santo Afonso de Ligório a respeito deste ponto:

“Para a exata compreensão da razão por que a Santa Igreja nos ordena que chamemos a Maria nossa vida, é necessário saber que, assim como a alma dá vida ao corpo, assim também a graça divina dá vida à alma. Uma alma sem a graça divina só tem nome de viva, mas na realidade está morta (…) Obtendo Maria por meio de sua intercessão a graça aos pecadores, deste modo lhes dá vida”.(3)

Ou seja, uma pessoa que esteja privada da graça da Deus, não tem em si a vida verdadeira; tem apenas uma aparência de vida. Portanto, se tivermos a infelicidade de pecar ofendendo a Deus gravemente, perdendo a vida da graça em nós, rapidamente procuremos o Seu perdão, para recobrar a vida plena. Como nos ensinam os santos, procuremos Maria, para que Ela nos obtenha de volta a nossa vida, que é Jesus Cristo!

Além de nos obter de volta a nossa vida quando pecamos, Maria Santíssima também nos obtém a graça da perseverança: mantém acesa em nós a chama da vida da graça.

Maria Santíssima é também nossa doçura.

No Tratado da Verdadeira Devoção, S. Luís comenta que “nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós” (4), portanto ao fazermos um sério e rigoroso exame de consciência, ao analisarmos detidamente como tem sido nossa vida até hoje, reconhecemo-nos inteiramente necessitados do perdão e da misericórdia de Deus. Por vezes, pode assaltar-nos um sentimento de temor diante de nossas misérias e pecados. Qual será nosso destino eterno se não nos convertermos verdadeiramente? A vista da sentença do juiz e do grave “apartai-vos de mim” (cf. Lc 13,27) pode – e deve – fazer-nos tremer de pavor.

Mas, qual não deve ser o nosso consolo, a nossa confiança, ao pensarmos na doçura de nossa Mãe Santíssima, que intercede por nós junto ao Juiz, que é seu próprio Filho? Como auxílio de Maria, nada devemos temer, pois é Ela “perfeitamente afável, doce, misericordiosa e condescendente para que aqueles que A invocam. A esta Mãe clementíssima devemos o fato de haver suavidade em nossa vida. Ela nos obtém a graça divina e, portanto, forças para a prática da virtude. Ora, a virtude é o que há de doce no existir humano. Sem ela, nossa vida seria amarga e sinistra. Assim, Nossa Senhora é a doçura que, proporcionando-nos a virtude, confere suavidade à nossa existência terrena”.(5)

Esperança nossa, Salve!

Muitas vezes nos decepcionamos por colocar a nossa esperança nas criaturas. Em geral temos muitos amigos, mas, infelizmente a maioria deles costuma desaparecer nas horas de dificuldade e, repentinamente, nos vemos sozinhos diante de nossos problemas, sejam eles de qualquer natureza: doenças, problemas na família, problemas financeiros, etc. “Os amigos verdadeiros e os verdadeiros parentes não se conhecem no tempo de prosperidades, mas sim no das angústias e desventuras. Os amigos do mundo não deixam o amigo, enquanto está em prosperidade. Mas o abandonam imediatamente, se lhe acontece uma desgraça ou dele se avizinha a morte”(6)

Felizes, portanto, aqueles que põem a sua esperança na intercessão de Maria Santíssima! Ela “não é uma esperança nossa; Ela é a esperança nossa. E esperança tal que, só por causa dEla, nossa existência se torna doce e suportável. Mãe de misericórdia, Ela é a vida, a doçura e a grande esperança dos degredados filhos de Eva”.(7)

Encerremos com Santo Afonso de Ligório:

Motivo tem, pois, a Igreja em aplicar a Maria as palavras do Eclesiástico (24,24), com as quais lhe chama a Mãe da santa esperança. Mãe que faz nascer em nós, não a esperança vã dos bens transitórios desta vida, mas a santa esperança dos bens imensos e eternos da vida bem-aventurada. Salve, esperança de minha alma, saudava-a S. Efrém, salve, é segura salvação dos cristãos, auxílio dos pecadores, defesa dos fiéis, salvação do mundo. Aqui pondera S. Boaventura que, depois de Deus, outra esperança não temos senão Maria e por isso a invoca ‘como única esperança depois de Deus’”(8).

