By

Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte V)

 Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas

A incomparável bondade de Deus presenteou o mundo e os homens que nele habitam com uma quantidade enorme de belos e encantadores vales.

O Grand Canyon, Colorado, EUA

Esses acidentes geográficos podem variar enormemente de extensão, comportando apenas alguns quilômetros, como também milhares de quilômetros quadrados de área. Geralmente se constituem em uma área de baixa altitude, na qual corre um rio, cercado de montanhas. Podem ser vales desertos e quase sem vegetação, como o Grand Canyon, localizado nos Estados

Castelo de Neuschwanstein, Alemanha

Unidos e descoberto por espanhóis no século XVI. Este vale, imenso, chega a ter profundidades de 1.600 metros! Podem ser também imensos vales verdejantes, cercados por montanhas cobertas por neve, ou por abundantes florestas verdes, nas quais, com elegância, pode um imponente castelo ocupar lugar de destaque na paisagem, como por exemplo o Castelo de Neuschwanstein, que por sua graça e beleza é o edifício mais fotografado na Alemanha.

Na França existe um vale muitíssimo famoso, o Vale do Loire, também conhecido como Jardim da França. Toda a paisagem do rio Loire é coberta por castelos magníficos, que demonstram como a genialidade humana, quando corresponde aos estímulos do Evangelho, pode emoldurar ainda mais a já privilegiada natureza da região. A esses castelos acorrem visitantes do mundo inteiro, em todas as épocas do ano, para contemplar a sua grandiosidade e beleza únicas. Seus castelos mais famosos são os de Chambord e Chenonceau, além de outras dezenas, igualmente visitados e referenciados.

Castelo de Chenonceau, Vale do Loire, França

 

Castelo de Chambord
Vale do Loire, França

Neste nosso Brasil, abençoado por Deus com uma natureza rica e variada, temos também os nossos verdes e exuberantes vales, cujos rios caudalosos fazem os rios da Europa parecerem pequenos riachos. São também de uma beleza extraordinária e proporcionam àqueles que os visitam uma sensação de bem estar, como que uma antessala do que seria o Paraíso terrestre, do qual, em consequência do pecado, foram expulsos nossos primeiros pais.

Em outras palavras, a admiração a esses vales nos remete à grandeza de Deus e nos fazem imaginar como será o Céu, que Ele tem preparado para nós desde toda a eternidade. Enfim, seja para um descanso de férias, seja numa viagem a trabalho, quantos de nós não gostariam de visitar, conhecer e – quem sabe! até morar em um desses vales. De fato, não seria pequena a satisfação de constantemente contemplar a natureza intocada, ou a natureza redesenhada pelo homem, cuja contemplação nos remete a nosso fim último.

No entanto, ainda como consequência do pecado de nossos primeiros pais, nós somos constrangidos a morar e a conviver uns com os outros em outro vale: O vale de lágrimas. Com efeito, a oração da Salve Rainha, nos convida a recorrermos a Nossa Senhora, “suspirando, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Esta frase nos indica que não podemos ter felicidade plena, completa, nesta terra. Sempre estaremos cercados de problemas, ou doenças, ou provações, algum tipo de infelicidades, as quais nos fazem suspirar, gemer e chorar. E esse nosso lamento só pode ser aliviado com a presença de Deus em nossas vidas. Por que Deus permite que isso seja assim? Comenta o Monsenhor João Clá, EP, fundador dos Arautos:

Assim como o carvão, para se transformar em diamante, precisa ser submetido às altíssimas temperaturas e pressões encontradas nas entranhas da Terra, nossas almas necessitam do sofrimento, neste vale de lágrimas, para merecermos a glória celeste. E para bem suportarmos os padecimentos que nos esperam, façamos, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, o pedido contido no salmo: ‘Sobre nós venha, Senhor, vossa graça, pois em Vós esperamos’ (Sl 32, 22)”(1).

