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Maria Santíssima não é a Senhora das obras inacabadas

O fato de iniciar e concluir uma obra está intimamente ligado à prática da virtude da Prudência, definida como sendo “a virtude que inclina a nossa inteligência a escolher, em qualquer circunstância os melhores meios para atingir os nossos fins”.[1] Com efeito, diz Nosso Senhor no Evangelho:

Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem como que acabá-la? Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar. (Lc 14, 28-30). Read More

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Por que Jesus elogiou o administrador desonesto?

Sabemos que está na nossa natureza a apetência pelos bens, sejam eles materiais ou espirituais. O desejo de possuir dinheiro e riquezas está de acordo com o que Jesus quer de nós, ou é contrário aos seus ensinamentos?

Com efeito, a vida traz dificuldades de toda a ordem, e entre essas, uma cujo espectro assusta e causa especial apreensão nas pessoas: as limitações que a pobreza acarreta. E, para não serem pegas por tais contingências, as pessoas usam das mais diversas habilidades e até de espertezas.

Parábola do administrador infiel

É isto que vemos expresso na parábola do administrador infiel (XXV Domingo do Tempo Comum – Evangelho de São Lucas, 16, 1-13). Quando soube que seria demitido do cargo pelo seu senhor, que lhe pediu as contas, o feitor apressou-se, com sagacidade e diligência, em garantir sua existência sem as penúrias da pobreza. E que estratégia utilizou? Como não queria mendigar nem se manter pelo trabalho sério, tratou de fazer dos devedores do seu senhor os seus amigos, reduzindo suas dívidas desonestamente.

E Jesus continua a parábola: “E o senhor louvou o feitor desonesto, por ter procedido sagazmente. Porque os filhos deste mundo são mais hábeis no trato com os seus semelhantes do que os filhos da luz” (Lc 16, 8).

Poderíamos nos perguntar: Por que Jesus elogiou tal administrador desonesto? Santo Agostinho nos responde: “Não porque aquele servo fosse um exemplo a ser imitado, mas porque foi previdente em relação ao futuro, a fim de que se envergonhe o cristão que não tenha essa determinação”. (1) [grifo nosso]

Aqui está o ponto fundamental, útil para nosso aprendizado na vida: a determinação de empregar as nossas habilidades e sagacidade para alcançarmos os benefícios legítimos, como cristãos, mas, sobretudo, no que diz respeito às “riquezas verdadeiras”, os dons espirituais e eternos, que “nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam” (Mt 6, 19b). Em outras palavras: sejamos prudentes!

Virtude da Prudência

Esta prudência nada tem a ver com aquela falsa, conforme comenta Mons. João Clá: “Esta virtude, quando é falsa, portanto, entendida num sentido pejorativo, busca um fim terra a terra, temporal e passageiro. Ela é fruto de uma filosofia pagã para a qual não existe Deus, nem a alma humana e a remuneração futura. […] Não poucas vezes a falsa prudência sabe empregar manhas e artimanhas para obter os bens terrenos, mas não os eternos. Para ela, o fim justifica os meios”. (2)

Virgem Prudentíssima – Paróquia de São Pedro – Biarritz, França

E no que consiste, então, a verdadeira prudência, que Jesus quer de nós? Continua Mons. João Clá: “Quem magistralmente soube transpor para a prática essa bela doutrina da prudência foi Santo Inácio de Loiola, o Fundador da Companhia de Jesus, na primeira meditação de seus Exercícios Espirituais: ´O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e mediante isso salvar a sua alma`. Saber servir-se das criaturas – inclusive do dinheiro – para alcançar esse fim, é o divino ensinamento ministrado por Jesus na parábola do administrador infiel, mas prudente, da Liturgia de hoje”. (2)

Peçamos àquele que é por excelência o “Arauto do desprendimento de tudo quanto passa”, que nos comunique sua divina prudência, para conseguirmos viver com dignidade e virtude  nesta terra e, desse modo, um dia alcançarmos o Céu, pela intercessão de sua Santa Mãe, que a ladainha honra com o título de Virgem Prudentíssima.

 Por Adilson Costa da Costa

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(1) Santo Agostinho. Sermão 359, 9-11.
(2) Mons. João S. Clá Dias, EP. A prudência da carne e a prudência santa. In: __________. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 362.
(3) Idem, p. 363-364
(4) Idem, p. 373.

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Os bons propósitos de Ano Novo e a Virtude da Prudência

Pululam no início de cada ano mensagens e e-mails que, gratuitamente apregoam generosos conselhos e dicas para o ano novo: procuram convencer seus leitores a mudar de vida, estabelecer metas e bons propósitos para o ano que se inicia. Algumas mensagens trazem recomendações muito práticas e objetivas, como, “alimente-se melhor; faça exercícios físicos”, outros trazem avisos bem óbvios, do tipo “não desperdice sua energia com fofocas”… outros bem abstratos: “Sonhe mais!” outros, ainda, trazem indicações bem mais teóricas e um tanto inatingíveis: “Não tenha pensamentos negativos”… E por aí vai.
Porém, todos esses conselhos e essa imensidade de mensagens de cunho otimista – que marcam e consagram a chegada do ano novo – têm também um aspecto muito interessante e que vale a pena ressaltar: a necessidade de planejamento.

A atmosfera de mudança do calendário, por si mesma e certamente por uma graça própria que a Providência concede neste período, faz com que as pessoas pensem, organizem e escrevam uma série de “bons propósitos” para o ano novo.

A atitude de procurar vislumbrar as dificuldades e encontrar os meios de contorná-las é, sem sombra de dúvida, muito positiva e louvável. É semelhante à atitude do “homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha” (cf. Mt 7, 24). O planejamento é a rocha na qual assentaremos a nossa casa: sem ele, todos os bons propósitos ruirão como ruiria a casa construída na areia.

