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O Ano da Fé e a virtude da Esperança

Este Ano da Fé nos traz uma riqueza de considerações e nos remete para o estudo e a contemplação das maravilhas do tesouro da nossa Fé, acompanhadas, sem dúvida, de muitas e escolhidas graças da Providência divina – próprias às celebrações e à vida litúrgica propostas pela Igreja – que transcendem ao intelectual e nos mobilizam a uma vida cristã impregnada de virtudes. E entre estas, sobremaneira, a fé irmanada com a caridade.

Com efeito, sabemos que as três virtudes teologais – fé, esperança e caridade – são aquelas que “se referem diretamente a Deus”, “dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus Uno e Trino por origem, motivo e objeto”.(1) Ora, podemos perceber, sem muita dificuldade, o estreito relacionamento entre estas duas virtudes teologais: fé e caridade.(2) Como nos ensina São Paulo em sua Carta aos Gálatas, “a fé age por meio do amor” (Gl 5, 6)”. Em outros termos, a fé é animada pela caridade e, quando crescemos no amor a Deus e ao próximo, crescemos necessariamente na fé.

Isto posto, poderíamos indagar: além deste substancial relacionamento entre a virtude da fé e a virtude da caridade, haverá alguma relação entre a fé e a outra virtude teologal, que é a esperança? Qual a relação entre a fé e esperança?

Esperança e confiança nas promessas de Cristo

Consideremos a definição que nos apresenta o Catecismo da Igreja Católica sobre a esperança: “A esperança é a virtude pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo”.(3) E fundamenta com as palavras de São Paulo aos hebreus: “Continuemos a afirmar nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa” (HB 10,23).

A esperança nasce da fé

Ora, quem fez a promessa é Deus, e Ele é fiel! Assim, uma vez que pela graça temos fé, ou seja, cremos em Deus, temos conseqüentemente a confiança, a esperança fortalecida por sólida convicção,(4) de que Ele nos atenderá em tudo quanto seja necessário para nossa salvação (seja do ponto de vista espiritual, seja material). Portanto, “a esperança nasce da fé; nós esperamos de Deus os bens prometidos por ele, porque a fé nos ensina que Deus é infinitamente fiel, poderoso e bom, e que Jesus nos merece todos esses bens”, conforme nos explica o professor Spirago.(5)

Tal é a íntima relação entre fé e esperança, que São Paulo aos hebreus assim se expressa: “A fé é a posse antecipada dos bens que esperamos” (Hb 11, 1).

Os exemplos arrastam: a fé e a esperança da mulher Cananéia

A Cananéia aos pés de Jesus (iluminura do Livro das Horas do Duc de Berry)

O conhecimento teórico destas virtudes e seu entrelaçamento é útil, porém, não basta: “as palavras comovem, os exemplos arrastam”. E por isto, vale a pena contemplá-las – e imitá-las – nos bons exemplos dos que o vivenciam e nas histórias narradas nas Sagradas Escrituras e na vida dos Santos.

Entre estes, fato eloqüente é o narrado Evangelho de São Mateus (Mt 15, 21-28), sobre a Mulher Cananéia, comentado por Mons. João Clá, Fundador dos Arautos, em que diz: “Tudo se obtém pela Fé!”.(6)

Sobre a mulher Cananéia, que pedia a Jesus a cura de sua filha, atormentada cruelmente pelo demônio, observa Mons. João Clá: “A Cananéia não teve medo de ser importuna, nem esmoreceu um só momento em seu ânimo e em sua Fé. O que realmente desejava era obter a cura de sua filha”. E porque não esmoreceu na Fé, ela esperava, com toda a confiança, que Jesus lhe concedeu a cura da filha.

Ademais, a sua Fé em Jesus, era ativa, pois ela “ouviu e se informou a respeito dos atos e das pregações de Jesus”. “Isso lhe foi fundamental para crer”. E aqui temos mais um exemplo: “a necessidade de nos instruirmos sobre a verdadeira e boa doutrina”. “Um grande mal de nossos dias, a ignorância religiosa, talvez seja a principal causa dos dramas atuais”.

Por fim, conclui Mons. João: “O conhecimento enaltece a Fé, torna robusta a Esperança dos bens eternos e atrai à prática da Caridade, quer no amor a Deus, quer no amor ao próximo”.