Portanto, sempre que tivermos sofrimentos a enfrentar – e sempre os teremos, somos convidados a recorrer a Nossa Senhora, que poderá nos amparar com as suas graças. Nesse sentido, ensina-nos Santo Afonso de Ligório:

Que o recorrer, pois, à intercessão de Maria Santíssima seja coisa utilíssima e santa, só podem duvidar os que são faltos de fé. O que, porém, temos em vista provar é que esta intercessão é também necessária à nossa salvação. Necessária, sim, não absoluta, mas moralmente falando, como deve ser. A origem desta necessidade está na própria vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças que nos dispensa.”(2)

Exatamente no mesmo sentido, complementa S. Luís Maria Grignion de Montfort:

Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua fiel esposa, seus dons inefáveis, escolhendo-a para dispensadora de tudo que ele possui. Deste modo ela distribui seus dons e suas graças a quem quer, e dom nenhum é concedido aos homens, que não passe por suas mãos virginais. Tal é a vontade de Deus, que tudo tenhamos por Maria e assim será enriquecida, elevada e honrada pelo Altíssimo, aquela que, em toda a vida, quis ser pobre, humilde e escondida até ao nada”(3)

Temos em nossas vidas momentos de calmaria, mas temos também momentos de tempestade. O mais importante é estarmos sempre agarrados à mão de nossa Protetora, Aquela que nos ajuda a atravessar o vale de lágrimas e chegar ao outro lado. Que a nossa confiança cresça a cada dia, e não deixemos jamais de recorrer ao auxílio de nossa Mãe Santíssima!

Por Prof. João Celso

Na próxima parte:

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei

1) Monsenhor João Clá Dias. Há vida sem sofrimento? Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2012, p. 10 a 17.
2)Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. ed. Aparecida: SP, Editora Santuário, 1989. p. 132
3)São Luis Maria G. de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 38ª. Ed. Petrópolis: RJ, Vozes, 2009. P. 31

By

Centro de Convivência do Idoso de Paiçandu: A alegria do amor ao próximo.

No último dia 08 de Março, em Paiçandu, cidade da região metropolitana de Maringá, o Centro de Convivência do Idoso Professora Manoelina Maria Chefe, realizou um evento de confraternização, juntamente com a Secretaria Municipal de Assistência Social de Paiçandu. Num ambiente de muita alegria e inesquecível convívio, o coral dos Arautos do Evangelho de Maringá entoou vários cânticos acompanhados com viva participação dos presentes.

Nesta ocasião, juntamente com os Arautos, deu-se a visita da Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria. As bênçãos da Providência se fizeram sentir nesta instituição, como se sucede em ocasiões análogas e nos mais diversos lugares do Brasil e do Mundo.

Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria

Seja numa pequena cidade no interior do Paraná, ou numa das cidades mais importantes do mundo, a imagem peregrina “continua beneficiando com sua presença instituições tão diversas como o Primeiro Regimento de Bersaglieri, do Exército italiano, em Consenza ou a Escola das Pequenas Escravas do Sagrado Coração, em Roma”, conforme narra a Revista dos Arautos deste mês de Março.(1)

Momentos como este são expressivos de uma convivência sadia, alegre e construtiva para a felicidade e a paz que todos queremos, é o fruto genuíno do amor ao próximo que, conforme as palavras de Mons. João Clá, Fundador dos Arautos, “deve ser universal e não podemos nos apoiar em pretextos, aparentemente legítimos, para não praticá-lo”.(2)

É nessa perspectiva do amor ao próximo e com esta intenção de benquerença, que os Arautos tiveram sua participação no evento no Centro de Convivência do Idoso, em Paiçandu. Que as palavras do Salmista vivifiquem cada vez mais todos os participantes desta benemérita instituição: “Vinde e vede como é bom, como é suave, os irmãos viverem bem unidos” (Salmo 132)

(1) Revista dos Arautos do Evangelho, mar/2013, n. 135, p. 31
(2) Revista dos Arautos do Evangelho, jul/2007, n. 67, p. 10 a 17 (clique aqui)
 

 

 

By

Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte IV)

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

.

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva”

Os santos são sempre enfáticos e unânimes ao se referirem ao papel de Nossa Senhora como nossa intercessora e nunca haverá o caso de algum santo (canonizado pela Igreja ou não) que não tenha sido propagador incansável da Devoção à Maria Santíssima.

Como refere São Luís Maria Grignion de Montfort, ter uma verdadeira devoção a Nossa Senhora é “sinal infalível e indubitável” de salvação e de santidade(1)

Estes comentários à Salve Rainha, têm sido escritos, por pura Graça da Providência divina, com a ajuda inestimável das obras de Santo Afonso Maria de Ligório, São Luís Maria Grignion de Montfort e outros destacados santos e autores marianos, além do precioso Catecismo da Igreja Católica.

