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Sigamos o exemplo de São Pedro proclamando: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo!

À medida que aprendemos a Doutrina da Santa Igreja nos encantamos pela didática utilizada por Nosso Senhor, seja para falar às multidões que O ouviam, no meio do deserto, junto ao mar ou para formar os Apóstolos. Podemos citar, entre as mais belas passagens do Evangelho, a resposta dada por São Pedro à pergunta do Divino Mestre: E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Eis que o Apóstolo, cheio de entusiasmo, responde: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 13-16).

Poderíamos nos questionar: o que São Pedro viu em Jesus que os apóstolos não enxergaram?

Cristo entregando as chaves a São Pedro

Sobre o que diziam os homens a respeito de Jesus, os discípulos responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias, outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas” (Mt 16, 14).

Os apóstolos não alcançavam muito mais do que esta visão dos homens, embora privilegiados pelo convívio incomparável com o Mestre, terem presenciado os mais estupendos milagres, ouvirem de viva voz as mais sublimes explicitações e palavras de vida eterna. No entanto, eram ainda tímidos na fé. Além do mais, como observa Mons. João Clá Dias, EP, estavam “receosos de perder a consonância com a opinião pública […]. Sabiam que era filho de Maria e José, mas ignoravam onde havia estudado, de onde vinha tanta sabedoria, como conseguia o poder de fazer milagres” ¹.

Frente à importante pergunta de Jesus, que intencionava formá-los e alargar neles a virtude da fé, até onde se deve alcançar, Pedro com ímpeto e ardorosamente proclama: Tu és o Messias, o Filho de Deus Vivo.

E qual foi o prêmio dessa proclamação de São Pedro?

A afirmação externada pelo Apóstolo, em si, é um prêmio, visto que tão elevada verdade foi-lhe revelada pelo Pai, não sendo fruto da percepção humana. Nosso Senhor, em Sua incomensurável sabedoria e bondade, estabelece uma palavra de vida eterna: “Por isso Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na Terra será ligado nos Céus: tudo o que tu desligares na Terra será desligado nos Céus” (Mt 16, 18-19).

A respeito do Papado, seu fundamento e sublimidade, indestrutibilidade e infalibilidade, quanto se teria que dizer. Contudo foquemos, neste momento, sobre outra grandeza igualmente divina: o conhecimento e reconhecimento a propósito de Nosso Senhor, sua condição de Filho de Deus.

Na passagem do Evangelho que narramos (do XXI Domingo do Tempo Comum) está a mais alta compreensão e bela proclamação de quem é Jesus. Com efeito, conforme Santo Hilário nos ensina: “A fé verdadeira e inviolável consiste em crer que o Filho de Deus foi engendrado por Deus e tem a mesma eternidade do Pai. […] E a confissão perfeita consiste em dizer que este Filho tomou Corpo e Se fez Homem. Compreendeu, pois, tudo o que expressa sua natureza e seu nome, no que está a perfeição das virtudes”. ²

Encontra-se expressa aqui a mais alta compreensão que podemos almejar a respeito de Nosso Senhor Jesus Cristo. Infelizmente  de tal compreensão a humanidade, a olhos vistos, cada vez mais se afasta num crescente abandono da fé verdadeira.

Roguemos Àquela que é a Virgem fiel para que nos de toda a fidelidade ao Homem-Deus, confessando e proclamando em união com São Pedro, toda a nossa fé no Messias, o Filho de Deus vivo, e no perfeito cumprimento de Sua vontade na Terra e Sua glória no Céu. Assim seja!

Por Adilson Costa da Costa

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. A fé de Pedro, fundamento do Papado. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. II, Ano A, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, p. 286-299.

² Santo Hilário de Poitiers. Commmentarius in Evangelium Mattei. C.XVI, n. 4-5: ML 9, 748-479.

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Confiança e esforço: a via pela qual chegamos ao Céu

Imaculado Coração de Maria de Nossa Senhora de Fátima

Certas inquietações e questões não raramente se colocam às pessoas, quando se trata da existência para além desta vida terrena. É o que se dá com a pergunta feita por um homem a Jesus, quando passava pregando o Evangelho pelas aldeias e cidades, a caminho de Jerusalém. Conta-nos o evangelista Lucas que “alguém” perguntou: “Senhor, são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23)

Para além dessa pergunta – se muitos ou poucos vão para o Céu após a morte -, existe outra consideração mais útil para nossa vida espiritual e nossa vida “aqui e agora”.

Com efeito, ainda que fossemos teólogos, dos mais capacitados e conhecedores das verdades da Fé e, em concreto, do que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica a respeito da vida eterna, do Céu e da existência do Inferno (1), tal discussão sobre quantos se salvam não é vista com clareza nem mesmo pelos mais sábios estudiosos da Doutrina, como bem expressa o famoso teólogo dominicano Pe. Antonio Royo Marín:

“Eis aqui um dos problemas mais angustiantes e difíceis que podem oferecer ao teólogo. A pergunta é uma das que, com maior freqüência e apaixonado interesse, formula a maioria das pessoas.” (2)

Para quem deseja  saber a explicação mais lúcida a respeito, contemple os estudos de São Tomás de Aquino: “A respeito de qual seja o número dos homens predestinados, dizem uns que se salvarão tantos quantos forem os anjos que caíram; outros, que tantos quantos foram os anjos que perseveraram; outros, enfim, que se salvarão tantos homens quantos anjos caíram e, ademais, tantos quantos sejam os Anjos criados. Mas, melhor é dizer que só Deus conhece o número dos eleitos que hão de ser colocados na felicidade suprema”. (3)

Jesus Cristo diz: Esforçai-vos: guardai os Mandamentos

No que consiste este esforço? A leitura do trecho do Evangelho de São Mateus nos traz uma luz e uma resposta: “Se queres entrar para a Vida [Céu], guarda os Mandamentos” (Mt 19, 16-19). Eis aqui a primeira “medida” que devemos colocar nossa atenção e nosso esforço, indicada por Jesus ao “jovem rico do Evangelho”, como resposta ao que se deve fazer de bom para ter a vida eterna.

Mas, poderíamos questionar: é fácil ou difícil guardar os Mandamentos? Se fosse fácil guardar os Mandamentos, Jesus não empregaria o verbo “esforçar-se”. Sim, tal é nossa debilidade decorrente dos efeitos do pecado original em nós – que nos inclina para o pecado – e tais são as tentações e provocações do mundo, que se poderia dizer: realmente, não é fácil praticar os Mandamentos; mais, diríamos ainda: ao homem, pelas próprias forças, é impossível praticar integralmente e duradouramente os Mandamentos. Vê-se, portanto, o quanto é apropriada e forte a expressão: esforçai-Vos… e o convite a não se viver o “laissez faire” (deixar correr a vida) na nossa existência terrena, na perspectiva espiritual.

No entanto, sabemos que Nosso Senhor, a divina Misericórdia e a divina Justiça, que em tudo se fez igual ao homem, exceto no pecado, não nos pedirá algo que não nos seja possível realizar: “Porque meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11,30), “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mt 11, 28)

Confiança, eu venci o mundo

Sim, aqui está o remédio: a confiança no Sagrado Coração de Jesus. Ele nos redimi e nos sustenta, nos santifica, nos dá a graça e os Sacramentos e ainda Ele próprio se dá a nós no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. É com Ele que nós venceremos o mundo, o demônio e a carne.

Confiança em Maria, a Porta do Céu

E como se não bastasse tudo isto, para “nos convencer” – por força de expressão – Ele nos dá sua própria Mãe, Nossa Senhora. Sobre esta intercessão, consideremos as comoventes e animadoras palavras de Mons. João Clá Dias, em sua recente obra, intitulada “O Inédito sobre os Evangelhos”, ao comentar o Evangelho deste XXI Domingo do Tempo Comum:

“[…] É necessário servir a Deus com ardor e entusiasmo, entrando “pela porta estreita” que bem poderá ser Nossa Senhora. Não é sem razão que a Ela foi dada o título de Porta do Céu. Estreita porque exige de nós uma confiança robusta em sua proteção maternal. Invoquemo-la em todas as tentações e dificuldades, a fim de comprovarmos a irrefutável realidade de quanto “jamais se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à sua proteção maternal, implorado sua assistência, reclamado o seu socorro fosse por Ela desamparado”. E, ao chegarmos ao Céu, rendamos eternas graças aos méritos infinitos de Jesus e às poderosas súplicas de Maria.” (4)

Eis afinal o mais importante: para além da preocupação ou até mera especulação de se saber se muitos ou poucos se salvam, sigamos a recomendação do divino Mestre e Senhor. Esforcemo-nos para, aqui e agora enquanto estamos vivos, com fidelidade, fortaleza e confiança praticarmos os Mandamentos, pela intercessão de Maria Santíssima e, aí sim, pela misericórdia de Jesus e Maria, passarmos pela porta estreita rumo à eterna felicidade.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Catecismo da Igreja Católica. Creio na vida eterna: n. 1035-1036. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p, 180.

(2) Pe. Antonio Royo Marin. Teologia de la Salvación. Madri: BAC, 1997, p. 117.

(3) Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica: questão XXIII, art. VII, v.  I. 2ª ed. Porto Alegre: Vozes, 1980, p. 240-243.

(4) Mons. João S. Clá Dias, EP. Quem é o meu próximo? In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 310-312.

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