Eis aí, a esplêndida e íntima relação da Fé com a Esperança e a Caridade. E bem podemos entoar o Hino da Liturgia das Horas:

“Na em Deus, por quem vivemos,

Na esperança do que cremos,

No dom da santa caridade,

De Cristo as glórias entoemos”.(7)

[destaque nosso]

(1) Catecismo da Igreja Católica. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 488, n. 1812.
(2) Um elemento fundamental para bem vivermos o Ano da Fé: a caridade. Disponível em: http://maringa.blog.arautos.org/2013/02/um-elemento-fundamental-para-bem-vivermos-o-ano-da-fe-a-caridade/ – Acesso em 08 mar 2013.
(3) Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 489, n. 1817.
(4) Padre Thomas de Saint Laurent. O Livro da Confiança. S. Paulo: Artpress, s/d. p. 15.
(5) SPIRAGO, Francisco. Catecismo Popular. 2ª ed. Guarda: Typ. da Empresa Veritas, s/d., p. 252 (Primeira Parte do Catecismo).
(6) CLÁ DIAS, EP. Mons. João Scognamiglio, Tudo se obtém pela Fé! In Arautos do Evangelho. São Paulo, n 44, pp 6-11, ago. 2005.
(7) Liturgia das Horas: Segundo o Rito Romano – II – Tempo da Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo da Páscoa. Vozes – Paulinas – Paulus – Editora Ave Maria, 2000, p. 37.

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Por que a Cruz atrai tanto?

Vemos em nossos dias as multidões, especialmente jovens e adolescentes, acorrerem em torno dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude: a Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora. Estes principais símbolos da JMJ têm peregrinado por inúmeras dioceses, recentemente a Arquidiocese de Maringá e a Diocese de Campo Mourão. Especialmente nesta última, estiveram os jovens Arautos da Cidade Canção, com sua banda, participando da carreata acolhedora, desde a Paróquia Nossa Senhora do Caravágio até a Catedral de São José.

Quanto entusiasmo, devoção e fé! Ao vermos as pessoas assim atraídas pela Cruz de Nosso Senhor e pelo ícone de Sua Mãe Santíssima, talvez pudéssemos nos perguntar: por que a Cruz atraí tanto?

Com efeito, ao passarmos pelas páginas da História, contemplamos Alguém, pregado no instrumento de suplício daquele que era o símbolo da abjeção: a cruz. Sim, a cruz, destinada como pena capital aos criminosos e aplicada como castigo por atos violentos e até sanguinários. E, a partir do momento em que o Inocente por excelência, nela preso dolorosamente por três cravos, derramou seu sangue infinitamente precioso, para nos remir de nossos pecados, esta cruz se transformou no mais magnífico símbolo da salvação e da glória. “[…] pela cruz, chegar à luz que não conhece ocaso”. (1)

A Cruz de Nosso Senhor realmente atrai… Atraiu os primeiros cristãos e mártires. Atraiu Santa Helena, mãe do imperador Constantino Magno, que por amor a Cristo, dirigiu-se em peregrinação à Terra Santa. Ordenando a santa imperatriz que se fizessem pesquisas e investigações para encontrar a Verdadeira Cruz de Nosso Senhor, determinando escavações no local do Santo Sepulcro e milagrosamente identificando, no ano de 326, qual das três cruzes ali encontradas era a do Deus Encarnado (a Igreja celebra a festa da Invenção da Santa Cruz no dia 3 de maio). (2)

Hoje a Cruz atrai as multidões de jovens e fiéis que se preparam para o encontro, na capital fluminense, da JMJ. (3) E atrairá, pelos séculos dos séculos, as pessoas que reconhecem e adoram a Jesus Cristo, Aquele que disse de si: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6)

Tomar a sua cruz

Mas afinal, qual o sentido desta atração da Cruz? O próprio Homem-Deus nos ensina: […] “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24). É a cruz o símbolo para nós da renúncia a si mesmo e a entrega incondicional a Jesus Cristo. É a cruz a via pela qual, pela graça de Deus e mediante o nosso “sim”, cumprimos os Mandamentos e temos, com isto, como prêmio já nesta terra, a felicidade da paz de consciência pelo amor manifestado e o dever cumprido para com Deus e o próximo. Para isto é preciso muita graça, torrentes mesmo de graças. Portanto, rezemos Àquela que estava aos pés da Cruz, inseparável de Seu Divino Filho, e digamos: Senhora, “não permitais que de Vós e de Vosso Filho nos separemos”. Não permitais que nos separemos da Cruz de Jesus Cristo. Rogai por nós!

(1) Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja – Disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html – Acesso em 12/02/2013.
(2) KASUO, Roberto. Relíquias da Paixão. In Arautos do Evangelho, São Paulo, n. 27, p. 34-37, mar. 2004.
(3) Gaudium Press. Disponível em: http://www.gaudiumpress.org/content/29050-Rio-de-Janeiro-sera-a-sede-da-JMJ-2013. Acesso em: 12/02/2013.
 