Quem sabe, quando estivermos todos reunidos no Céu (ardentemente imploramos a Nossa Senhora a Graça de lograrmos êxito), pois para isso fomos criados(2), quem sabe! poderemos pedir a esses santos que nos façam um “Simpósio” (de no mínimo 1.000 anos de duração!), apenas para nos explicar a oração da Salve, Rainha. Já pensaram? Se quando ainda viviam no mundo, quando aqui ainda estavam “degredados”, esses santos doutores já tinham palavras angelicais para nos formar nessa devoção, como será agora que estão no céu, na visão beatífica, quando podem ter a graça de pedir diretamente à Santíssima Virgem que lhes esclareça, que lhes explique, que lhes mostre, enfim, todos os esplendores desta magnífica devoção? “Ó altura incompreensível! Ó largura inefável! Ó grandeza incomensurável. Ó abismo insondável”(3).

Cerro Torres – Argentina (Foto: Patrícia Alarcón)

Esse pensamento deve nos animar no caminho da santidade, deve nos confortar para carregarmos a nossa cruz com alegria, renovar a nossa esperança na intercessão de Nossa Mãe Santíssima.

Tem-nos feito companhia, também, com seus escritos, nestas meditações, o Monsenhor João Clá Dias, fundador dos Arautos do Evangelho, ele mesmo, um ardoroso e incansável propagador da Devoção à Nossa Senhora, com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior, as quais, de modo atraente e acessível, exaltam as grandezas da Mãe de Deus.

Nesta invocação, pedimos o auxílio de Nossa Senhora, na condição de filhos “degredados de Eva”. Para bem meditarmos sobre o alcance desse pedido, em primeiro lugar devemos refletir sobre a dureza do exílio.

Talvez muitos de nossos leitores já tenham experimentado a sensação de viver por um período no exterior, numa terra estranha. É comum muitas pessoas partirem para outros países, buscando melhores condições de vida; em geral viajam sós, deixando atrás de si filhos, esposa ou esposo, pais, mães, amigos. Às vezes esperam por anos a fio o momento em que a situação melhore e que a família possa se reunir novamente. Às vezes isso acontece; às vezes, não. Há alguns anos atrás, muitos brasileiros viajavam para lugares distantes: Japão, Europa, etc., em busca de uma vida melhor. Hoje em dia são os bolivianos, os haitianos, etc., que vem para o Brasil, em busca de oportunidades. Quanto desacerto, quantas dificuldades, quantas tristezas podem resultar desse exílio! Uma cultura estranha, uma língua desconhecida, sem amigos, sem apoio da família, enfim, uma vida de sofrimento material e espiritual.

Poderíamos mencionar ainda, os exilados involuntários, o exílio da prisão, o exílio da solidão, das doenças, etc.

A própria Sagrada Família, ao obedecer à voz do Anjo, partiu para o Egito, fugindo de Herodes. Podemos imaginar a angústia e o sofrimento de S. José nessa empreitada, sempre buscando obedecer em primeiro lugar a Deus, ao mesmo tempo em que buscava proteção para a Virgem e o Menino. (Cf. Mt 2, 13-15).

Estamos todos numa terra de exílio

Ora, “degredados” significa “desterrados”, “exilados”. E este é justamente o estado em que nos encontramos todos, nesta terra de exílio, a caminho de nossa pátria definitiva. Nosso lugar é o Céu e para lá nos dirigimos. Com muita propriedade, Santo Agostinho, resume a inquietude de nossa natureza em busca do Divino, escrevendo: “Criaste-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em Vós”.(4) Portanto, “degredados” somos, enquanto não atingirmos nosso último destino.

Eva e Adão

Enquanto vivemos nesta terra, nós, como verdadeiros “filhos de Eva”, necessitamos constantemente da Graça Divina, pois, sem esse auxílio eficaz e vigoroso, não somos capazes, por nós mesmos, de progredir e continuar trilhando o caminho do Céu.

