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Houve entre eles um profeta. E entre nós?

A figura do Profeta, no Antigo Testamento, nos evoca um varão de Deus chamando os homens a se voltarem para o Criador, a buscá-lo com mais amor e perfeição e assim alcançarem a salvação e felicidade eterna. Guia com o mandato divino de indicar os caminhos da verdade para toda a sociedade. A atitude própria que todos deveriam tomar face a ele – embora nem sempre os israelitas a tivessem – era a admiração.Profeta

Após o maravilhável e trágico desfile dos inúmeros profetas na história no povo eleito, eis que adentramos no Novo Testamento e contemplamos, extasiados, a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Profeta por excelência. Vem Ele anunciar a Boa Nova e indicar “o Caminho, a Verdade e a Vida”, ou seja, a Ele próprio. Na mesma linha, e num grau sem medidas, deveriam seus contemporâneos ter a única postura digna em relação a tal Varão: a adoração.

E em nossos dias, caro leitor, onde encontraremos quem seja para nós porta-voz da vontade divina, como eram os profetas antes do nascimento do Messias, ou Ele próprio durante sua vinda à terra? Em quem nos apoiarmos na busca de Deus, a quem admirar e seguir?

Uma luz se desprende do Evangelho de São Mateus, no 14° Domingo do Tempo Comum. Neste, o evangelista narra-nos a pregação de Jesus em Nazaré, onde vivera cerca de trinta anos, e a rejeição dos seus conterrâneos, levando o Messias a dizer: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (Mt 6, 4).

Comentando este Evangelho de São Mateus, Mons. João S. Clá Dias:

“Ensina-nos a doutrina católica que, pelo Batismo, todos participamos ‘do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética e régia’. Desta forma, enquanto batizados, somos profetas perante a sociedade, pois devemos, pelo exemplo de vida, testemunhar a verdadeira Fé, indicando o caminho para a salvação eterna e, se preciso, alertando contra os erros”.¹

E acrescenta o Fundador dos Arautos: “Se isto se aplica a todo o fiel, a fortiori o sacerdote, que fala do púlpito lembrando as verdades eternas, exerce a missão profética”.²

Por este admirável sacramento, recebemos a presença da Santíssima Trindade em nós, tornando-nos templos do Espírito Santo, que é a Voz dos Profetas, como nos diz a oração do Credo (Creio), na sua versão niceno-constantinopolitana: “Creio no Espírito Santo, […] Ele que falou pelos profetas”. Na verdade, é este mesmo Espírito Paráclito quem guia, ensina e governa a Igreja através do profetismo e de seus fiéis ministros.

Esta afirmação poderia nos causar surpresa: “somos profetas”. No entanto, temos realmente uma “missão profética”. É o que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “O Batismo faz-nos membros do Corpo de Cristo. […] ‘Fomos todos batizados num só Espírito para sermos um só corpo’ (1Cor 12,13).

Os batizados tornaram-se ‘pedras vivas’ para a ‘construção de um edifício espiritual, para um sacerdócio santo’ (1Pd 2, 5). Pelo Batismo, […] sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para uma luz maravilhosa’ (1Pd 2, 9). O Batismo faz participar do sacerdócio comum dos fiéis”.³

E, como conseqüência desta participação no sacerdócio de Cristo, temos uma responsabilidade: “Tornados filhos de Deus pela regeneração [bastimal], (os batizados) são obrigados a professar diante dos homens a fé que pela Igreja receberam de Deus’, e a participar da atividade apostólica e missionária do povo de Deus”.4

Como se dá esta participação? “O selo batismal capacita e compromete os cristãos a servirem a Deus em uma participação viva na sagrada liturgia da Igreja e a exercerem seu sacerdócio batismal pelo testemunho de uma vida santa e de uma caridade eficaz”.5 [grifos nossos]

É justamente aqui, caro leitor, que encontramos resposta para nossa indagação inicial. Quem será para nós um auxiliar e um apoio no cumprir a vontade de Deus – como o foram os profetas para os hebreus antes de Nosso Senhor?

Todos os batizados têm esta missão; e a exercerão cada qual conforme os desígnios de Deus, a sua correspondência ao chamado de ser católico e na medida em que viva a fé com obras de santidade.