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Um elemento fundamental para bem vivermos o Ano da Fé: a Caridade

De forma cada vez mais pertinente, oportuna e proveitosa, tem-se abordado a importância deste Ano da Fé, para nos aprofundarmos no conhecimento da Doutrina Católica e nos exercitarmos na prática dos atos desta virtude sobrenatural que é a fé e, assim, desenvolvermos nossa firme convicção, com auxílio da graça, na verdade revelada por Jesus Cristo e ensinada pela Igreja Católica. (1) (2)

Conforme já se viu (3), o estudo proveitoso da Doutrina Católica nos leva a um crescimento não só intelectual, como espiritual. De fato esta virtude teologal – para o desenvolvimento integral do homem – é suscetível de crescimento. Em contrapartida, se na virtude da fé não se cresce, ela entra num processo de crise, definha a tal ponto que pode chegar ao seu desaparecimento. Em outros termos, segundo o adágio popular: “o que não anda, desanda”… máxime, em se tratando da vida intelectual e espiritual – poderíamos acrescentar. Ou seja, a fé precisa crescer, exercitar-se, aprofundar-se para que não se atrofie, como acontece com a musculatura humana que, tendo necessidade de exercícios e se não os pratica, adoece.

Devido a esta ausência do exercício da Fé, com zelo bem nos adverte o Sumo Pontífice da Igreja Universal e Servo dos Servos de Deus: “Em vastas áreas da Terra a Fé corre perigo de se extinguir como uma chama que deixa de ser alimentada. Estamos diante de uma profunda crise de Fé”. (4)

Com efeito, a propósito desta crise de fé, observa o Revmo. Padre Salazar Rojas, EP:

O obscurecimento da Fé e do senso de Deus poderia ser comparado a um dos mais assombrosos acontecimentos cósmicos, o eclipse do Sol. O filósofo Martin Buber o aplica a nossos dias, quando escreve que a “hora histórica que o mundo atravessa” assemelha-se à de um “eclipse da luz do céu”, de um “eclipse de Deus”. (5)

Exercitar a Fé através da Caridade

Mas então, como fazer para que a Fé não se extinga, mas seja viva? O Catecismo da Igreja Católica nos apresenta o caminho indicado pelo Espírito Santo, o Espírito do Amor, através de São Paulo: “a fé viva ‘age pela caridade’ (Gl 5,6)” e aprofunda este ensinamento: “O dom da fé permanece naquele que não pecou contra ela”. (6)

O papel da caridade, como fundamento e inspiração de todas as virtudes (7) – portanto, da virtude da Fé – é apresentado, no dizer de Mons. João Clá Dias, no

mais célebre dos hinos sobre a caridade [ ] recortado pela Liturgia de hoje [IV Domingo do Tempo Comum], à guisa de segunda leitura (I Cor 13, 1-13): “Se eu não tivesse caridade”, repete São Paulo três vezes nesse texto, proclamando que, sem ela, de nada lhe serviriam todas as ciências e virtudes. O verdadeiro amor “não busca os seus próprios interesses […] tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (8)

Maputo, Moçambique – Um sacerdote missionário dos Arautos do Evangelho ministra os sacramentos. Numerosos missionários trabalham ativamente animando as pequenas comunidades cristãs em todo o país.

Vê-se que São Paulo sublinha o quanto é necessária a caridade, para tudo o que se faça tenha seu bom desenvolvimento e aproveitamento. Seja qual for o gesto, a dedicação, o esforço que empreendamos, deverá ser “substanciado” de caridade. E como praticá-la? Amando a Deus e ao próximo e guardando os seus Mandamentos: “permanecei em meu amor. Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor” (Jo 15, 9-10).

Eis o elemento substancial da nossa fé. Assim, se quisermos crescer na fé, peçamos a Nossa Senhora, Mãe do Divino Amor, que cresçamos sempre mais na caridade, no amor a Deus e ao próximo, na prática dos Mandamentos. Aí seremos homens de fé e mulheres de fé, bem vivendo o Ano da Fé.