Filhos de Eva, expressão que nos lembra a nossa condição de “implicados no pecado de Adão”(5), pois, como consequência do pecado cometido pelos nossos primeiros pais, também nós perdemos a santidade na qual o gênero humano foi inicialmente criado. “Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana”(6), que passa a ter “inclinação para o mal e para morte”(7). Complementa Santo Afonso: “Como pobres filhos da infortunada Eva, somos réus da mesma culpa e condenados à mesma pena. Andamos errando por este vale de lágrimas, exilados de nossa pátria, chorando por tantas dores que nos afligem no corpo e no espírito”(8)

Bradamos, portanto, o auxílio da graça, pela intercessão de Maria Santíssima. “Bradar!”, muito mais do que simplesmente pedir; nós pedimos em alta voz, como que, “aos gritos”.

Bradamos o auxílio de Maria porque Ela também conhece o que é o exílio. Não apenas por que, com São José exilou-se no Egito (como já referido acima), mas, sobretudo, após a Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, permaneceu ainda na Terra por muitos anos, para confirmar e ajudar a Igreja nascente, embora em seu coração desejasse mais do que tudo unir-se a seu Divino Filho, no Céu. Quantos anos permaneceu Nossa Senhora exilada antes de subir ao Céu? “A Tradição nos diz que a Virgem Maria permaneceu longo tempo na Terra depois da Ascensão de seu Divino Filho, cerca de vinte e três anos, reunindo, na vida mais resignada e humilde, o tesouro de méritos cujo prêmio havia de gozar (…). Chegada aos setenta e dois anos, o anúncio de seu fim interrompeu o silêncio de sua existência”(9)

Brademos, portanto, com confiança o auxílio de Nossa Mãe Santíssima, enquanto nos encontrarmos nesta terra de exílio.

Nossa Senhora do Desterro, rogai por nós!

Por Prof. João Celso

Na próxima parte:

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”

1)São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 38ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009. p.36
2) Catecismo da Igreja Católica. 10ª. Ed. S. Paulo: Loyola, 2000. P. 36
3) São Luís Maria G. de Montfort, Op.cit., p. 20
4)Santo Agostinho. Confissões. 9ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 1988. P. 23
5)Catecismo da Igreja Católica, Op. cit. n. 402
6) Ibidem, n. 404
7) Ibidem. N. 403
8)Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. Ed. Aparecida: Editora Santuário, 1989 P. 113.
9)Monsenhor João Clá Dias, EP. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. 2ª. Ed. São Paulo: ACNSF/Loyola, 2011. p. 153

By

O Ano da Fé e a virtude da Esperança

Este Ano da Fé nos traz uma riqueza de considerações e nos remete para o estudo e a contemplação das maravilhas do tesouro da nossa Fé, acompanhadas, sem dúvida, de muitas e escolhidas graças da Providência divina – próprias às celebrações e à vida litúrgica propostas pela Igreja – que transcendem ao intelectual e nos mobilizam a uma vida cristã impregnada de virtudes. E entre estas, sobremaneira, a fé irmanada com a caridade.

Com efeito, sabemos que as três virtudes teologais – fé, esperança e caridade – são aquelas que “se referem diretamente a Deus”, “dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus Uno e Trino por origem, motivo e objeto”.(1) Ora, podemos perceber, sem muita dificuldade, o estreito relacionamento entre estas duas virtudes teologais: fé e caridade.(2) Como nos ensina São Paulo em sua Carta aos Gálatas, “a fé age por meio do amor” (Gl 5, 6)”. Em outros termos, a fé é animada pela caridade e, quando crescemos no amor a Deus e ao próximo, crescemos necessariamente na fé.

Isto posto, poderíamos indagar: além deste substancial relacionamento entre a virtude da fé e a virtude da caridade, haverá alguma relação entre a fé e a outra virtude teologal, que é a esperança? Qual a relação entre a fé e esperança?

Esperança e confiança nas promessas de Cristo

Consideremos a definição que nos apresenta o Catecismo da Igreja Católica sobre a esperança: “A esperança é a virtude pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo”.(3) E fundamenta com as palavras de São Paulo aos hebreus: “Continuemos a afirmar nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa” (HB 10,23).