Mas para que este testemunho de vida católica se efetive, é preciso de nossa parte algo que faltou aos nazarenos e os fez rejeitarem o divino Salvador: admiração. Assim:

“Se não formos cuidadosos em combater a tendência ao egoísmo e à mediocridade [opostos à admiração], teremos dificuldade em admitir e admirar os valores alheios. Por isso devemos nos exercitar na virtude do desprendimento de nós mesmos. E o melhor meio para tal consiste em sempre reconhecer os pontos pelos quais o próximo é superior a nós, desejando admirá-lo e estimulá-lo. A admiração deve ser para nós um hábito permanente. E se notarmos em nós alguma superioridade real, devemos sem jamais nos vangloriar, utilizá-la para ajudar os demais. É o convite sempre atual à virtude da humildade”.6NSraApocalipse

É por esta via da admiração e do amor recíproco, brilhando pela influência do bom exemplo, que seremos profetas na sociedade, indicando o Caminho para a união perfeita com Deus Nosso Senhor e a felicidade eterna. Entretanto, se diante de tão alta meta nos sentirmos fracos e incapazes, não desanimemos! Que estejamos agarrados com confiança nas asas daquela Mãe que é o Auxílio dos Cristãos e, a justo título, a Rainha dos Profetas que, “Como a águia, esvoaçando sobre o ninho, * / incita os seus filhotes a voar” (Deut 32,11). 7

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¹ Mons. João S. Clá Dias, EP. Admirar, essa alegria! In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. IV – Ano B – Domingos do Tempo Comum, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, p. 208.

² Mons. João S. Clá Dias, EP. Idem, p. 208-209.

³ Catecismo da Igreja Católica. Incorporados à Igreja, Corpo de Cristo. Tópicos n. 1267 e 1268. 11ª. edição. São Paulo: Loyola, 2001, p. 352.

4 Catecismo da Igreja Católica, Tópico 1270, p. 352.

5 Catecismo da Igreja Católica, Tópico 1273, p. 353

6 Mons. João S. Clá Dias, EP. Admirar, essa alegria! Idem, p. 219.

7 http://www.liturgiadashoras.org/quaresma/2sabadoquaresma_laudes.htm

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A Festa do Corpo de Cristo. Um dia muito especial na vida dos católicos

Ainda antes das 7 horas, com os primeiros raios do sol de uma manhã luminosa, os participantes das várias pastorais e movimentos da Paróquia Catedral de Nossa Senhora da Glória, em Maringá, reúnem dentro da igreja para receberem a bênção do Arcebispo Metropolitano, Dom Anuar Battisti, para os trabalhos que terão início dentro de instantes. Dentre essas pessoas, estão várias famílias de coordenadores da Pastoral do Oratório do Imaculado Coração de Maria, dos Arautos do Evangelho de Maringá. A missão: preparar três tapetes para a procissão de Corpus Christi, que aconteceria à tarde, no entorno da Catedral Basílica Menor.

Para a confecção desses tapetes, previamente desenhados em papel kraft, foram utilizados sal, tingido em várias cores. Sob a orientação da Profa. de Artes da Escola Arautos do Evangelho, Sra. Teresa Cristina, iniciou-se o trabalho, que duraria mais de 4 horas ininterruptas. Começam as discussões sobre a utilização das cores que comporiam os desenhos: azul? vermelho, amarelo…? Quantas maravilhas o Criador disponibilizou para que as utilizássemos a seu serviço. E, para glorificar adequadamente o Santíssimo Sacramento, toda a criatividade possível foi empregada. O sal grosso – utilizado para alimentação bovina, fica realmente encantador à medida que seus cristais absorvem as cores intensas. O brilho do sol completa o espetáculo, como é possível ver pelas fotos.

Próximo do meio-dia o trabalho foi finalmente concluído. Muitas pessoas do público têm o costume de passear no entorno da Catedral para apreciar os tapetes prontos. “Que maravilha! – que encanto, que coisa linda”, e, assim, por diante, vários comentários elogiosos de quem passava pelo local.

Porém, absolutamente, ouvir esses e outros elogios não foi o que mais encantou os que fizeram parte da equipe. Por uma ação da Graça – talvez como uma pequena recompensa, adiantando e fazendo ver e sentir a recompensa eterna no Céu, reservada aos filhos de Deus – o que mais os encantou foi o simples gesto, em si, de terem participado no trabalho de confecção dos tapetes. Uma participante comentou: “Para nós é uma honra servir a Deus e Nossa Senhora… quem sai ganhando com esses trabalhos somos nós mesmos… Muito obrigada por poder fazer parte dessa família dos Arautos do Evangelho… Estou muito feliz”. E o mesmo poder-se-ia dizer de todos os outros participantes: uma felicidade genuína, que brota da fonte inexaurível do Santíssimo Sacramento.