(1) Catecismo da Igreja Católica. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 488.
(2) SPIRAGO, Francisco. Catecismo Popular. 2ª. ed. Guarda: Tipografia da Empresa Veritas, s.d., p. 41.
(3) “O Ano da Fé e o estudo frutuoso da Doutrina Católica”. Disponível em  http://maringa.blog.arautos.org/2013/01/o-ano-da-fe-e-o-estudo-frutuoso-da-doutrina-catolica/
(4) BENTO XVI. Discurso aos participantes da reunião plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, de 27/1/2012.
(5) SALAZAR ROJAS, EP, Pe. Winston de La Concepción. O pecado de nossa época. In Revista Arautos do Evangelho, São Paulo, n. 134, p. 24, fev. 2013.
(6) Catecismo da Igreja Católica. P. 489.
(7) _______. P. 492.
(8) CLÁ DIAS, Mons. João Scognamiglio, EP. O inédito sobre os Evangelhos. Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana e São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 56.

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São Tomás de Aquino: o segredo da sabedoria de um Santo

Celebra-se neste final de mês de Janeiro (dia 28) a memória de um dos santos da Igreja mais admirados e amados, considerado o arquétipo do homem que estuda, pesquisa e explicita as mais belas páginas da Filosofia e da Teologia; um varão tão santo e sábio que recebe inúmeros elogios de Papas, entre os quais, do Papa João XXII, que o canoniza em 1323 e do Papa São Pio V, que o proclama Doutor da Igreja em 1567. Atualmente é ele reconhecido por muitos estudiosos como o maior teólogo da História da Igreja.1 Quem é este sábio? Quem é este Santo? E a resposta nos vem sem maiores dificuldades: São Tomás de Aquino.

Tal o vôo de sua visão católica que, no Concílio de Trento, sobre a mesa da Presidência, foi a Suma Teológica deste santo colocada ao lado da própria Sagrada Escritura. O Papa Leão XIII, através da Enciclica Aeterni no ano de 1879, conclama “Ide a Tomás”, iniciando a era do Tomismo. E São Pio X recomenda às universidades católicas que adotem a Suma Teológica. Tantas são as referências elogiosas ao Doutor Angélico que – para não alongarmos – restringimo-nos apenas às palavras do Beato João Paulo II e do Papa Bento XVI, gloriosamente reinante, respectivamente, a saber: “São Tomás foi sempre proposto pela Igreja como mestre de pensamento e modelo quanto ao reto modo de fazer Teologia” e “Com seu carisma de filósofo e teólogo, São Tomás oferece um válido modelo de harmonia entre razão e fé”.2 Realmente, a doutrina e sabedoria deste grande Santo é própria a ultrapassar os séculos.

Ao contemplarmos as maravilhas do “angélico” doutor da Igreja, poderíamos nos perguntar: de onde vem tanta sabedoria, quer do ponto de vista natural, quer do ponto de vista sobrenatural, de São Tomás? E poderemos encontrar a resposta nas próprias palavras do Santo, quando recebeu a Sagrada Comunhão no derradeiro momento de entregar sua alma a Deus:

Eu Vos recebo, preço do resgate de minha alma e Viático de minha peregrinação, por cujo amor estudei, vigiei, trabalhei, preguei e ensinei. Tenho escrito tanto, e tão freqüentemente tenho discutido sobre os mistérios da Vossa Lei, ó meu Deus; sabeis que nada desejei ensinar que não tivesse aprendido de Vós…”.3

“Aprender de Vós”: uma lição para nossos dias

Aprender de Vós”… Sim, aprender de Jesus Eucarístico. São Tomás se acercava freqüentemente do Santíssimo Sacramento e recorria a Ele obtendo as luzes e respostas para seus estudos e chegou a afirmar que aprendera mais junto ao Sacrário do que nos longos dias dedicados ao estudo. Além de santificar, a Sabedoria eterna e encarnada, real e verdadeiramente presente na Eucaristia, “inteligentifica” a todos que dela fervorosamente se aproximam, analogamente como os raios do astro rei, o Sol, aquecem aos que a ele se expõem.

Eis aí o segredo incomparável, para nossos dias, de desenvolvermos, à maneira de São Tomás de Aquino, nossa inteligência e alcançarmos a santidade: a freqüência assídua a Jesus Sacramentado. Que ele nos obtenha, pela intercessão de Nossa Senhora, esta graça.

(1) CAVALCANTI NETO, Lamartine de Holanda. Psicologia geral sob o enfoque tomista. São Paulo: Instituto Lemen Sapientiae, 2010, p. 15.
(2) CLÁ DIAS, Pe. João Scognamiglio, EP. Por que ser tomista? In Arautos do Evangelho. São Paulo, n 73, pp 36-39, jan. 2008.
(3) FERREIRA, Carmela Werner. O sábio mais santo e o santo mais sábio. In Arautos do Evangelho. São Paulo, n 73, pp 32-35, jan. 2008.