Na próxima parte: “A vós bradamos, os degredados filhos de Eva”

1) Catecismo da Igreja Católica. N. 2270, p. 591
2) Ibidem, n. 1254, p. 349.
3) Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. Ed. Aparecida: Santuário, 1989. P.. 74
4) S. Luís Maria G. de MOntfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Ssma. Virgem. 38ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009. P. 82
5) Mons. João Clá Dias, EP. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. S. Paulo: Artpress, 1997. P. 310.
6) Santo Afonso de Ligório. Op.cit. p. 88
7) Mons. João Clá Dias, EP. Op.cit. p. 287
8) Santo Afonso de Ligório, Op.cit. p. 98

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Eis que estarei convosco todos os dias!

Estimativas da imprensa mundial e do Vaticano indicam a presença de pelo menos 100.000 pessoas na Praça de São Pedro em Roma, para a última audiência pública do Papa Bento XVI, o qual, como foi largamente noticiado, deixará a Cátedra de Pedro no final da tarde deste dia 28 de Fevereiro de 2013.

A esta ocasião histórica acorreram todos quanto puderam, evidentemente: em mais de 600 anos é a primeira vez que um Pontífice renuncia ao papado por motivos que não sejam políticos. Quantos de nós, se pudéssemos, gostaríamos também de estar presentes e poder manifestar a gratidão ao Papa pelo seu incansável ministério, como, de fato, com muito entusiasmo o fizeram as 100 mil pessoas presentes, vindas de muitos países, de diferentes regiões do mundo. Sua Santidade, Bento XVI, desde o dia 11 de Fevereiro, festa de N.Sa. de Lourdes, tem explicado sua decisão, tomada face ao avançado da idade e de “não ter mais forças para exercer adequadamente o ministério petrino”.

Encerrada a cerimônia, e concedida a Bênção Apostólica, retirou-se o Sumo Pontífice para o interior do Vaticano, de onde, no dia 28 parte para Castel Gandolfo, deixando para trás o Trono de S. Pedro.

Feitas estas considerações, vem-nos à mente a enorme Praça de S. Pedro. O céu claro e o clima ameno contrastam com o ambiente geral. Após o final da audiência pública, aos poucos, como mostraram os meios televisivos, a imensa massa de gente vai deixando o local. Alguns ainda em festa, agitando as suas bandeiras nacionais. Outros, um tanto solitários e abatidos, preocupados com os rumos da Igreja de Cristo daqui em diante. Alguns, ainda, em profundo espírito de oração, confiantes na assistência do Espírito Santo sobre a Sua Igreja, lembrados das solenes palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao despedir-se dos – até então – vacilantes Apóstolos – palavras estas que magnificamente encerram o Evangelho de S. Mateus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Cf. Mt 28, 20).

Sim! A estes últimos nos juntamos, se não com a nossa presença física, mas em espírito de oração, com fé renovada na Cátedra de Pedro e na Santidade da Igreja. O Espírito Santo, que soube transformar um simples e instável pescador, no primeiro grande Papa, entregando-lhe “as chaves do Reino do Céu” (Cf. Mt 16,13-19) não deixará desassistida a sua Igreja.

Tanto é assim que podemos fazer nossas as palavras de nosso Fundador, Monsenhor João Clá, na revista Arautos, n. 78, de Junho de 2008:

Passaram-se dois milênios e, depois de tantas e catastróficas procelas, inabalável continua essa “nau de Pedro”, tendo Cristo, com poder absoluto, em seu centro. Nenhuma outra instituição resistiu à corrupção produzida pelos desvios morais ou pela perversão da razão e do egoísmo humano. Só a Igreja soube enfrentar as teorias caóticas, opondo-lhes a verdade eterna; arrefecer o egoísmo, a violência e a volúpia, utilizando as armas da caridade, justiça e santidade; pervadir e reformar os poderes despóticos e materialistas deste mundo, com a solene e desarmada influência de uma sábia, serena e maternal autoridade. Não podiam mãos meramente humanas erigir tão portentosa obra, só mesmo a virtude do próprio Deus seria capaz de conferir santidade e elevar à glória eterna homens concebidos no pecado.(1)

Portanto, já não é este um dia de tristeza, de abatimento. Ao contrário, é um dia que a Providência nos concede para termos a oportunidade de manifestar a nossa Fé: “Este é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Cf. Sl 117,24), ou seja, da prática da confiança inabalável. Coloquemo-nos na situação dos apóstolos, no meio de uma grande tormenta, que jogava violentamente as ondas dentro de sua pequena barca “de modo que já se enchia de água”. A eles Nosso Senhor se dirigiu: “Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?” (Cf. Mc 4 37-41).

Maria Santíssima, Mãe da Igreja, que sustentou a Igreja nascente, animando os Apóstolos, está intercedendo pela Igreja de Cristo, para que a “nau de Pedro” siga firme até o fim dos tempos, como também prometeu Nosso Senhor Jesus Cristo.

A Ela recorramos, hoje e sempre!

Por Prof. João Celso

1)# Monsenhor João Clá Dias, EP. Comentário ao Evangelho. Revista Arautos do Evangelho, Jun/2008, n. 78, p. 12 a 19

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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte II)

 

Nossa Senhora Rainha dos Corações

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,
vida, doçura e esperança nossa, salve!
A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.
A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.
E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre,
ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.

R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia”

Uma oração magnífica, completa, rica em significados, capaz de condensar, em uma única frase, vários aspectos da realeza e da maternidade de Nossa Senhora, resumindo, em doces palavras o papel dado a Ela por Deus, tendo em vista a nossa Salvação. Uma única frase comportaria anos de estudo, anos de meditação, quem sabe uma eternidade inteira devotada a saboreá-la. Pois, como menciona S. Luís no Tratado: “De Maria nunquam satis… Ainda não se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço ela merece” (1).

Pois bem: o que significa para a nossa vida espiritual invocar Maria como Rainha, como Mãe de misericórdia? Em primeiro lugar, analisemos, com Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja, o significado do título de Rainha dado a Nossa Senhora:

Santo Afonso Maria de Ligório

Tendo sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja a honra, e quer que de todos seja honrada com o título glorioso de Rainha. (…) Desde o momento em que Maria aceitou ser Mãe do Verbo Eterno, diz S. Bernardino de Sena, mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas as criaturas. (…) Se Jesus é rei do universo, do universo também é Maria Rainha. De modo que, quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas também devem servir a Maria. Por conseguinte estão sujeitos ao domínio de Maria os anjos, os homens e todas as coisas do céu e da terra, porque tudo está também sujeito ao império de Deus.(2)

Citando vários teólogos, doutores e santos da Igreja, na mesma linha de pensamento, o Monsenhor João Clá, EP, fundador dos Arautos do Evangelho, explica em sua obra magistral Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado os fundamentos da realeza de Maria:

Os títulos pelos quais podemos chamar Nossa Senhora de Rainha, são os mesmos de Cristo. Na ordem sobrenatural a graça coloca Maria tão acima de toda criatura, que não pode deixar de ser a Rainha natural do mundo (incluídos homens e Anjos). A isto, porém, deve se acrescentar, como sempre, o título jurídico de sua maternidade, fonte de todas suas prerrogativas e funções. Maria é a Mãe do Rei e deve desfrutar das honras de Rainha-Mãe.