Esperamos que no próximo ano este trabalho se repita e que o Santíssimo Sacramento seja cada vez mais louvado e exaltado, neste nosso mundo onde a blasfêmia, o desrespeito com os símbolos mais sagrados parecem não ter medida – e muitas vezes parecem suplantar o amor dos católicos por sua Fé.

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Santa Teresinha e o perfume da Eucaristia

Estamos sob a atmosfera tomada de unção e bênçãos da Solenidade de Corpus Christi. Quantas razões há para celebrarmos tamanha misericórdia de Nosso Deus e Salvador: “Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes, dizendo: ‘Tomai, isto é o meu Corpo’. Em seguida, tomou o cálice, deu graças, entregou-lhes e todos beberam dele’. Jesus lhes disse: ‘Isto é meu Sangue, o Sangue da nova e eterna Aliança, que é derramado em favor de muitos’. (Mc 14, 22-24)

Santa Teresinha do Menino Jesus

Santa Teresinha do Menino Jesus

Sim, por detrás das espécies ou aparências do pão e do vinho consagrados está real e verdadeiramente presente o Filho de Deus feito Homem.

Qual é a razão que nos leva a aceitar esta verdade? Respondendo à pergunta, Mons. João S. Clá Dias, nos apresenta esta bela e fundamentada resposta:

“A afirmação de Nosso Senhor: ‘Isto é o meu Corpo… Este é o cálice de meu Sangue…’. Porque a palavra d’Ele é divina; logo, é criadora, é lei, é ‘viva, eficaz’ (Hb 4, 12), produz aquilo que significa e ‘permanece eternamente’ (Is 40, 8 ). Ao cego que Lhe suplicou a cura, bastou-Lhe responder ‘Vai, a tua fé te salvou’ (Mc 10, 52), e o homem recuperou a visão naquele instante. E quando Ele ordenou ao morto de quatro dias, ao ‘Lázaro, vem para fora!’ (Jo 11, 43), este retornou à vida ipso facto. Do mesmo modo, se Ele, ‘Filho todo-poderoso de Deus, capaz das maiores e mais incompreensíveis maravilhas, me diz, ao me mostrar o pão, ‘Isto é o meu Corpo, estou obrigado a tomar suas palavras ao pé da letra”. ¹

Esta fé na Sagrada Eucaristia é marcada por inúmeros fatos na vida dos Santos, próprios a nos edificar e fazer crescer em nós o amor a Jesus Eucarístico.

Um desses fatos encontramos na vida de Santa Teresinha do Menino Jesus. Conta-nos o Padre Francisco Alves, C.SS,R. que esta Santa, quando exercia o ofício de sacristã junto ao seu convento, no Carmelo, tinha um cuidado com as hóstias muito especial. Não queria que a hóstia sobre a qual o Sacerdote, na Missa, pronunciaria as palavras da Consagração, tivesse o menor defeito.

Assim nos narra o Padre Francisco:

“Um dia estava a olhar atentamente como a aspirar algum perfume que saísse do cibório vazio, retirado do altar. Uma religiosa, que a observava, perguntou-lhe:

– Que é que a senhora [Santa Teresinha] está olhando, se Nosso Senhor já não está aí?

– Já sei que não está – respondeu ela – mas esteve há pouco e deixou algum perfume de suas virtudes e da bondade de seu coração”.²

Sentir o perfume das virtudes de Jesus Eucarístico e a bondade de seu Coração! Eis a grande lição que recebemos de Santa Teresinha e dos Santos. Tal é a real presença de Jesus na Eucaristia que, ainda quando a Hóstia Sagrada não mais está no cibório, as almas santas sentem a Sua presença.

É para esta fé na Sagrada Eucaristia que os Santos nos convidam e rezam por nós.

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¹ http://pejoaocladiassermoes.blogspot.com.br/2015/06/evangelho-da-solenidade-do-santissimo.html#more

² Pe. Francisco Alves, C.SS.R. Que é que a Senhora está olhando? Tesouro de Exemplos. v. II, 2. Ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1960, p. 260

Sobre a devoção eucarística, assista o esplêndido vídeo da homilia de Mons. João Clá:

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Sagrado Coração de Jesus: fonte de inesgotável amor e misericórdia

Desejamos nesse momento convidar nossos estimados leitores a desvencilharem-se por alguns instantes de suas ocupações quotidianas e das inquietações de nossa existência terrena para voltarmos nossas atenções para o ano de 1673, mais especificamente para o convento de Paray-le-Monial, na França. Ano em que Santa Margarida Maria Alacoque começou a receber uma série de aparições e revelações do Sagrado Coração de Jesus.

Sagrado Coração de Jesus

Nas aparições Nosso Senhor incumbiu a religiosa de difundir a devoção ao Sacratíssimo Coração; em tal missão a religiosa encontrou não poucas resistências, inclusive de algumas irmãs de sua congregação, mas com o auxílio da Providência e perseverança no ano de 1686 introduz-se no convento a festa do Sagrado Coração de Jesus; devoção que rapidamente espalha-se por outros mosteiros da Ordem da Visitação, à qual pertencia Santa Margarida, e posteriormente a celebração estende-se para todo país.

Nesse dia 12 de junho a Santa Igreja celebra a festividade do Sagrado Coração de Jesus, assim convidamos nossos caros leitores a dedicarem alguns minutos de seu tempo para, através de um vídeo produzido pela TV Arautos, conhecerem um pouco mais sobre essa devoção, as promessas que Nosso Senhor fez à Santa Maria Margarida Alacoque e a fazermos companhia ao “Coração que tanto amou os homens, que nada poupou até Se esgotar e consumir para lhes testemunhar seu amor e que, como retribuição, da maior parte só recebe ingratidões”.

Link para o vídeo: http://sagradocoracao.arautos.org

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Uma pequena história sobre a grandiosidade da Festa de Corpus Christi

Não raras vezes, por mais cientes e conscientes que estejamos sobre a importância e beleza incomensurável das festas litúrgicas, passa-nos desapercebido o significado e esplendor destas celebrações. Assim, trazemos ao conhecimento de nossos leitores uma história narrada pela Ir. Ariane Heringer Tavares, EP, sobre a Festa de Corpus Christi; as histórias são capazes não apenas de ilustrar um fato ou contextualizar algo, mas remontam à nossa infância e permitem que voltemos nosso olhar para as maravilhas da Providência com a sensibilidade e pureza das crianças. Acompanhemos a história.

Aquela manhã de junho não poderia ter despontado no horizonte mais radiante. O Sol resplandecia de forma toda especial, os pássaros chilreavam com regozijo, o rumor das fontes parecia cantar a glória de seu Criador… Toda a natureza dava mostras de júbilo no dia em que se celebrava a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

E se até nos seres irracionais transparecia esta alegria, com maior razão ela se manifestava nos ardorosos fiéis daquela pequena aldeia. Instruídos com esmero pelo padre Pierre a respeito da devoção ao Santíssimo Sacramento, todos estavam muito empenhados em preparar a cerimônia da tarde: os coroinhas e sacristães se ocupavam da ornamentação do altar; as mulheres, dos arranjos de flores e da limpeza da igreja; os homens, de endireitar e limpar os caminhos pelos quais passaria a procissão. Quanto ao sacerdote, passou ele quase toda a manhã no confessionário, pois seu rebanho, mais do que oferecer pompas exteriores a Nosso Senhor Jesus Cristo, desejava ofertar-Lhe a alma limpa de qualquer falta, digna de recebê-Lo na Sagrada Comunhão.

Na hora marcada para a Missa, a pitoresca igrejinha estava tão adornada e brilhante que mais parecia uma pequena catedral! A cerimônia foi realizada com o maior esplendor e compenetração, despertando uma piedade ainda mais ardente nos corações dos fiéis. O pároco mal conseguia conter sua alegria e, à noite, antes de se recolher, rendeu ao Senhor uma fervorosa ação de graças pelos benefícios e dons derramados naquela celebração.

Entretanto, depois das inúmeras provas de devoção que havia presenciado, ele nem podia excogitar a terrível surpresa que lhe estava reservada para a manhã seguinte…

Como de costume, o padre Pierre acordou antes do amanhecer e logo foi se preparar para a Missa matutina. Ajoelhado num dos primeiros bancos da igreja, rezava: além das diversas intenções, pedia a Nossa Senhora um amor mais puro e intenso à Santíssima Eucaristia para si e para todo o povo. Porém, ao se aproximar do altar, notou que algo estava diferente… e custava a acreditar no que seus olhos viam!

O sacrário fora arrombado e levaram as duas âmbulas cheias de partículas consagradas que ele havia guardado na véspera. Ato contínuo mandou que fossem tocados os sinos a rebate para convocar a comunidade.

Todos atenderam prontamente ao chamado, manifestando um fervente desejo de desagravar tão infame pecado e encontrar o quanto antes as Hóstias subtraídas. Mas por onde poderiam começar a procurar se não havia nenhuma pista dos sacrílegos assaltantes? O zeloso sacerdote dividiu o povo em grupos, exortando-os a pedir com insistência o auxílio divino para localizar as Sagradas Espécies.

Alguns iniciaram a busca pelos arredores da igreja; outros, pelos montes que cercavam a aldeia. Vários, por fim, dirigiram-se aos campos cultivados, na confiança de descobrirem algum vestígio do sucedido. Contudo, apesar do esforço, nenhum dos grupos obteve o menor êxito em sua investigação. Ao cair da tarde, quando todos retornavam extenuados e abatidos, ouviram do lado de fora os gritos de uma criança ofegante:

– Padre, padre! Encontramos! Venha depressa!

O pároco levantou-se de um salto e seguiu o menino a passo rápido, até alcançarem uma plantação de trigo, distante dali uns 5 km. Chegando ao local – oh, maravilha! -, o padre Pierre achou, envolvidas por uma suave luz, as partículas intactas. Todavia, as âmbulas haviam desaparecido e, pior, infelizmente só estava a metade das Hóstias roubadas…

Tomaram com toda reverência as Sagradas Partículas e voltaram para a igreja, em improvisada procissão. Ali passaram a noite em vigília, revezando-se na adoração ao Santíssimo Sacramento. E a procura das demais Hóstias continuou por mais de uma semana, sem que esmorecesse o ânimo ou a fé dos aldeães, apesar da falta de sucesso.

Certo dia, Jacques, o padeiro, que a cada manhã levava suas broas, baguetes e doces para serem vendidos na cidade, reparou numa distinta dama sentada em uma pedra, sob um carvalho, à beira da estrada. Ao retornar, mais tarde, a nobre senhora continuava ali. Ele, então, resolveu aproximar-se. Apresentou-se com simplicidade e perguntou respeitosamente se lhe podia ser útil em algo.

Após agradecer a cortesia, a bela dama lhe respondeu com suavidade e doçura:

– Estou fazendo companhia a meu Filho.

Sem entender bem, Jacques fez uma respeitosa vênia e retirou-se

Sem entender bem, Jacques fez uma respeitosa vênia e retirou-se

Sem entender bem, mas intuindo algo, Jacques fez uma respeitosa vênia e retirou-se estupefato.

Ao chegar à aldeia, correu para avisar ao padre Pierre do acontecido. O sacerdote conhecia o padeiro desde criança e sabia não ser ele nada propenso a fantasias. Fitava-o, enquanto este lhe fazia o relato, e afirmava-se a cada instante no pároco a convicção de ser aquilo um sinal.

Mandou convocar todo o povo e dirigiu-se imediatamente para junto do carvalho.

A distinta senhora já não estava mais e havia desaparecido sem deixar rastro…

Não obstante, uma suave luz emanava de uma fenda no interior do carvalho. Contendo a emoção, o padre Pierre introduziu o braço pela abertura e sua mão logo apalpou um objeto de metal. Era uma das âmbulas desaparecidas! Desdobrando o corporal em cima de uma pedra – justamente aquela sobre a qual Jacques vira sentada a bela dama -, depositou nele a âmbula e ajoelhou-se antes de abri-la. No entanto, teve uma decepção: estava vazia!

Apenas alguns fragmentos, esparsos e minúsculos, indicavam haverem estado ali as Sagradas Espécies, e quiçá fossem aquelas já encontradas. Onde teriam posto a outra? Conteria ainda o Santíssimo Sacramento?

Tão absorto estava em seus pensamentos, que Jacques precisou tocar-lhe o braço para atrair sua atenção:

– Padre Pierre, padre Pierre! A fresta do carvalho continua iluminada. Deve haver algo mais…

O sacerdote voltou-se e, com agilidade, introduziu novamente o braço na fresta, tocando a segunda âmbula! E as Hóstias faltantes, de fato, continuavam em seu interior!

Após um breve ato de adoração, o pároco tomou as Sagradas Partículas, cobriu-as com um véu e conduziu-as até a igreja, onde já bimbalhavam os sinos.

Enquanto puxava jaculatórias, o pároco pensava no ocorrido

Enquanto puxava jaculatórias, o pároco pensava no ocorrido

Enquanto puxava jaculatórias ou acompanhava os cantos entoados pelo povo, pensava no acontecido… A perda e o encontro de Jesus Eucarístico tinha tornado a todos mais cientes do imenso valor do Santíssimo Sacramento!

Que esta singela história possa inspirar cada um de nós sobre o valor incomensurável da Sagrada Eucaristia e possamos, pela intercessão de Nossa Senhora, ao celebrarmos a Festa de Corpus Christi, compreender o pleno amor de Nosso Senhor por cada um e buscar retribuí-Lo por todos os dias de nossa existência terrena e na Eternidade.

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Revista Arautos do Evangelho, Junho/2014, n. 150, p. 46-47.

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