 

Seria ótimo que mais e mais pessoas procurassem adotar esse costume de fazer “bons propósitos” utilizando-se de um bom planejamento. E o que é o planejamento? Um professor de Administração poderia defini-lo como nada mais, nada menos que escolher os meios para chegar aos fins que temos em vista. Um exemplo bem simples e comezinho: A pessoa tem o propósito de chegar ao final do ano sem dívidas e com recursos financeiros disponíveis, com saldo positivo na conta corrente. Como atingirá essa meta? Precisará realizar ações que a levem a gastar menos do que irá ganhar. Ou, se não for possível diminuir os gastos, deve aumentar as receitas. Parece bem evidente. Porém, sem planejamento (meios para chegar aos fins), esse propósito será inócuo, vazio, sem sentido. Será letra morta e, ao final do ano, apenas um sentimento de frustração é o que restará. Por quê? Simplesmente, por que o “bom propósito” não foi assentado sobre a rocha firme do bom planejamento.

Saindo da esfera meramente material e elevando nosso tema da terra para o Céu, podemos também perguntar: quantos católicos pensaram, organizaram e anotaram bons propósitos de vida espiritual para o ano novo? Certamente muitos, graças a Deus, inclusive nossos leitores. Entretanto é também necessário planejamento para colocá-los em prática e, assim, subir todos os degraus que o Divino Mestre quer ver alcançados por nós. Ele que, com amor e cuidado planejou o Céu e a terra e nos amou desde toda a eternidade.
E o que é o “planejamento”, na vida espiritual? É praticar a Virtude da Prudência.
E o que é a virtude cardeal da prudência?
Ad.Tanquerey define a prudência como “uma virtude moral e sobrenatural, que inclina a nossa inteligência, a escolher, em qualquer circunstância, os melhores meios para atingir aos nossos fins, subordinando-os ao nosso fim último”. O Catecismo da Igreja Católica traz uma definição na mesma linha: “A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo” (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1806).
Trata-se, portanto, de buscar os melhores meios para atingir aos nossos fins espirituais, ou seja, por em prática os nossos bons propósitos. Há, porém, uma distinção entre a prudência meramente humana e a prudência cristã. A prudência humana preocupa-se unicamente com os bens terrenos, sem subordiná-los ao nosso fim último, que é a vida eterna.

O Fundador dos Arautos do Evangelho, Monsenhor João Clá, comentando a parábola do administrador infiel, contada por Nosso Senhor no Evangelho de São Lucas, (cf. Lc 16, 1-13), distingue claramente a dificuldade que temos em ser prudentes quando se trata dos assuntos de nossa salvação. Destacamos os trechos abaixo :
“Não poucas vezes a falsa prudência sabe empregar manhas e artimanhas para obter os bens terrenos, mas não os eternos. Para ela, o fim justifica os meios. Fundamenta-se ela na sabedoria deste mundo e daí surgem equívocos como, por exemplo, o de querer construir edifícios eternos com o que não é senão passageiro”.
“Se tivéssemos robusta convicção a respeito de nossa vida post-mortem, o fim último de nossa existência, seríamos mais diligentes em aplicar os devidos meios para obter a perpétua felicidade”
E ainda, comentando sobre a estratégia do administrador infiel em garantir sua sobrevivência depois de ser demitido pelo patrão:
“Chama a atenção a pressa do administrador em atingir suas metas. Infelizmente, assim também somos muitos de nós, ou seja, elaboramos planos e com rapidez os realizamos para os fins a atingir neste mundo, mas tudo se torna difícil, e até insolúvel, quando o objetivo é a nossa santificação. Nosso fim último é supremo em relação aos outros, mas nem sempre lhe tributamos a importância devida. Quantos de nós não preferimos – bem ao contrário desse administrador – deixar para amanhã a realização de nossos propósitos de santidade?”

Encerrando, trata-se, portanto, de perseguir bons propósitos de vida espiritual para o ano novo, mas, cercá-los com a prática da Prudência Cristã.
Para ilustrar, tomemos um exemplo prático: a devoção do Santo Rosário. Um consagrado ou uma consagrada a Nossa Senhora, segundo o Método de S. Luís Maria Grignion de Montfort – e felizmente são muitos – pode colocar como propósito a oração diária do Rosário. E, de fato, esse seria um ramalhete de lindas rosas oferecido à nossa Mãe Santíssima durante o ano. Mas, é preciso determinar os meios: Como organizarei a minha vida cotidiana? Que horário irei reservar no meu dia para fazer essa oração contemplativa? Procurarei dedicar pelo menos algum tempo, na semana, no mês, para estudar a devoção do rosário, procurando obter os meios intelectivos para tornar essa prática mais eficiente para melhorar minha vida espiritual e aumentar meu amor ao próximo? E assim por diante. Buscar os meios para atingir os fins: Virtude da Prudência.
Procure saber mais sobre esta e outras belas virtudes cristãs e como a sua prática pode nos ajudar em nossa vida espiritual. Além do Catecismo da Igreja Católica e de bons autores católicos que tratam do assunto, você poderá pesquisar e estudar também através do site dos Arautos do Evangelho (www.arautos.org.br).
Que Maria Santíssima nos ajude para que este seja um ano de bons propósitos, cumpridos prudentemente!

Por Prof. João Celso – Arautos Maringá

1 A.D. Tanquerey. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1964, 6ª. Ed. Página 482

2 Monsenhor João Clá Dias, EP. A prudência da carne e a prudência santa. Revista Arautos do Evangelho, Set/2007, n. 69, p. 10 a 17. Cf.: http://www.arautos.org/artigo/4454/A-prudencia-da-carne-e-a-prudencia-santa

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