Maria participou estreitissimamente e de maneira muito especial, nas grandezas e nas humilhações de Jesus Cristo, para não ser com Ele coroada de glória e de honra, elevada com Ele acima dos próprios Anjos, partilhando sua soberania, Rainha-Mãe ao lado do Rei seu Filho.(3)

A realeza de Maria, portanto, é real, efetiva e procede da vontade do próprio Deus. Maria é Rainha. Porém, essa realeza é exercida, sobretudo, nos corações. Com sua brilhante devoção e com um amor ardoroso à Mãe de Deus, S. Luís assegura, no Tratado, que Maria “recebeu de Deus um grande domínio sobre as almas dos eleitos” e quer moldar no coração de seus súditos “as raízes de suas virtudes” e não poderá fazê-lo se não tiver sobre eles “direito e domínio”.(4)

Maria, Rainha dos Últimos Tempos

Pensar em “domínio”, ou, em “ser dominado” pode gerar certo desconforto em algumas almas; certa apreensão. Numa época em que predomina em muitos ambientes uma mentalidade de independência e de autossuficiência, pode parecer desproporcional que alguém exerça domínio sobre outro. Parte dessa mentalidade se deve ao fato de que, infelizmente, em muitos lugares do mundo, ainda existem tiranos que exercem o poder pela força, subjugando e explorando os mais fracos, sem nenhuma misericórdia, o que é abominável, sob todos os aspectos, perante Deus e perante os homens. Mas, temos que reconhecer que a maior tirania, sem dúvida é a escravidão ao pecado, que “desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança”(5) E, nesse sentido, qual de nós pode dizer de si mesmo não ser carente da misericórdia de Deus? Quantas vezes temos que, a exemplo do publicano, bater no peito a cada dia e dizer: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador” (Cf. Lc 18,13). Dessa tirania do pecado, vem a nossa Rainha nos libertar!

O receio dá lugar a doce confiança

Devemos, pois, considerar, que ao mesmo tempo em que exerce a realeza e é Rainha em toda a acepção da palavra, Maria Santíssima é também Mãe de Misericórdia, Aí, certamente, a situação muda completamente e o receio dá lugar à doce confiança. Asseguram os santos que não há no mundo pecador tão perdido que não possa participar dessa misericórdia. Em uma revelação a Santa Brígida, Maria Santíssima lhe revelou o seguinte: “Eu sou Rainha do céu e Mãe de Misericórdia: para os justos sou alegria e para os pecadores sou a porta por onde entram para Deus”.(6)

Invoquemos a Maria, portanto, como Rainha dos nossos corações, pedindo a sua proteção para nossa vida, para os nossos problemas, para as nossas mais urgentes necessidades e para as necessidades do nosso próximo. Porém, invoquemo-la como uma Rainha que, ao mesmo tempo é Mãe de Misericórdia, pronta a nos atender em nossas penúrias, sempre que a ela recorrermos!

Por Prof. João Celso

1)# São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 38ª. Ed Petrópolis: Vozes,. ,2009, p. 22.
2)# Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787). Glórias de Maria. 3ª. Ed Aparecida: Ed. Santuário, 1989. P. 35
3) Mons. João Clá Dias, EP. Os títulos da Realeza de Maria. Disponível em: http://www.arautos.org/artigo/6462/III–ndash–Os-titulos-da-Realeza-de-Maria
4)# São Luís Maria G. de Montfort. Op.cit. p. 41 e 42.
5)# Catecismo da Igreja Católica, n. 1855. 10ª. Ed. São Paulo: Loyola, 2000. P. 497
6)# Santo Afonso Maria de Ligório. Op.cit., p. 41
 

Afresco de Mater Misericórdiae, diante do qual São Bento rezava, em sua juventude (Igreja de San Benedetto in Piscinula, confiada pelo Vicariato de Roma aos Arautos do Evangelho

Na próxima parte: “vida, doçura e esperança nossa”

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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – ( I Parte)

 

“Nossa Senhora do Bom Sucesso”
Capela da Casa Monte Carmelo,
dos Arautos do Evangelho, Caieiras – SP.

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Sem sombra de dúvida, é esta uma das mais belas orações marianas, recitada todos os dias pelos católicos no mundo inteiro, ao apresentarem suas súplicas à Virgem Santíssima. Bela pela sua simplicidade; bela, ao mesmo tempo, porque exprime as principais Verdadesrelacionadas à intercessão que Nossa Senhora exerce por nós junto a seu Divino Filho a cada instante. Como nas Bodas de Caná (Cf. Jo 2,1-11), mesmo antes de pedirmos, Ela se preocupa em socorrer as necessidades de seus filhos. A riqueza dessa oração nos recorda o nosso estado de pobres pecadores, necessitados da misericórdia de Deus; nos remete, ainda, à memória de nosso fim último: participar da vida bem-aventurada de Deus, (1) no céu, por toda a eternidade.

Por um piedoso costume popular, a Salve, Rainha é recitada ao final do Terço, como que coroando com uma suave, mas ardente súplica a devoção na qual meditamos os principais mistérios da nossa Redenção. Mas, infelizmente, pode ocorrer de ser rezada precipitadamente, sem a devida atenção a seus ricos e maravilhosos aspectos e, assim, muitas pessoas podem deixar de saborear toda a beleza contida em suas magníficas palavras.

A vivacidade é uma característica da Língua, não só Portuguesa, mas de todas as línguas faladas no mundo, e, por este aspecto, certas palavras muito bem empregadas na oração, já não fazem parte do vocabulário cotidiano da maioria das pessoas, principalmente dos mais jovens: “bradar”, “degredados”, “desterro” etc., não são palavras tão comuns e exigem certo esforço para serem bem compreendidas, para que não sejam repetidas apenas maquinalmente.

Sem deter-se friamente no mero significado das palavras dessa linda oração, mas procurando abarcar todo o seu significado – principalmente espiritual, o Blog dos Arautos do Evangelho de Maringá irá compartilhar com seus leitores alguns comentários à Salve Rainha, na seção Devoção a Nossa Senhora. Esses comentários serão extraídos de excelentes autores, entre os quais alguns santos – que se destacaram na História da Igreja por sua devoção marial.

Fazemos votos que nossos leitores possam aproveitar e, a partir da leitura e estudos desses comentários, aumentar cada vez mais o seu amor a Nossa Rainha Celeste, tendo-a constantemente como sua Advogada, até que tenhamos atravessado este “vale de lágrimas” e chegado, finalmente à nossa Pátria Celeste.

Origem da Salve, Rainha.

“Esta bela e graciosa oração da Salve, Rainha, por alguns atribuída ao Bispo Ademar de Puy (+1098), tem por autor a Hermano Contracto (+1054), monge beneditino do convento de Reichenau, no lago de Constança. Dele temos também certamente a admirável melodia. Já os primeiros Cruzados cantaram-na em 1099, o que mostra que o povo também a conhecia. Durante os séculos XII e XIII, mais e mais se espalhou o costume de cantá-la logo após as Completas. Assim faziam os Cistercienses desde 1218 e os Dominicanos desde 1226. Em 1239 o Papa Gregório IX introduziu esse cântico nas igrejas de Roma. Encaminhavam-se os monges, de velas acesas, para um altar lateral e aí o entoavam. No começo o hino dizia: Salve Rainha de Misericórdia. No século XVI introduziu-se-lhe a palavra mãe. Desde então lê-se no Breviário Romano: Salve Rainha, Mãe de Misericórdia. (2)

 

São Bernardo de Claraval, chamado Doutor Mariano

A parte final da Salve, Rainha, “ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre virgem, Maria” é comumente atribuída a São Bernardo de Claraval, grande Doutor da Igreja, que viveu entre os séculos XI e XII (1091-1153), que tinha um tal amor e tal devoção a Nossa Senhora, que é chamado doutor Mariano (3)

Prof. João Celso


Na próxima parte: “Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia”

1 – Catecismo da Igreja Católica, Prólogo.
 
2 – Santo Afonso de Ligório. Glórias de Maria. Editora Santuário, Aparecida, SP. 3ª.ed. 1989, P. 34 (Nota do tradutor).
3 – Bento XVI. Angelus. Castel Gandolfo, 20 de Agosto de 2006. Disponível em www.vatican.va

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Como lucrar as Indulgências do Ano da Fé

Artigo anterior, publicado neste Blog (1) lembra muito oportunamente aos nossos leitores a importância do estudo aprofundado da Fé e o quanto esse estudo é frutuoso para a nossa vida espiritual. Nesse sentido, o artigo propõe, entre outros, “o estudo do Catecismo e das verdades da fé”2 durante alguns minutos no nosso dia-a-dia.

Sim, esses são ótimos conselhos! Mas, obviamente, eles não se restringem ao fato de estudar por estudar e podem ir muito além. Quando se faz, por exemplo, uma primeira moagem da cana-de-açúcar, obtemos rapidamente um delicioso e energético caldo de cana (também conhecido como garapa). Porém, se insistimos um pouco mais e fazemos uma segunda e até uma terceira moagem da cana já dobrada e moída, é possível conseguir ainda mais um pouco de suco… até o ponto em que a pobre cana tenha dado tudo de si.

A mesma propriedade tem o estudo da nossa fé e devemos “dar tudo pelo tudo” (Cfr. S. João da Cruz). Sempre podemos tirar desse esforço um novo proveito: “espremer” um pouco mais e obter benefícios ainda maiores. E, na medida em que adquirimos mais conhecimento, devemos amar ainda mais a fé que abraçamos.

O estudo da Fé e os Tesouros da Santa Igreja

A Santa Mãe Igreja possui tesouros inesgotáveis para distribuir a seus filhos e ela é pródiga em fazê-lo. Entre os mais inestimáveis estão as Indulgências que são distribuídas aos fiéis em determinadas ocasiões.

“Notemos que é a Igreja quem, na pessoa de seu pastor, o Papa, nos dispensa este tesouro. Pois, com efeito, no poder que conferiu Nosso Senhor a São Pedro – e a seus sucessores – de abrir ou de fechar as portas do Céu aos homens (Mt 16,19), está contido o poder de retirar todos os obstáculos que impeçam o ingresso de uma alma no Céu. (3)

 

E eis que uma ocasião escolhida pela Igreja para, novamente, abrir as portas de seu Tesouro é, justamente, o Ano da Fé. Além das condições normais para se lucrar as Indulgências, o Estudo do Catecismo e das Atas do Concílio Vaticano II serão especialmente indulgenciadas. Portanto, uma oportunidade de ouro para conciliarmos estudo, crescimento intelectual e santificação.

Dom Eurico Santos Veloso - fonte: www.arautos.com.brÉ oportuno relembrar, portanto, o que são as Indulgências. Para isso, aproveitamos a clara definição da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), através de artigo de um de seus articulistas, Dom Eurico dos Santos Veloso, (Arcebispo Emérito de Juiz de Fora) (4):

“De acordo com o Manual das Indulgências aprovado pela Santa Sé e publicado em 1990 pela CNBB (cf. Edições Paulinas, SP, 1990, pág. 15-19), “indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos. (cf. Indulgentiarum Doctrina, Norma 1)”. Ou seja, tendo se reconciliado pelo Sacramento da Penitência – lembramos, aqui, da necessidade da perfeita contrição, sem nenhum afeto ao pecado -, e cumpridas as demais condições, o fiel recebe graças especiais (seja para si ou para a sua pessoa, ou para os irmãos que padecem no purgatório) para a remissão de algum “resquício do pecado”. “A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberta, em parte ou no todo, da pena temporal devida pelos pecados” (I.D., Norma 2).”

 

Além da referência acima citada, existe farto material a respeito desses tesouros que a Igreja coloca à nossa disposição, obtendo-nos a remissão parcial ou total de nossas penas. Riquíssima fonte de consulta para os católicos de todo o mundo, o próprio web-site do Vaticano (Cfr. www.vatican.va) disponibiliza inumeráveis documentos sobre o assunto. Também os diversos sites católicos podem ajudar àqueles que querem se aprofundar no estudo das Indulgências. De forma inequívoca podemos indicar o completo e excelente artigo de Michel Six, O que são as Indulgências? publicado pela Agência de Notícias Gaudium Press (5) (já citado acima).

Porém, mais importante do que conhecer sobre as Indulgências, é preciso desfrutá-las.  E a proclamação do Ano da Fé é uma ocasião única para isso.

“Enriquecem-se com o dom de Sagradas Indulgências práticas de piedade especiais a realizar durante o Ano da fé”

A Penitenciaria Apostólica é o tribunal da Cúria Romana encarregado – entre outros temas de foro íntimo e de misericórdia, dos assuntos relacionados às Indulgências e de divulgar para o mundo católico as disposições do Santo Papa a respeito. Especialmente para este ano, o tribunal publicou em 14 de Setembro de 2012, o

Decreto com o qual se concedem Indulgências por ocasião do Ano da Fé”. (6)

É muito importante que os fiéis, na medida de sua capacidade, procurem tomar conhecimento desse importante documento. Para maior facilidade, transcrevemos abaixo alguns trechos principais (incluídos alguns sub-títulos):

“Dado que se trata antes de tudo de desenvolver ao máximo nível — na medida do possível nesta terra — a santidade de vida e de alcançar, portanto, no grau mais alto a pureza da alma, será muito útil o grande dom das Indulgências que a Igreja, em virtude do poder que lhe foi conferido por Cristo, oferece a todos os que, com as devidas disposições, cumprirem as prescrições especiais para as obter. «Com a Indulgência — ensinava Paulo VI — a Igreja, valendo-se do seu poder de ministra da Redenção levada a cabo por Cristo Senhor, comunica aos fiéis a participação desta plenitude de Cristo na comunhão dos Santos, oferecendo-lhes em grandíssima medida os meios para alcançar a salvação» (Carta Ap. Apostolorum Limina, 23 de Maio de 1974: AAS 66 [1974] 289). Assim se manifesta o «tesouro da Igreja», do qual constituem «um desenvolvimento ulterior também os méritos da Bem-Aventurada Mãe de Deus e de todos os eleitos, desde o primeiro justo até ao último» (Clemente VI, Bula Unigenitus Dei Filius, 27 de Janeiro de 1343).

Ao longo de todo o Ano da fé, proclamado de 11 de Outubro de 2012 até ao fim do dia 24 de Novembro de 2013, poderão alcançar a Indulgência plenária da pena temporal para os próprios pecados, concedida pela misericórdia de Deus, aplicável em sufrágio pelas almas dos fiéis defuntos, a todos os fiéis deveras arrependidos, que se confessem de modo devido, comunguem sacramentalmente e orem segundo as intenções do Sumo Pontífice:

As formas de lucrar as Indulgências, indicadas no Decreto:

a.- cada vez que participarem em pelo menos três momentos de pregações durante as Missões Sagradas, ou então em pelo menos três lições sobre as Atas do Concílio Vaticano II e sobre os Artigos do Catecismo da Igreja Católica, em qualquer igreja ou lugar idôneo;

 

 
Basílica Menor - Nossa Senhora do Rosário de Fátima - Arautos do Evangelho

b.- cada vez que visitarem em forma de peregrinação uma Basílica Papal, uma catacumba cristã, uma Igreja Catedral, um lugar sagrado, designado pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. entre as Basílicas Menores e os Santuários dedicados à Bem-Aventurada Virgem Maria, aos Santos Apóstolos e aos Santos Padroeiros) e ali participarem nalguma função sagrada ou pelo menos passarem um tempo côngruo de recolhimento com meditações piedosas, concluindo com a recitação do Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima, as invocações à Bem-Aventurada Virgem Maria e, segundo o caso, aos Santos Apóstolos ou Padroeiros;

c.- cada vez que, nos dias determinados pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. nas solenidades do Senhor, da Bem-Aventurada Virgem Maria, nas festas dos Santos Apóstolos e Padroeiros, na Cátedra de São Pedro), em qualquer lugar sagrado participarem numa solene celebração eucarística ou na liturgia das horas, acrescentando a Profissão de Fé de qualquer forma legítima;

 
 

d.- um dia livremente escolhido, durante o Ano da fé, para a visita piedosa do batistério ou outro lugar, onde receberam o sacramento do Baptismo, se renovarem as promessas batismais com qualquer fórmula legítima.