A esperança nasce da fé

Ora, quem fez a promessa é Deus, e Ele é fiel! Assim, uma vez que pela graça temos fé, ou seja, cremos em Deus, temos conseqüentemente a confiança, a esperança fortalecida por sólida convicção,(4) de que Ele nos atenderá em tudo quanto seja necessário para nossa salvação (seja do ponto de vista espiritual, seja material). Portanto, “a esperança nasce da fé; nós esperamos de Deus os bens prometidos por ele, porque a fé nos ensina que Deus é infinitamente fiel, poderoso e bom, e que Jesus nos merece todos esses bens”, conforme nos explica o professor Spirago.(5)

Tal é a íntima relação entre fé e esperança, que São Paulo aos hebreus assim se expressa: “A fé é a posse antecipada dos bens que esperamos” (Hb 11, 1).

Os exemplos arrastam: a fé e a esperança da mulher Cananéia

A Cananéia aos pés de Jesus (iluminura do Livro das Horas do Duc de Berry)

O conhecimento teórico destas virtudes e seu entrelaçamento é útil, porém, não basta: “as palavras comovem, os exemplos arrastam”. E por isto, vale a pena contemplá-las – e imitá-las – nos bons exemplos dos que o vivenciam e nas histórias narradas nas Sagradas Escrituras e na vida dos Santos.

Entre estes, fato eloqüente é o narrado Evangelho de São Mateus (Mt 15, 21-28), sobre a Mulher Cananéia, comentado por Mons. João Clá, Fundador dos Arautos, em que diz: “Tudo se obtém pela Fé!”.(6)

Sobre a mulher Cananéia, que pedia a Jesus a cura de sua filha, atormentada cruelmente pelo demônio, observa Mons. João Clá: “A Cananéia não teve medo de ser importuna, nem esmoreceu um só momento em seu ânimo e em sua Fé. O que realmente desejava era obter a cura de sua filha”. E porque não esmoreceu na Fé, ela esperava, com toda a confiança, que Jesus lhe concedeu a cura da filha.

Ademais, a sua Fé em Jesus, era ativa, pois ela “ouviu e se informou a respeito dos atos e das pregações de Jesus”. “Isso lhe foi fundamental para crer”. E aqui temos mais um exemplo: “a necessidade de nos instruirmos sobre a verdadeira e boa doutrina”. “Um grande mal de nossos dias, a ignorância religiosa, talvez seja a principal causa dos dramas atuais”.

Por fim, conclui Mons. João: “O conhecimento enaltece a Fé, torna robusta a Esperança dos bens eternos e atrai à prática da Caridade, quer no amor a Deus, quer no amor ao próximo”.

Eis aí, a esplêndida e íntima relação da Fé com a Esperança e a Caridade. E bem podemos entoar o Hino da Liturgia das Horas:

“Na em Deus, por quem vivemos,

Na esperança do que cremos,

No dom da santa caridade,

De Cristo as glórias entoemos”.(7)

[destaque nosso]

(1) Catecismo da Igreja Católica. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 488, n. 1812.
(2) Um elemento fundamental para bem vivermos o Ano da Fé: a caridade. Disponível em: http://maringa.blog.arautos.org/2013/02/um-elemento-fundamental-para-bem-vivermos-o-ano-da-fe-a-caridade/ – Acesso em 08 mar 2013.
(3) Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 489, n. 1817.
(4) Padre Thomas de Saint Laurent. O Livro da Confiança. S. Paulo: Artpress, s/d. p. 15.
(5) SPIRAGO, Francisco. Catecismo Popular. 2ª ed. Guarda: Typ. da Empresa Veritas, s/d., p. 252 (Primeira Parte do Catecismo).
(6) CLÁ DIAS, EP. Mons. João Scognamiglio, Tudo se obtém pela Fé! In Arautos do Evangelho. São Paulo, n 44, pp 6-11, ago. 2005.
(7) Liturgia das Horas: Segundo o Rito Romano – II – Tempo da Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo da Páscoa. Vozes – Paulinas – Paulus – Editora Ave Maria, 2000, p. 37.

By

Eis que estarei convosco todos os dias!

Estimativas da imprensa mundial e do Vaticano indicam a presença de pelo menos 100.000 pessoas na Praça de São Pedro em Roma, para a última audiência pública do Papa Bento XVI, o qual, como foi largamente noticiado, deixará a Cátedra de Pedro no final da tarde deste dia 28 de Fevereiro de 2013.