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O Ano da Fé e o estudo frutuoso da Doutrina Católica

Conforme os dias passam e para muitos as férias vão se esvoaçando, começam estes já a pensar – além do trabalho – nos estudos, cursos ou graduações que terão que empreender. E certamente esta labuta intelectual absorverá boa parte do tempo diário de cada um. Não poucas são as áreas do conhecimento que requerem atenção, dedicação e pesquisa no aprendizado. Porém, para além do aspecto meramente utilitário que as várias áreas a serem estudadas para esta vida terrena concorrem, há uma que transcende em importância e cumpre, portanto, não ser esquecida – ter-se-ia vontade de dizer, nunca olvidada: o estudo da Doutrina Católica. Este, aliás, é um meio por excelência que Deus dá ao homem para que possa crescer no seu conhecimento e alcançar a felicidade tão almejada, não só possível nesta terra, mas completa na eternidade.

Com efeito, admoesta a Igreja que o ensino e aprendizagem da Doutrina Católica (constituída das quatro partes: o Credo, a Oração, os Mandamentos e os Sacramentos) é uma necessidade fundamental na vida dos católicos1. Para que possam atender a este conselho, Ela, como Mãe solícita e Mestra infalível, franqueia a seus filhos a possibilidade de aprender e meditar sobre as verdades reveladas a respeito dos mistérios de Deus e das verdades religiosas e morais que ultrapassam o nosso entendimento, concorrendo assim para uma verdadeira educação para a fé.

A consideração sobre a importância de se manter esse contato vivo com a Doutrina Cristã e as verdades de nossa fé católica adquire uma atualidade especial, providencial mesmo, ao considerarmos as palavras cheias de ardor do nosso Papa Bento XVI, gloriosamente reinante, expressas por ocasião da Celebração Eucarística na Basílica do Vaticano, ao anunciar o Ano da Fé:

            “Desde o princípio do meu ministério, como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, disse: “A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude”.2.

Ao apontar para este divino objetivo da redescoberta do caminho da fé, o Sumo Pontífice, acentua-lhe a oportunidade, ao considerar a crise de fé que atingiu muitas pessoas:

            “Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as conseqüências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora, tal pressuposto não só deixou de existir, mas freqüentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade…”.

                Em face desta crise de fé, indica o Santo Padre “o quanto o Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé” e consistirá em um “convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo”4

Por tudo isto, vê-se como é benfazejo e de que maneira podemos nos beneficiar das graças que a Providência nos prepara neste Ano da Fé, seja para nosso bem espiritual pessoal, seja para o bem que façamos ao próximo, se nos debruçarmos no estudo dos conteúdos essenciais e fundamentais de nossa fé, contidos principalmente no Catecismo da Igreja Católica, nos escritos dos Santos Padres e no Magistério da Igreja.

Quem sabe, colocaremos como uma das metas, desde já, a leitura e o estudo do Catecismo e das verdades da fé, durante uns 15 a 30 minutos diários. E quando soar o final deste Ano da Fé no dia 24 de novembro de 2013, na Solenidade de Nosso Senhor Cristo Rei, poderemos nos dirigir, agradecidos, a Nossa Senhora da Gratidão, por tudo quanto contemplamos das maravilhas da nossa Fé.

E para que esta dedicação ao aprendizado da Doutrina Católica, sob as bênçãos da Providência Divina, tenha todo o seu desenvolvimento e concorra para a nossa santificação, cumpre realizá-lo não com espírito meramente especulativo, mas com verdadeiro amor, pois, como diz o Catecismo Romano, em seu prefácio:

Nossa Senhora Rainha da Sabedoria

Nossa Senhora Rainha da Sabedoria

Toda a finalidade da doutrina e do ensinamento deve ser posta no amor que não acaba. Com efeito, pode-se facilmente expor o que é preciso crer, esperar ou fazer; mas sobretudo é preciso fazer sempre com que apareça o Amor de Nosso Senhor, para que cada um compreenda que cada ato de virtude perfeitamente cristão não tem outra origem senão o Amor, e outro fim senão o Amor.5

Queira este Ano da Fé seja carregado, pelos rogos da Mãe da Sabedoria, de esplêndidas graças de estudo amoroso da doutrina católica e das verdades da fé.

 
 
 
 
(1) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã. 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 12.
(2) Carta Apostólica “Porta Fidei” – Ano da Fé.
(3) Idem – Carta Apostólica “Porta Fidei – Ano da Fé
(4) Idem – Carta Apostólica “Porta Fidei – Ano da Fé
(5) Catecismo Romano, prefácio in Catecismo da Igreja Católica. 11ª ed. São Paulo:
Edições Loyola, 2011, p. 18.
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