 

 

Para os que não podem participar pessoalmente, a Santa Igreja encontra as soluções:

Os fiéis verdadeiramente arrependidos, que não puderem participar nas celebrações solenes por motivos graves (como, em primeiro lugar, todas as monjas que vivem nos mosteiros de clausura perpétua, os anacoretas e os eremitas, os encarcerados, os idosos, os enfermos, assim como quantos, no hospital ou noutros lugares de cura, prestam serviço continuado aos doentes), obterão a Indulgência plenária nas mesmas condições se, unidos com o espírito e o pensamento aos fiéis presentes, particularmente nos momentos em que as Palavras do Sumo Pontífice ou dos Bispos diocesanos forem transmitidas pela televisão e rádio, recitarem em casa ou onde o impedimento os detiver (por ex. na capela do mosteiro, do hospital, da casa de cura, da prisão…) o Pai-Nosso, a Profissão de Fé (Credo) de qualquer forma legítima e outras preces segundo as finalidades do Ano da fé, oferecendo os seus sofrimentos ou as dificuldades da sua vida”.(7)

É um tesouro incomensurável! Quanta bondade e misericórdia tem a Santa Igreja para conosco. Devemos nos esforçar para estar em comunhão com Ela, buscando lucrar todas as Indulgências possíveis durante este Ano da Fé (8): Em nossos grupos e comunidades, em nossas famílias, vamos reservar tempo adequado para, sob a prudente orientação de nossos Pastores, estudar, ou melhor, saborear o Catecismo da Igreja Católica e as Atas do Concílio Vaticano II. Ao encerrar, imploramos a Nossa Mãe Santíssima que nos obtenha de seu Divino Filho todas as graças de que precisamos para bem caminhar durante este Ano, rezando com os Apóstolos: “Aumenta-nos a fé!” (Cfr. Lc 17,5)

Por Prof. João Celso – Arautos Maringá

 
[1]Adilson Costa da Costa. O Ano da Fé e o estudo frutuoso da Doutrina Católica. Arautos do Evangelho – Maringá – PR 23/01/2013. Disponível em: http://maringa.blog.arautos.org/2013/01/o-ano-da-fe-e-o-estudo-frutuoso-da-doutrina-catolica/
 2 Idem
3 Michel Six. O que sãs as Indulgências?. Gaudium Press. 05/07/2012. Disponível em: http://www.gaudiumpress.org/content/38370-O-que-sao-as-indulgencias-
 4 Dom Eurico dos Santos Veloso.  O que são as indulgências. CNBB, 2008. Disponível em http://www.cnbb.org.br/site/articulistas/dom-eurico-dos-santos-veloso/3686-o-que-sao-as-indulgencias
 5 Michel Six. O que sãs as Indulgências?. Gaudium Press. 05/07/2012. Disponível em: http://www.gaudiumpress.org/content/38370-O-que-sao-as-indulgencias-
6 Penitenciária Apostólica. Decreto. Roma, 14/092012. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/tribunals/apost_penit/documents/rc_trib_appen_doc_20120914_annus-fidei_po.html
7 Idem.
8 As diferentes formas de receber Indulgências durante o Ano da Fé. Gaudium Press. 18/01/2013. Disponível em: http://gaudiumpress.org/content/43485-As-diferentes-formas-de-receber-indulgencias-durante-o-Ano-da-Fe#ixzz2JYljVFJV
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