A esta ocasião histórica acorreram todos quanto puderam, evidentemente: em mais de 600 anos é a primeira vez que um Pontífice renuncia ao papado por motivos que não sejam políticos. Quantos de nós, se pudéssemos, gostaríamos também de estar presentes e poder manifestar a gratidão ao Papa pelo seu incansável ministério, como, de fato, com muito entusiasmo o fizeram as 100 mil pessoas presentes, vindas de muitos países, de diferentes regiões do mundo. Sua Santidade, Bento XVI, desde o dia 11 de Fevereiro, festa de N.Sa. de Lourdes, tem explicado sua decisão, tomada face ao avançado da idade e de “não ter mais forças para exercer adequadamente o ministério petrino”.

Encerrada a cerimônia, e concedida a Bênção Apostólica, retirou-se o Sumo Pontífice para o interior do Vaticano, de onde, no dia 28 parte para Castel Gandolfo, deixando para trás o Trono de S. Pedro.

Feitas estas considerações, vem-nos à mente a enorme Praça de S. Pedro. O céu claro e o clima ameno contrastam com o ambiente geral. Após o final da audiência pública, aos poucos, como mostraram os meios televisivos, a imensa massa de gente vai deixando o local. Alguns ainda em festa, agitando as suas bandeiras nacionais. Outros, um tanto solitários e abatidos, preocupados com os rumos da Igreja de Cristo daqui em diante. Alguns, ainda, em profundo espírito de oração, confiantes na assistência do Espírito Santo sobre a Sua Igreja, lembrados das solenes palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao despedir-se dos – até então – vacilantes Apóstolos – palavras estas que magnificamente encerram o Evangelho de S. Mateus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Cf. Mt 28, 20).

Sim! A estes últimos nos juntamos, se não com a nossa presença física, mas em espírito de oração, com fé renovada na Cátedra de Pedro e na Santidade da Igreja. O Espírito Santo, que soube transformar um simples e instável pescador, no primeiro grande Papa, entregando-lhe “as chaves do Reino do Céu” (Cf. Mt 16,13-19) não deixará desassistida a sua Igreja.

Tanto é assim que podemos fazer nossas as palavras de nosso Fundador, Monsenhor João Clá, na revista Arautos, n. 78, de Junho de 2008:

Passaram-se dois milênios e, depois de tantas e catastróficas procelas, inabalável continua essa “nau de Pedro”, tendo Cristo, com poder absoluto, em seu centro. Nenhuma outra instituição resistiu à corrupção produzida pelos desvios morais ou pela perversão da razão e do egoísmo humano. Só a Igreja soube enfrentar as teorias caóticas, opondo-lhes a verdade eterna; arrefecer o egoísmo, a violência e a volúpia, utilizando as armas da caridade, justiça e santidade; pervadir e reformar os poderes despóticos e materialistas deste mundo, com a solene e desarmada influência de uma sábia, serena e maternal autoridade. Não podiam mãos meramente humanas erigir tão portentosa obra, só mesmo a virtude do próprio Deus seria capaz de conferir santidade e elevar à glória eterna homens concebidos no pecado.(1)

Portanto, já não é este um dia de tristeza, de abatimento. Ao contrário, é um dia que a Providência nos concede para termos a oportunidade de manifestar a nossa Fé: “Este é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Cf. Sl 117,24), ou seja, da prática da confiança inabalável. Coloquemo-nos na situação dos apóstolos, no meio de uma grande tormenta, que jogava violentamente as ondas dentro de sua pequena barca “de modo que já se enchia de água”. A eles Nosso Senhor se dirigiu: “Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?” (Cf. Mc 4 37-41).

Maria Santíssima, Mãe da Igreja, que sustentou a Igreja nascente, animando os Apóstolos, está intercedendo pela Igreja de Cristo, para que a “nau de Pedro” siga firme até o fim dos tempos, como também prometeu Nosso Senhor Jesus Cristo.

A Ela recorramos, hoje e sempre!

Por Prof. João Celso

1)# Monsenhor João Clá Dias, EP. Comentário ao Evangelho. Revista Arautos do Evangelho, Jun/2008, n. 78, p. 12 a 19

Acesse também:

%d blogueiros gostam disto: